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quarta-feira, 23 de março de 2011

Após o desastre nuclear de Fukushima as termelétricas a gás natural são a nova ‘aposta’

O gás natural pode estar vivendo um momento muito favorável, agora que as fontes de energia concorrentes estão em uma fase ruim.

Os graves problemas da usina nuclear acidentada no Japão fizeram com com que surgissem novas dúvidas quanto à segurança da energia nuclear. Após a explosão da plataforma da BP no ano passado, não houve novas iniciativas para a exploração de petróleo no Golfo do México. E existe um sentimento negativo em relação às usinas termoelétricas movidas a carvão porque elas contribuem para o aquecimento global. Reportagem de Jad Mouawad, The New York Times.

Enquanto isso, o gás natural superou dois dos seus maiores obstáculos – os preços voláteis e as incertezas quanto às reservas. Os preços do gás natural têm se mantido em patamares relativamente baixos nos últimos dois anos, em grande parte porque as novas descobertas nos Estados Unidos e no exterior provocaram um aumento significativo das reservas conhecidas.

É muito cedo para afirmar com certeza se os acontecimentos calamitosos no Japão poderão atrapalhar o renascimento em escala global da energia nuclear e provocar uma corrida ao gás natural. E é igualmente cedo para dizer se as autoridades responsáveis pela política nuclear estão apenas aparentando ter controle sobre as questões de segurança desde que teve início o atual desastre nuclear japonês.

Mesmo assim, como existe a previsão de que a demanda global por energia terá um crescimento de dois dígitos nas próximas décadas, os analistas estão antecipando uma nova explosão do consumo de gás natural. Tendo em vista as preocupações crescentes quanto à energia nuclear e a necessidade de reduzir as emissões de carbono, o banco Societe Generale afirmou que o gás natural é a “escolha restante” como combustível.

“Em última análise, quando nos debruçamos sobre a equação de risco e benefício, o gás natural emerge como o combustível vitorioso”, diz Lawrence J. Goldstein, economista da Fundação de Pesquisas de Políticas Energéticas. “É um verdadeiro nocaute técnico”.

Os mercados financeiros já começaram a registrar alterações de preços devido a este novo interesse pelo gás natural. Após o desastre no Japão, o preço do urânio sofreu uma queda de 30%, enquanto que os preços do gás na Europa e nos Estados Unidos registraram uma alta de cerca de 10%. Autoridades de diversos países, incluindo a China, a Alemanha, a Finlândia e a África do Sul, disseram que reavaliarão as suas estratégias nucleares.

As empresas de eletricidade também estão reconsiderando o papel do gás natural na produção de energia elétrica estável, uma função que historicamente é desempenhada pelo carvão e pela energia nuclear. Os executivos do setor de energia elétrica vinham se mostrando temerosos em relação às flutuações dos preços do gás natural, especialmente das duas últimas décadas.

Mas esta situação pode estar prestes a mudar, segundo John Rowe, diretor da Exelon, a maior empresa de energia nuclear dos Estados Unidos. Ele argumenta que uma usina de energia nuclear seria proibitivamente cara, enquanto que novas regras que limitam as emissões de carbono, baixadas pela agência de Proteção Ambiental, fariam com que fossem necessários altos investimentos para a redução das emissões das usinas termoelétricas movidas a carvão. Isso significa que as companhias de energia elétrica farão cada vez mais uma transição para o gás natural.

“O gás natural impera”, disse Rowe em uma palestra no Instituto Americano de Empreendimento, neste mês, em Washington, D.C.

Essa opinião é endossada por um relatório que deverá ser divulgado nesta terça-feira (22/03) pelo Centro de Políticas Bipartidárias e pela Fundação American Clean Skies, que prevê que o consumo de gás natural aumentará devido a uma abundância de novas reservas, incluindo nos Estados Unidos, algo que provavelmente manterá os preços relativamente baixos.

A produção mundial de gás natural aumentou 44% nas duas décadas decorridas entre 1990 e 2010, enquanto que as reservas de gás cresceram 67%. Após ter atingido um valor máximo de US$ 13,58 por mil pés cúbicos em 2008, o preço do gás nos Estados Unidos caiu para uma média de US$ 4,38 no ano passado. Além do mais, o gás natural emite apenas a metade do dióxido de carbono emitido pelo carvão quando este é queimado para a produção de um quilowatt hora de eletricidade.

O mercado imediato para o gás natural provavelmente será o próprio Japão, que está desesperado para aumentar as suas importaçõesde combustível depois que um quinto da sua capacidade nuclear ficou paralisada, incluindo a problemática usina de Fukushima Daiichi.

O Japão já importa um terço do gás natural liquefeito global e os seus terminais de importação, sobremaneira os do sul, não foram danificados pelo terremoto. A energia nuclear e o carvão respondem por um quarto da geração de energia elétrica no Japão, enquanto que o gás natural responde por 30%, de acordo com analistas da companhia financeira Raymond Jones.

“É possível que o terremoto de Honshu venha a ser o catalisador que remodelará fundamentalmente a nossa abordagem em relação à energia global”, opinaram na semana passada os analistas da Bernstein Research.

Muitas companhias petrolíferas anteciparam essa mudança. Na Royal Dutch Shell, a produção de gás natural superou a de petróleo nos últimos anos. A ExxonMobil adquiriu a XTO Energy no ano passado a fim de aumentar a sua presença no mercado crescente de gás de xisto. A companhia também instalou projetos significativos de exploração de gás em Qatar, que possui as terceiras maiores reservas de gás natural do mundo, depois da Rússia e do Irã.

Novos projetos de grande dimensão dedicados ao gás natural liquefeito – nos quais o gás é congelado, comprimido no estado líquido para maior facilidade de transporte, e a seguir transformado novamente em gás nos terminais de importação – têm se multiplicado por todo o mundo nos últimos anos. Na Papua Nova Guiné, a Exxon está liderando um projeto no valor de US$ 15 bilhões (R$ 25 bilhões) para a construção e o desenvolvimento de uma unidade de gás natural liquefeito para abastecer clientes na Ásia. A Chevron recentemente deu início aos trabalhos de engenharia do projeto de gás Gorgon, no valor de US$ 40 bilhões (R$ 66,7 bilhões), na Austrália, juntamente com a Shell e a Exxon. Já a Rússia está pretendendo explorar novos e enormes campos de gás no Ártico.

Mas o gás natural também tem os seus problemas. Para extrair metano das duras rochas de xisto nos Estados Unidos, as companhias de energia utilizam o fraturamento hidráulico, um método que é criticado por poluir as fontes de água, incluindo rios e aquíferos subterrâneos.

Mas é preciso que a política energética encontre um equilíbrio entre esses perigos e as preocupações públicas quanto à energia nuclear, além de levar em conta o problema ainda não solucionado referente ao que fazer com o combustível nuclear usado que permanece radioativo durante centenas de anos.

“A energia nuclear de repente deixou de ser uma parte da solução para uma futura estrutura de energia verde e tornou-se uma perigosa relíquia da guerra fria”, declarou na semana passada, em um relatório, o Deutsche Bank.

Nos Estados Unidos, onde nenhum novo reator foi construído desde o acidente na usina de Three Mile Island, em 1979, o atitude em relação à energia nuclear tem sido ambivalente. No ano passado, o presidente Barack Obama pediu ao Departamento de Energia que fornecesse algum suporte financeiro para operações nucleares, incluindo dois reatores que deveriam ser construídos no Estado da Geórgia.

Mas, após o desastre japonês, o governo norte-americano ordenou uma ampla reavaliação da segurança das usinas nucleares.

Ao mesmo tempo, a indústria nuclear tem constatado que é quase impossível construir e financiar novas usinas. Em dezembro do ano passado, por exemplo, a Exelon cancelou a sua proposta para a construção de uma usina nuclear no Condado de Victoria, no Estado do Texas, devido à oposição da população local.

As companhias de energia elétrica também têm enfrentado dificuldades para a renovação das suas licenças de operação existentes. A Estação de Energia Nuclear Pilgrim, em Plymouth, no Estado de Massachusetts, está aguardando uma nova licença há cinco anos devido aos litígios e atrasos nos tribunais. Autoridades estaduais do Estado de Vermont têm lutado para fechar a usina Vermont Yankee, em Entergy, que começou a operar em 1972.

Existem 104 reatores nucleares nos Estados Unidos, que geram 23% da energia elétrica do país. Segundo a “Bloomberg News”, 20 reatores estão com pedidos pendentes junto aos reguladores federais para ampliarem a vida útil das usinas por até duas décadas.

“É provável que nós façamos em relação às licenças nucleares o mesmo que fizemos com as licenças para exploração de petróleo no mar”, diz Goldstein, da fundação de políticas energéticas. “Nós postergaremos e paralisaremos o processo”
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FONTE : reportagem do New York Times, no UOL Notícias. (EcoDebate, 23/03/2011).

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