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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Escritor de A Fraude da Celulose visita Guaiba


A convite da recém fundada Associação Comunitária do Balneário Alegria (ABA), o jornalista e escritor uruguaio Víctor Bacchetta, 73, autor de obras como A Fraude da Celulose e Aratiri y Otras Aventuras, esteve visitando a cidade de Guaíba (RS) neste sábado (18). A Agapan e a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), de Guaíba, acompanharam a visita.

Referência no jornalismo ambiental, Bacchetta veio ao Estado a covite do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCom/Ufrgs). No dia 14, palestrou em uma edição do evento Terça Ecológica, promovido pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul. Nos dias 15 e 16 integrou a programação da jornadas de estudos sobre Jornalismo e Conflitos Ambientais.

Esta não é a primeira vez que o escritor veio a Porto Alegre. Em 2008, palestrou durante o lançamento do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), realizado na Assembleia Legislativa do RS. 

Para a Agapan, todas as iniciativas que tenham o objetivo de conscientizar a população sobre os perigos que ameaçam o ambiente natural e, consecutivamente, a vida merecem o apoio da entidade.
Conhecendo Guaíba

Em Guaíba, o céu encoberto pela neblina dificultou a visualização da fábrica. Fomos até a frente do pórtico de entrada do gigantesco empreendimento. Ficamos do lado de fora, onde fomos avisados pelo segurança que - para a nossa surpresa - a área pública também pertencia à empresa CMPC.  
Em seguida, os dirigentes da AMA e moradores de Guaíba Eduardo Raguze e Guilherme Bica nos levaram para conhecer o entorno da fábrica e os balneários que serviam, antigamente, como locais de lazer e descanso para veranistas de Guaíba e Porto Alegre, principalmente. O jornalista e ambientalista João Batista Santafé Aguiar também nos acompanhou durante o trajeto. Para chegar até o balneário Alegria é necessário circundar a fábrica, pois a rua que unia o bairro ao Centro do município foi engolida pelas instalações da CMPC. 

Nem doçura nem alegria

A referência que o nome do balneário faz ao sentimento de alegria lembra o fato acontecido recentemente em Mariana (MG), no qual o Rio Doce perdeu a sua doçura natural após o crime ambiental que matou o rio e sua inestimável biodiversidade. 
De forma semelhante, o balneário Alegria perdeu seu charme e deixou de ser um local aprazível. Várias residências estão a venda, algumas refletem um clima de abandono e tristeza, frente ao desinteresse de seus proprietários em continuar frequentando o local. Nas ruas em frente às casas é possível ouvir os constantes ruídos da fábrica de celulose e perceber o odor das emissões de poluentes na atmosfera do local. 

Como todo o bom balneário, o Alegria é contemplado por um lindo corpo d'água. No entanto, o grande lago Guaíba - que abriga um rio em seu leito - está poluído e suas águas são consideradas impróprias para banho pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Além dos efluentes domésticos e industriais lançados pelos municípios banhados pelo Guaíba e dos provenientes de outros rios da região metropolitana que nele desaguam, as milhares de toneladas diárias de descartes químicos lançadas pela CMPC contribuem para a morte lenta e gradual do único manancial de água que abastece os moradores da Capital gaúcha, Porto Alegre, e cidades próximas. O município de Barra do Ribeiro, por exemplo, capta água abaixo (sentido da corrente) do local de lançamento de resíduos tóxicos da fábrica. Ver mapa.

Apoio internacional

Foto: cortesia AgirAzul
No encontro realizado com dirigentes da ABA, Víctor Bacchetta contou sobre aspectos semelhantes de outros empreendimentos de grande porte nas áreas de celulose e de mineração que ele conhece na América Latina, inclusive no Uruguai, casos que ele registra nos livros A Fraude da Celulose e Aratiri y Otras Aventuras. Um dos pontos em comum desses tipos de empreendimentos, segundo o jornalista, é a estratégia de sedução e encantamento executada via processos de marketing com a finalidade de obter a "licença social para operar". 

Os moradores e integrantes da associação contaram que grande parte dos moradores apoia a empresa por necessidade de emprego, e que as vagas existentes são aquém ao número prometido pela fábrica.
Diante da falta de alternativas que apresentem um modelo socioeconômico mais limpo e ambientalmente sustentável, com operações menos perigosas e insalubres, a ocupação de vagas de trabalho não é um fator de livre escolha para muitos trabalhadores, que precisam sobreviver e sustentar suas famílias. Os problemas apontados recentemente pelos moradores e, há mais de 40 anos, pela Agapan não chegam a sensibilizar os governantes, que submetem nossas cidades e recursos naturais a riscos e impactos irresponsáveis. Enquanto isso, promessas de empregos não cumpridas e de retornos tributários sigilosos continuam servindo como iscas. 

Outra estratégia dessas grandes empresas - não exclusivamente - é o financiamento de campanhas eleitorais em troca do apoio de políticos do município e do estado. A relação de doações de campanha pode ser acessada no sítio do Tribunal Regional Eleitoral.

Durante a reunião, Víctor indicou alguns caminhos que podem ser tentados para buscar apoio internacional e denunciar a fraude da celulose de Guaíba. 

Heverton Lacerda
Secretário-geral
Imprensa Agapan

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