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sexta-feira, 30 de setembro de 2022
Conhecimento dos Povos Indígenas é essencial nas políticas climáticas
Relatório destaca como o reconhecimento dos sistemas de conhecimento dos Povos Indígenas e das comunidades locais pode fazer mais para lidar com as mudanças climáticas do que muitas abordagens atuais
Também defende a garantia da inclusão plena e equitativa dos Povos Indígenas e das comunidades locais nos processos políticos.
University of East Anglia (UEA)*
O relatório , publicado como um white paper, foi produzido por uma equipe internacional de 12 autores liderada pelo professor Ben Orlove da Universidade de Columbia nos EUA, e incluindo o Dr. Victoria Reyes-García da Instituição Catalã de Pesquisa e Estudos Avançados (ICREA) e Instituto de Ciências e Tecnologia Ambientais da Universidade Autônoma de Barcelona (ICTA-UAB), na Espanha. A equipe também incluiu cinco estudiosos indígenas.
Copatrocinado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o documento foi uma resposta aos crescentes pedidos de atenção internacional. à cultura na ciência e política das mudanças climáticas.
Supõe-se frequentemente que as respostas às mudanças climáticas devem envolver novas tecnologias ou mudanças comportamentais impulsionadas por governos e grandes empresas. No entanto, os autores baseiam-se em diversas literaturas e estudos de caso para ilustrar por que o reconhecimento dos sistemas de conhecimento dos Povos Indígenas e das comunidades locais acrescentaria muito às abordagens científicas ocidentais e representaria uma mudança transformadora necessária dos atuais esforços de cima para baixo.
Esse conhecimento, detido pelos 400 milhões de Povos Indígenas do mundo, além de muitas comunidades tradicionais locais, traz formas alternativas de compreensão e formas comprovadas, de baixo para cima, de abordar problemas globais complexos, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
No entanto, de forma contraproducente, muitas dessas comunidades continuam sofrendo discriminação social, política e econômica – muitas vezes incluindo violência e deslocamento de seus territórios – e são mais afetadas pelas mudanças ambientais e climáticas.
Dawson, pesquisador da Escola de Desenvolvimento Internacional da UEA e um dos principais autores do relatório, disse: “Respeitar os direitos humanos dos Povos Indígenas, seus territórios e seus conhecimentos poderia fazer muito mais para lidar com as mudanças climáticas do que muitas soluções propostas.
“É chocante que isso represente uma mudança tão grande, mas este relatório mostra que diversas visões de mundo precisam de muito mais reconhecimento na política e na ciência do clima.”
Os exemplos detalhados no relatório incluem a contribuição da espiritualidade mapuche para a mitigação das mudanças climáticas no Chile, costumeiramente processos que orientam a
realocação de aldeias costeiras em Fiji, o conhecimento local de gestão da água na Sierra Nevada espanhola e as práticas indígenas de gestão do fogo para a conservação das florestas na Bolívia. gestão de risco de inundação em assentamentos informais em Serra Leoa e conhecimento indígena em ambientes urbanos, como a área da Baía de São Francisco e Phoenix Valley nos Estados Unidos.
A colaboração aprimorada entre a ciência ocidental e esses diversos sistemas de conhecimento tem sido cada vez mais exigida em relatórios internacionais, como forma de melhorar a eficácia da ação climática.
“Simplificando, muitos órgãos internacionais agora recomendam papéis e oportunidades muito mais proeminentes para líderes e representantes indígenas influenciarem decisões e compromissos nas negociações climáticas globais e estratégias climáticas em nível nacional”, disse Reyes-García, professor do ICREA no ICTA-UAB.
“Mas, como o relatório ilustra, isso não é tão rápido e fácil de alcançar. Os sistemas de conhecimento são altamente complexos, enraizados em diferentes visões de mundo e valores. Embora às vezes considerados desatualizados e irrelevantes para o mundo moderno, os sistemas de conhecimento indígenas são ativos, dinâmicos, contemporâneos e altamente resilientes”.
Os sistemas de conhecimento não incluem apenas valores, como crenças espirituais e conexões com a natureza, mas também formas de decidir, organizar e governar ativamente, administrar e cuidar da terra e dos recursos.
Eles desempenham um papel crucial na gestão sustentável de muitos dos ecossistemas, espécies e recursos críticos do mundo.
“Há um consenso crescente de que não estamos respondendo às mudanças climáticas com a velocidade ou eficácia necessárias”, explicou Rosario Carmona, pesquisadora do Centro de Pesquisa para Gestão Integrada de Riscos de Desastres no Chile.
“Para enfrentar esse desafio, precisamos urgentemente entender o problema de uma perspectiva diferente. Os valores e visões de mundo dos Povos Indígenas têm muito a contribuir.”
O relatório – intitulado ‘Intangible Cultural Heritage, Diverse Knowledge Systems and Climate Change’– descreve os passos a serem dados para um maior reconhecimento dos sistemas de conhecimento indígenas e locais, como direitos plenos e seguros aos territórios e línguas indígenas, respeito aos direitos e destaca características de uma colaboração mais equitativa.
O desenvolvimento de compreensão intercultural, confiança e processos de governança apropriados pode levar anos e vai contra muitas suposições e formas arraigadas de lidar com crises ambientais, mas o relatório diz que isso é essencial para sustentar ecossistemas e pessoas.
Em níveis locais, uma ação climática mais eficaz pode ser alcançada por meio da garantia de direitos aos territórios indígenas e do apoio a instituições consuetudinárias. As estratégias climáticas nacionais e as Contribuições Nacionalmente Determinadas devem incluir a governança consuetudinária e a administração local como veículos para alcançar níveis de emissões sustentáveis.
Em nível internacional, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deve elevar o papel da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas e facilitar recursos mais diretos de Povos Indígenas e comunidades locais para apoiar a aplicação e resiliência de diversos sistemas de conhecimento.
Além disso, os processos de avaliação do IPCC devem incluir mais acadêmicos indígenas como autores/autores principais da avaliação, usar formas mais amplas de citação e estudos de caso para a próxima Rodada de Avaliação 7 e além, e mais síntese de evidências relacionadas aos papéis desempenhados pelos Povos Indígenas e comunidades locais através de seus sistemas tradicionais, mas em evolução.
Intangible Cultural Heritage, Diverse Knowledge Systems and Climate Change
Intangible Cultural Heritage, Diverse Knowledge Systems and Climate Change
Orlove, Ben & Sherpa, Pasang & Adelekan, Ibidun & Alangui, Willy & Carmona, Rosario & Coen, Deborah & Nelson, Melissa & Reyes-García, Victoria & Rubis, Jennifer & Sanago, Gideon & Wilson, Andrew & Dawson, Neil. (2022). Intangible Cultural Heritage, Diverse Knowledge Systems and Climate Change ICSM CHC White Paper. 10.13140/RG.2.2.35355.54565.
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
No Brasil as secas severas devem aumentar mesmo com aquecimento de 1,5°C
No cenário de aquecimento de 1,5°C, a probabilidade de seca deverá triplicar no Brasil e na China, quase dobrar na Etiópia e Gana, aumentar ligeiramente na Índia e aumentar substancialmente no Egito
University of East Anglia*
Secas mais frequentes e duradouras causadas pelo aumento das temperaturas globais representam riscos significativos para as pessoas e ecossistemas em todo o mundo – de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de East Anglia (UEA).
O estudo mostra que mesmo um aumento modesto de temperatura de 1,5°C terá sérias consequências na Índia, China, Etiópia, Gana, Brasil e Egito. Esses seis países foram selecionados para estudo no projeto UEA porque oferecem uma variedade de tamanhos contrastantes e diferentes níveis de desenvolvimento em três continentes que abrangem biomas tropicais e temperados e contêm habitats de florestas, pastagens e desertos.
As descobertas em ‘Quantification of meteorological drought risks between 1.5 °C and 4 °C of global warming in six countries‘, foram publicadas na revista Climatic Change.
O artigo, liderado pelo Dr. Jeff Price e seus colegas do Tyndall Center for Climate Change Researchna UEA, quantificou os impactos projetados de níveis alternativos de aquecimento global sobre a probabilidade e duração de secas severas nos seis países.
Price, Professor Associado de Biodiversidade e Mudanças Climáticas, disse: “As promessas atuais para a mitigação das mudanças climáticas, que ainda devem resultar em níveis de aquecimento global de 3°C ou mais, impactariam todos os países neste estudo.
“Por exemplo, com um aquecimento de 3°C, mais de 50% da área agrícola em cada país está projetada para ser exposta a secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos.
“Usando projeções populacionais padrão, estima-se que 80% a 100% da população no Brasil, China, Egito, Etiópia e Gana (e quase 50% da população da Índia) estejam expostas a uma severa seca com duração de um ano ou mais em um período de 30 anos.
“Em contraste, descobrimos que cumprir a meta de temperatura de longo prazo do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, é projetada para beneficiar muito todos os países neste estudo, reduzindo bastante a exposição a seca severa para grandes porcentagens da população e em todas as principais classes de cobertura da terra, com o Egito potencialmente se beneficiando mais”.
No cenário de aquecimento de 1,5°C, a probabilidade de seca deverá triplicar no Brasil e na China, quase dobrar na Etiópia e Gana, aumentar ligeiramente na Índia e aumentar substancialmente no Egito.
Em um cenário de aquecimento de 2°C, a probabilidade de seca é projetada para quadruplicar no Brasil e na China; o dobro na Etiópia e Gana; alcançar mais de 90 por cento de probabilidade no Egito; e quase o dobro na Índia.
Em um cenário de aquecimento de 3°C, a probabilidade de seca projetada para ocorrer no Brasil e na China é de 30-40 por cento; 20-23 por cento na Etiópia e Gana; 14% na Índia, mas quase 100% no Egito.
Finalmente, em um cenário de aquecimento de 4°C, a probabilidade de seca projetada no Brasil e na China é de quase 50%; 27-30 por cento na Etiópia e Gana; quase 20% na Índia; e 100 por cento no Egito.
Na maioria dos países, o aumento projetado na probabilidade de seca aumenta aproximadamente linearmente com o aumento da temperatura. A exceção é o Egito, onde mesmo pequenas quantidades de aquecimento global potencialmente levam a grandes aumentos na probabilidade de seca.
A professora Rachel Warren , líder do estudo geral do qual este artigo é uma saída, disse: “Não apenas a área exposta à seca aumenta com o aquecimento global, mas também aumenta a duração das secas.
“No Brasil, China, Etiópia e Gana, as secas de mais de dois anos devem ocorrer mesmo em um cenário de aquecimento de 1,5 ° C.”
Em um cenário de aquecimento de 2°C, a duração das secas projetadas em todos os países (exceto na Índia) deve exceder três anos. Em um cenário de aquecimento de 3°C, as secas são projetadas para se aproximarem de 4 a 5 anos de duração e em um cenário de aquecimento de 4°C, secas severas de mais de cinco anos são projetadas para o Brasil e a China, com seca severa a nova condição de linha de base.
Além disso, espera-se que a porcentagem de terra projetada para ser exposta a uma seca severa de mais de 12 meses em um período de 30 anos aumente rapidamente pelo cenário de aquecimento de 1,5°C no Brasil, China e Egito, e em áreas de neve permanente e gelo na Índia.
A Índia e a China têm grandes áreas atualmente sob cobertura de gelo e neve ‘permanentes’. No entanto, no cenário de aquecimento de 3°C, projeta-se que 90% dessas áreas enfrentarão secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos.
Essas áreas formam as cabeceiras de muitos dos principais sistemas fluviais e, portanto, o abastecimento de água para milhões de pessoas a jusante. O aumento da probabilidade e duração de secas severas apontam para potenciais declínios no armazenamento de água no Himalaia chinês na forma de neve e gelo.
A seca pode ter grandes impactos na biodiversidade, nos rendimentos agrícolas e nas economias. Este estudo indica que todos os seis países precisarão lidar com o estresse hídrico no setor agrícola, potencialmente por meio da mudança de variedades de culturas ou por meio de irrigação, se houver água disponível. A quantidade de adaptação necessária para lidar com esse aumento na seca, portanto, aumenta rapidamente com o aquecimento global.
As áreas urbanas se saem um pouco melhor e geralmente mostram o mesmo padrão acima. Áreas ao longo de rios e córregos ou com reservatórios podem se sair melhor, dependendo da competição por recursos hídricos e nascentes.
O professor Warren disse: “O cumprimento dos Acordos de Paris pode ter grandes benefícios em termos de redução do risco de seca severa nesses seis países, em todas as principais classes de cobertura da terra e para grandes porcentagens da população em todo o mundo.
“Isso requer uma ação urgente em escala global agora para interromper o desmatamento (inclusive na Amazônia) nesta década e descarbonizar o sistema de energia nesta década, para que possamos atingir emissões líquidas globais de gases de efeito estufa zero até 2050.”
Probabilidade média mensal de uma seca meteorológica
Probabilidade média mensal de uma seca meteorológica SPEI-12 de magnitude -1,5 em amplas categorias de habitat (da ESA CCI, 2015) em a) Brasil b) China c) Egito d) Etiópia e) Gana f) Índia. Consulte as Tabelas SM 1–6 para obter informações discriminadas por classificação mais precisa da cobertura da terra. Mediana baseada em 23 padrões GCM. DOI : 10.1007/s10584-022-03359-2
Price, J., Warren, R., Forstenhäusler, N. et al. Quantification of meteorological drought risks between 1.5 °C and 4 °C of global warming in six countries. Climatic Change 174, 12 (2022). https://doi.org/10.1007/s10584-022-03359-2
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Degelo acidifica o Oceano Ártico quatro vezes mais rápido que outros oceanos
O Ártico está se aquecendo a uma taxa mais rápida do que qualquer região comparável da Terra, com uma consequentemente rápida perda de gelo marinho
Artigo de Beth Miller*
GELO DE DERRETIMENTO RÁPIDO PODE CONTRIBUIR PARA A ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS
Wei-Jun Cai, especialista em química marinha da Universidade de Delaware, está soando novos alarmes sobre a mudança química da região ocidental do Oceano Ártico, onde ele e uma equipe internacional de colaboradores descobriram que os níveis de acidez aumentaram de três a quatro vezes mais rápido do que as águas oceânicas em outros lugares.
Eles também identificaram uma forte correlação entre a taxa acelerada de derretimento do gelo na região e a taxa de acidificação dos oceanos, uma combinação perigosa que ameaça a sobrevivência de plantas, moluscos, recifes de corais e outras formas de vida marinha e processos biológicos em todo o ecossistema do planeta.
O novo estudo, publicado na quinta-feira, 30 de setembro na Science , o principal jornal da Associação Americana para o Avanço da Ciência , é a primeira análise da acidificação do Ártico que inclui dados de mais de duas décadas, abrangendo o período de 1994 a 2020. .
Os cientistas previram que até 2050 – se não antes – o gelo marinho do Ártico nesta região não sobreviverá mais às estações de verão cada vez mais quentes. Como resultado desse recuo do gelo marinho a cada verão, a química do oceano se tornará mais ácida, sem cobertura de gelo persistente para retardar ou mitigar o avanço.
Isso cria problemas de risco de vida para a população extremamente diversificada de criaturas marinhas, plantas e outros seres vivos que dependem de um oceano saudável para sobreviver. Caranguejos, por exemplo, vivem em uma casca dura construída a partir do carbonato de cálcio predominante na água do oceano. Os ursos polares dependem de populações saudáveis de peixes para alimentação, peixes e aves marinhas dependem de plâncton e plantas, e os frutos do mar são um elemento-chave da dieta de muitos humanos.
Isso torna a acidificação dessas águas distantes um grande problema para muitos dos habitantes do planeta.
Primeiro, um rápido curso de atualização sobre os níveis de pH, que indicam quão ácido ou alcalino é um determinado líquido. Qualquer líquido que contenha água pode ser caracterizado pelo seu nível de pH, que varia de 0 a 14, sendo a água pura considerada neutra com pH de 7. Todos os níveis inferiores a 7 são ácidos, todos os níveis superiores a 7 são básicos ou alcalinos, com cada passo completo representando uma diferença de dez vezes na concentração de íons de hidrogênio. Exemplos do lado ácido incluem ácido de bateria, que verifica em pH 0, ácido gástrico (1), café preto (5) e leite (6,5). Inclinando-se para o básico estão o sangue (7,4), bicarbonato de sódio (9,5), amônia (11) e limpador de ralos (14). A água do mar é normalmente alcalina, com um valor de pH em torno de 8,1.
Cai , a Mary AS Lighthipe Professora na Escola de Ciências Marinhas e Políticas da Faculdade de Terra, Oceano e Meio Ambiente da UD, publicou pesquisas significativas sobre a mudança na química dos oceanos do planeta e este mês completou um cruzeiro da Nova Escócia à Flórida, servindo como cientista-chefe entre 27 a bordo do navio de pesquisa. O trabalho, apoiado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), inclui quatro áreas de estudo: Costa Leste, Golfo do México, Costa do Pacífico e região do Alasca/Ártico.
O novo estudo da Science incluiu o pesquisador de pós-doutorado da UD Zhangxian Ouyang, que participou de uma viagem recente para coletar dados no Mar de Chukchi e na Bacia do Canadá, no Oceano Ártico.
O primeiro autor da publicação foi Di Qi, que trabalha com institutos de pesquisa chineses em Xiamen e Qingdao. Também colaboraram nesta publicação cientistas de Seattle, Suécia, Rússia e seis outros locais de pesquisa chineses.
“Você não pode ir sozinho,” Cai disse. “Esta colaboração internacional é muito importante para coletar dados de longo prazo em uma grande área no oceano remoto. Nos últimos anos, também colaboramos com cientistas japoneses, pois o acesso à água do Ártico foi ainda mais difícil nos últimos três anos devido ao COVID-19. E sempre temos cientistas europeus participando.”
Cai disse que ele e Qi ficaram perplexos quando revisaram os dados do Ártico juntos pela primeira vez durante uma conferência em Xangai. A acidez da água estava aumentando três a quatro vezes mais rápido do que as águas oceânicas em outros lugares.
Isso foi impressionante mesmo. Mas por que estava acontecendo?
Cai logo identificou um principal suspeito: o aumento do derretimento do gelo marinho durante a temporada de verão do Ártico.
Historicamente, o gelo marinho do Ártico derreteu em regiões marginais rasas durante as estações de verão. Isso começou a mudar na década de 1980, disse Cai, mas aumentou e diminuiu periodicamente. Nos últimos 15 anos, o derretimento do gelo acelerou, avançando para a bacia profunda no norte.
Por um tempo, os cientistas pensaram que o derretimento do gelo poderia fornecer um promissor “sumidouro de carbono”, onde o dióxido de carbono da atmosfera seria sugado para as águas frias e famintas de carbono que estavam escondidas sob o gelo. Essa água fria conteria mais dióxido de carbono do que as águas mais quentes poderiam e podem ajudar a compensar os efeitos do aumento do dióxido de carbono em outras partes da atmosfera.
distribuição e evolução da idade do gelo marinho no oceano Ártico
A distribuição e evolução da idade do gelo marinho no Oceano Ártico de 1984 a 2020. Figura citada em https://nsidc.org/arcticseaicenews/. O mapa superior esquerdo (direita) mostra a idade do gelo marinho na semana do mínimo para 1984 (2021). O mapa inferior representa a série temporal da extensão total de diferentes categorias de idade no Ártico durante a semana de mínimo no período 1984-2020
Di Qi et al, Climate change drives rapid decadal acidification in the Arctic Ocean from 1994 to 2020, Science (2022). DOI: 10.1126/science.abo0383
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Balsas de garimpo ilegal voltam a bloquear o rio Madeira
Por Greenpeace –
A atividade predatória ocorre na altura da comunidade de Fortaleza do Bom Intento, município de Manicoré, estado do Amazonas
Imagens de satélite analisadas pelo Greenpeace Brasil na última segunda-feira (26) mostram uma nova concentração de balsas de garimpo ao longo do Rio Madeira, e confirmam as denúncias encaminhadas por moradores da região. Pelas imagens é possível identificar pelo menos 100 balsas ancoradas e minerando na região da comunidade de Fortaleza do Bom Intento, que em linha reta, fica a menos de 100 km da cidade de Manicoré.
A movimentação dessas balsas, há menos de uma semana das eleições no Brasil, comprovam que o garimpo ilegal segue avançando na região amazônica. Para o porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar: “mais uma vez a realidade se impõe e escancara a urgência de que o Estado brasileiro proponha uma estratégia de desenvolvimento regional capaz de superar o garimpo e garantir renda digna para as milhares de famílias que vivem em estado de vulnerabilidade social nas cidades e florestas da Amazônia”.
“É preciso que sejamos capazes de construir arranjos produtivos que consigam conviver com a floresta e suprir mais do que as necessidades básicas dessas populações. Do contrário, só testemunharemos mais e mais amazônidas se lançando ao garimpo como estratégia de sobrevivência”, disse Aguiar.
Em dezembro de 2021, o Greenpeace Brasil alertou para a presença de centenas de balsas de garimpo ilegal na região de Autazes, também no Rio Madeira. Diante da enorme repercussão nacional do caso, a Polícia Federal foi mobilizada e acabou por dispersar o bloqueio produzido pelas balsas, inutilizando 131 balsas em duas operações realizadas em parceria com o Ibama.
*Crédito da imagem destacada: Imagem de satélite PLANETº da comunidade de Fortaleza do Bom Intento (AM) analisada pelo Greenpeace Brasil na segunda-feira (26)
#Envolverde
91,6% da área garimpada no Brasil ficam no bioma Amazônia
Por MapBiomas –
Apenas dois estados – Pará e Mato Grosso – concentram 91,9% do garimpo no Brasil. Avanço do garimpo sobre terras indígenas foi de 632% entre 2010 e 2021
A área de garimpo no Brasil dobrou em apenas uma década e confirmou a tendência de suplantar a mineração industrial. Segundo os mais recentes dados do MapBiomas, que identificou o total do território brasileiro ocupado por essas atividades desde 1985 até o ano passado, o garimpo passou de 99 mil hectares para 196 mil hectares entre 2010 e 2021. A mineração industrial, por sua vez, precisou de duas décadas para ver os 86 mil hectares de área ocupada em 2001 dobrarem para os 170 mil hectares registrados em 2021. Este é o terceiro ano consecutivo no qual mais território é ocupado pelo garimpo do que pela mineração industrial.
Essa expansão tem endereço certo — o Bioma Amazônico. “A série histórica mostra um crescimento ininterrupto do garimpo e um ritmo mais acentuado que a mineração industrial na última década, além de uma inequívoca tendência de concentração na Amazônia, onde se localizam 91,6% da área garimpada no Brasil em 2021”, explica Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento. Na série histórica, o garimpo só suplantou a área ocupada pela mineração industrial no final do século passado, entre 1989 e 2000.
Dois estados específicos – Pará e Mato Grosso – respondem por 71,6% das áreas mineradas no país, ou seja, quando somamos a mineração industrial e a atividade garimpeira. Mas quando o garimpo é considerado isoladamente, o percentual sobe para 91,9%. São 113.777 hectares de garimpo no Pará e 59.624 hectares no Mato Grosso. Quatro dos cinco municípios brasileiros com maior área de garimpo ficam no Pará: Itaituba (57.215 hectares), Jacareacanga (15.265 hectares), São Félix do Xingu (8.126 hectares) e Ourilândia do Norte (7.642 hectares). Em terceiro lugar ficou Peixoto do Azevedo, no Mato Grosso, com 11.221 hectares.
A expansão garimpeira na Amazônia foi mais intensa em áreas protegidas, como territórios indígenas e Unidades de Conservação. Entre 2010 e 2021, as áreas de garimpo em terras indígenas cresceram 632%, ocupando quase 20 mil hectares no ano passado. A terra indígena mais explorada foi a Kayapó, na qual 11.542 hectares foram tomados pelo garimpo até 2021. Em seguida vem o território Munduruku, com 4.743 hectares, a terra Yanomami, com 1.556 hectares, a Tenharim do Igarapé Preto, com 1.044 hectares, e o território Apyterewa, com 172 hectares.
O garimpo cresceu 352% dentro de Unidades de Conservação entre 2010 e 2021. A série histórica mostra que a área ocupada até 2010 encontrava-se abaixo de 20 mil hectares. Em 2021, já eram quase 60 mil hectares. Desse total, quase dois terços ficam na APA do Tapajós, onde o garimpo já ocupa 43.266 hectares. Em segundo lugar vem a Flona do Amanã, com 5.400 hectares, seguida pela Flona do Crepori (1.686 hectares), a Parna do Rio Novo (1.637 hectares) e a Flona do Jamari (1.191 hectares).
Diferenças entre garimpo e mineração industrial
Ao todo, a Amazônia concentrava 242.564 hectares de área minerada (ou seja, somando garimpo e mineração industrial) em 2021. No caso da Mata Atlântica, esse total é de 63.892 hectares; no Cerrado, 46.070 hectares. A liderança da Amazônia permanece quando analisamos somente o garimpo, com 179.913 hectares. O Cerrado assume o segundo lugar, com distantes 13.253 hectares; a Mata Atlântica, por sua vez, concentra 2.299 hectares.
No caso da mineração industrial, a situação é diferente. Há quase um equilíbrio entre a área ocupada na Amazônia (62.650 hectares) e na Mata Atlântica (61.593 hectares). Outros 32.817 hectares ficam no Cerrado. A diferença fica por conta de Minas Gerais, estado que lidera a modalidade industrial, com quase metade (46,9%) do total nacional, ou 61.181 hectares. Os outros estados com maior área de mineração industrial são Pará (42.216 hectares), Goiás (11.606 hectares), Amazonas (8.166 hectares) e Bahia (7.442 hectares). Juntos, Minas Gerais e Pará respondem por 79,2% da área de mineração industrial brasileira.
Mineração industrial e garimpo diferem também em relação às substâncias minerais exploradas. Enquanto a mineração industrial tem um foco mais diversificado (Fe, Al, Cu, Ni e outros) o garimpo é concentrado em poucas substâncias (Au e Sn): 83% da área ocupada por garimpo está relacionada à extração de ouro e 7% de estanho. No caso da mineração industrial, 22% da área é de mineração de ferro, 20% de alumínio e 12% de calcário.
Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa.
#Envolverde
Quase 90% da exploração madeireira no Amazonas é ilegal, aponta pesquisa
Estudo cruzou imagens de satélite com as autorizações para a atividade emitidas pelos órgãos ambientais.
Uma área de floresta equivalente a mais de 12 mil campos de futebol foi alvo de exploração ilegal de madeira no Amazonas em um ano, revela pesquisa feita pela Rede Simex. Isso equivale a quase 90% de toda a extração madeireira no estado.
O mapeamento mostra que 14.976 hectares (ha) foram explorados em solo amazonense entre agosto de 2020 e julho de 2021, sendo 12.857 ha (86%) de forma não autorizada pelos órgãos ambientais. Apenas 2.118 ha (14%) tiveram a extração autorizada. A maior parte da extração ilegal foi detectada em imóveis rurais privados (40,9%) e em terras indígenas (32,8%).
A análise da exploração madeireira no Amazonas foi baseada em imagens de satélite, que foram cruzadas com dados públicos das autorizações para a atividade emitidas pelos órgãos ambientais. A Rede Simex é integrada por quatro organizações de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV.
O levantamento mostra ainda que nove municípios tiveram extração de madeira não autorizada, sendo 9.476 ha (74%) apenas em Lábrea e Manicoré, localizados ao Sul do estado.
“Lábrea e Manicoré lideraram o mesmo ranking no ano passado, mas em posição invertida. Em 2020, Manicoré esteve na primeira posição. Esse cenário é mais uma confirmação de que o Sul do Amazonas é uma nova fronteira de degradação ambiental na Amazônia Legal, que costuma ser seguida pelo desmatamento, quando a vegetação é totalmente removida, normalmente para agropecuária”, comenta Tayane Carvalho, pesquisadora do Idesam.
Entre as terras indígenas, a Tenharim Marmelos foi a segunda colocada no ranking das mais exploradas da Amazônia Legal em 2021. A área total de extração madeireira em terras indígenas no Amazonas foi de 4.222 ha, dos quais 83% (3.508 ha) ocorreram somente na Tenharim Marmelos.
Já em relação às unidades de conservação, quatro tiveram extração de madeira não autorizada, somando 1.365 hectares, sendo que 75% (1.027 ha) foram explorados somente no Parque Nacional dos Campos Amazônicos, área de proteção integral que também liderou ranking na análise anterior, que levou em conta o período entre agosto de 2019 e julho de 2020.
#Envolverde
Jovens da região amazônica lutam por direitos e representatividade da população local
Apesar das notícias negativas e recordes de desmatamento, queimadas e violência contra os povos tradicionais, um sopro de esperança tem vindo da região amazônica. Atualmente, apesar de todas as dificuldades encontradas, dez grupos de jovens têm insistido em trabalhar junto à população de suas localidades, combatendo e chamando a atenção do poder público para problemas que se repetem há anos sem qualquer tipo de solução.
Esses jovens são do Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas e foram recentemente selecionados pelo programa IARA – Inovação e Aceleração na Região Amazônica, desenvolvido pela agência Purpose, para que pudessem levar sua luta adiante durante o período eleitoral. O IARA foi criado para fortalecer coletivos e organizações ativistas locais, permitindo que tirem seus projetos do papel e mobilizem suas comunidades a conquistar as mudanças necessárias para um desenvolvimento mais sustentável.
O objetivo do trabalho neste momento é chamar a atenção para a relação entre o voto e a solução dos problemas da região, como enchentes frequentes quando o rio sobe, falta de representatividade política de jovens das periferias, infraestrutura deficitária para a educação e falta de energia elétrica na região, que sofre com apagões frequentes.
“Colocamos nossas experiências e estruturas à disposição dos grupos para apoiá-los na construção de soluções inovadoras para os desafios que suas comunidades enfrentam”, explica Ana Clara Toledo, da Purpose. A região amazônica foi eleita como a primeira a receber esse programa de aceleração do laboratório de clima da Purpose por exercer um papel central em relação aos desafios que teremos diante da emergência climática e seus desdobramentos econômicos e sociais.
“Apesar da importância da Amazônia para o planeta, debates e estratégias em busca de soluções para o bioma não incluem vozes locais e, portanto, não condizem com a realidade e os desafios que a região e seus cidadãos enfrentam”, explica Ana.”O programa foi criado justamente para potencializar os grupos que já atuam localmente, promovendo mudanças que impactem positivamente a população”, ressalta.
Conheça as propostas dos coletivos
Amazonas – nessa região, a luta é para dar um basta às casas alagadas pelas enchentes que acontecem todos os anos. Por isso, o Instituto Capuaã criou a campanha “O Amazonas tá cheio”. Além desse projeto, outra reivindicação, desta vez do Coletivo Ponta de Lança, é dar voz às populações das comunidades e territórios periféricos, especialmente grupos indígenas, negros e afro-religiosos de Manaus. Detalhes aqui.
Amapá – Erosão e abandono foram os responsáveis pelo desmoronamento da Escola do Bosque, a única em um modelo sustentável na comunidade de Bailique, em Macapá. O coletivo Gira Mundo focou na reconstrução da escola, que atende 80% dos alunos de mais de 50 comunidades. O coletivo Utopia Negra Amapaense decidiu intensificar esforços para levar adiante o projeto “Acende a luz, Amapá”, para resolver os problemas constantes de falta de energia elétrica. Conheça a ação desses coletivos aqui.
Pará – No caso dos jovens que atuam na região, a reivindicação é universalizar o acesso à informação de qualidade sobre política e meio ambiente. O coletivo Gueto Hub criou a campanha “Mó Climão” para formar uma rede de jovens ativistas pelo clima e meio ambiente na região. Já a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Santarém (AMTR) criou a campanha “Di Rocha: Tapajós sem Potoca!”. Potoca, na gíria local, é mentira. O objetivo do grupo de mulheres é combater as fake news que se espalham pela região, especialmente durante o período eleitoral. Confira detalhes aqui.
Maranhão e Tocantins – nessas localidades, a campanha “Vote pelo MA . TO.”, criada pelo Coletivo Desenvolvimento e Juventude (Cdjuv), quer dar voz aos jovens periféricos na política pública e estimular a população a eleger candidatos comprometidos com os direitos humanos, a Amazônia e as mudanças climáticas. Saiba sobre o projeto aqui.
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quinta-feira, 29 de setembro de 2022
Cientista indica meios de combate a queimadas na Amazônia
Ane Alencar avalia que também será um desafio para o próximo governo, desmontar crime organizado na Amazônia
Há quase duas décadas se dedicando a estudar o comportamento do fogo na Amazônia a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, monitora e estuda a relação entre mudança do uso da terra, incêndios florestais e clima.
A Casa Ninja Amazônia, rede da Mídia Ninja, perguntou à cientista de fogo, o que é preciso fazer para mudar a realidade da devastação ambiental causada pelo fogo.
Para reduzir o fogo do Brasil é preciso que algumas medidas sejam tomadas. A principal, eu diria, seria combater o desmatamento. O fogo está intimamente relacionado com o desmatamento. O fogo é usado na etapa final do desmatamento, quando as árvores derrubadas são queimadas e convertidas em cinzas, preparando o solo para o plantio, principalmente, de gramíneas. Sendo assim, reduzir o desmatamento significa também reduzir o fogo.
Um segundo ponto é a garantia de apoio a programas ou iniciativas de boas práticas na agropecuária de forma a reduzir o fogo como ferramenta de manejo.
Ela exemplifica que no caso de um sistema de pecuária extensiva em áreas de pasto plantado, que não é nativo, e representa grande parte da pecuária praticada na Amazônia, o uso do fogo é constante. Isso acontece pois o gado é solto de qualquer forma em áreas muito grandes de pasto e isso acaba favorecendo o pisoteio e sobre pastejo em lugares mais acessados e mais agradáveis para o gado. Essas áreas acabam tendo o solo mais expostos favorecendo o crescimento de plantas e arbustos não desejável para o consumo do gado deixando o pasto com cara de “sujo”.
“O fogo é a principal ferramenta utilizada em um pasto mal manejado. Ele acaba sendo a forma mais fácil e barata de “limpar” as plantas não palatáveis e revigorar o pasto para o gado”.
Então, segundo Ane, se o rebanho for dividido em pastos menores, fazendo a rotação entre estes pastos em um curto período de tempo, isso evitará que haja sobre-pastejo irregular, que o solo apareça e que as plantas indesejáveis para o gado não se multipliquem.
“Só que para que esse manejo aconteça os produtores precisam de incentivos, como investimento em cerca para compartimentar melhor o pasto e favorecer a rotação e mais mão de obra para dar conta de fazer a rotação. O retorno é maior e o fogo reduz consideravelmente da paisagem”.
Segundo a cientista, o grande vilão do fogo na Amazônia é mesmo o desmatamento e o que se estabelece pós-desmatamento.
Uma floresta média na Amazônia tem em torno de 260 toneladas de biomassa, podendo alcançar mais que isso em algumas partes da região. Isso significa que, quando essa quantidade de biomassa é derrubada tem que haver uma forma mais eficiente de transformar esse material em cinzas para nutrir o solo. “Essa forma é o fogo. Sendo assim, uma vez que uma floresta é derrubada, pode contar que ela será queimada, e, às vezes, uma só queimada não é suficiente para queimar essa área”.
Já sobre a diferença entre queimadas e incêndios, Ane diz que a queimada resulta de uma ação intencional, enquanto o incêndio, é algo que sai do controle, de maneira acidental. Não estava previsto para queimar. Nesse caso o fogo decorrente das queimadas em áreas recém desmatadas ou da limpeza de pastagens, acabam sendo fontes para incêndios florestais, estes cada vez mais frequentes.
Desmonte de crime organizado na Amazônia é desafio do próximo governo
Sob a iminência do fim de um governo marcado pelo desmonte ambiental, perguntamos à Ane quais deveriam ser as medidas para reverter o dano gerado nos últimos anos. Ela desabafa:
“Imagina! A gente vai construir uma casa, dependendo do tamanho da casa tem gente que demora anos para construí-la. Aí vem um furacão, um terremoto e rapidamente destrói isso tudo. Isso parece ser o que aconteceu com a política ambiental no Brasil recentemente. Todo o esforço de construção da governança ambiental que começou a ser construído a partir da Eco 92 e culminou com a redução de cerca de 80% do desmatamento entre 2005 e 2012, foi posto a prova e desconstruído”.
Em sua opinião, mesmo com um governo mais progressista – que ela espera que seja isso que aconteça -, vai ser difícil reconstruir a casa. “Até porque tem coisas que se estabeleceram na Amazônia que não existiam lá com tanta força antes”, como o crime organizado.
“O crime organizado está mais forte na Amazônia, e isso vai ser difícil combater a curto prazo. Hoje ele ocupa terras de forma irregular e as vende ilegalmente como uma de suas estratégias de negócio, junto com a exploração madeireira ilegal, garimpo ilegal, drogas. Hoje parece ser bem menos arriscado investir em práticas ilegais na Amazônia, infelizmente”. Então, ela espera que o próximo governo dê o tom, faça uma força-tarefa para interromper as ações dessas quadrilhas.
“Elas têm ocupado a Amazônia de forma descabida, e um choque de governança nessas quadrilhas será um alerta para quem está agindo ilegalmente. Para parar de agir assim e desestimular outros grupos não tão organizados a agirem de forma ilegal também”.
Ane avalia que antes desse governo o país estava focado em discutir uma agenda positiva. “De como podemos fazer melhor, como podemos engajar mais pessoas em práticas de uso da terra mais sustentáveis, mas infelizmente retrocedemos de uma agenda propositiva para uma agenda reativa. Talvez demore um pouco, mas é possível trazer de novo as pessoas para o lugar aonde paramos”.
Fogo experimental em laboratório a céu aberto
Pesquisa passou por várias fases: do uso experimental do fogo à observação da resiliência da floresta
Pesquisa passou por várias fases: do uso experimental do fogo à observação da resiliência da floresta (Victor Moriyama/Reprodução Ipam)
Ane coordena um grupo de pesquisa que atua em uma estação que fica em uma fazenda no município de Canarana, no norte de Mato Grosso. É lá que esse grupo de pesquisadores têm estudado as características do fogo no bioma. A pesquisa que começou em 2004 já passou por várias fases, do uso experimental do fogo à observação da resiliência da floresta.
“Nesse laboratório a céu aberto, tivemos a oportunidade de testar algumas hipóteses”. Ela conta que foram separados três blocos de 50 hectares de floresta submetidos a variadas condições para testar, entre outras hipóteses, a resiliência ao fogo.
“Como se comporta uma floresta queimada em situação de seca extrema, ou de queimas consecutivas, se a borda queima mais que o interior, se o uso da terra vizinho influencia no tipo e intensidade de fogo afetando as florestas adjacentes. Essas são algumas perguntas que o grupo de pesquisa tem se debruçado para responder ”.
Além de condições diversas, foram realizadas análises com base nos tipos de árvores, densidade, tamanho, plantas do sub-bosque e espécies afetadas sob as diversas condições de fogo. “Medimos as emissões de gases do efeito estufa, o efeito dessas queimadas na quantidade de água e nitrogênio no solo, a taxa de evapotranspiração, diversidade de espécies. Medimos tudo antes e depois do fogo experimental”. Seria difícil uma pesquisa nesses moldes sem o uso experimental do fogo pois cientistas levariam muito mais tempo para detectar o impacto das florestas queimadas múltiplas vezes.
Na estação de pesquisa, uma parcela de floresta era queimada todo ano; outra a cada três anos e uma terceira, não era queimada. “E fizemos isso durante um período de dez anos nos meses de agosto e setembro, seguindo as regras legais para o uso do fogo para fins de pesquisa. Agora estamos observando o processo de recuperação, avaliando a capacidade da floresta se recuperar desse impacto”.
Um dos grandes achados do experimento, segundo Ane, é que pelo menos durante o período do fogo, a área que queima todo o ano e a área que queima a cada três anos, ambas têm mortalidade muito alta.
“Tem um impacto muito grande na biomassa, ou seja, na quantidade de carbono. Mas a área que queima a cada três anos ela sofre um impacto um pouco maior, porque há tempo do material combustível se acumular e aí o fogo fica mais intenso”, descreve.
Como aquela floresta já não é mais fechada, já não retém mais tanta umidade. “Então o fogo fica mais intenso e aí acaba causando um dano maior, então, isso tudo está reportado na literatura científica. E agora estamos identificando como essas florestas conseguem se regenerar”.
A pesquisa também verifica qual o papel da biodiversidade na dispersão de sementes fundamentais para a regeneração dessas áreas, e como uma floresta que se recupera emite e absorve CO2. Para isso foram instaladas torres para medir o fluxo de emissão de gases do efeito estufa nas áreas queimadas e na área não queimada.
E então, verificou-se uma diferença muito grande entre elas.
“Apesar das áreas queimadas estarem se regenerando e isso significa tendo um certo acúmulo de carbono, ainda tem muitas árvores ali que estão mortas e estão emitindo, que estão se decompondo. Isso é um indicador importante que o balanço de carbono dessas áreas está positivo. Ou seja, essas florestas ainda estão emitindo mais do que absorvendo mesmo depois de 10 anos de recuperação”.
Mesmo árvores que não caem emitem gases carbônicos; permanecem em pé, mas com “feridas”
Mesmo árvores que não caem emitem gases carbônicos; permanecem em pé, mas com “feridas” (Vinicius Mendonça/Ibama)
Nessa decomposição gradativa, vai emitindo, além de CO2, outros gases de efeito estufa. Assim, as árvores morrem e continuam emitindo gases. E as que estão se recuperando, vão absorvendo gás carbônico.
“As árvores da Amazônia não são adaptadas ao fogo. Com a casca muito fina, o calor acaba impactando os vasos que conduzem água de cima para baixo, e o fogo pode gerar feridas nessas árvores que afetam esses vasos condutores impedindo a passagem de água das raízes para as folhas”, exemplifica.
Desta forma, com o passar do tempo elas vão morrendo, porque necessitam dessa comunicação dos vasos. “Ou às vezes essas feridas são impactadas por patógenos, fungos e isso também leva à mortalidade”.
Ela explica que grande parte do carbono estocado na Amazônia está nessas árvores. “E quando elas morrem, caem, aquele carbono que está preso ali, vai ser decomposto e é emitido”.
Os resultados mostram então, que a floresta na Amazônia, demora muito mais para se recuperar.
“Não é adaptada ao fogo, não tem a qualidade de lidar com esse distúrbio, sendo assim acaba tendo impacto maior e uma capacidade regenerativa bem menor”.
Ela dá como base, o fogo no Cerrado, Pantanal e no Pampa. “São biomas que evoluíram historicamente com o fogo. O fogo acontece de forma natural nesses biomas, mas infelizmente o padrão de fogo natural também tem sido impactado nessas regiões pois o que temos observado é que ele tem acontecido de forma mais intensa, em um período que não é natural e várias vezes no mesmo lugar”.
Mas ela alerta que mesmo os biomas mais resilientes sofrem com a queima fora de controle. O Cerrado por exemplo tem sido bastante impactado pelo desmatamento e pelas queimadas. Esse bioma é o que mais queimou nos últimos 36 anos de acordo com os dados do Mapbiomas Fogo.
Muita gente aposta nesse poder de regeneração e difunde a informação de que o “Cerrado” queima naturalmente. “Não é normal o Cerrado queimar todo ano no mesmo lugar. O cerrado também tem seu regime de fogo peculiar, tem que ter a intensidade, frequência e intervalo de fogo suficiente para que aquele tipo de vegetação se perpetue, consiga crescer, se estabelecer”.
A cientista do fogo explica que se queimar todo ano se manterão apenas as espécies que conseguem brotar de novo, aquelas espécies mais adaptadas. “E se queimar todo ano, aquelas espécies que conseguem suportar um fogo a cada seis, doze anos, recebendo fogo a cada ano também vão desaparecer. Então, tem que ter muito cuidado quando se fala em fogo no Cerrado, fogo no Pantanal, no Pampa”.
Sobre as características do fogo na Amazônia, ela descreve que os incêndios florestais na região em geral não são muito altos, não chegam a copa das árvores. É um fogo baixo e lento, então, combater esse tipo de fogo, segundo Ane, é um pouco mais fácil, quando combatido diretamente. “A não ser que seja um ano muito seco que o fogo fica mais alto e assim de fato tem que fazer uma outra abordagem para conter esse tipo de fogo”.
Mas como já foi dito, a floresta é muito mais frágil. E sua devastação está quase que inteiramente associada ao desmatamento. Então, mudar esse cenário é o primeiro grande passo.
Crédito da reportagem: Mídia Ninja
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Juristas dão ultimato: governos que não protegem o clima enfrentarão os tribunais
Advogados de mais de vinte organizações dizem que os países devem intensificar suas ações climáticas ou enfrentar responsabilização via tribunais. Esta é a primeira vez na história que advogados e ONGs ao redor do mundo se unem para advertir os governos de que eles devem cumprir metas e ações climáticas mais fortes para a COP27 — como indicado pela ciência — ou enfrentar novas ações legais.
“A ação climática é um dever legal. No entanto, os governos não estão cumprindo com suas próprias leis e compromissos. Queremos garantir que os países entendam que a lei está do nosso lado”, afirma Sarah Mead, co-diretora da Climate Litigation Network.”Os advogados e ativistas estão usando esta vantagem para responsabilizar os governos por suas metas climáticas não cumpridas”.
A carta conjunta é parte da campanha “Julgamentos Climáticos”, que destaca a onda de casos de litígio climático contra governos que não tomaram medidas fortes contra a crise do clima, pondo em perigo os direitos básicos das pessoas.
Desde a vitória histórica do Urgenda, na Holanda, mais de 80 ações semelhantes foram apresentadas ao redor do mundo. Isto inclui casos brasileiros, como o julgamento conjunto de ações ambientais no STF contra a administração Bolsonaro, e o processo de cidadãos contra o Ministério do Meio Ambiente pelos “truques” inseridos na atualização da meta brasileira sob o Acordo de Paris.
Além do Brasil, quase todos os principais emissores do mundo estão sendo processados por inação climática, incluindo Austrália, países da UE, EUA, África do Sul, Coréia do Sul e Rússia. Estes processos resultaram em reduções reais de emissões na Alemanha, Holanda e em outros lugares.
“Não podemos continuar confiando na boa vontade dos governos para salvaguardar nossos direitos e proteger nosso futuro”. É por isso que ativistas em todo o mundo estão se voltando para a lei para garantir que nosso sofrimento e violações dos direitos humanos sejam minimizados”, diz Filippo Sotgiu, um dos autores de um processo climático contra o governo italiano e porta-voz do movimento Sextas-feiras pelo Futuro na Itália. “Se olharmos para casos recentes, podemos dizer: esta tática está funcionando.”
Javier Dávalos González, coordenador do Programa Climático da AIDA (Asociación Interamericana para la Defensa del Ambiente) afirma que o mundo está testemunhando uma avalanche imparável de ações judiciais climáticas. “Nossos casos estão intrinsecamente entrelaçados. Os tribunais estão confiando em decisões históricas de outros países, portanto a cada vitória estamos construindo um terreno mais forte para futuras audiências e novos desafios legais mirando a inação dos governos”.
Signatários:
Alana (Brazil), AIDA (Latin America and the Caribbean), Aurora (Sweden), The Australian Climate Case (Australia), Grata Fund (Australia), Phi Finney McDonald (Australia), Center for Environmental Rights (South Africa), Natural Justice (South Africa), Client Earth (Global), Climate Action Network Europe (Europe), Climate Case Ireland (Ireland), Ecojustice (Canada), Europäische Klimaklage (Austria), Germanwatch (Germany), Giudizio Universale (Italy), Rete Legalità per il Clima (Italy), A Sud (Italy), Global Legal Action Network (Global), Klimaatzak (Belgium), Klimatická (Czech Republic), Lawyers for Climate Action NZ (New Zealand), Lee Salmon Long (New Zealand), Notre Affaire à Tous (France), Adv. Padam Shrestha (Nepal), Plan B (UK), Protect the Planet (Germany), Russian Climate Case (Russia), Urgenda (Netherlands), Youth4ClimateAction (South Korea)
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Um olhar atento ao desafio da energia limpa na Amazônia pelas lentes de Sebastião Salgado
Por Tatiana Feliciano* –
O olhar atento para a preservação e o futuro da Amazônia vem pelas lentes do fotógrafo Sebastião Salgado na exposição que leva o nome do bioma, que já passou por São Paulo e está no Rio de Janeiro. Traz à tona desafios insuspeitos para quem está longe, mas que são motivos de preocupação para as populações tradicionais da região: o acesso à energia limpa, de qualidade e de custo acessível.
Durante sete anos, Salgado registrou imagens da região de tirar o fôlego. Já vistas por mais de 150 mil pessoas no Brasil e na Europa, elas destacam a natureza, a geográfica, as dimensões do bioma que é sinônimo de imensidão, distanciamento. Mostram também a dificuldade de conectar ao Sistema Interligado Nacional (SIN) as comunidades tradicionais da região, que vivem em áreas remotas, em uma situação de muito difícil acesso.
Por outro lado, em pleno século XXI, um dos ecossistemas mais complexos do planeta vive ainda o dilema da dependência de combustíveis fósseis, como óleo diesel, para fornecer energia para suas populações tradicionais. Situação que contribui para que a região seja uma das maiores geradoras de gases do efeito estufa do nosso país, que mancha nossa matriz energética e demanda soluções inclusivas, que não alijem as populações da região do mapa energético global.
Neste contexto, a comunidade de Vila Restauração, localizada no Acre, quase na fronteira com o Peru, é um exemplo de opção pela energia limpa e de qualidade. Ali vivem cerca de 200 famílias que, há um ano, contavam com apenas três horas de energia por dia. Elas pagavam caro pelo óleo diesel que alimentava um motor barulhento que não garantia água gelada, energia para fazer funcionar a internet via satélite, nem para conservar vacinas no refrigerador.
A solução encontrada pela Energisa, ao assumir a concessionária de energia no estado, foi criar um sistema de plantas fotovoltaicas e armazenamento em baterias, operado de forma remota com um gerador movido a biodiesel produzido a partir de óleo de palma. As baterias armazenam a energia para os dias nublados e o gerador só entra em ação quando o armazenamento alcança níveis críticos. Em 10 meses, o gerador nunca foi acionado. Já as 200 famílias, desde a implantação do projeto, não viram faltar energia um segundo sequer ao longo período. A comunidade tem, portanto, um dos melhores índices de qualidade de fornecimento do país. Passaram a ter energia limpa, renovável e disponível 24 horas por dia.
O armazenamento de energia em baterias combinado com fontes intermitentes, como é o caso da geração solar, é uma das soluções que empresas brasileiras têm implementado e que contribuem para acelerar a transição energética. Tem se mostrado uma das mais acertadas para a Amazônia, onde soluções como o que usamos na Vila começa a ganhar escala. Desta forma, entidades privadas cumprem seu papel com a sociedade colaboram com a preservação e também com a inclusão social e econômica de milhões de pessoas, sem ampliar o aquecimento global nem exaurir ainda mais os recursos naturais.
Faz parte da nossa responsabilidade tomar decisões para direcionar o nosso negócio a encontrar soluções que atendam os anseios dos nossos clientes por uma energia limpa, realizando na prática a transição energética que tanto a sociedade e o planeta necessitam.
*Diretora de Gestão e Sustentabilidade da Energisa.
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Documentário retrata violência de gênero e o papel da mulher na vida pública
Documentário debate sem recorte partidário ou ideológico, a sub-representação feminina e a violência de gênero na política brasileira; produção brasiliense terá exibição gratuita no Cine Brasília
O documentário curta-metragem “Me Farei Ouvir”, produzido em 2019, será exibido gratuitamente e com exclusividade no Cine Brasília, dia 21/09, às 20h e posteriormente acontecerá uma roda de conversa. O filme aborda o impacto e urgência da paridade de gênero na política brasileira. A partir de personagens com perfis plurais, com experiência ou militância política, o documentário sai em defesa da promoção do feminino em ambientes de poder, principalmente, de mulheres negras que são o maior grupo demográfico do país, segundo o IBGE.
“Me Farei Ouvir” traz depoimentos inéditos da senadora Benedita da Silva; das deputadas federais Áurea Carolina, Luísa Canziani, Joênia Wapichana; da deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho; da cientista política e professora da UnB Flávia Biroli; da advogada eleitoral Gabriela Rollemberg; da ex-candidata e administradora Ilka Teodoro; da prefeita comunitária em Ceilândia Ivanete Oliveira; da ex-governadora do Distrito Federal Maria Abadia; e da ex-senadora Marta Suplicy.
Em 2020, com o objetivo de promover mais mulheres no espaço político, o projeto lançou a pesquisa qualitativa Perfil da Mulher na Política, estudo inédito e de abrangência nacional, desenvolvido em parceria com a ONG ElasNoPoder e realizada com mais de 4 mil mulheres. O projeto lançou ainda, o Manual da Mulher Candidata, material didático com o passo a passo burocrático de como se tornar uma candidata. As duas publicações estão disponíveis gratuitamente, em formato digital, nesta página.
Me Farei Ouvir
Com direção de Bianca Novais e de Flora Egécia, roteiro de Dandara Lima e trilha sonora original de Ellen Oléria e Paola Lappicy, o filme conta com uma equipe exclusivamente composta por mulheres. A sub-representação de mulheres também é vivida no audiovisual. Segundo a ANCINE – Agência Nacional do Cinema, em pesquisa publicada em 2018, dos filmes lançados em 2016, a direção por mulheres
correspondia a apenas 20%. Considerando o recorte étnico-racial, nem 1% dos filmes produzidos naquele ano foram dirigidos por mulheres negras ou indígenas.
O set foi composto somente por mulheres, o que proporcionou um espaço de acolhimento e um facilitador às camadas mais íntimas das personagens, que puderam expressar fragilidade e força. No Brasil, 30 milhões de mulheres são chefes de família, segundo o IBGE. São, majoritariamente, mulheres pobres, negras e periféricas. A falta de representação e, consequentemente, políticas públicas voltadas para elas alimenta um ciclo vicioso de vulnerabilidade para as novas gerações – e isso gera impactos na vida de todas as pessoas, homens e mulheres. Diante desse contexto, o filme trata do grande obstáculo que o modelo político brasileiro produz ao dificultar o acesso de mulheres aos espaços de poder.
Para as realizadoras, ter mais mulheres que atuem em defesa dos seus direitos na política é o caminho para romper com a lógica colonial da raiz da nossa formação. Nas eleições municipais de 2020, somente 13% das candidaturas tinham participação feminina para a disputa do poder executivo municipal. Das 5.568 prefeituras de todo o país, somente 658 cidades brasileiras são comandadas por mulheres, desde 2021, segundo fonte da Agência Senado, e somente uma mulher negra foi eleita como prefeita no Brasil. O documentário quer provocar no expectador o questionamento da baixa participação feminina na vida pública e nos espaços de poder. E, principalmente, da razão de mulheres negras, indígenas, PCD e LGBTQI+, não serem bem-vindas nos espaços de decisão.
Me Farei Ouvir é uma realização do Estúdio Cajuína, de Bianca Novais e Flora Egécia e da Pavio Criativo, de Barbara Rodarte e Dandara Lima.
Serviço:
Documentário Me Farei Ouvir
Local: Cine Brasília
Endereço: EQS 106/107, Brasília-DF
Data: 21 de setembro de 2022 (quarta-feira)
Horário: 20h
Entrada gratuita (ingressos de acordo com a lotação do local)
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Relatos de um Pantanal profundo
Com sensibilidade poética e excelência no fazer jornalístico, Cláudia Gaigher revela em Diário de Uma Repórter no Pantanal bastidores de 24 anos de comprometimento na defesa e preservação de um dos mais ricos biomas do Brasil.
Nos últimos meses, milhões de brasileiros diariamente fazem do remake global de Pantanal, novela de Benedito Ruy Barbosa primeiramente exibida em 1990, e adaptada pelo seu neto, Bruno Luperi, para os dias atuais, um fenômeno de audiência. Desde 1998, os encantos, mistérios e desafios para a conservação da maior planície alagável do planeta fazem parte do dia a dia da jornalista capixaba Cláudia Gaigher. Trabalhando como repórter de rede nacional e baseada na TV Morena, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso do Sul, Cláudia adotou o Pantanal como a sua casa, local de trabalho e fonte de inspiração e causa.
Por meio de suas matérias, exibidas em edições do Fantástico, do Jornal Nacional, do Globo Repórter, nos telejornais de rede nacional da Rede Globo, e na Globonews, Cláudia apresenta ao Brasil um Pantanal profundo, de uma exuberante fauna e flora, mas também cenário de violentos conflitos e constantes ameaças ambientais.
Em Diário de Uma Repórter no Pantanal, livro editado pela organização Documenta Pantanal, Cláudia reúne 30 histórias de bastidores de suas urgentes e necessárias reportagens, produzidas ao longo dos últimos 24 anos, período de grandes transformações. Quem não se lembra, por exemplo, da cobertura dos grandes incêndios em 2020? Cláudia atuou incansavelmente, mostrando ao Brasil e ao mundo a maior catástrofe das últimas décadas, onde quase 30% do bioma viraram cinzas.
Partiu também de uma reportagem dela a denúncia de crianças sem escolas e que catavam iscas pra sobreviver nos alagados do interior do Pantanal, mostrando a dificuldade dos ribeirinhos. A reportagem gerou comoção e ação resultando na construção e reabertura de dezenas de escolas às margens do rio Paraguai.
A jornalista também deu voz e visibilidade a iniciativas essenciais, acompanhando e mostrando ao longo das décadas os avanços das pesquisas de conservação de espécies emblemáticas como a arara azul, a onça pintada, a ariranha, entre outras. Em textos embasados nas pesquisas científicas e no conhecimento tradicional, a jornalista faz um mergulho na história da colonização do Brasil Central.
“Tivemos aqui, no início dos anos 2000, uma disputa fundiária que permanece até hoje, com vários assassinatos de lideranças indígenas, e a questão da demora do poder judiciário e do Executivo em definir quais são as áreas tradicionais e ancestrais. Mais do que isso, existe aqui uma prática que também se replica em outras regiões do Brasil, em que a união e o poder público chancelam a ocupação de áreas indígenas por conta do agronegócio. Essa cultura de impunidade faz com que a nossa flora e a nossa fauna também estejam constantemente pressionadas”, explica.
Em 2022, os brutais assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips escancararam o elevado grau de risco a que, no Brasil, estão expostos profissionais dedicados à defesa e preservação do meio ambiente. Realidade vivenciada por Cláudia há mais de duas décadas.
“A coragem é necessária para tudo o que a gente faz na vida, e tem que ser uma coragem de quem não quer ser mártir. E a gente só consegue isso quando faz um jornalismo independente, calcado em informações reais. Mais do que isso, também é importante que você tenha uma rede de fontes, porque quando você cria essa rede, cria também uma rede de proteção e tem ali centenas de pessoas que estão comungando contigo a busca pela informação. Nunca fui a campo fazer uma reportagem sem que várias pessoas de minha confiança soubessem o que eu estava fazendo e quais eram os pontos onde eu estaria. Quando você faz um trabalho sério e tem essa rede, não é que esteja livre das violências que a gente tem visto contra os jornalistas, mas pelo menos diminui um pouco esse risco”, explica.
Viajando pelo Brasil para fazer reportagens para os telejornais da TV Globo, Cláudia também se aprofundou nos temas relacionados aos biomas Cerrado e Amazônico. Revelando lendas locais, como as do Velho do Rio e do Mãozão, versão pantaneira do lobisomem, ou dando voz a dezenas de personagens anônimos e figuras consagradas, como o violeiro Almir Sater e o poeta Manoel de Barros, com o poder de observação dos melhores cronistas e a sensibilidade poética aguçada pela beleza mística do Pantanal, Cláudia produz uma narrativa que muito revela sobre a excelência do fazer jornalístico, e que também desperta o fascínio de qualquer leitor.
“Não penso num público específico para o livro. O que tento compartilhar com meus escritos é esse amor que eu tenho por ter nascido no Brasil, por me orgulhar das diferenças que compõem a nossa identidade, a nossa alma. E, mais do que tudo, me orgulhar dessa biodiversidade que só o Brasil tem. Se eu puder plantar essa semente no coração e na mente das pessoas e fazer com que elas tomem uma atitude, fazendo doações para as pesquisas, cobrando, do poder público, posturas mais sustentáveis, eu vou ter ganhado o melhor de todos os prêmios e presentes”, conclui.
Documenta Pantanal
A publicação de Diário de Uma Repórter no Pantanal foi integralmente financiada pela Documenta Pantanal, uma iniciativa que reúne profissionais de áreas diversas comprometidos com a urgência de tornar as fragilidades e as riquezas do Pantanal mato-grossense conhecidas do grande público.
Entre outros títulos, a Documenta Pantanal viabilizou a publicação de Céu e Inferno em Terras Alagadas (Editora Origem, 2021), do fotógrafo José Medeiros, Cozinha Pantaneira – Comitiva de Sabores (Editora BEI, 2020), do chef Paulo Machado, e Pantanal – Serra do Amolar (Terra Brasil, 2021), do fotojornalista Araquém Alcântara.
“O livro da Cláudia engrandece a produção editorial assinada pela Documenta Pantanal e seus apoiadores. É um relato potente, de uma profissional que dedicou anos de sua vida documentando, por meio de matérias jornalísticas, esse bioma que é a inspiração maior de nossa iniciativa e de todas as ações que desenvolvemos.”, destaca Mônica Guimarães, coordenadora do Documenta Pantanal.
SERVIÇO
Diário de uma Repórter no Pantanal, Cláudia Gaigher (Documenta Pantanal, 2022, 360 páginas, ISBN 978-65-996829-2-9). Valor: R$ 60,00.
Coordenação geral: Documenta Pantanal – Mônica Guimarães. Projeto gráfico: Luciana Facchini. Ilustrações de capa e miolo: Rafaela Pascotto.
Lançamento:
Rio de Janeiro, dia 4 de outubro, às 19h, na Livraria da Travessa;
São Paulo, dia 7 de outubro, às 19h, na Livraria da Travessa.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2022
Diversidade de espécies de árvores aumenta a resistência da floresta às secas
As florestas ricas em espécies, como as florestas tropicais úmidas de folhas largas, que têm uma média de 65 espécies de árvores, mostraram a maior resistência à seca
Chinese Academy of Sciences*
Uma equipe de pesquisa liderada pelo Prof. WANG Tao e pelo Dr. LIU Dan, do Instituto de Pesquisa do Planalto Tibetano da Academia Chinesa de Ciências, revelou que a diversidade de espécies de árvores pode aumentar a resistência à seca em quase metade das florestas do mundo.
Suas descobertas foram publicadas na Nature Geoscience em 19 de setembro.
A seca extrema pode reduzir fortemente o crescimento das florestas e até mesmo levar à sua morte.
A diversidade de espécies de árvores pode aumentar a resistência à seca da floresta. No entanto, este efeito só foi demonstrado para um pequeno número de tipos de floresta; se é aplicável a diferentes tipos de florestas ao redor do mundo que sofrem secas extremas não foi bem compreendido.
Neste estudo, usando observações de satélite globais e dados de riqueza de espécies de mais de 700.000 parcelas florestais, os pesquisadores estimaram o efeito da diversidade de espécies de árvores na resposta à seca das florestas em escala global. Eles descobriram que as florestas ricas em espécies, como as florestas tropicais, que têm uma média de 65 espécies de árvores, mostraram a maior resistência à seca. Em contraste, florestas pobres em espécies, como florestas xéricas, que possuem apenas duas ou três espécies de árvores, apresentaram a menor resistência à seca.
Além disso, os pesquisadores mapearam o efeito global da diversidade de espécies na resistência à seca na floresta. Com base em seus resultados, eles previram que a maior riqueza de espécies teve um efeito positivo na resistência à seca em quase metade de todas as florestas globais, com o maior efeito em florestas secas e propensas à seca, como florestas xéricas ou florestas secas subtropicais.
“Estimamos que a conversão das plantações florestais atuais de monoculturas para uma mistura de quatro espécies poderia aumentar a resistência à seca das florestas plantadas globais em 3,2%, com o maior incremento encontrado nas florestas secas”, disse o Prof. WANG, autor correspondente do estudo.
Essas descobertas enfatizam a importância de restaurar a diversidade de espécies de árvores para ajudar as florestas a resistir a secas frequentes e intensas que podem ocorrer como resultado do aquecimento global. “A restauração da diversidade de espécies e o plantio multiespécies devem ser incluídos na política florestal, especialmente para florestas secas”, disse o Dr. LIU Dan, primeiro autor do estudo.
Dan Liu et al, Drought resistance enhanced by tree species diversity in global forests, Nature Geoscience (2022). DOI: 10.1038/s41561-022-01026-w
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Apenas um terço das crianças de 10 anos consegue ler e compreender
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta para níveis de aprendizagem alarmantemente baixos: estima-se que apenas um terço das crianças de 10 anos em todo o mundo seja capaz de ler e entender uma história simples.
Durante a Cúpula da Educação Transformadora, evento paralelo aos debates de alto nível da Assembleia Geral, o UNICEF apresenta a Learning Crisis Classroom na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, para chamar a atenção para a necessidade urgente de transformar os sistemas educacionais em todo o mundo.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) fez um alerta para os alarmantes níveis de aprendizagem globais. Estima-se que apenas um terço dos meninos e meninas de 10 anos de idade em todo o mundo consegue ler e entender uma história simples. Antes da pandemia de COVID-19, metade dos meninos e meninas de 10 anos podiam ler e entender.
“Escolas com poucos recursos, professores mal pagos e mal qualificados, salas de aula superlotadas e currículos arcaicos estão minando a capacidade de nossas crianças de atingir todo o seu potencial”, disse a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell. “A trajetória de nossos sistemas educacionais é, por definição, a trajetória de nosso futuro. Precisamos reverter as tendências atuais ou enfrentar as consequências de não educar uma geração inteira. Baixos níveis de aprendizado hoje significam menos oportunidades amanhã”.
O fechamento prolongado de escolas e a falta de acesso ao aprendizado de qualidade durante a pandemia da COVID-19 expuseram e exacerbaram uma crise de aprendizagem pré-existente que deixou milhões de crianças em idade escolar em todo o mundo sem habilidades básicas de matemática e alfabetização, alerta o UNICEF.
Sala modelo
Para chamar a atenção para a crise da educação e a necessidade de transformar o aprendizado em todo o mundo, o UNICEF divulgou publicamente a Learning Crisis Classroom, uma sala de aula modelo que representa a escala de crianças que não conseguem aprender habilidades fundamentais essenciais. A instalação estará em exibição na entrada de visitantes da sede das Nações Unidas em Nova Iorque entre 16 e 26 de setembro.
Um terço das carteiras escolares da sala de aula modelo é feita de madeira e está em pleno funcionamento com uma mochila icônica do UNICEF colocada atrás de cada cadeira, representando o um terço das crianças de 10 anos globalmente estimadas como capazes de ler e entender uma história escrita simples – o marcador de proficiência mínima em compreensão de leitura. Os dois terços restantes das carteiras são quase invisíveis e feitos de material transparente para significar que 64% das crianças são incapazes de ler e entender uma história escrita simples aos 10 anos.
À medida que os líderes se reúnem na Cúpula da Educação Transformadora, cujo encerramento acontece nesta segunda-feira (19), o UNICEF está pedindo aos governos que se comprometam a alcançar todas as crianças com educação de qualidade. Está pedindo novos esforços e investimentos para rematricular e manter todas as crianças na escola, aumentar o acesso à aprendizagem corretiva e de recuperação, apoiar os professores e fornecer-lhes as ferramentas de que precisam e garantir que as escolas ofereçam um ambiente seguro e de apoio para que todas as crianças estejam prontas para aprender.
#Envolverde
Parques naturalizados: um novo conceito para aumentar a rede de áreas verdes urbanas
Programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, disponibiliza informativo sobre esses espaços e sua importância para a saúde das crianças e jovens
São muitos os benefícios que as brincadeiras ao ar livre, na natureza, trazem para a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento integral de crianças e jovens. Para incentivar o brincar livre com elementos naturais, mesmo nas grandes cidades, promovendo o convívio e o lazer, o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, elaborou o informativo “Parques Naturalizados: paisagens para o brincar natural”.
Parque naturalizado é um conceito que propõe a utilização de elementos como troncos, galhos e a própria topografia e vegetação dos terrenos para criar lugares mais atraentes e desafiantes para as crianças, e ampliar a rede de áreas verdes urbanas. Eles podem ser criados tanto em espaços públicos, aproveitando áreas abandonadas, como em terrenos privados, de escolas, clubes ou condomínios. São áreas multifuncionais e com menor custo de instalação, já que reaproveitam materiais existentes do próprio território, como podas de árvores.
Os brinquedos e mobiliários encorajam experiências sensoriais e motoras que estimulam a criatividade, tanto para bebês quanto para crianças com e sem deficiência, de todas as idades. Esses espaços, quando montados em terrenos antes abandonados, trazem mais verde e lugares de convívio para as cidades.
O microparque naturalizado Seu Zequinha, implementado em Fortaleza (CE), por exemplo, recuperou uma grande área antes degradada. A estratégia foi elaborada dentro da rede Urban 95, da Fundação Bernard Van Leer no Brasil, em parceria com o Instituto Cidades Sustentáveis, e teve o apoio técnico do Jardins das Brincadeiras e do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana. Os parques naturalizados podem ser realizados em um sistema híbrido de compromisso entre a comunidade e a gestão pública, com o apoio das secretarias de urbanismo e meio ambiente dos municípios.
“Os parques naturalizados são sistemas vivos e em transformação, que podem e devem conter as marcas e vestígios das atividades e desejos das crianças, ao mesmo tempo em que têm seus equipamentos e paisagens cuidados e mantidos. São espaços repletos de possibilidades de interação, exploração e criação, que incentivam o brincar livre, a convivência, o vínculo entre as famílias, a cidade e seus espaços públicos, com a natureza e o prazer de estar a céu aberto, incentivando a valorização das áreas verdes, a saúde e o bem-estar da comunidade”, avalia JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.
Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança
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terça-feira, 27 de setembro de 2022
9 em cada 10 brasileiros são contra liberar a caça no Brasil, aponta pesquisa
Levantamento feito pelo Instituto Datafolha a pedido do WWF-Brasil mostra ainda que eleitores reprovam candidatos que apoiam a caça
A cada dez brasileiros, nove não aprovam a ideia de autorizar a caça no país. A informação faz parte de um levantamento do Instituto Datafolha feito a pedido do WWF-Brasil. Para a pesquisa, foram entrevistadas em todas as cinco regiões do país 2.088 pessoas, a partir dos 16 anos, que responderam duas perguntas: “Você concorda com a ideia de autorizar a caça de animais no Brasil?” e “Votaria em quem apoia a caça no Brasil?”.
Do total de pessoas pesquisadas, 90% discordam da ideia de autorizar a caça, 9% concordaram e 1% não soube responder. A rejeição é maior entre as mulheres (92%) e residentes nas regiões metropolitanas, com 93%.
A opinião feminina é também majoritária quando o tema é a possibilidade de votar em candidatos que apoiam a caça, com 91% afirmando que não votariam em quem defende essa pauta, frente a 88% da população geral. A rejeição é mais forte entre as mulheres e moradores das regiões metropolitanas, ambos com 91%. Apenas 10% dos entrevistados votariam em candidatos que apoiam a autorização da caça no país e 3% não soube responder.
Os dados demonstram uma sensibilização forte, contrária à autorização da caça em dois grupos específicos: mulheres e residentes nas regiões metropolitanas. Uma possível razão para isso é o aumento da violência em decorrência de mais armas em circulação nesses centros.
“Todos sofremos com a grande circulação de armas. Mães perdem seus filhos em brigas de trânsito, vizinhos se matam entre si por bobagens, apenas porque um teve acesso facilitado a uma arma de fogo”, afirma Raul do Valle, coordenador de Incidência política do WWF-Brasil. “Estamos vendo, chocados, um aumento nos casos em que pais de família matam esposa, filhos, parentes e depois se matam. O aumento na circulação de armas em nossa sociedade é uma tragédia e só tende a piorar se as coisas não mudarem”.
Apesar de a caça ser liberada apenas para espécies como o javali, que é considerado um invasor, a quantidade de CACs (colecionadores, atiradores e caçadores) aumentou exponencialmente no Brasil nos últimos anos. Desde 2018, o número de armas para essa categoria pulou de 350,6 mil para 1.006.725 neste ano. Os dados são do Exército e foram obtidos pela Lei de Acesso à Informação, por meio dos Institutos Igarapé e Sou da Paz.
A região amazônica, notadamente conhecida pelos conflitos fundiários, foi uma das que registrou maior aumento na quantidade de armas em circulação, com 700% desde 2018.
A liberação da caça esportiva no país faria aumentar ainda mais as hipóteses para aquisição de armas com amparo legal, dado que atualmente são poucas as hipóteses de caça legal (subsistência e controle de pragas). Isso aumentará também as chances de que armas compradas legalmente venham a cair nas mãos do crime organizado, aumentando a periculosidade desses grupos, algo que já vem sendo noticiado. “Recentemente, apreenderam armas compradas por um CAC nas mãos de uma quadrilha de roubo a carros fortes. Estamos falando de um problema grave de segurança, não apenas ambiental: mais armas em circulação significa mais violência comum e do próprio crime organizado, que já é imensa” avalia Raul do Valle.
Impacto para os animais
Outro aspecto sério envolve crueldade com animais em extinção e o uso de cães para a caça. “Muitos caçadores deixam os cães vários dias sem alimentação suficiente e os estimulam a ser mais agressivos. Por isso, caçam a presa impiedosamente”, explica Gabriela Moreira, coordenadora do Projeto Pró-Espécies no WWF-Brasil. “Sem falar que caçadores inexperientes podem colocar em risco nossa fauna, atingindo animais que estão sob o risco de extinção ou fêmeas com seus filhotes. Quem vai se responsabilizar por esse risco”, pergunta.
A opinião dos brasileiros vai contra a atuação do Congresso, onde existem projetos de lei como o PL 5544/2020, que dispõe sobre a autorização para a caça esportiva de animais no território nacional. O projeto aguarda a criação de uma comissão especial designada pela Mesa Diretora do Congresso Nacional. A pressão da sociedade segue intensa para coibir sua aprovação.
Entre as espécies ameaçadas que costumam ser alvo de caçadores estão a arara-azul, o tatu-bola, o mico-leão-dourado e o boto-cor-de-rosa.
Sobre a pesquisa
A pesquisa ouviu 2088 brasileiros com 16 anos ou mais de todos os estratos socioeconômicos de 5 a 8 de julho de 2022, margem de erro máxima de 2 pontos percentuais, uma amostragem que espelha a demografia do país segundo os mais recentes dados disponíveis do IBGE.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 26 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática. Conheça a ONG.
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Cupins e o aumento das temperaturas globais
Por Jornal da Unicamp –
Estudo publicado na Science e que contou com a participação de pesquisadores da Unicamp relaciona ação de insetos com mudanças climáticas
Um estudo internacional que acaba de ser publicado na capa da revista Science revelou que cupins desempenham um papel essencial na reciclagem da madeira em ecossistemas naturais. Sem a sua existência, vários biomas no mundo teriam acumulado uma grande pilha de matéria orgânica morta. Esses insetos são os responsáveis pela decomposição da madeira, especialmente em locais quentes e com pouca umidade, em que microrganismos, principais decompositores, são pouco abundantes em épocas da seca.
A pesquisa, liderada pela bióloga Amy Zanne, da Universidade de Miami, é resultado de uma colaboração entre cem pesquisadores de diversas instituições ao redor do mundo. Durante a investigação, os participantes aplicaram o mesmo método experimental em 130 locais distribuídos nos seis continentes, buscando estudar o comportamento de cupins em variadas condições de temperatura e umidade. Na Unicamp, ela contou com a participação do ex-aluno André Mouro D’Angioli, que contribuiu com o artigo como parte de seu doutorado em Ecologia, defendido no Instituto de Biologia (IB) sob a orientação do docente Rafael Oliveira.
Foto de uma mulher que aparece da cintura para cima. Ela é branca, tem o cabelo branco e curto e está usando uma blusa vermelha. Ela está sorrindo.A bióloga Amy Zanne, pesquisadora da Universidade de Miami e professora-visitante no Instituto de Biologia (Foto: Evan Garcia, Universidade de Miami)
De acordo com D’Angioli, a intenção dessa parceria internacional foi verificar em quais regiões do planeta e em que condições climáticas havia uma maior influência de cupins – em comparação com bactérias e fungos – na decomposição da madeira morta, e como esses bichos são afetados por alterações na temperatura e precipitação. “Esse é um dado relevante, porque a madeira é um importante componente de estocagem de carbono. Então, quanto mais rápido ela decompõe, mais rápido perdemos o carbono que está armazenado na matéria orgânica e mais rápido ele é enviado como gás carbônico para a atmosfera”, esclarece.
Os resultados apontam que, caso as previsões sobre mudanças climáticas se confirmem, as áreas onde o clima é mais quente e seco – como as formações campestres e savânicas do Cerrado – irão se expandir. Como consequência, os ambientes em que cupins são importantes decompositores se ampliarão, gerando um cenário de retroalimentação em que o aumento da emissão de gás carbônico causará a elevação das temperaturas globais. Estas, por sua vez, ampliarão o espaço de atuação dos cupins, que liberarão mais gás carbônico conforme decompõem o material orgânico morto. “Em termos práticos, estamos entendendo como funciona o sistema terrestre e a interface entre um componente biótico, que são os cupins, a vegetação e um componente abiótico, que é o clima”, explica Oliveira. “A gente precisa entender como esses elementos ciclam na Terra, especialmente o carbono, porque assim poderemos predizer o que acontecerá com diferentes ecossistemas, caso o clima se torne mais quente e mais seco”, complementa.
Composição com duas fotos. Na imagem à esquerda há um homem de pé em um campo aberto. Ele é branco, usa chapéu, camisa xadrez, mochila e está sorrindo. Na imagem à direita há um homem abaixado em uma área de floresta. Ele é branco, tem o cabelo curto, barba rala, está usando calça escura e camiseta branca e está sorrindo.
André Mouro D’Angioli (à direita) que contribuiu com a pesquisa sobre os cupins como parte de seu doutorado em Ecologia, defendido no IB sob a orientação do docente Rafael Oliveira (à esquerda) (Fotos: acervo pessoal dos pesquisadores)
Diferencial
O grande diferencial da pesquisa foi a possibilidade de investigar a atuação dos cupins em uma ampla variedade de regiões, com diferentes níveis de temperatura e umidade, garantindo, assim, resultados mais robustos. Como existe uma extensa distribuição biogeográfica de espécies de cupim em todo o mundo, focar o estudo em apenas um ambiente traria resultados bem menos eficientes sobre a atuação deles na decomposição de materiais orgânicos como a madeira.
Essa cooperação em larga escala, revela a bióloga Amy Zanne, permitiu obter mais evidências sobre como o carbono circula através do planeta. “Além disso, como nosso protocolo era simples e de fácil aplicação, puderam se juntar ao projeto desde alunos de pós-graduação até professores seniores. Isso nos permitiu ter uma rede de pessoas e aprender muito uns com os outros”.
O modelo de experimento conduzido pelos cem colaboradores consistiu em inserir blocos de madeira de um tipo de pinus nos seus respectivos ecossistemas. Uma parcela dos blocos foi envolvida com uma rede de proteção para evitar que os cupins os comessem, enquanto outra parte ficou livre para a atuação desses insetos (as malhas foram perfuradas na área que ficou em contato com o solo, permitindo a entrada de cupins por tuneis subterrâneos, mas evitando a entrada de outros insetos). Dessa forma, foi possível comparar a a decomposição realizada pelos cupins daquela feita por microrganismos como bactérias e fungos, verificando quem possuía uma atuação mais relevante.
Composição com duas fotos. Na imagem à esquerda aparecem redes em formato retangular distribuídas em um campo aberto. Na imagem à direita há uma jovem abaixada atrás de um cupinzeiro.Método simples e barato para coletar dados permitiu realizar experimentos em ecossistemas de vários países (Fotos: Jamie Cleverly e Rebecca Clemen)
“Eu considero este trabalho um modelo de planejamento, porque é muito simples, não envolve tecnologia, somente uma boa ideia e um desenho experimental padronizado e elaborado”, argumenta Oliveira. Para ele, este é um exemplo do caráter plural que a ciência deve ter, especialmente na ecologia. “Boa parte dos estudos ditos globais têm uma super-representação do hemisfério norte – Estados Unidos e Europa. Com este artigo, pudemos ter uma amostragem de diferentes biomas no mundo, de forma mais equitativa”, explica.
Nos experimentos conduzidos por D’Angioli, por exemplo, os blocos de madeira foram inseridos em oito áreas formadas por campo, savana e floresta, localizados em três regiões específicas do Brasil: a Serra da Canastra, em Minas Gerais, uma estação ecológica em Brasília e no município de Itirapina, no Estado de São Paulo. Após os preparativos e a instalação das armadilhas, em 2016, houve dois anos de trabalho de campo e mais um ano para processar as amostras e obter os dados para escrever a tese, que focava na análise dos ciclos biogeoquímicos de elementos do cerrado.
Atualmente, Zanne e Oliveira estão dando sequência ao estudo sobre cupins com novas investigações sobre a sua importância para ecossistemas brasileiros. Por esse motivo, a pesquisadora veio à Unicamp como professora-visitante para desenvolver pesquisas na Chapada dos Veadeiros. “O papel de regiões tropicais e savanas na estocagem e liberação de carbono ainda é muito pouco estudado. Como a Chapada possui esses ecossistemas, além de uma diversidade de cupins que determina a ciclagem de carbono a partir de diversos materiais, fez sentido para mim que essa nova etapa da pesquisa fosse realizada aqui”, finaliza a pesquisadora.
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Enfrentando invasões e omissão do governo, povo Karipuna leva “pedido de socorro” a países e órgãos internacionais
Por Cimi –
Durante esta semana, uma delegação de 13 indígenas da Terra Indígena Karipuna participou de audiências e reuniões com diversas embaixadas denunciando o aumento das invasões à sua terra
“Viemos aqui pedir ajuda, socorro. Pedimos que vocês nos ajudem a cobrar o Estado brasileiro para que ele faça valer a Lei maior do país e proteja nosso território”. Este foi o apelo que o cacique André Karipuna e outras lideranças da Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia, levaram a embaixadas e representantes de 21 países entre os dias 19 e 23 de setembro.
Durante esta semana, uma delegação de 13 indígenas da TI Karipuna presente em Brasília (DF) participou de audiências e reuniões com diversas embaixadas e com a Delegação da União Europeia no Brasil, levando seu relato sobre a situação no território Karipuna e seu pedido de apoio.
Os indígenas também se reuniram com a Sexta Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), com parlamentares das Comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia (Cindra) e de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados e com representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil.
Mais uma vez, o povo Karipuna também levou suas reivindicações à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e à Fundação Nacional do Índio (Funai), onde as lideranças foram recebidas. A desesperança com a atuação dos órgãos públicos ligados ao poder Executivo, entretanto, motivou também os pedidos de apoio internacional.
“Pedimos apoio para cobrar que o Estado brasileiro cumpra sua função de proteger e fiscalizar nosso território. Já percorremos o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e nada é feito. Faz sete anos que estamos lutando contra as invasões em nossa terra e elas só aumentam. Estamos sendo ameaçados, pressionados por grileiros e fazendeiros”, denunciou o cacique André Karipuna.
Há pelo menos sete anos o povo Karipuna denuncia a grave situação de seu território. Em 2017, as invasões se intensificaram e os indígenas identificaram a ocorrência de loteamentos ilegais no interior da terra indígena – ou seja, o desmatamento e a divisão de grandes partes de sua terra em “lotes”, vendidos ilegalmente a pretensos proprietários.
Naquele ano, a situação dos Karipuna foi classificada pelo MPF como de “iminente genocídio”. Isso porque o povo, quase dizimado após um desastroso contato conduzido pela Funai na década de 1970, chegou a ficar reduzido a apenas oito pessoas.
Atualmente, são 61 pessoas – um povo “em fase de crescimento”, como define André Karipuna – o que faz desta uma população especialmente vulnerável. Apesar de terem obtido na Justiça Federal decisões judiciais que determinam a proteção de sua terra, na prática, o Estado tem falhado em proteger de forma sistemática o território.
As operações pontuais de fiscalização são insuficientes para garantir a segurança do povo Karipuna. Nesta terra, como tem ocorrido em quase todo o território nacional, a política de desmonte dos mecanismos de proteção e fiscalização ambiental levada a cabo pelo governo Bolsonaro têm resultado no aumento das invasões e no avanço do desmatamento.
“Estamos muito preocupados com o que está acontecendo agora no nosso território”, afirmou Katika, anciã Karipuna e uma das oito sobreviventes da experiência traumática de contato que quase exterminou seu povo. “Estamos cercados por madeireiros, fazendeiros, grileiros e pescadores. A Funai, que deveria nos proteger, não protege”.
“Me preocupo não apenas com minha vida, mas com todo o meu povo”, explicou a anciã, repetidas vezes, ao longo da semana. Apesar da idade avançada, da dificuldade de locomoção e da barreira da língua, Katika fez questão de explicar, didaticamente, os motivos de sua aflição. Com a ajuda de seus filhos André e Andressa, garantiu que sua mensagem fosse traduzida e repassada a embaixadores, secretários e representantes de países e instituições.
“Os invasores não querem só a nossa madeira, eles querem roubar a nossa terra. Enquanto eu estiver aqui, vou lutar, e depois que eu não estiver mais, a luta Karipuna continua”, repetiu, pacientemente, a diferentes interlocutores.
Sua mensagem foi reforçada por seu irmão Aripã, também ancião Karipuna e também sobrevivente do contato.
“Estamos no meio de muitos invasores. Nos preocupamos também com nossos netos. O que eles vão comer, como vão viver?”, questionou Aripã. “Estão derrubando nossa mata, os peixes estão sumindo, os animais estão morrendo. Pedimos que nos ajudem a cobrar o governo brasileiro a combater as invasões na nossa terra”.
A TI Karipuna possui 153 mil hectares demarcados, homologados e registrados como patrimônio da União ainda na década de 1990. A gravidade da situação no território motivou a viagem inédita de uma delegação de 13 pessoas de diferentes gerações Karipuna à capital federal, com crianças, adultos e anciões.
Isolados
O povo também expressou sua preocupação com a situação dos indígenas em situação de isolamento voluntário que vivem em seu território – e que estão ainda mais vulneráveis à ação de invasores. Há registros de dois grupos de indígenas isolados no interior da TI Karipuna – nenhum deles reconhecido pela Funai.
“Estamos sofrendo muito com as invasões de fazendeiros, grileiros, pescadores”, afirma Andressa Karipuna. “Não podemos nem sequer circular e buscar alimentos em nosso território. E se para nós já está assim, imaginamos como estão nossos parentes que vivem em isolamento em nossa terra”.
“A Funai não reconhece, mas a gente já viu eles. Já vimos vestígios, como armadilhas para caça e tapiris, e também já vimos eles. Então, é certo que estão lá. Já enviamos vários documentos relatando isso à Funai, mas eles dizem que não têm informação”, relata Andressa.
Os dois grupos de indígenas em isolamento voluntário fazem parte dos 117 registros de povos isolados contabilizados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no país, conforme dados do relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil de 2021.
Semana de lutas
Durante a semana, o povo Karipuna realizou encontros individuais com embaixadores e representantes das embaixadas de países como Suíça, Chile, Espanha, Alemanha, Nova Zelândia, Bolívia e Austrália. Além disso, a delegação participou de uma reunião com a Delegação da União Europeia no Brasil, que contou com a presença de representantes de 16 Estados-membro.
O Cimi, o Greenpeace Brasil e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apoiaram e acompanharam as atividades e denúncias do povo Karipuna em Brasília. Enquanto a delegação Karipuna percorria embaixadas e órgãos públicos, na Europa, Adriano Karipuna também fazia uma semana de denúncias internacionais, buscando angariar apoio e dar visibilidade à luta de seu povo.
Também participaram da mobilização em Brasília indígenas dos povos Piripkura, Kasharari e Uru-Eu-Wau-Wau, que vivem com os Karipuna na aldeia Panorama, no interior da TI.
“A situação é gravíssima. Todos na aldeia Karipuna sabem o que é passar noites e noites em claro, preocupados. Neste último ano, os invasores avançaram até muito perto da aldeia, e o povo está cada vez mais ilhado. Recentemente, o povo encontrou picadas – marcações feitas no meio da floresta – dos invasores demarcando lotes para ocupação ilegal a cerca de um quilômetro das casas Karipuna. É muito perto”, explica Laura Vicuña Manso, missionária do Cimi Regional Rondônia.
“Hoje, a TI Karipuna está cercada por 300 mil cabeças de gado, que pressionam a terra indígena. Mais de 11 mil hectares já foram desmatados no interior do território, e boa parte dessas áreas já tem pastagens”, contextualiza o porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace, Danicley de Aguiar.
Os indígenas pediram aos países da União Europeia, especialmente, que garantam salvaguardas de proteção aos territórios indígenas como critério para qualquer acordo comercial firmado com o Brasil.
“Até chegarem na mesa das pessoas de fora, os produtos que estão sendo extraídos ilegalmente no Brasil já mataram muitos indígenas. Estão saindo do país coisas ilegais como se fossem legais”, resumiu André Karipuna. “Nós, povos indígenas, é que defendemos a Amazônia. Só tem vida nas florestas através de nós”.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2022
EcoDEBATE - Boletim de 14.9.2022
Boletim de atualização da revista eletrônica EcoDebate
Edição de 14/setembro/2022
Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Passado e futuro no bicentenário da Independência do Brasil
A degradação do meio ambiente foi o lado mais negativo do legado dos 200 anos da Independência
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Transição rápida para energia limpa é mais barata do que uma transição lenta
Alcançar um sistema de energia líquida zero carbono por volta de 2050 é possível e lucrativo
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Fast transition to clean energy is cheaper than slow or no transition at all
Achieving a net zero carbon energy system by 2050 is possible and profitable
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A ciência mais recente relacionada às mudanças climáticas
Relatório se concentra em gases de efeito estufa, temperaturas globais, previsões climáticas e pontos de inflexão, mudanças climáticas urbanas, impactos climáticos extremos e alertas precoces
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Overview of the latest science related to climate change
Report focuses on greenhouse gases, global temperatures, climate predictions and tipping points, urban climate change, extreme weather impacts and early warnings
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Soja ocupa 10% do Cerrado
O Cerrado já perdeu quase metade de sua vegetação nativa e, com isso, está ficando mais quente e seco
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Mudanças climáticas e impactos aceleram
Aumento das temperaturas globais está alimentando condições climáticas extremas devastadoras em todo o mundo, com impactos crescentes nas economias e sociedades
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Mudança climática já afeta produção agrícola em 28% do Centro-Oeste
Número pode chegar a 50% na próxima década e a 70% em trinta anos; pesquisa comprova queda de produtividade e levanta discussão sobre o limite climático da agricultura no Brasil
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terça-feira, 13 de setembro de 2022
Havaianas lança coleção cápsula com nylon regenerado
Pensada para pessoas que buscam um estilo de vida mais equilibrado, leve e sustentável, a coleção traz nove produtos, entre roupas e acessórios, feitos com o nylon regenerado ECONYL®, desenvolvido a partir de resíduos de nylon que poluem a Terra como redes de pesca, restos de tecido, carpetes e plástico industrial; o fio de nylon ECONYL® pode ser reciclado, recriado e remodelado infinitamente
Sustentabilidade é um dos pilares de Havaianas, e a marca vem, cada vez mais, trazendo o tema para o centro das suas ações, seja no desenvolvimento de novos produtos ou até mesmo pensando no descarte correto após o fim da sua vida útil. E inovação caminha lado a lado com sustentabilidade para promover essas mudanças. Foi nesse processo constante de busca por opções mais sustentáveis que Havaianas encontrou o ECONYLⓇ, um nylon regenerado que pode ser reciclado, recriado e remodelado infinitamente. Ele é o protagonista da coleção cápsula Havaianas em nylon ECONYLⓇ, que acabou de chegar às lojas.
“Os recursos do planeta não são infinitos, e por esse motivo devemos estar cada vez mais conscientes e em busca de soluções inovadoras que nos permitam manter a nossa veia criativa pulsando. Em meio a diversas buscas encontramos no nylon regenerado ECONYLⓇ mais uma solução para criar uma coleção de produtos pensados para quem busca um estilo de vida mais equilibrado, leve e sustentável”, afirma Mariana Rhormens, diretora de Marketing da Havaianas Brasil.
O nylon ECONYLⓇ é um material “jovem” criado em 2011 pela italiana Aquafil, empresa pioneira em economia circular. O processo de produção começa com a coleta de resíduos, incluindo pisos de carpete, restos de tecido, redes de pesca e plástico industrial de todo o mundo. Depois de coletados, são limpos e separados para recuperar todo o nylon possível. Por meio de um processo de regeneração e purificação, são restaurados em sua forma original. O nylon regenerado ECONYLⓇ é então processado em fios e polímeros usados para fazer roupas, carpetes e objetos de design. Ele pode ser reciclado um número infinito de vezes, retornando ao primeiro estágio do sistema de regeneração e utilizado para produzir novos produtos novamente.
Havaianas quer cada vez mais mostrar aos consumidores que é fundamental se preocupar com o meio ambiente, e que esse processo pode ser mais simples do que parece. “Queremos desconstruir a percepção da sustentabilidade como algo engessado e trabalhoso, apresentando produtos e soluções mais sustentáveis aos nossos consumidores, priorizando matérias primas com certificações ECO e oferecendo opções de descarte correto ao fim da vida útil do produto, como o Havaianas reCICLO, nosso programa de logística reversa. Sabemos que temos um longo caminho pela frente, mas estamos otimistas”, completa Mari Rhormens, diretora de Marketing da Havaianas Brasil.
A coleção cápsula Havaianas feita em nylon Econyl traz nove produtos em diversas categorias, com estampas que remetem ao mar e toda a liberdade que ele representa. “Queríamos contar essa importante história de sustentabilidade de forma lúdica e foi daí que surgiu a inspiração para as estampas, que trazem elementos do oceano, representando a liberdade de nadar livremente em um mar limpo, livre de poluição”, encerra Mari Rhormens, diretora de Marketing da Havaianas Brasil.
São três modelos de óculos, um biquíni (top e bottom vendidos separadamente), um boardshort, um mini short, uma mule e, para garantir comida e bebida frescas na praia, uma bolsa térmica.
Os óculos Havaianas feitos com polímeros ECONYL® trazem os shapes mais icônicos da marca de uma maneira diferente. Além de serem feitos com nylon ECONYL®, têm lentes espelhadas e capinhas com as estampas da coleção.
A bolsa térmica Havaianas em nylon ECONYL® é ideal para levar o que precisar manter fresquinho. Ela funciona como uma mochila, deixando as mãos livres. Além de ser toda composta em tecido térmico, tem as estampas lindas e vibrantes que compõem toda a coleção Havaianas em nylon ECONYL® e trazem elementos do oceano, representando a liberdade de nadar livremente em um mar limpo, livre de poluição.
Perfeito para um passeio ou esportes de praia, o Boardshort Havaianas em nylon ECONYL® tem fecho com cordão e bolso traseiro. Já a versão feminina, o Mini Shorts Havaianas em nylon ECONYL®, tem cós em elástico para trazer ainda mais conforto para a peça. Os dois trazem uma das estampas exclusivas da coleção, com sereias e lagostas em um fundo azul da cor do mar.
O biquini tem as partes de cima e debaixo vendidas separadamente. Assim, é possível comprar os tamanhos que se adaptam melhor a cada parte do corpo. O Biquini Top Havaianas em nylon ECONYL® tem alças largas e fecho frontal em zíper. No mesmo tecido do top, o Biquini Bottom Havaianas em nylon ECONYL® traz laterais e a parte de trás mais largas. A dupla é ideal para prática de esportes na praia ou para compor um look que além de lindo é sustentável.
A Mule Havaianas Evolution em nylon ECONYL® alinha conforto, estilo e sustentabilidade. O modelo possui um solado de plataforma, garantindo uns centímetros a mais. Aberta também na parte da frente, ela deixa os dedinhos de fora, trazendo um visual único. O cabedal todo em em nylon ECONYL® dá o toque final. Um calçado que se importa com os seus pés e com onde eles pisam no mundo!
A coleção cápsula Havaianas feita com nylon ECONYLⓇ regenerado a partir de resíduos em nylon, está disponível em lojas Havaianas e na Digital Flagship Store da marca.
#Envolverde
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