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terça-feira, 12 de julho de 2022
De Xapuri ao Vale do Javari, a história se repete
por Danicley de Aguiar* –
De Chico Mendes a Bruno Pereira e Dom Phillips, a Amazônia segue na condição de palco principal de uma guerra contra a vida, que se materializa pelo avanço de uma economia que permanentemente consome floresta, promove a destruição de culturas milenares e uma desigualdade social profunda, com graves consequências para os povos da floresta e das cidades amazônicas.
Na Amazônia, somos mais de 30 milhões de brasileiros vivendo sob o manto de uma política de silenciamento daqueles que ousam questionar a ordem econômica predatória que nos impõem o eterno subdesenvolvimento, a violação permanente dos direitos humanos e a consolidação do estado de barbárie absoluta que se apoderou da região.
É urgente que sejamos capazes de nos reinventar como sociedade, e de romper com essa lógica que nos empurra para o caos. Estamos diante de um desafio civilizatório que requer o engajamento não só de governos e empresas, mas de todos nós; sem o qual não seremos capazes de implementar as necessárias mudanças nos nossos padrões de produção e consumo e, sobretudo, a construção de uma sociedade mais humana.
Se realmente queremos cessar a marcha para o caos, representada pelo permanente agravamento da crise ecológica e climática, bem como pelo aprofundamento da violência; além de nos reinventar como sociedade, precisamos exigir e colaborar para a constituição de um novo pacto pela Amazônia, capaz de tirar a região da condição de província mineral, energética, madeireira e agropecuária, e reafirmar seu papel estratégico para a reversão deste cenário caótico.
É preciso deslocar a Amazônia da condição de periferia do Brasil e do mundo, e colocá-la no centro, por meio da adoção de políticas capazes de conter as cadeias econômicas predatórias ao desenvolvimento regional, bem como dinamizar arranjos produtivos locais capazes de promover o uso sustentável da floresta e recuperar para a produção de alimentos os mais de 300 mil Km² degradados fundamentalmente pela pecuária predatória que se espalhou pela região.
Chico Mendes
Como diria o amazonólogo Samuel Benchimol, o futuro não acontece por si mesmo, e é produto da ação planejada e do desejo político de toda a sociedade, devendo a Amazônia estar de braços e olhos abertos para o futuro; que nos dias de hoje está intrinsecamente ligado ao reconhecimento dos saberes e fazeres dos povos indígenas que nos legaram a Amazônia que conhecemos, bem como a um robusto investimento em ciência, tecnologia e inovação; que nos levará a uma transição ecológica que possibilitará o desenvolvimento de uma nova economia capaz de conviver com a floresta, assegurar direitos sociais e reduzir a profunda desigualdade social que condenou milhões de amazônidas ao eterno subdesenvolvimento.
Apesar de estarmos tomados pelo sentimento de desesperança, para nós que decidimos caminhar ao lado dos povos da floresta e lutar pelo desenvolvimento regional, só há o caminho da resistência, da defesa da vida e da busca por justiça não só para Bruno e Dom, mas para todos os que aqui vivem.
* Danicley de Aguiar é Engenheiro Agrônomo, membro da Campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, natural do estado Pará e atua há mais de 20 anos em apoio às lutas de resistência na Amazônia, com foco na garantia dos direitos socioterritorias do campesinato, bem como de povos e comunidades tradicionais.
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