manifestacao Em três minutos, uma nova privatização
Manifestação contra o leilão, na Barra. Foto: Samuel Tostas / Agência Petrolífera de Notícias
O Leilão de Libra causou indignação à proporção do desprezo do poder executivo federal pelo debate com a sociedade civil. Mestre em Planejamento Energético pela UFRJ e doutor em Engenharia Nuclear pelo Massachusetts Institute of Technology, Ildo Sauer, professor titular da USP, manifestou-se contra o leilão com argumentos que, no mínimo, mereciam uma reflexão dos dirigentes que administram os impostos da população. Para Sauer, o potencial do campo de libra já havia sido devidamente medido: 12 bilhões de barris de petróleo. E seu raciocínio é de fácil entendimento: não há por que haver participação de empresas multinacionais, sabendo-se que ali não há risco, o petróleo vai jorrar com certeza. Mesmo assim, o consórcio formado pelas empresas Petrobras (40%), Shell (20%), Total (20%), CNPC (10%) e CNOOC (10%) ganharam o direito de explorar o campo.
- Feriram manifestantes, o que mostra que o atual governo não quer discutir o caso de maneira democrática. Tudo isso por causa de uma leilão que nem deveria ter existido – disse Sauer.
Sessenta e três entidades já haviam enviado uma carta à presidente Dilma Rousseff pedindo a imediata suspensão do leilão. Sauer ainda mantém a esperança de cancelamento do leilão na Justiça. Ele calcula que, em menos de dois anos, a Petrobras recuperaria o investimento naquele campo. Há ainda, ressalta ele, uma questão institucional: a Constituição de 1988 deixa claro em seu Artigo 20: “São bens da União: os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; os potenciais de energia hidráulica; os recursos minerais, inclusive os do subsolo.”
A diretora-geral da Agência Nacional de Petróleio, Magda Chambriard, cumpriu seu papel institucional e disse o que dela se esperava: “Serão aplicados 75% dos royalties do pré-sal na Educação e 25% na Saúde. E estimamos que apenas Libra seja capaz de gerar cerca de R$ 300 bilhões em royalties ao longo de 30 anos de produção”, acentuou ela em nota oficial da ANP.
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Polícia reprime protesto contra leilão de libra
Uma das falas que gerou mais polêmica foi a do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, que aprovou a atuação das Forças Armadas Segundo ele, toda a operação, com 1.100 homens, seguiu os procedimentos corretos. Mesmo lamentando os feridos, ele afirmou que a segurança do evento foi um sucesso. O ministro também negou que helicópteros tenham atirado balas de borracha nos manifestantes, como presenciado nas manifestações.
Para o pesquisador do Ibase Carlos Bittencourt, que acompanhou de perto todo o processo do leilão pelo projeto Observatório do Pré Sal, a repressão do Estado está à serviço de interesses econômicos de corporações:
- A falta de democracia em todo o processo de construção do leilão e o aparato policial forte asseguram toda uma lógica de não participação popular. O que ocorreu hoje foi uma das maiores privatizações da história do Brasil, seguindo a lógica de abrir as portas para empresas. Se o debate tivesse sido feito de forma democrática, não ocorreria desta forma, é claro. A repressão do Estado está assegurando a privatização de recursos naturais – disse Bittencourt, logo após o fim do leilão.
A Advocacia Geral da União recebeu 26 ações tentando impedir o leilão, considerando 18 favoráveis, mas nada adiantou. Em tom nacionalista, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que “a exploração de Libra dá início a um novo tempo no Brasil”.O bloco de Libra fica na Bacia de Santos a 170 km do litoral do estado do Rio de Janeiro e tem cerca de 1.500 km2. É uma riqueza e tanto.
* Publicado originalmente no site Canal Ibase.
(Canal Ibase)