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sábado, 22 de outubro de 2022

UMA CIDADE PARA SER FELIZ

por Samyra Crespo – Hoje vi uma postagem de uma amiga – Ana Neto. Eu a conheci em Brasília, trabalhando no Ministério do Planejamento em “compras sustentáveis “. Colaborou um tempo comigo no Ministério do Meio Ambiente, onde fui sua ‘chefe’. Hoje em dia, vive em Portugal, sua terra natal. Na referida postagem, há uma bela imagem de um pintura de Chagall (reproduzo abaixo). E uns dizeres atribuídos a Hemingway: ‘só se é feliz em casa e em Paris’. Sabemos que Hemingway teve uma vida movimentada em Paris, mas extremamente penosa, pobre, no início de sua carreira. Parte dessa experiência está descrita em livro de sua própria lavra: ‘Paris é uma festa’. Fico pensando em quais cidades eu seria feliz, simplesmente por ser um lugar promissor ou encantado. Conheci tantas em minhas andanças pelo mundo! Cosmopolitas, acanhadas, históricas, turísticas, místicas, acolhedoras, outras apenas misteriosas… Paris é linda, mas tem Praga e Roma, Londres, Rio de Janeiro… Desfilam lugares, monumentos, cafés, livrarias fantásticas e me pergunto novamente, qual cidade me faria feliz por apenas ali viver? Uma vez tive a sensação de que se tivesse que escolher um ‘exílio ‘escolheria Salamanca: a cidade me atingiu profundamente. Até hoje, passados quase 20 anos desde minha visita, sinto suas vibrações. Me encantaram o contraste de sua história, antiga, com a beleza da juventude universitária que ali reside. Se tivesse que buscar um destino na América do Sul seria Montevidéu: agrada-me a discrição da cidade, o rio-mar que a embala, a gravidade que seus habitantes carregam no semblante. E no Brasil? Hoje, no meu país, busco civilidade, sossego e respeito à paisagem, à vida natural: um lugar onde ser velho não seja encarado como doença ou desvantagem. Nas cidades grandes vejo pouca chance de encontrar. Talvez em ‘ilhas’ artificiais, condomínios de classe média, bairros de luxo. Mas nestes, não quero habitar. Meu espírito consideraria tedioso e mesmo insuportável. No Rio, onde vivo atualmente, ando incerta sobre tudo. Às vezes sucumbo ao seu encanto natural explícito, com frequência me horrorizo com a decadência daquilo que chamo ‘arte da convivialidade’. É bem possível, como já apontou Calvino no seu magnífico livro ‘As cidades Invisíveis ‘, que toda cidade seja apenas uma mistura do que conseguimos ver e imaginar em cada uma delas. Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

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