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sexta-feira, 9 de junho de 2023

Dia do meio Ambiente: Se em um dia coubesse…

por Samyra Crespo – Se um dia bastasse, se cada hora fosse uma era, aí sim seria um dia denso, capaz de contar com alguma fluência todo o esforço que a humanidade tem feito, ainda que mergulhada em suas contradições e contramarchas, para compreender o que a atual geração chama de crise ambiental. O ápice dessa compreensão nos é conhecida como ‘crise climática’. Nela cavalga o Apocalipse, imagem bíblica, milenarista, assombrosa. Desde que lá atrás, nos anos 70′, acreditamos ser possível tomar o conceito de ‘carrying capacity’ – capacidade de suporte – de um ramo específico da ‘biologia vegetal’, especialmente de estudos de populações, e o extrapolamos para as sociedades humanas, vivemos o pesadelo da pergunta crucial: os recursos do Planeta são suficientes para abrigar e alimentar 9,5 bilhão de pessoas (projeção da ONU para 2050)? A primeira resposta há 50 anos, com o Clube de Roma, sinalizava esgotamento dos recursos e um iminente desastre. Mas o que é ‘iminente’ no tempo da cultura humana? Uma década? Um milênio? Com o nível que assistimos de agressão (extração de recursos não renováveis como os minérios, o petróleo e a contaminação de rios, ar e solos) haverá possibilidade de assegurarmos a nossa sobrevivência na escala demandada? Vieram as Conferências de Cúpula da ONU de 70, 92, 2002, 2012 e 2022. De 10 em dez degraus, mais conhecimento, mais tecnologia e mais discursos contundentes. Também mais iniciativas, ainda que não na envergadura necessária. Com o conhecimento que temos hoje de manejo, conservação, restauração de ecossistemas degradados, seremos capazes de conter a destruição acelerada da paisagem, das populações animais e vegetais, da erosão do ‘estoque genético’ que ganhou velocidade sistêmica? Com a certeza científica obtida, ainda em meados dos anos 90′, via IPCC (International Pannel of Climate Change), que reúne o maior time de cientistas e climatologistas já visto – de que o ‘efeito estufa’ já ocorre e é irreversível, sendo que nos cabe impedir que piore… seremos capazes de deter esse tsunami de efeitos e impactos, aparentemente incontroláveis? Uma vez que em 1987, um relatório chamado ‘Nosso Futuro Comum’ já constatava que o atual modelo de produção econômico, intensiva em materiais e energia e não renováveis é a locomotiva do desastre, estamos realmente empenhados na substituição desse modo de produzir e consumir? Desde que todos os relatórios globais sobre o ‘estado do ambiente do mundo’ indicam redução na população de abelhas, pássaros, estoques pesqueiros e outros animais essenciais à manutenção da biodiversidade alimentar, estamos fazendo algo significativo para reparar ou impedir que as consequências venham em forma de doença, escassez e fome? Desde que os últimos remanescentes florestais da Terra são apontados como essenciais ao pouco que resta de equilíbrio dinâmico do regime de chuvas e da biodiversidade que elas estocam, estão os governos em nível internacional, nacional e sub nacional, cumprindo seu papel de proteção? Desde que sabemos ser necessário ‘descarbonizar’ nossa economia e nossa sociedade, estamos tocando nos aspectos essenciais da mudança de estilo de vida? Eu poderia prosseguir com as perguntas ‘ad nauseam’ e possivelmente, a primeira resposta a cada uma dessas perguntas pode ensejar um cenário pessimista e uma perspectiva desalentadora de futuro. Desesperar ou esperançar (verbo inventado por Paulo Freire)? Amanhã retomarei para demonstrar que só nos resta ser otimistas e esperançosos e que o ‘ecocídio’ é uma metáfora que se fortalecida, sonhada e alimentada, pode sim virar realidade. Como disse Carl Jung, tudo que é realidade hoje, foi sonhado um dia. Projetamos e somos parteiros do nosso futuro. Para cada desafio, tivemos e temos esforços e respostas. Há muita gente fazendo o ‘dever de casa’. Mais do que supomos. Há muita energia positiva nesse caldeirão onde se consomem esperanças e desesperanças. Há muito acúmulo e aprendizado. Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

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