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quarta-feira, 16 de março de 2011

Acidente no Japão serve de alerta para a Índia

Ativistas contra a energia nuclear na Índia veem a delicada situação no Japão como um alerta para Nova Délhi e seu ambicioso programa de desenvolvimento atômico. Um acordo de cooperação nuclear, assinado pela Índia com os Estados Unidos em outubro de 2008, abriu um mercado de US$ 270 bilhões para os reatores atômicos. Agora, membros do Grupo de Fornecedores Nucleares, integrado por 45 nações, fazem fila por contratos.

O maior destes contratos foi assinado em dezembro de 2010 com a fabricante francesa Areva, para criação de um parque de energia de 9.900 megawatts, o maior do mundo, e gerou controvérsia pública por causa do lugar escolhido para sua construção: Jaitapur-Madban, no Estado de Maharashtra.

“Além de nossa oposição à energia atômica, somos contra o local escolhido na costa de Konkan, que fica dentro de um cinturão sísmico”, disse à IPS o ativista Laxminarayan Ramdas, um dos líderes da Coalizão para o Desarmamento Nuclear. “Os desafortunados acontecimentos no Japão e a possibilidade de um derretimento da central nuclear de Fukushima deveriam servir de alerta para os defensores da energia atômica neste país”, afirmou.

Jaitapur fica dentro de uma “zona de risco” no mapa de ameaças sísmicas da Índia. Nos últimos 20 anos, houve três terremotos em Jaitapur que superaram os cinco pontos na escala Richter, e o pior deles ocorreu em 1993, de 6,3 pontos, matando nove mil pessoas na região de Konkan. “É um dos lugares com maior biodiversidade do mundo, e um acidente nuclear poderia provocar um grande dano e de longo prazo”, ressaltou.

Ramdas, chefe naval da Índia entre 1990 e 1993 e ganhador em 2004 do Prêmio Ramon Magsaysay para a Paz e o Entendimento Internacional por seus esforços para aproximar Índia e Paquistão, foi proibido de entrar em Jaitapur pelo governo de Maharashtra. “O governo defende o projeto de um reator (o Reator Pressurizado Europeu – EPR) que ainda não foi avaliado pela autoridade reguladora atômica de nenhum país, nem mesmo da França. Não sabemos a quem tentam agradar”, questionou.

A construção do primeiro EPR do mundo na cidade finlandesa de Olkiluoto está paralisada por um litígio entre as autoridades reguladoras de Finlândia, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos, que expressaram preocupação por vários assuntos de segurança.

A estatal Nuclear Power Corporation of India Ltd. (NPCIL) assinou acordos de cooperação para fornecimento de equipamentos ou combustível nuclear com Argentina, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Mongólia, Namíbia e Rússia, e tem planos para construir parques de energia atômica.

Os projetados parques em Kudankulam (no Estado de Tamil Nadu), Mithi Virdi (Gujarat), Kovvada (Andhra Pradesh) e Haripur (Bengala Ocidental) geraram protestos de grupos de agricultores e pescadores locais. Os protestos mais duros foram em Kudankulam, onde é construída uma usina de 9.200 megawatts com reatores VVER (com água pressurizada), muito usados nas ex-repúblicas soviéticas.

S. P. Udayakumar, que lidera a influente Aliança Nacional de Movimentos Antinucleares, com sede na cidade de Nagercoil, em Tamil Nadu, disse à IPS que o que está ocorrendo em Fukushima pode se repetir no resto do mundo, independente das precauções que forem tomadas.

“Há sérias lições nesse episódio para a Índia, justamente quando está próximo o 25º aniversário do mortal acidente da usina de Chernobil, dia 26 de abril”, onde agora é a Ucrânia, destacou Udayakumar. “Depois que o tsunami no Oceano Índico em dezembro de 2004 afetou a instalação nuclear de Kalpakkam e causou várias mortes, o Departamento de Energia Atômica da Índia se dedicou a garantir que todas as usinas atômicas do país estivessem seguras”, acrescentou.

Embora os reatores da Usina de Energia Atômica de Madras em Kalpakkam não tenham sofrido danos, funcionários do Departamento admitiram que não foram construídos para enfrentar um tsunami como o de 2004, que matou 225 mil pessoas em 11 países. Após o acidente em Fukushima, “o público indiano deve se definir sobre o perigoso plano de desenvolvimento atômico que o governo da Índia quer impor ao povo. Até agora, isto se caracteriza por falta de transparência, falta de responsabilidade, aquisições forçadas de terras e repressão policial”, ressaltou Udayakumar.

Especialistas e funcionários continuam insistindo que as 20 centrais atômicas que funcionam no território indiano são seguras. No dia 13, a NPCIL divulgou um comunicado assinalando que os acontecimentos do Japão seriam analisados. “Depois desse exame, será realizado qualquer reforço que for necessário”, dizia a declaração.
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FONTE : Ranjit Devraj, da IPS (Envolverde/IPS)

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