Por Ricardo Young*
A velha política resiste a mudanças. O que se anunciava como uma ampla e necessária reforma acabou virando mero puxadinho eleitoral. Nossos parlamentares tiveram a oportunidade de construir uma nova legislação, mais ética e transparente, mas optaram por mudanças pontuais mal-ajambradas, que facilitam a vida de quem já controla o poder há décadas.
Ao exigir que o partido tenha um mínimo de dez deputados federais para ter acesso aos debates, a nova legislação dá aos detentores das maiores bancadas no Congresso amparo legal para calar vozes dissonantes -leia-se candidatos dos partidos que mais se opõem à mesmice e pregam uma profunda mudança desse sistema falido.
O resultado é que ideias como as nossas, que representamos a Rede Sustentabilidade no Rio de Janeiro e em São Paulo, e as de outros candidatos, como Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ), podem ser solenemente desprezadas por veículos de imprensa, portais de notícias na internet, emissoras de rádio e TV organizadoras de debates entre os candidatos.
Vejam que ironia: PSOL e Rede, preferências à parte, duas das legendas que mais simbolizam o eco da nova política que reverbera das redes e das ruas, são exatamente as mais excluídas desse momento essencial para se conhecer as propostas dos candidatos.
Consideramos que a diversidade, a pluralidade e o embate de ideias são essenciais para a democracia. É direito do eleitor saber o que pensam todos os candidatos a prefeito nas próximas eleições. Por isso batalhamos por debates justos, mais amplos, democráticos, inclusivos e representativos.
Não podemos permitir, nesse arremedo de reforma, que a representatividade das candidaturas, o desempenho nas pesquisas eleitorais e a relevância das propostas sejam simplesmente desconsiderados.
A legislação até permite a presença nos debates de siglas com menos de dez deputados, mas a participação terá que ser aprovada por dois terços dos demais candidatos com vagas já asseguradas.
A maioria, é claro, acomodada com a regra antidemocrática, tira o corpo fora.
Não vamos nos calar. Milhares de vozes nas redes e nas ruas compartilham essa nossa reivindicação: que os organizadores dos debates e os partidos com seus respectivos candidatos, já garantidos pela nova legislação, permitam também que outros nomes não sejam excluídos por questões meramente burocráticas e quantitativas ocasionais.
O eleitor pode ter suas convicções políticas representadas em outros partidos, mas temos a prerrogativa de nos fazer ouvir. Contamos, portanto, com o apoio do maior número de pessoas para que seja preservado o direito à liberdade de expressão dos candidatos dessas legendas que representam uma parcela bastante significativa da população brasileira, com cadeiras não apenas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal mas também nas Câmaras Municipais de São Paulo e do Rio.
A democracia é uma construção interminável, constante e feita a muitas mãos. Não podemos esmorecer nem permitir retrocessos. Um país mais justo e sustentável, com mais ética e transparência, não se erguerá da censura ou da exclusão.
Pelo contrário, precisa ter seus alicerces em uma política que se organize em rede, onde o poder é compartilhado e a voz é livre. (Folha de S. Paulo/ #Envolverde)
* Ricardo Young é empresário e vereador, é candidato à Prefeitura de São Paulo pela Rede Sustentabilidade. Foi presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
** Publicado originalmente no site Folha de S. Paulo.
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