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sábado, 21 de janeiro de 2023
Áreas de lazer em São Paulo se concentram em regiões mais ricas
Foram identificadas lacunas importantes, uma vez que as facilidades de lazer, que já são em número insuficiente, ainda são mal distribuídas
Ricardo Muniz | Agência FAPESP – Artigo publicado na revista Cities & Health aponta mudanças importantes no ambiente construído para a promoção de atividade física na cidade de São Paulo entre 2015 e 2020.
Os incrementos mais significativos verificados no estudo longitudinal foram em número de academias ao ar livre (109%), ciclovias (67%), estações de trem, metrô e ônibus (15%) e instalações esportivas (12%). Esse crescimento, porém, apresentou diferentes padrões considerando as regiões da cidade e a renda dos setores censitários.
Estudo longitudinal é um método de pesquisa que objetiva avaliar variações nas características dos mesmos elementos amostrais ao longo de um período de tempo mais dilatado.
Utilizando dados de bibliotecas públicas on-line e secretarias municipais e estaduais, foram mensurados praças públicas, parques, instalações esportivas, clubes comunitários, academias ao ar livre, ciclovias e ciclofaixas, estações de trem e metrô, terminais de ônibus e unidades de saúde.
Regiões mais pobres da cidade tinham menos ciclovias e ciclofaixas (28,9 km) e foram também as menos favorecidas pela criação de novas estruturas (24,2 km). No outro extremo, as áreas mais ricas, que antes já contavam com 178,9 km de ciclovias e ciclofaixas, foram as que mais tiveram aumento também em valores absolutos (111,5 km de novas estruturas).
“A partir dos resultados do estudo uma série de aplicações práticas pode ser tomada. É possível notar que, mesmo sabendo que existem diversos critérios para definir o local de criação dessas estruturas, aspectos relacionados à equidade podem estar sendo subconsiderados”, destaca Inaian Pignatti Teixeira, que fez a análise como parte de seu projeto de pós-doutorado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), com apoio da FAPESP.
Segundo Alex Antonio Florindo, professor da EACH-USP que supervisionou o projeto, foram identificadas lacunas importantes, uma vez que as facilidades de lazer, que já são em número insuficiente, ainda são mal distribuídas. “Precisamos ampliar esse acesso principalmente para os extremos da cidade, como zonas sul e leste. São necessárias políticas mais fortes para implementar essas estruturas onde residem as pessoas de menor nível socioeconômico, pois pelos estudos epidemiológicos sabemos que, quanto menor o nível socioeconômico e a escolaridade, menos chance a pessoa tem de praticar atividade física como lazer”, relata Florindo, que coordena um Projeto Temático sobre estudos longitudinais em atividade física.
As praças também são mais frequentes em áreas de maior renda, mas seu número vem crescendo nos locais menos favorecidos, assim como os clubes esportivos e as estações de trem, metrô e terminais de ônibus, que podem estimular a caminhada como forma de transporte.
Essas estruturas facilitam o engajamento em atividade física, especialmente se estão localizadas a até 500 metros de onde as pessoas residem. “Identificamos que o ambiente construído pode contribuir muito fortemente para melhorar as práticas de atividades físicas, seja como lazer ou meio de transporte, como utilizar bicicleta ou caminhar”, completa Florindo. Os dados ainda estão sendo analisados e os pesquisadores também verificarão a influência do ambiente e a relação com fatores como obesidade, depressão e doenças cardiovasculares.
Plano diretor
As políticas e os planos da cidade desempenham um papel importante na promoção da atividade física por meio de mudanças no desenho urbano e nos sistemas de transporte. Verificar se estão sendo executados de forma eficaz ajuda a destacar as melhorias necessárias. Os resultados desse estudo podem servir para fomentar uma discussão sobre os efeitos das ações implementadas e de projetos futuros.
“Essas grandes políticas começaram em São Paulo a partir da implantação do Plano Diretor, em 2014, que preconizava aumento e maior distribuição de áreas verdes e outras estruturas. Isso aconteceu, como verificamos no estudo”, observa Florindo. Contudo, o aumento ainda é pouco expressivo em muitos dos aspectos analisados. “De acordo com o Plano Diretor de São Paulo, deveria ser priorizada a criação de novos parques, mas nossos resultados apontam para um aumento discreto, de apenas 2%”, adverte Teixeira.
Para o pesquisador, o tipo de estudo realizado, longitudinal, é uma importante ferramenta de monitoramento. “Esses estudos, que acompanham as mudanças do ambiente ao longo do tempo, são necessários para inferir uma relação causal, além de serem mais robustos, uma vez que excluem variações temporais e diferenças individuais.”
Os pesquisadores explicam que existem inúmeros trabalhos que relacionam o ambiente onde as pessoas moram e as práticas de atividade física, principalmente como forma de lazer ou transporte. Contudo, a maioria foi realizada em países de alta renda, adotando um desenho transversal, revelando uma lacuna notável entre o ambiente e a atividade física a partir de pesquisas longitudinais, especialmente para países de baixa e média renda.
O artigo Built environments for physical activity: a longitudinal descriptive analysis of Sao Paulo city, Brazil pode ser lido em: www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/23748834.2022.2127173.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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