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domingo, 19 de junho de 2022

Alerta para os crescentes impactos da desertificação e secas

Uma área de 127 mil quilômetros quadrados, que representa 13% do território do semiárido brasileiro, já foi atingida pelo processo de desertificação, ou seja, uma extensão equivalente ao tamanho da Inglaterra teve sua área vegetativa transformada em deserto. Esse processo pode atingir outros mil municípios no Brasil e tantos outros em toda a América Latina. No Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) faz um apelo a todos os setores da sociedade para unir esforços contra o que considera ser “a maior ameaça para o desenvolvimento e bem-estar da América Latina”. Os especialistas da associação alertam que, apesar de a região ter 31% das fontes de água do mundo, segundo o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) 160 milhões de pessoas nesta parte do continente não têm acesso seguro aos serviços de água potável ou os têm em condições precárias e que cidades como Cidade do México, Santiago do Chile, Lima e São Paulo podem se tornar inabitáveis ​​se não forem tomadas medidas para gerar novas fontes e recuperar o fluxo ecológico de lagos, rios e aquíferos. Segundo o relatório Perspectiva global do uso da terra, divulgado em maio durante a 15ª sessão da Conferência das Partes (COP15) da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), na cidade de Abidjan, na Costa do Marfim, “a desertificação está projetada para aumentar em todo o mundo devido às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, acelerar o aquecimento global por meio do aumento das emissões”. O relatório aponta que entre 20 e 40% da superfície terrestre já está degradada ou em degradação, considerando diferentes graus, atingindo mais de 3 bilhões de pessoas, principalmente comunidades rurais pobres, pequenos agricultores, mulheres, jovens, indígenas povos e outros grupos de risco. A situação é particularmente aguda nas regiões que já sofrem com a seca e que representam mais de 45% da área total do planeta e abrigam uma em cada três pessoas no mundo hoje. Além disso, o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reforça a preocupação com a segurança alimentar na América Latina devido à escassez hídrica, já que nos Andes, desde a década de 1980, a perda de água foi de 30% a 50% da área de geleiras e os Andes do Sul apresentam as maiores taxas de perda de massa de geleiras em todo o mundo”. Quando falamos em cifras, estima-se que cerca de US% 44 trilhões da produção econômica mundial seja moderada ou altamente dependente dos recursos naturais, isso representa mais da metade do PIB Global ameaçado diretamente pelos efeitos das mudanças climáticas, com destaque para a desertificação. De acordo com o relatório Águas desconhecidas: a nova economia da escassez e variabilidade da água, produzido pelo Banco Mundial, na América Latina as perdas de renda causadas por uma seca são quatro vezes maiores do que as causadas por outras catástrofes, como inundações. “Não podemos subestimar os impactos da desertificação e degradação do solo na nossa sociedade, principalmente a desigualdade social, fome e pobreza”, alerta Juan Miguel, presidente da ALADYR. Para a Associação, reverter essa situação exige um compromisso entre governos, empresas e sociedade civil para desacelerar as mudanças climáticas e recuperar áreas já degradadas, racionalizando as demandas e buscando alternativas mais sustentáveis para o abastecimento de água e desenvolvimento socioeconômico. No Brasil o processo de desertificação afeta diretamente a região do semiárido, uma área de aproximadamente um milhão de metros quadrados, que corresponde a cerca de 11% do território nacional e abrange o bioma da Caatinga. Fazem parte do semiárido 1.262 municípios, situados nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Como reverter o problema Ainda segundo o relatório Perspectiva global do uso da terra, o custo da restauração de terras degradadas é estimado em pelo menos US$ 300 bilhões por ano, considerando que se deseja alcançar resultados significativos até 2030. Esse valor é inferior a quantidade de subsídios atualmente fornecidos aos agricultores em países desenvolvidos, sem contar que esses investimentos poderiam criar ainda uma cadeia significativa de novos empregos na área ambiental e de sustentabilidade. “Estima-se que cada dólar investido em atividades de restauração se converte em US$ 7-30 em benefícios econômicos, investir em soluções sustentáveis não é apenas preservar o meio ambiente, mas, sobretudo, criar uma rede de novas atividades econômicas que geram receita financeira sem esgotar os recursos naturais, principalmente hídricos”, destaca Juan. Sem dúvida é preciso estabelecer novas formas de negócio, redefinindo subsídios para alternativas mais sustentáveis e estabelecendo novos modelos de produção, como a utilização de água de reúso para fins industriais e também na agricultura, da dessalinização da água do mar ou salobra para abastecimento das populações, gestão eficiente dos recursos hídricos, recuperação de mananciais e tecnologias de produção agrícola e industrial mais sustentáveis. Para a ONU, os países ainda não ouviram com a força necessária o chamado para o reúso de água: “águas residuais são um recurso que não podemos mais descartar”. Além disso, a Associação destaca que o reúso para recarga de aquíferos é importante para a recuperação desses corpos d’água e que isso deve ser complementado com a dessalinização da água do mar para reduzir a pressão extrativista em rios e lagos e fornecer água de qualidade para fins de consumo, agrícola e industrial. Mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo já bebem água dessalinizada todos os dias e muitas outras têm tratado as águas residuais como fonte de consumo, mas essas soluções levam tempo para implementação regulatória e técnica, um tempo que é reduzido à medida que as secas se intensificam. “Países como Chile, Peru e Brasil estão apresentando avanços interessantes em sua infraestrutura para se adaptar às secas com usinas de dessalinização da água do mar, o que se traduz em aumento da disponibilidade do recurso, mas os esforços devem ser redobrados ou o aumento populacional e as mudanças climáticas nos afetam profundamente”, disse Juan. A população da América Latina triplicou em 60 anos e seu consumo cresceu em maior proporção, submetendo as fontes naturais de água a um estresse sem precedentes e causando problemas que saltam aos olhos. Em 2050 seremos 762 milhões de pessoas com aspirações, necessidades e sonhos, e tudo isso se traduz em uma maior demanda por água em um contexto em que já não chove o suficiente e os lagos e aquíferos secaram, então o que faremos?” afirma Juan convocando todos a pensarem sobre o futuro do planeta. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/06/2022

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