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segunda-feira, 5 de junho de 2023
ECOLOGIA : A ÚNICA GUERRA SANTA DESTE SÉCULO SOMBRIO - James Pizarro (jornal DIÁRIO, 6.6.2023 - Santa Maria, RS)
ECOLOGIA (1) – O mais antigo inimigo de incautos pássaros em nossa cidade, como de resto em todo território gaúcho, era o estilingue ou funda, o popular " bodoque ". No final dos anos 80, início dos anos 90, uma indústria de brinquedos de SP lançou na praça uma forma moderna de estilingue, com uma peça de metal em forma de letra Y e com duas tiras de borracha de uso cirúrgico, substituindo as velhas tiras feitas de câmara de pneus de automóvel. Ainda havia um melhoramento técnico : uma empunhadura que se encaixava no antebraço do atirador. Este tipo de artefato passou a ser vendido em Santa Maria, tendo eu recebido denúncia contra os Supermercados Trevisan (denúncia feita pela Associação Protetora dos Animais, através da ativa militante, professora Vera Resende). A rede Trevisan de supermercados era a mais importante da cidade e seu Presidente, meu saudoso amigo João Trevisan, era inclusive o presidente da Associação de Supermercados do RS. Fui falar com ele pessoalmente e fiz ver que, um daqueles bodoques modernos era capaz de atirar uma bola de gude (nossa tradicional "bolita") a 80 km/hora, cerca de 25 metros por segundo, com um alcance efetivo de 30 metros. Disse que, a essa velocidade, abriria um buraco na cabeça de uma criança. Falei sobre o instinto de violência desenvolvido nas crianças, a mortandade de pássaros em nossa região, etc...Imediatamente, na minha frente, João Trevisan chamou o gerente-geral da principal loja dos supermercados que dirigia (onde hoje está localizado o Supermercado Real) e ordenou que fosse retirada das prateleiras e gôndolas todos os bodoques e que fossem devolvidos à fábrica paulista e cancelados os novos pedidos. Depois disso, fiz uma série infindável de palestras nas escolas de ensino fundamental de nossa cidade, falando sobre a necessidade da gente ter mais pássaros, mais ninhos, mais vida. Foi um golpe de morte no uso de bodoques em nossa cidade, do qual me orgulho ter participado.
ECOLOGIA (2) - Sob este título, foi editado em janeiro de 1985, um informativo especial contra o uso de agrotóxicos.
produzido graças à colaboração do meu particular amigo Carlos Renan Kurtz, à época presidente da Assembléia Legislativa do RS. Participaram da produção do mesmo : Comissão Pastoral da terra (CPT/RS), Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP), Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG), Comissão Sindical do Alto Uruguai (COSAU) e dos Sindicatos Rurais de Erechim, Passo Fundo, Tenente Portela, Miraguaí, Três Passos e Ijuí. Também é bom relembrar a notável contribuição dos colegas engenheiros agrônomos Jorge Buffon, Lino de David e Maria José Guazzelli. O jornal era de distribuição gratuita. Consegui junto à Assembléia Legislativa milhares de cópias e fui para as ruas, parte fronteira das escolas, "garajão" da UFSM e também para o calçadão da rua Doutor Bozano e fiz a distribuição do informativo para a população santa-mariense. Também fiz a divulgação de todo o conteúdo do jornal pelo programa "Antes que a Natureza Morra", por mim produzido e apresentado pela Rádio Universidade à época.
ECOLOGIA (3) - A convite da Prefeitura (Intendência) e da Câmara de Vereadores da cidade uruguaia de Punta del Este, em companhia do saudoso Dom Arturo Vetuschi, cônsul do Uruguai em Santa Maria, estive fazendo a palestra inaugural do "Primeiro Encontro de Eco-turismo e Meio Ambiente de Punta del Este". No dia seguinte, 10 de outubro de 1985, às 15:00 horas, no Ginásio Municipal de Punta del Este completamente lotado por 4000 crianças da faixa etária entre 9 e 12 anos, fiz palestra sobre a fauna e flora do Cone Sul. No final da palestra, cantei diversas músicas ecológicas em espanhol, com um coral de 4000 vozes, o que me emocionou intensamente. O fato foi presenciado pelos vereadores de Santa Maria e pelos estudantes do Curso de Turismo da faculdade das Irmãs Franciscanas, sendo transmitido ao vivo pela TV e pelas rádios da cidade uruguaia. Este fato motivou convite para fazer palestras em outras cidades uruguaias. Tenho em meus arquivos os recortes de um jornal uruguaio, com a manchete : "Maestro Pizarro, un fenomeno de comunicacion". O consulado do Uruguai em Santa Maria, possui a íntegra da gravação e da filmagem do fato.
ECOLOGIA (4) - No final da década de 70, início da década de 80, os jornais e revistas eram pródigos em reportagens e fotos dos rios brasileiros poluídos por imensas espumas brancas. As espumas e os peixes mortos às toneladas nos rios, represas e mares era resultado - em parte - do uso dos detergentes caseiros não biodegradáveis. Fui para as rádios, jornais e TV e fiz ver à população santa-mariense de que nossas avós nunca precisaram de detergentes. Numa das viagens a Porto Alegre, eu tinha aprendido com as colegas de militância ecológica da ADFG - Ação Democrática Feminina Gaúcha, a receita de um sabão líquido para pia e máquina. Imprimi milhares de folhetos com esta receita e distribui pelas ruas da cidade (apenas para registro : todas essas publicações foram feitas às minhas custas, jamais pedi ajuda financeira de alguém, a fim de preservar minha liberdade de opinião). A título de curiosidade, reproduzo aqui a receita : " 2 pedaços de sabão de coco ou outro qualquer de pedra, suco de 2 limões, 4 colheres de sopa de amoníaco (lembro que amoníaco não polui). Modo de preparar : derreter o sabão ralado ou picado em um litro de água fervente. Juntar 5 litros de água fria, o suco dos limões e, por último, o amoníaco. Dissolva bem e guarde em garrafas."
ECOLOGIA (5) - Em fevereiro de 1985 realizou-se, na cidade de Ibirubá, o "Primeiro Congresso Estadual de Ecologia, dando ênfase à educação ecológica. Fui convidado para fazer a conferência inaugural, convite que me foi feito pelo agrônomo e amigo Delvino Nolla, agente conservacionista da Secretaria de Agricultura do RS. Era governador do RS o Dr. Jair Soares e o João Salvador de Souza Jardim era o Secretário da Agricultura. Fiz uma abordagem política, isto é, fiz uma palestra sobre Ecopolítica, enumerando omissões, bandalheiras, conivências, crimes ambientais, medo de técnicos perderem seu emprego, de políticos perderem as suas mamatas. Fiz também um violento libelo contra a censura. A conferência foi feita no ginásio municipal de Ibirubá e o público predominante que lotou o ginásio era de jovens, universitários, professores e técnicos vindos de todo o interior do RS. Fui ovacionado. O prefeito municipal ficou furibundo, espumava de raiva. Tomando a palavra quis me contestar. Mas foi solenemente vaiado. Bons tempos aqueles...
ECOLOGIA (6) - Numa das idas a Porto Alegre, para participar das reuniões da AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção Ao Ambiente Natural, José Lutzenberger me deu uma cópia de seu artigo intitulado "A Absurda Poda Anual". Neste artigo, que encontrou notável repercussão no público gaúcho, ele denuncia a estranha poda anual que se faz no inverno, fruto duma inexplicável tradição. Ele se referia à mutilação feita em árvores nas avenidas, ruas e também jardins e pátios de residências. A prática da poda é geralmente feita contra cinamomos, plátanos, jacarandás, ligustros e extremosas, etc...Uma árvore podada é uma árvore condenada. Diminui sua longevidade em anos e anos. Uma floresta não precisa de poda, não é mesmo ? Ou alguém precisou podar a Floresta Amazônica para ela se transformar na mais linda floresta do mundo ? A poda só tem sentido quando feita em fruticultura (pereira, parreira, por exemplo), uma poda científica e técnica para "educar" a copa e facilitar a insolação, além de facilitar a colheita. Fiz xerox deste trabalho do José Lutzemberger e distribui milhares por toda Santa Maria. Como ocorre diante de nova novidade, houve muita crítica. muita discordância. É o custo que todo pioneiro paga, que toda inteligência privilegiada tem de arcar. Lutzenberger morreu, foi enterrado nu, como queria, embaixo da árvore onde costumava ficar em seu sitio, no Rincão Gaia, na localidade de Pântano Grande. Mas suas ideias e seu pioneirismo ficaram imortais. Seus críticos foram relegados ao esquecimento. Orgulho-me de ter sido seu amigo, seu seguidor, propagador de suas ideias. Por isso faço estes registros no nosso DIÁRIO.. Porque sei que a memória do brasileiro é fraca.
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