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terça-feira, 20 de junho de 2023
Dia Mundial do Albatroz chama atenção para os efeitos da poluição por plástico na sobrevivência das espécies
Campanha global coloca em evidência quatro espécies especialmente ameaçadas pelos resíduos plásticos e seus efeitos tóxicos
A poluição plástica é um dos principais desafios para a conservação marinha, não só pelos efeitos no ecossistema, mas também pelas consequências para a sobrevivência dos animais que vivem nele. Estudos estimam que até 90% de todas as aves marinhas vão ingerir plástico em algum momento de sua vida e além dos efeitos que os plásticos podem causar ao levar à obstrução ou perfuração do trato gastrointestinal, esses materiais também podem liberar uma infinidade de produtos químicos que podem ser absorvidos pelo trato digestivo, podendo causar intoxicação e morte. Para alertar sobre essa ameaça global, o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, se uniu à campanha do Dia Mundial do Albatroz, celebrado em 19 de junho.
As aves escolhidas para estampar a campanha deste ano são duas espécies do Hemisfério Sul diretamente afetadas pelo lixo plástico: o albatroz-real-do-Norte (Diomedea sanfordi), endêmico da Nova Zelândia e ameaçado de extinção, e o albatroz-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), símbolo do Projeto Albatroz e mais comumente encontrado em águas brasileiras.
Além disso, o Dia Mundial do Albatroz também retoma as duas espécies celebradas no ano passado, o albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes) e o albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Oceano Pacífico Norte. Isso acontece porque ambas espécies são consideradas quase ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da IUCN e, segundo pesquisadores, ingerem mais plástico do que as espécies dos mares do Sul.
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Esforço global para a conservação
Segundo os representantes do Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), a poluição por plástico é considerada uma das principais ameaças às populações de albatrozes ao redor do mundo, ao lado das mudanças climáticas e da captura incidental pela pesca. O plástico, inclusive, foi tema de uma série de discussões do maior encontro de especialistas sobre essas espécies, a 13a Reunião do Comitê Assessor, realizada em maio, na Escócia.
A fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves, é também vice-presidente do comitê assessor, e participou ativamente do evento deste ano, contribuindo para o debate sobre o assunto. Segundo ela, o Brasil encara a poluição plástica de forma séria, colaborando com ações de educação ambiental e pesquisas que apoiem políticas públicas para a conservação dessas aves. “Toda a vida do planeta está interconectada. Quando falamos sobre combater a poluição por plástico para proteger os albatrozes, também estamos protegendo peixes, mamíferos, corais, microrganismos, plantas, e também a saúde humana. Juntos, com ações estratégicas, podemos mudar isso”.
Tatiana também ressalta que na reunião deste ano, a vice-coordenadora do Grupo de Trabalho de Populações e Status de Conservação (PaCSWG), a médica veterinária do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CEMAVE/ICMBio) e colaboradora do Projeto Albatroz, Patrícia Serafini, apresentou a pesquisa ‘Rede colaborativa para avaliar a ingestão de plástico e exposição a aditivos químicos em albatrozes e petréis ao largo da costa do Argentina e Brasil’, feita em uma parceria com pesquisadores do país vizinho. O estudo busca provar os efeitos menos visíveis do lixo plástico na vida selvagem, como a toxicidade derivada dos materiais.
Por meio de uma rede colaborativa, foi avaliada a ingestão de plástico (itens de menos de 1 mm) em 17 espécies de Procellariiformes, incluindo sete listadas pelo ACAP e que ocorrem ao longo da costa do Brasil e Argentina. Itens plásticos foram encontrados em 30,6% das carcaças examinadas, o que indica que a ingestão deste tipo de material é um problema comum para albatrozes e petréis no Oceano Atlântico Sudoeste, destacando a necessidade de estudos sobre seus efeitos subletais. O estudo ainda não foi publicado de forma oficial.
Para Andrei L. Roos, Analista Ambiental do CEMAVE/ICMBio e atual coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP), é essencial divulgar informações sobre a poluição por plástico para sensibilizar a sociedade. “Estamos na Década do Oceano e, além dos efeitos do plástico no ecossistema, há uma série de informações ainda pouco conhecidas pelo público sobre como esses materiais, que parecem inofensivos, representam ameaças sérias para a biodioversidade”.
Impactos da poluição por plástico
Os albatrozes são aves oceânicas que passam a maior parte da vida em alto-mar, viajando longas distâncias para buscar alimento e se reproduzir em ilhas remotas. Por esses motivos, poucas pessoas têm contato com eles. Porém, ações como jogar uma garrafa de água na praia ou uma embalagem plástica no chão, podem colocar as espécies em perigo. Isso porque os plásticos são feitos de materiais resistentes, à base de compostos químicos como ftalatos (responsáveis por deixá-los maleáveis), metais pesados (como mercúrio) e poluentes orgânicos persistentes (POPs, como inseticidas) e levam cerca de 500 anos para se decompor.
Assim, ao confundirem plásticos com alimentos, os albatrozes se alimentam desses resíduos que não são digeridos e se acumulam em seu sistema digestivo. Esses materiais podem perfurar órgãos ou impedir a passagem de comida, levando à morte dos animais por inanição. Muitos albatrozes também regurgitam plásticos em meio à comida oferecida aos filhotes, colocando em perigo a sobrevivência dos filhotes e a continuidade da espécie, já que os casais colocam apenas um ovo a cada um ou dois anos.
Intoxicação por plástico
Quando ingerido, o plástico pode passar anos dentro do corpo das aves, liberando compostos químicos que causam doenças crônicas, intoxicação e até morte. Entre os produtos químicos que podem ser liberados pelos plásticos estão os ésteres ftalatos, um grupo de produtos químicos amplamente utilizados para alterar as características físicas dos plásticos.
No estudo “Ésteres de ftalatos (plastificantes) na glândula uropigial e sua relação com a ingestão de plásticos por aves marinhas na costa do Espírito Santo, Leste do Brasil”, publicado no ano passado no Journal of Zoo and Wildlife Medicine, os pesquisadores estudaram a presença destes materiais na glândula usada pelos albatrozes para impermeabilizar suas penas. A médica veterinária Patrícia Serafini, e a consultora técnica Alice Pereira, colaboradoras do Projeto Albatroz, participaram do estudo.
Nele, três ésteres de ftalato, dimetil ftalato (DMP), ftalato de dibutila (DBP) e ftalato de dietilhexila (DEHP), foram quantificados na glândula uropigial de 48 aves marinhas de 16 espécies coletadas no litoral do Espírito Santo. O DMP foi detectado em 16 aves (33%) de 10 espécies, o DBP em 15 aves (31%) de 11 espécies e o DEHP em 21 aves (44%) de 11 espécies.
Segundo Patrícia Serafini, apesar das altas frequências de detecção, as baixas concentrações de ftalatos detectadas nas aves estudadas sugerem níveis de exposição abaixo dos limites de toxicidade conhecidos. “Mesmo assim, mais estudos sobre o potencial adverso dos efeitos da exposição aos ftalatos nas aves marinhas são necessários para entender a gravidade da poluição por plástico, especialmente no desenvolvimento reprodutivo dos embriões e filhotes de albatroz”.
Sobre o ACAP
O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) reúne 13 países cujos mares territoriais são utilizados por albatrozes e petréis para a alimentação, migração ou reprodução, principalmente no Hemisfério Sul. Atualmente, também são signatários do acordo: Argentina, Austrália, África do Sul, Chile, Espanha, Equador, França, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Reino Unido e Uruguai.
O ACAP tem o intuito de coordenar os esforços dos países signatários e estabelecer metas para a conservação destas aves. Em 2008, o Governo Federal ratificou a adesão do Brasil ao acordo. A entrada do país no ACAP é estratégica devido à alta incidência de capturas em nosso mar territorial. Estima-se que até 4 mil albatrozes e petréis morram incidentalmente todos os anos fisgados pelos anzóis das pescarias de espinhel somente no Brasil.
O Acordo estabelece diretrizes multilaterais para proteger estas aves ao redor do mundo. Em linhas gerais, ele propõe a troca de dados e resultados de pesquisas sobre a ocorrência de albatrozes e petréis nos países participantes, a criação de planos de ajuda mútua entre as nações, além de recomendar práticas e usos de medidas que visem diminuir a captura incidental de aves marinhas.
Saiba mais sobre o ACAP no site: https://acap.aq/
Sobre o Projeto Albatroz
Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, que tem o patrocínio da Petrobras. O Projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores.
A principal linha de ação do Projeto, nascido no ano de 1990, em Santos (SP), é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar Políticas Públicas e a promoção de ações de Educação Ambiental junto aos pescadores, jovens e às escolas. O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.
Atualmente, o Projeto Albatroz mantém bases de atuação em seis estados brasileiros.
Mais informações: www.projetoalbatroz.org.br
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