(por André Trigueiro) *
Em tempos de aquecimento global, plantar árvores passou a ser um bom negócio, principalmente para quem quer compensar os gases de efeito estufa emitidos nas mais diferentes atividades do dia a dia.
Você já se deu conta de que quase tudo o que a gente faz resulta na emissão de gases de efeito estufa? Principalmente o tal do dióxido de carbono, mais conhecido como CO2.
Um carro flex, com motor 1.4, que roda 100 quilômetros por mês, emite 110 quilos de CO2. Uma ponte aérea São Paulo – Rio de Janeiro, ida e volta, é rapidinha, mas lá se vão 130 quilos de gás carbônico por pessoa.
Se você paga R$ 100 de conta de luz por mês, está emitindo mais 150 quilos. Só esses três exemplos dão um total de 390 quilos de CO2. Ou seja, você precisaria plantar duas árvores para compensar essa emissão e esperar de 30 a 40 anos até elas ficarem adultas para ficar quite com a atmosfera.
A conta é complexa. Os especialistas usam a chamada calculadora de CO2, que faz a conversão dos gases emitidos em árvores que precisam ser plantadas para compensar o dano. Se for espécie nativa da Mata Atlântica, por exemplo, cada árvore é capaz de estocar em média 190 quilos de dióxido de carbono na fase adulta.
É possível fazer a conta para qualquer atividade, e já tem quem faça isso. A Iniciativa Verde, por exemplo, foi uma das pioneiras neste mercado. Já plantou quase 500 mil árvores em mais de mil projetos de compensação.
Seis grandes lojas de uma rede de material de construção espalhada pelo Brasil tiveram os gases de efeito estufa emitidos, quando foram construídas, compensadas com o plantio de árvores. Até o momento, essa conta fechou em 55 mil mudas de árvores plantadas.
“Para cada quilo de concreto produzido, a gente emite para a atmosfera, 100 gramas de gás carbônico. O alumínio já é um material bem mais exigente. Para cada quilo de alumínio produzido, são seis quilos de gás carbônico emitidos para a atmosfera. Então, a gente tem que levar em consideração as particularidades de cada material para fazer a contabilização total de gás carbônico emitida por ordem da construção da loja”, diz Magno Castelo Branco, diretor técnico da Iniciativa Verde.
Aplicando a calculadora de carbono, o uso de 15 mil toneladas de concreto em uma única loja (1.635 toneladas de CO2) resultou no plantio de 8.605 árvores; 324 toneladas de cimento (292 toneladas de CO2) viraram 1537 árvores; e 233 toneladas de aço (247 toneladas de CO2), 1.300 novas árvores.
“Com as seis lojas, nós compensamos em torno de R$ 500 mil”, afirma Andreia Abreu, gerente de projetos e obras – Leroy Merlin. Quem paga pelo serviço acompanha online o crescimento das mudas com direito a imagens de satélite de mapas digitalizados.
A lista dos clientes da organização é grande, e vai de grupos de pagode a editoras de livros e feiras de moda. Todas as árvores são plantadas em áreas degradadas nas margens dos rios.
A reportagem foi a São Carlos, a 230 quilômetros de São Paulo, para conhecer uma das áreas onde a compensação de carbono é feita. Na cidade, os proprietários rurais são obrigados por lei a proteger com vegetação uma faixa com 50 metros de largura dos dois lados dos rios.
São áreas de proteção permanente. Nem todos os proprietários rurais conseguem ou querem cumprir a legislação. “Não tinha nada aqui, era só vegetação de capim. Aqui foram plantadas 4 mil mudas, sendo de 85 espécies diferentes”, diz Flavio Roberto Marchesin, produtor rural.
Flávio mostra com orgulho a floresta que protege o rio responsável por 40% da água servida em São Carlos. De agricultor, transformou-se em parceiro do projeto. É dele o mudário de onde saem as novas gerações de árvores que vão esverdeando aos poucos as propriedades dos vizinhos.
O sítio acolhe um centro ambiental onde os alunos das escolas da região agendam visitas para ver de onde vem a água da cidade, como transformar o lixo orgânico em adubo e, finalmente, a lição mais esperada do dia, como plantar a árvore.
Da tranquila zona rural, para o ronco dos motores de Rio Claro, a 150 quilômetros de São Paulo, a locadora de carros lançou a ideia em 2009. “A empresa passa para nós um relatório das locações. A gente faz o calculo total de quilômetros, que foram percorridos com cada tipo de veículo, e a gente chega no total de emissões”, diz o diretor executivo Leandro Aranha.
“Eu acho que é você incentivar e buscar uma consciência nas pessoas que alugam, então não é uma coisa obrigatória. A gente dá a possibilidade de a pessoa escolher participar do programa. Eu acho que o resultado é bem satisfatório”, diz Marcela Moreira, diretora de marketing – Movida Rent a Car.
E quando se trata de um mega evento como as Olimpíadas? O Brasil assumiu o compromisso de compensar as emissões dos jogos de 2016. Segundo o secretário do Ambiente, serão plantadas 24 milhões de árvores até dezembro de 2015.
No mapa, aparecem as metas assumidas pelas dez maiores empresas do estado. No site, o plantio feito por voluntários é atualizado online. “Esses 24 milhões provavelmente vão abater as emissões da Olimpíada e também as emissões da Copa do Mundo. Vão ser três em um. Com a mesma árvore, você capta carbono, protege o recurso hídrico e expande os corredores de biodiversidade”, afirma Carlos Minc, secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.
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FONTE :
* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.
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