subsecretario Estados Unidos reconhecem riscos financeiros da mudança climática
O subsecretário de Agricultura, Michael Scuse (E), fala com produtores sobre os efeitos da última seca. Foto: Jacob Maxwell/USDA

Washington, Estados Unidos, 20/2/2013 – Pela primeira vez um escritório auditor do governo dos Estados Unidos acrescenta a mudança climática à lista das grandes ameaças financeiras deste país, que não está preparado para enfrentar o fenômeno, alerta. As advertências, que chegaram em meio a uma renovada discussão pública sobre o aquecimento global, poderiam oferecer uma nova oportunidade para se conseguir maior envolvimento de alguns congressistas conservadores, que negam a responsabilidade humana no fenômeno climático.
“Os impactos e os custos do desastre climático aumentarão em importância, conforme os eventos que consideramos ‘raros’ se tornarem mais comuns e intensos”, afirma o informe do Escritório de Prestação de Contas do Governo (GAO), apresentado no dia 14. “No entanto, o governo federal não está bem posicionado para enfrentar essa contingência fiscal”, acrescenta o documento. A lista de “altos riscos” do GAO inclui 30 itens, com um particular enfoque em temas de defesa e saúde.
Porém, a lista deste ano se destaca especialmente pela inclusão do risco financeiro que representa a mudança climática para os Estados Unidos. “Isto é de grande importância, e segue as tendências que já são registradas no setor privado e no governo local”, disse à IPS o diretor de comunicações sobre mudança climática do independente Fundo de Defesa do Meio Ambiente, Keith Gaby.
O risco financeiro do governo federal é grande porque cerca de 30% do país, incluindo uma grande quantidade de infraestrutura destinada a proteger as populações urbanas, pode ser ameaçado por mudanças imprevistas e drásticas nos sistemas climáticos. Além disto, alerta o GAO, o governo administra dois grandes fundos de seguros que poderiam ser particularmente pressionados para cobrir danos por desastres naturais.
Nos últimos anos, aumentaram os pedidos para que o governo assuma suas responsabilidades em casos de desastres. Mas este ainda não destina quantias específicas em seu orçamento para este tipo de circunstâncias. O GAO afirmou que as declarações de desastres cresceram de forma sustentada até atingir o recorde de 98 em 2011 (contra 65 em 2004), exigindo um total de US$ 80 bilhões.
Essa quantia quase foi igualada no ano passado por um único desastre ambiental, quando a tempestade Sandy atingiu o nordeste do país e foram necessários mais de US$ 60 bilhões para recuperar as regiões afetadas. Esse furacão, a severa seca do verão boreal, e as diretas menções à mudança climática feitas pelo presidente Barack Obama em seu último discurso sobre o Estado da União colocaram o fenômeno sobre a mesa neste país.
“O clima está claramente de novo na agenda, e de maneira intensa”, afirmou à IPS o diretor de comunicações do 350.org, grupo ambientalista que realizou uma grande mobilização no dia 17 em Washington. “O informe claramente indica os principais pontos aos quais nos referimos, sobre os riscos da mudança climática, assim como a contínua dependência do país em relação aos combustíveis fósseis”, acrescentou.
Embora Washington tenha realizado algumas atividades de adaptação diante da mudança climática, os auditores do GAO disseram que estas foram apenas circunstanciais. A falta de uma completa estratégia de adaptação se deve ao fato de o tema estar extremamente politizado, o que causa uma paralisia legislativa. O GAO se negou a se expressar sobre a política ou sobre as responsabilidades diante do aquecimento global.
No entanto, está claro que os auditores acreditam que a adaptação exigirá ações políticas para reduzir os gases-estufa e outras causas do fenômeno. Por exemplo, fazem referência às conclusões de outros escritórios do governo, dizendo que “a vulnerabilidade da nação pode ser reduzida, com a limitação da magnitude da mudança climática por meio de ações para diminuir as emissões de gases que provocam o efeito estufa”.
A decisão de se concentrar nos efeitos e na economia em lugar das causas pode ser útil para que alguns legisladores conservadores se unam aos esforços. “Isto claramente abre a porta para a conversação entre os que estão preocupados com os gastos e os futuros déficits e os que trabalham diretamente contra a mudança climática, atraindo também os que se concentram em temas de energia e políticos locais de todo o país”, assegurou Gaby.
“Particularmente devido ao dinheiro gasto com a destruição causada pelo Sandy, os que combatem o déficit estão despertando e dizendo que temos de lutar contra isto. Não estão mudando sua postura básica sobre a mudança climática, mas estão se envolvendo no tema de uma forma que poderia permitir um avanço nas conversações”, destacou.
Este enfoque já permitiu alguns avanços políticos. Na apresentação do novo informe no dia 14, o chefe do Comitê Investigador da Câmara de Representantes, Darrell Issa, do opositor Partido Republicano, elogiou o estudo. “Nós, no governo federal, devemos supervisionar como se mitiga o que a natureza está nos fazendo ou poderá nos fazer, e esse tema não é de nenhum partido em particular”, ressaltou Issa. Envolverde/IPS