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segunda-feira, 8 de novembro de 2021
O malquisto e desprezado (des)governo brasileiro, artigo de Heitor Scalambrini Costa
Este final de outubro de 2021 revelou mais uma vez, o quanto o (des)governo brasileiro está isolado no contexto internacional.
A queda de Trump nos USA, aquele mesmo que recebeu um “I love you” (eu te amo, em inglês) do presidente Bolsonaro, na reunião de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2019, mostrou de que maneira é visto, considerado e credível o atual presidente brasileiro. Nestas raras reuniões internacionais que têm participado, agora sem a presença do ex-presidente americano para lhe dar guarida, acaba agindo como verdadeiro “penetra”, aquele que não foi convidado.
A reunião anual do G20 (organização que reúne ministros da Economia e presidentes dos Bancos Centrais de 19 países e da União Europeia, responsável por cerca de 80% de toda a economia global) no final de outubro em Roma, mostrou o grau de afastamento do presidente de outros mandatários mundiais. Nenhuma conversa bilateral, e multilateral com chefes de Estado e governos. Nenhuma reunião, o que é contumaz quando chefes de Estado se reúnem. Também levou falta nos passeios turísticos oficiais. E nem na foto final do encontro apareceu. Foi o “Gasparzinho” da reunião, sem ter sido camarada.
Engatado ao encontro do G20 está ocorrendo até 12 de novembro, a 26ª edição da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP26), a reunião do Clima em Glasgow, na Escócia. Reconhecida pelo presidente da reunião, Alok Sharma (ex ministro britânico da Economia), como a “última chance para a humanidade cumprir as metas climáticas e limitar o aquecimento global”. Deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiada em função da pandemia do Coronavírus (COVID-19).
Mais de 100 líderes mundiais (chefes de Estado e de governo) se encontram diante da realidade das mudanças climáticas e seus impactos. Resultado, nada fácil de se obter, seria o comprometimento mundial dos países no detalhamento de regras e metas que visassem diminuir as emissões dos gases de efeito estufa (em particular, o gás carbônico CO2), assim evitando o agravamento da atual situação, e as consequências dos eventos climáticos extremos.
Reuniões e encontros das organizações da sociedade civil acontecem paralelamente ao encontro de líderes da COP26. Sua presença e ações atuam para pressionar governos a agirem, e tomarem decisões que a situação emergencial exige, com medidas específicas, ambiciosas e imediatas para reduzir as emissões, e a produção de combustíveis fósseis. O empresariado, o capital financeiro também presentes na ênfase, de que se precisa fazer mais, para diminuir mais as emissões de gases.
O que deve ser ressaltado nesta COP é a presença massiva das populações originárias nas discussões decisivas. Os povos indígenas nunca estiveram quantitativamente tão representados como em outras reuniões sobre o Clima. Os chamados “guardiões das florestas”, juntamente com as populações locais, são efetivamente os que cuidam da biodiversidade planetária, e retomam o papel de protagonistas, como centro das discussões, neste cenário em que as matas e sua preservação, são fundamentais no enfrentamento da emergência climática. A juventude compareceu e mais numerosa em relação aos últimos eventos do Clima, com grande repercussão e visibilidade na mídia mundial. Afinal as preocupações são de todos que habitam o Planeta, pois o que se está discutindo é a vida na Terra.
Na COP26 o presidente Bolsonaro nem ousou ir. Segundo a justificativa do vice-presidente Mourão (está mais para uma simples estaca), a ausência foi por causa das críticas que receberia em relação à Amazônia, a sua omissão sobre o desmatamento acelerado e o aumento das emissões de gases de efeito estufa em seu governo, e a destruição da legislação ambiental. O que tem dificultado o enfrentamento dos crimes cometidos contra os distintos biomas brasileiros. Foi até melhor que ele não tivesse ido a esta reunião, poderia até atravancar as negociações.
Mesmo não indo a Glasgow (ainda bem), sua permanência na Itália foi malquista por vários setores da sociedade italiana, e por brasileiros residentes. Manifestações de rua contra a presença do presidente foram postadas e divulgadas amplamente pelos meios de comunicação. Mais uma vez ficou claro o quanto esta figura, ocupando de passagem à presidência, está despreparada e rechaça bens valiosos da democracia, como a liberdade de imprensa. Jornalistas presentes as caminhadas do presidente pelas ruas de Roma, foram intimidados, censurados e agredidos por fazerem perguntas ao “dignitário”. Além de terem objetos de trabalho subtraídos. Belo exemplo de incivilidade.
Cruz credo. Que este terremoto, associado a um tsunami e a uma tragédia nuclear, tudo junto e misturado, retorne o mais breve possível a insignificância, e sofra as punições que o caso exige. Que atrás das grades cumpra o veredito da justiça pelos crimes conhecidos e já denunciados a Procuradoria Geral da República (PGR), e outros organismos nacionais e internacionais.
Ninguém aguenta mais!!!!
Heitor Scalambrini Costa
Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/11/2021
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