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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ECO21 – 2016 será lembrado como um ano devastador

Editorial da revista ECO21, que trás uma boa cobertura da COP 13, de Cancún, e uma abordagem bastante ampla dos dilemas não resolvidos de 2016.

Capa: Instalação feita com alimentos orgânicos para a COP-13 sobre Biodiversidade, realizada em Cancún Arte: Silas e Adam Birtwistle. Foto: IISD
Tanto na política nacional como internacional o ano 2016 foi pródigo em surpresas. No Brasil tivemos a queda de Cunha, derrocada de Dilma, as revelações da Justiça sobre os desmandos dos políticos e empresários, a ascensão do evangélico Crivella para a Prefeitura do Rio e do empresário João Dória para a de São Paulo, o desmantelamento do PT e da Rede de Marina Silva. No exterior a saída do Reino Unido da União Europeia, além da maior surpresa de todas: a eleição do negacionista Donald Trump. Paralelamente, a natureza mais uma vez mandou seu recado: os polos estão derretendo, inúmeras espécies de animais estão na Lista Vermelha da IUCN . No último quinquênio foram mortos 145 mil elefantes e só no ano passado quase 1500 rinocerontes. Os ursos brancos, as morsas e as girafas também entraram para a Lista dos animais em extinção.
Outra grande tragédia é a dos polinizadores: as abelhas e outros insetos benéficos para a vida estão desaparecendo por causa dos agrotóxicos utilizados em grande escala pelo agronegócio. O desmatamento das florestas no Brasil e na Indonésia atingiu níveis nunca vistos.
Diante desse panorama, os ambientalistas reagem, lutam nas Conferências da ONU sobre o clima, a desertificação, a biodiversidade e os recursos hídricos e denunciam os atropelos dos grandes interesses econômicos.
O Papa Francisco entrou no coro das vozes que protestam. No mês passado, na Pontifícia Academia das Ciências, perante 60 cientistas de todo o mundo afirmou que “a comunidade científica que demonstrou a crise do nosso planeta, hoje está convocada para constituir uma liderança que indique soluções sobre a água, as energias renováveis e a segurança alimentar. É indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e garanta a proteção dos ecossistemas antes que se produzam danos irreversíveis não só ao meio ambiente, mas também à convivência, à justiça e à liberdade”. Felizmente, o homem, que como disse Fidel Castro na RIO-92 é uma espécie a caminho da extinção, reage. Líderes, como Obama, conseguiram preservar imensas áreas marinhas (no Pacífico) e terrestres (no Alasca e Norte dos EUA) as quais ficaram livres da sobre-exploração da pesca e das empresas dos combustíveis fósseis.
Se não foi possível acabar com a caça das baleias, pelo menos houve a sensatez de preservar o Mar de Ross, na Antártida. Que tempos são esses em que se destrói o Cerrado para plantar soja irrigada com glifosato?! O Cerrado, que guarda a cura de inúmeras doenças e armazena as águas do Brasil, virará em poucos anos um deserto sem vida pior do que o Saara, o qual, paradoxalmente, mantém latentes vidas únicas nesse ecossistema tão hostil. Mas, não é só a destruição da natureza que nos espanta. A tragédia de Alepo vai além da imaginação. Kosovo foi quase um treinamento. Treblinka foi o ensaio geral. Quando explodiu a bomba atômica em Hiroshima, a apoteose da destruição, como escreveu Albert Camus, “a guerra, calamidade que se tornou definitiva somente por causa da inteligência humana, não dependerá mais dos apetites ou das doutrinas de tal ou qual Estado.
Em face às terrificantes perspectivas que se abrem perante a humanidade, nós percebemos mais ainda que a paz é o único combate que vale a pena ser livrado”. É uma perspectiva aberta pela eleição de Trump, mas ela se contrapõe às palavras do Papa Francisco que nos lembra: “a submissão da política à tecnologia e às finanças que buscam a ganância, se revela pelo atraso na aplicação de acordos mundiais sobre o ambiente, além das contínuas guerras de predomínio que, mascaradas por nobres reivindicações, causam danos cada vez mais graves ao ambiente e à riqueza moral de todos os povos”.
Os Jogos Olímpicos foram um sucesso, mas 2016 também foi um ano devastador entre os esportistas pelo desastre do time Chapecoense. A morte de todos esses jovens deslanchou uma corrente universal de solidariedade jamais vista. O mundo inteiro foi chapecoense e nós também somos chapecoenses.
A ECO•21 agradece aos nossos colaboradores que sempre nos prestigiaram com seus textos, fotos e todo tipo de incentivo permitindo que a revista prossiga na saga dos seus 27 anos de vida.
Felizes festas e um sustentável 2017 para todos!
Gaia Vivera!
Lúcia Chayb e René Capriles
SUMÁRIO
Brasil propõe na COP-13 a integração das áreas protegidas
Eliana Lucena
COP-13 da biodiversidade debate novas tecnologias
Emilio Godoy
Biodiversidade sintética?
Silvia Ribeiro
COP 13: o desafio da maior extinção de espécies desde os dinossauros
Dal Marcondes
Montante do desinvestimento duplica
Nathalia Clark
Terra de florestas
Carlos Nobre e Rachel Biderman
Sina de Desmatar
Tasso Azevedo
Brasil precisa investir no mercado de carbono REDD+
Virgílio Viana
Mudanças climáticas causam extinção local da biodiversidade
Reinaldo Dias
BRICS e a gestão sustentável dos recursos marinhos
Carolina A Freire e Flávia D. F. Sampaio
Estado de São Paulo concentra as cidades mais poluídas do país
Júlio Ottoboni
Produzir, consumir, viver e imaginar o tempo
Samyra Crespo
Entrevista especial com Mauricio Guetta
Patricia Fachin e Ricardo Machado
Em defesa do interesse público no Licenciamento Ambiental
Mario Mantovani
Sarney intervém contra licenciamento flex
Camila Faria
Este é o momento mais perigoso para o nosso planeta
Stephen Hawking
Importância do investimento em energia eólica
Rubens Sergio dos Santos Vaz Junior
Degradação socioambiental e climática nas megacidades
Alberto Teixeira da Silva
Uma importante espécie biológica está em perigo: o homem
Fidel Castro
Amizade de Castro e Cousteau salvou o oceano de Cuba
David E. Guggenheim
Fórum Pacto Global: parcerias e investimentos para os ODS
Daniela Stefano
Goiás ameaça ampliação do Parque da Chapada dos Veadeiros
Luana Lourenço
A negação climática de Trump é uma das forças que apontam para a guerra
George Monbiot
Adivinhe quem vai tomar conta do arsenal nuclear dos EUA?
José Monserrat Filho
Rio de Janeiro é Patrimônio Mundial da Unesco
Letícia Verdi

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