Powered By Blogger

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Masp inaugura exposições para marcar o ano das histórias

Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil – São Paulo – Mostras discutem a diversidade e a complexidade da cultura indígenas O Museu de Arte de São Paulo (Masp) inaugura nesta sexta-feira (30) três exposições para marcar o ano das Histórias Indígenas, tema que o museu escolheu para apresentar e discutir a diversidade e a complexidade dessas culturas. A primeira dessas mostras reúne 721 objetos arqueológicos de arte produzidos por povos ameríndios entre os séculos 2 a.C. e 16. Chamada de Comodato Masp Landmann – cerâmicas e metais pré-colombianos, a exposição ocupa o segundo subsolo do museu e tem curadoria de Marcia Arcuri e assistência de Leandro Muniz. É a segunda exposição dedicada ao comodato da coleção de Edith e Oscar Landmann, emprestada ao museu em 2016 por um período de dez anos. A primeira mostra dessa coleção apresentou um conjunto de tecidos que integrou a programação do museu em 2019, dedicada às Histórias das mulheres, histórias feministas. São Paulo (SP), 30/06/2023 - Mostra Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos, com curadoria de Marcia Arcuri e Leandro Muniz, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Mostra Comodato Masp Landmann – cerâmicas e metais pré-colombianos, no Museu de Arte de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil À Agência Brasil, a curadora informou que nesta segunda mostra do comodato estarão em exibição objetos atribuídos a 35 culturas arqueológicas do continente americano, entre elas, peças nasca, inca, mochica, inchu, paracas e até marajoara, da Amazônia brasileira. Esses artefatos constituem um legado histórico e científico e foram construídos pelas antigas populações de regiões que hoje pertencem aos territórios do Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Panamá, México, Brasil e dos países caribenhos. “Nesse tipo de trabalho sobre coleções, partimos dos conjuntos de objetos para o que sabemos sobre a história do continente no período que precedeu a invasão europeia. Mas não podemos atribuir as peças a uma determinada etnia ou um povo. Então trabalhamos com conceito de culturas arqueológicas. Nesse caso, a exposição reúne peças de 35 culturas arqueológicas, que é o nome que a gente dá para esses conjuntos estilísticos”, explicou Marcia Arcuri, curadora-adjunta de Arte Pré-colombiana do Masp. “A coleção realmente reúne um repertório bastante significativo do que a gente conhece desse passado pré-colombiano entre mais ou menos 1600 antes de Cristo até o século 16”. De acordo com a curadora, a maior parte das peças são em cerâmica e provém de contextos funerários ou rituais de oferendas. “Mas há também artefatos feitos em metais como ouro e cobre dourado. E tem alguns objetos em ossos, conchas e, claro, peças que integram mais de um material”. A mostra, segundo Marcia Arcuri, acontece em um momento em que o museu se dedica às histórias indígenas e o país discute o marco temporal, projeto que tramita no Congresso e impacta diretamente nos processos de demarcação de territórios indígenas. “É um movimento bastante amadurecido do museu, que vem apresentando uma série de mostras relacionadas a essa diversidade de protagonistas, de componentes e de noções a partir das quais temos que entender esse tecido social que é a cultura. Essa discussão vem em boa hora”, explicou. “Uma instituição como o Masp, trazer para o público brasileiro, que conhece muito pouco desse universo, a oportunidade de conhecer um pouco desse passado e o quanto ele fala de temas que estão tão presentes, é algo ímpar”, destacou. A exposição Comodato Masp Landmann – cerâmicas e metais pré-colombianos fica em cartaz até o dia 3 de setembro. São Paulo (SP), 30/06/2023 - Mostra Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos, com curadoria de Marcia Arcuri e Leandro Muniz, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Mostra Comodato Masp Landmann – cerâmicas e metais pré-colombianos, no Museu de Arte de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Sheroanawe Hakihiiwe A segunda exposição aberta nesta sexta-feira apresenta obras do artista yanomami venezuelano Sheroanawe Hakihiiwe, entre desenhos, monotipos e pinturas produzidos sobre papéis artesanais, fabricados por ele por meio do uso de fibras nativas. A mostra, intitulada Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós, será apresentada ao público até o dia 24 de setembro no primeiro subsolo do museu e tem curadoria de André Mesquita e do assistente curatorial David Ribeiro. O subtítulo da exposição Ihi hei komi thepe kamie yamaki [Tudo isso somos nós] foi uma sugestão do próprio artista para incorporar a diversidade de elementos que formam sua comunidade e seu entorno. São Paulo (SP), 30/06/2023 - Mostra Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós, com curadoria de André Mesquita e David Ribeiro, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Mostra Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós, no Museu de Arte de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil No total, a exposição apresenta um conjunto de 48 obras, muitas delas de grandes dimensões. Uma dessas obras, por exemplo, chamada de Oni Komi Thepe ou Grupo de Desenhos, é composta por 62 monotipias, que foram dispostas lado a lado e ocupam a parede final da exposição. “Isso está muito relacionado ao título que o próprio artista escolheu para dar nome à exposição, Tudo isso somos nós, que é uma noção de conjunto e de uma produção que está toda articulada e que expressa tudo aquilo que faz parte da identidade yanomami, principalmente relacionada com o ambiente e o espaço em que esse povo vive”, explicou David Ribeiro, à Agência Brasil. “Hakihiiwe se expressa artisticamente desde a década de 90, depois que ele fez uma oficina de produção de papel artesanal com uma artista mexicana chamada Laura Anderson Barbata. Nessa oficina, ele e outras pessoas da comunidade aprenderam a fazer papéis de diversas fibras como cana, milho e algodão e fibras nativas como amoreira e, com isso, eles começaram a produzir materiais para divulgar coisas sobre a cultura yanomami”, informou o curador. Ribeiro destacou que essa produção artesanal do artista entende o papel “como algo vivo”, o que acaba dialogando com a forma como seu povo entende a arte. “Não só para os yanomami, mas para a população indígena em geral, a arte sempre esteve relacionada ao corpo, nunca como algo externo”, explicou. “A ocupação dessa superfície do papel artesanal vivo tem relação com essa arte, que originalmente é transposta sobre a pele”, acrescentou. Essa é uma das razões pela qual o artista opta por ocupar todos os espaços da folha, disse o curador, “assim como se faz com a pintura corporal que ocupa toda a superfície da pele”. Para compor seus trabalhos, Hakihiiwe fica cerca de seis meses na floresta, observando a fauna, a flora e comunidades indígenas. “Ele vai desenhando isso em um caderno, faz estudos sobre essas formas e depois ele as transpõe para suportes materiais, em geral, papéis artesanais. Então, é um longo trabalho, bastante contínuo, que a gente entende como um verdadeiro inventário do patrimônio imaterial yanomami”, disse Ribeiro. São Paulo (SP), 30/06/2023 - Mostra Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós, com curadoria de André Mesquita e David Ribeiro, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Mostra Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós, no Museu de Arte de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil A obra desse artista é marcada pela memória oral e resgata as tradições ancestrais e os saberes cosmológicos de sua comunidade, localizada na cidade de Alto Orinoco, na Amazônia venezuelana. Por ser produzido sobre papéis artesanais, o trabalho enfrenta o tempo e discute, ao mesmo tempo, o papel da preservação dos materiais e também da cultura indígena. “Acho que a principal discussão que existe, a partir dessa materialidade do suporte que ele utiliza, está relacionada a uma provocação para a sociedade não índigena em relação ao cuidado que se deve ter com aquilo que faz parte da identidade desse povo indígena e dos povos indígenas em geral. É uma reflexão bastante sofisticada sobre a perecibilidade”. Sky Hopinka Já na sala de vídeo do Masp são apresentados dois trabalhos de Sky Hopinka, que discutem sobre a identidade indígena contemporânea nos Estados Unidos. A curadoria é de María Inés Rodríguez, curadora adjunta de Arte Moderna e Contemporânea do Masp. Sky Hopinka é um artista visual que, por meio de seu trabalho de vídeo, foto e texto, expressa a sua opinião sobre a paisagem e a terra indígena, utilizando de meios de comunicação pessoais, documentais e não ficcionais. “Sky Hopinka é um artista bastante jovem e que começou a fazer filmes. Para ele é muito importante falar sobre sua identidade, sobre a identidade indígena contemporânea, sobre as tradições de sua comunidade e, ao mesmo tempo, sobre como essas tradições evoluíram e mudaram com o tempo. Então ele quer falar do mundo contemporâneo em que ele cresceu e em que ele vive e que se manifesta por meio de seus filmes”, explicou a curadora. O primeiro vídeo é Kicking the clouds, onde o artista reflete sobre seus descendentes e ancestrais, guiado por uma gravação de áudio de 50 anos atrás de sua avó aprendendo a língua pechanga com sua mãe. Já o segundo vídeo é Mnemonics of Shape and Reason, que percorre a memória de um lugar visitado pelo artista. Ele sobrepõe e remonta paisagens rochosas do deserto com uma trilha composta por textos e músicas, criando um relato rítmico das implicações espirituais da colonização. Segundo a curadora, ambos os trabalhos são baseados na paisagem, na música e na linguagem, e traduzem as tradições e práticas ancestrais que sobreviveram aos sistemas de opressão. “Em seus filmes se nota como a presença da música é importante e também como representa as lutas contemporâneas por território e pela defesa da natureza. A música está sempre presente não somente contando uma história particular, mas também acompanhando as histórias que Sky quer compartilhar com o público”, disse. São Paulo (SP), 30/06/2023 - Mostra Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos, com curadoria de Marcia Arcuri e Leandro Muniz, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Mostra Comodato Masp Landmann – cerâmicas e metais pré-colombianos, no Museu de Arte de São Paulo – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Em seus vídeos, o cineasta conta histórias que remetem à sua identidade e aos modos de vida indígenas, mergulhando profundamente em questões de sua origem por meio de narrativas autobiográficas que se comunicam diretamente com o público nativo, sem a obrigatoriedade de explicar o significado aos espectadores não nativos. A base de sua obra é a etnopoética, explicou a curadora. “A etnopoética é uma referência tomada do escritor e tradutor Eliot Weinberger. Esse conceito evoca a ideia do sujeito que é filmado e decide tomar a câmara para filmar, expressar e dizer o que ele quer que os outros saibam dele. Ou seja, o sujeito decide ser aquele que fala por si mesmo”, disse. “Os dois filmes têm uma estética muito especial para trabalhar a paisagem e a cor e combiná-las com o som e a música. Isso me pareceu muito poético e por trás disso há também um compromisso político importante porque ele conta sua história e a história da comunidade a que ele pertence e que se situa no contexto de opressão e repressão às comunidades indígenas nos Estados Unidos”, acrescentou. A mostra Sala de vídeo: Sky Hopinka fica em cartaz até o dia 13 de agosto, no segundo subsolo do museu. O Masp tem entrada gratuita todas as terças-feiras e todas as primeiras quintas-feiras do mês. Outras informações sobre as exposições podem ser obtidas no site do museu. (Agência Brasil/Envolverde)

Berço das águas, Cerrado recebe 600 mi de litros de agrotóxico por ano

Por Letycia Bond – Repórter da Agência Brasil – São Paulo – Bioma tem pouco mais da metade da área reservada ao plantio de soja Todo ano, são lançados 600 milhões de litros de agrotóxico no Cerrado, bioma que concentrava mais da metade (52%) da área reservada ao plantio de soja de todo o país, na safra 2020/2021, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Naquele período, o monocultivo de soja abrangia 38,5 milhões de hectares. Um hectare corresponde à área de um campo de futebol oficial. Essa é uma das informações que constam do documento Vivendo em territórios contaminados: um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado, que compila trabalhos científicos sobre o assunto. O relatório foi elaborado pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e foi lançado nesta terça-feira (30), dois dias antes da audiência pública organizada pelo deputado Nilto Natto (PT-SP), com o tema Impactos dos Agrotóxicos em povos e comunidades tradicionais do Cerrado, que acontecerá às 10h desta quinta-feira (1º), na Câmara dos Deputados, no âmbito das atividades da Comissão de Meio Ambiente de Desenvolvimento Sustentável. Entre os anos de 1985 e 2021, a extensão das lavouras de soja no bioma aumentou cerca de 1.440%, ocupando o equivalente a 10% de sua área. A soja é a cultura que mais tem demandado o uso de agrotóxicos. Mais de 63% desse tipo de produto vai para o plantio do grão. A forma como o agrotóxico é lançado é outro problema. Somente 32% do volume pulverizado atinge as plantas-alvo, enquanto 49% vão para o solo e 16% são dispersados pelo ar para áreas vizinhas à aplicação. O que se constata, portanto, é que a contaminação é expressiva. Mariana Pontes, membro da equipe da secretaria-executiva da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que reúne mais de 50 organizações e movimentos sociais, alerta que, por trás do discurso de suposto desenvolvimento do bioma, que tem dado respaldo à presença cada vez maior de grandes empreendimentos, da pecuária intensiva e do agronegócio, há um modelo de exploração na natureza das comunidades que vivem na região. “E que traz muita violência, muita usurpação dos territórios e violação dos direitos humanos”, emenda. “O Cerrado é uma das regiões mais biodiversas do mundo, chegando a abrigar 5% da biodiversidade do planeta. E essa biodiversidade, toda essa riqueza devido à permanência, ao manejo das paisagens, às lutas que vêm sendo travadas há tantas gerações pelos povos e comunidades tradicionais do Cerrado. O Cerrado existe e resiste hoje devido aos modos de vida, aos saberes tradicionais das comunidades indígenas, quilombolas, geraizeiras, quebradeiras de coco babaçu, raizeiras e várias outras comunidades”, acrescenta. O que está em debate, além da oposição ao uso de agrotóxicos, é o protesto contra transgênicos e outras biotecnologias que possam colocar em risco as diversas formas de vida. A campanha reivindica, ainda, a criação de um projeto de lei (PL) que estabeleça a Polícia Nacional de Redução dos Agrotóxicos, que teria por função, paralelamente, o fomento a projetos de agroecologia. As organizações que compõem e campanha fazem uma série de recomendações, conforme detalha Mariana, como a criação de um canal oficial para denúncias relacionadas ao uso de agrotóxicos e danos derivados dele; a proibição de pulverização aérea, consolidada, inclusive, no Ceará, por decisão do Supremo Tribunal Federal, há alguns dias; a revisão de parâmetros de contaminação da água, com a ampliação do número de agrotóxicos examinado; o fim da isenção fiscal de agrotóxicos; o endurecimento de ações de fiscalização; mais transparência do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), criado em 2001; a proibição de uso de agrotóxicos barrados em outros países; e a derrubada do PL 1.459/2022, conhecido como PL do Veneno. O PL recebeu críticas da Fundação Oswaldo Cruz e da Abrasco, que chegou a elaborar um dossiê alertando sobre o que o uso de agrotóxicos representa para o meio ambiente e a saúde. Áreas plantadas O estudo Projeções do Agronegócio, divulgado em julho de 2021, indica que, no Brasil, a área plantada com lavouras deve passar de 80,8 milhões de hectares, patamar da safra 2020/2021, para 92,3 milhões, em 2030/31. A principal responsável por essa expansão é a soja, com um total de 10,3 milhões de hectares. Atrás, vêm a cana-de-açúcar (mais 1 milhão) e o milho (2,1 milhões de hectares. Outras culturas deverão perder espaço, como a mandioca, o café, o arroz, a laranja e o feijão. “Sendo que a área do território é de 851,49 milhões de hectares, a área de lavouras deverá ocupar em 2030, 10,8% do espaço territorial”. Quem assina o levantamento é a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em conjunto com a Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Sire/Embrapa) e o Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB). A equipe de pesquisadores que assina o Projeções do Agronegócio também sublinha que as regiões Centro-Oeste e Norte são as que deverão ter os maiores aumentos relativos de produção e área e que, entre os estados do Norte, Tocantins e Rondônia deverão liderar a expansão da produção. O Cerrado abrange tanto estes dois estados como a região Centro-Oeste, os estados de Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Paraná, São Paulo e partes do Amapá, Roraima e Amazonas. O pesquisador André Pereira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) afirma que o processo pelo qual o bioma passa agora é também resultado de uma decisão de anos atrás, de se ocupar o centro do Brasil, “tanto é que se fez a construção de Brasília no Cerrado”. Ele explica que, antes, havia uma perda grande de solo, que foi sendo contornada com o aprimoramento de conhecimentos. Técnicas como a calagem, por exemplo, que consiste em aplicar no solo rocha moída, para corrigir o pH e garantir a nutrição devida de plantas, têm sido aliadas. “A elevação da produtividade é algo muito importante para a gente reduzir a pressão sobre o bioma”, diz Pereira. “A gente espera que, daqui pra frente, nenhum hectare a mais, no Cerrado, seja desmatado para área de cultivos. Vamos avançar em produtividade e produção em áreas já cultivadas, pastagens degradadas. A ciência evolui justamente para isso, para que façamos agricultura em área de pastagem degradada. Nosso grande desafio, enquanto humanidade, é conservar esse resto de Cerrado que está presente, aumentar a produtividade nessas áreas que já são cultivadas e avançar também em produção em área de pastagem degradada.” O estado atual do Cerrado exige um conjunto inadiável de ações, segundo a vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Maria do Socorro Lima. “A fauna e a flora se acabaram com o fogo, a derrubada e o uso indiscriminado de agrotóxico pelas grandes empresas. Essa é a verdade”, diz ela, que também integra a Rede Cerrado. “O Cerrado e a Amazônia, eu digo que são um casal muito importante nas nossas vidas, porque um depende do outro. A Amazônia sem o Cerrado não é a Amazônia e nem o Cerrado sem a Amazônia é o Cerrado, O Cerrado precisa de chuva para juntar e estocar água. Da Amazônia nós precisamos porque é ela quem faz chover”, resume Maria sobre a dinâmica de interdependência que se estabelece, entre os dois biomas, na prática. A Agência Brasil solicitou posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre as medidas que têm adotado para controle dos agrotóxicos e sobre a liberação do uso de produtos proibidos em outros países e aguarda resposta. Os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura e Pecuária também foram procurados pela reportagem e também não deram retorno. Edição: Kelly Oliveira (Agência Brasil/Envolverde)

quinta-feira, 29 de junho de 2023

UM SISTEMA QUE IMPACTA EM TUDO

por Gilberto Natalini*, José Carlos Carvalho**, Marcus Eduardo de Oliveira *** – A foto “Pálido Ponto Azul” foi feita há 30 anos pela sonda Voyager 1, a uma distância de cerca de 6 bilhões de quilômetros da Terra. Ela mostra nosso planeta como um ponto azul brilhante na vastidão do espaço, “preso” dentro de um raio de luz solar. À luz do paradigma da modernidade ocidental, frente à facilidade com que são ultrapassados os limites da sustentabilidade, de uma verdade não podemos escapar: nunca estivemos tão perto do colapso socioambiental, um problema de primeira ordem que, cada um sabe, continua avançando. Para começo de conversa, isso implica dizer sobretudo que, entre o que a Terra nos oferece e o que consumimos (Pegada Ecológica da humanidade), geramos, com certa propriedade, um saldo ecológico negativo. Para piorar a situação, agora o consenso científico confirma a principal questão desse século: o aquecimento global, ou o aumento anormal da temperatura média no planeta. De toda sorte, sejamos francos logo de saída: determinada pela ação antrópica, ao observar-se esses dois últimos séculos de intenso saque ecológico, não soa despropositado dizer que nosso antropocentrismo dominador produziu, até aqui, a mais danosa lista de riscos ecológicos conhecidos: extinção em massa de espécies, erosão de biodiversidade, fragmentação de habitats (especialmente em zonas tropicais), poluição químico-industrial1, aniquilação biológica, destruição da camada de ozônio, emissões de carbono, atmosfera poluída, ciclo de chuvas irregulares, crescimento do consumo e da descartabilidade, planeta plastificado.2 Em outros termos, o agir humano sem compromisso ambiental, herança da modernidade, ensina-nos que em toda a nossa história nunca havíamos provocado significativas alterações do ecossistema; tampouco havíamos agredido a natureza com agrotóxicos e com uma agricultura industrial poluidora. Sequer havíamos abalado os alicerces de todo o sistema vida. Nem mesmo chegamos perto de destruir tantos espaços vitais da natureza, a ponto de transformar boa parte da estrutura geológica (a face) da Terra, como estamos fazendo atualmente. Agora mesmo, enquanto um terço das terras aráveis do mundo estão improdutivas, foi constatado que três quartos do ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho sofreram severas modificações, consolidando assim o que começamos a anunciar logo acima, o enorme déficit ecológico global. 1-queimada-na-floresta-amazonicaTriste constatação, serve de exemplo: (i) mais de 80 mil quilômetros quadrados de floresta desapareceram de nosso campo de visão nos últimos tempos – na verdade, em apenas 50 anos, da metade do século passado até o ano 2000, foram destruídas mais florestas do que em toda a história de evolução da humanidade; (ii) de 1980 para cá, metade da vida selvagem morreu3 – aliás, sobre isso, ninguém duvida que estamos liquidando com a biodiversidade planetária, produto de mais de 3,5 bilhões de anos de evolução; (iii) nossos mares continuam sobreexplorados pela sobrepesca, comprometendo 55% dos recifes do mundo; (iv) os mananciais da Terra (superficiais e subterrâneas), num nível cada vez mais degradado, secam em velocidade assustadora; (v) desde os anos 1960, o número de áreas marinhas pobres em oxigênio, segundo o Programa da ONU para o Meio Ambiente, vem dobrando a cada década;4 (vi), por fim, nos últimos 11 mil anos, segundo os especialistas, foi reduzida em 50% a biomassa da vegetação terrestre. Ainda que de forma superficial, o que foi até aqui colocado se encaixa numa formulação direta: em geral, estamos produzindo riscos e ameaças cada vez mais insustentáveis que abalam a saúde e a segurança humanas. Esses riscos, cabe breve esclarecimento, não são de agora, vem de longe. Desde 1970 para cá – os cientistas confirmam – dobramos nossa pegada ecológica. Fazendo um rápido recorte, isso quer dizer que a quantidade de natureza que a humanidade faz uso para manter seu insustentável estilo de vida, já excede em 50% a capacidade de regeneração e absorção do planeta. As emissões de gases de efeito estufa, referenciado problema estrutural, saíram de 1,28 ppm (partes por milhão), em 1970, para 2,4 ppm, na última década. Informação relevante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta que desde a metade do século passado os eventos extremos (fenômenos climáticos e/ou meteorológicos fora dos níveis considerados normais) aumentaram de frequência na maioria das áreas terrestres conhecidas do planeta. A poluição do ar (quinto fator principal de risco de morte no mundo), sempre um problema global que tantas doenças lega à humanidade, responde atualmente por 16% das mortes no mundo todo. E tem mais: desse momento atual até por volta de 2050, falando ainda de outra grave poluição, se não mudarmos nosso desastroso estilo de vida consumista, muito provavelmente haverá mais lixo plástico do que peixes em nossos oceanos, ameaçando severamente o equilíbrio trófico. Moral da história, o que temos feito até aqui, em detrimento da biodiversidade, deixa evidente o que temos de pior: a falta de responsabilidade socioambiental, referência característica, por assim dizer, de nosso antropocentrismo dominador, força aliada de primeira hora da economia de quantidade, ideologia do crescimento, para ser preciso. À primeira vista, observando a narrativa convencional, isso parece comprovar que não há limites de nenhum tipo, especialmente diante do capitalismo contemporâneo. Limites, sendo rigoroso na análise, soa em tom de heresia para os que direcionam os destinos do mundo moderno. Tanto que o recado do mainstream, nesse sentido, é bastante claro: obstaculizar o avanço da economia global, ou o incentivo ao crescimento ininterrupto, é ir contra à ideia consagrada de modernidade. Modernidade (?). Devastar e ocupar de forma inadequada as APPs urbanas é um risco enorme para os serviços ambientais preciosos e à qualidade de vida das pessoas. Foto: Reprodução. Shutterstock Seja como for, adaptada às sociedades industrializadas que guardam estreita referência de que o mundo moderno pode ser mais bem abastecido materialmente falando, a comunidade humana, aglomerado humano que em breve contará quase 9,5 bilhões de indivíduos, não cessa de idealizar a prosperidade e os avanços sociais como possibilidades de melhorar o padrão de vida atual. E mesmo sob o âmbito de ecossistemas finitos, o que significa ignorar as restrições ecológicas, ressoa forte a ideia-síntese de que sempre será preciso associar conforto e qualidade de vida à mais consumo material. Pela ideia dominante, expandir o mercado de consumo se configura, ademais, na condição dada para qualificar (?) o padrão social. Em última análise, isso faz parte da influente narrativa de prosperidade, tão comum no seio da vida ocidental. De modo direto, fica o alerta: diante do impasse atual, isto é, a par da crise ecológica em avançado estágio, tornou-se habitual medir sucesso e desenvolvimento (ou qualquer coisa equivalente a isso) pelos indicadores econômicos. Pelo sim, pelo não, isso quer dizer sobretudo que, se o PIB está crescendo, a vida social, por esse ângulo, vai bem. Na linguagem mercadológica, importa precisar, o crescimento infinito (como se isso fosse, de facto, possível) se candidata ao objetivo maior do projeto civilizatório. Na realidade, desde há muito, soa como música aos ouvidos do capitalismo de compadrio (clientelista). E que fique claro: isso fere de morte o princípio de sobriedade. Não é que o crescimento econômico, vale aqui a ressalva, seja de todo ruim. Ninguém discute sua importância à macroeconomia convencional. O problema central, contudo, sempre é lícito esclarecer, é quando o crescimento (tornar a economia maior) ultrapassa (excede) os limites planetários. Logo, pelo olhar econômico, o quadro está justaposto: a preocupação primeira dos agentes econômicos não reside em qualificar (desenvolver) a economia, mas sim em quantificar (fazer crescer). Crescimento não tem nada a ver com desenvolvimento. No detalhe: credora do vigente modelo que vive e sobrevive de aumentar quantidades e que, por isso mesmo, destrói o mundo verde, boa parte da humanidade, com dificuldade de aliviar a pegada ecológica, segue ignorando que a expansão do comércio global é fruto da mais expansiva invasão e exploração do mundo natural. Daí, alheia à preocupação ecológica, segue aumentando sua fé no crescimento crescente. Nesta altura, em uma primeira aproximação, supor isso significa ter a certeza de que a sociedade humana, por variadas razões, igualmente ignora que “a crise econômica e a crise ecológica”, como diz com sobras de razão Michael Löwy, professor emérito da École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), “resultam do mesmo fenômeno: um sistema que transforma tudo – a terra, a água, o ar que respiramos, os seres humanos – em mercadoria, e que não conhece outro critério que não seja a expansão dos negócios e a acumulação de lucros”.5 Desdobramentos possíveis, sobram consequências: “no Antropoceno”, escreve John Bellamy Foster, “o capitalismo está criando fissuras antropogênicas nas espécies, nos ecossistemas e na atmosfera, gerando uma crise socioecológica”. Na sociedade capitalista, para além das falsas polêmicas, não paira dúvida de que, se mantido o ritmo atual, mais dificuldades serão criadas para o que mais importa alcançar, a sustentabilidade ambiental. Sustentabilidade, desafio que permanece em construção, é, antes de tudo, valor relacionado ao princípio da resiliência e a resposta mais curta à crise da modernidade. Numa avaliação preliminar, talvez pela instabilidade ambiental que continuadamente produz e reproduz rupturas que abalam as condições de sustentabilidade na Terra, os desafios ecológicos essenciais colocados à humanidade consistem basicamente em dois flancos diretos: primeiro, cuidar do único habitat de que dispomos (procurando mitigar as mudanças climáticas e o colapso da biodiversidade) e; segundo, evitar o avanço da destruição dos meios de vida, cada vez mais tangíveis. Todavia, em tudo isso há aí um problema-base a ser resolvido: para responder a construção de nossa vida social, nossa espécie não hesita em enfatizar o desempenho da economia de produção, e se afasta assim da busca da sustentabilidade. Ao desorganizar-se os sistemas ecológicos globais, mais “a estupidez social e ambiental que provocamos”, parafraseando o ambientalista uruguaio Eduardo Gudynas, “condena toda a vida”. Traço principal, é preciso dizer algo mais: seduzidos pela lógica da economia (mais negócios, mais especulações, mais quantidades) enxergamos a economia produtiva (digno de nota: a atividade humana já explora num ritmo insustentável mais de 100 bilhões de toneladas de materiais) como a solução do mundo. Resultado? Dado um conjunto de decisões econômicas, colocamos na rota do perigo o futuro do planeta, das espécies e, claro, da própria sustentabilidade. Em larga medida, esquecidos de que o planeta é finito, a crise da modernidade (fratura socioambiental talvez seja o termo mais apropriado), cada vez mais intensificada, exige de todos nós profunda reflexão acerca de nossas relações com a ideia de futuro que projetamos, com a Natureza (matriz de tudo, eixo da vida) e com as formas de vida que nela se encontram. E como boa parte das ações antrópicas têm crescido além de nossa capacidade de sustentação, acelerando assim a degradação do planeta, ao menos uma certeza tem sido bem acolhida: é tempo de reagir, começando por mudar radicalmente a economia real, isto é, o modelo (predatório) que aí está e sua gestão (sem responsabilidade socioambiental, para falar o óbvio) capitalista do planeta. Dito em breves linhas: a partir de outra postura política, construir um novo e promissor modelo de desenvolvimento – longe da lógica dominante do eterno crescimento – pensando numa sociedade sustentável com base biológica estabilizada, se converte, a rigor, no grande desafio desses tempos atuais. É isso o que nos espera. (*) Gilberto Natalini é médico cirurgião, vereador por cinco mandatos na Câmara Municipal de São Paulo. Foi Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente (2017) e candidato a governador do Estado de São Paulo, pelo Partido Verde (2014). (**) José Carlos Carvalho é engenheiro florestal, graduado pela UFRRJ. Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal de Lavras. Foi Secretário Executivo do MMA e Ministro de Estado do Meio Ambiente do Brasil no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi um dos fundadores do IBAMA , no qual exerceu os cargos de diretor e presidente, além de Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais. (***) Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo – USP (2005). Autor de Economia Destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em Desajuste com os Limites Planetários (CRV, 2018), entre outros. (Envolverde) __________________________________________________________________________________________________ Notas: Vale notar: especialmente a produção de produtos químicos, seguindo de perto à análise do Centro de Resiliência de Estocolmo, aumentou 50 vezes, desde a metade exata do século passado. Desde meados do século passado, estima-se que tenha sido produzido 8,9 bilhões de toneladas de plástico em todo o mundo, sendo que dois terços desse total, 6,3 bilhões de toneladas, viraram lixo. No detalhe: não se trata apenas dos animais não domesticados, mas também das plantas e de outros organismos que crescem e vivem em ambientes dito selvagens. Os especialistas falam em, pelo menos, 700 áreas em todo o mundo em que o oxigênio está em níveis declaradamente perigosos. 5. Ver “Crise ecologica, crise capitalista, crise de civilização: a alternativa ecossocialista”. Disponível em:

Glossário Ilustrado da Justiça Climática será lançado em evento que discute impacto dos Grandes Poluidores na Amazônia

Publicação em versão trilíngue é fruto de parceria da ArvoreAgua com a Plataforma Latinoamericana Pela Justiça Climática e campanha Que os Grandes Poluidores Paguem Como funcionam as COPs e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima? O que quer dizer emissão Net Zero? O que significa esse tal de BECCS e essa sigla REDD? Por que o tal mercado de carbono e mecanismos de compensação não diminuem a emissão de gases de efeito estufa? O que é maquiagem verde? Como tem acontecido essa captura corporativa em espaços de tomadas de decisão? Em dois anos, o Brasil vai sediar a COP30 na Amazônia e os povos da floresta precisam se apropriar de vocabulário técnico usado nesses grandes encontros para não serem enganados e garantirem seu espaço de participação e direito a voz. Desde o ano passado, o projeto ArvoreAgua, em parceria com a Plataforma Latinoamericana de Justiça Climática e campanha “Que Os Grandes Poluidores Paguem”, começou a ilustrar, semana a semana, termos dessa retórica obscura para aqueles que não estão familiarizados com essa linguagem cheia de jargões, tampouco com o funcionamento interno das negociações internacionais. São 43 termos ilustrados em versão trilíngue (português, espanhol e inglês). Nossa meta é fazer essa ferramenta chegar nas mãos de todos os movimentos sociais e lideranças comunitárias. No lançamento, 100 livros serão distribuídos em Santarém, durante evento organizado pelo Instituto Sebastião Tapajós com o NIERAC do Ministério Público do Pará, em parceria com o projeto Luz e Ação da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Coletivo de Mulheres Indígenas as Karuana e Instituto Cabana Tapajós. Para Jackson Fernando Rego Matos, pesquisador e professor de estudos amazônicos da UFOPA, “precisamos estar articulados e fortalecidos para que o povo local, suas populações e comunidades tradicionais estejam suficientes e organizados para serem protagonistas da própria história. É fundamental se ouvir e dialogar sobre os problemas e soluções da Amazônia a partir da própria sociedade civil de base”. A liderança indígena Vandria Borari, da Associação Kuximawara de Alter do Chão, explica que efetivamente é o povo indígena que preserva a floresta há milhares de anos sem essas falsas soluções. “O Glossário Ilustrado da Justiça Climática possibilita uma compreensão de forma simplificada sobre as falsas soluções propagadas pelo Norte Global ao Combate às Mudanças Climáticas que são discutidas nos encontros internacionais sobre o Clima.” Link do livro: www.arvoreagua.org www.instagram.com/arvoreagua (#Envolverde)

Cadeia produtiva do cacau da Terra do Meio é fonte de renda de famílias ribeirinhas

por Equipe Synergia – A Agência Envolverde e a Synergia Socioambiental fizeram uma parceria editorial para levar aos leitores artigos, reportagens e estudos de alta qualidade técnica realizados pela Equipe Synergia. A cadeia produtiva do cacau da Terra do Meio é uma das principais frentes do Projeto Redes do Médio Xingu, desenvolvido pela Synergia, com o objetivo de apoiar a geração de renda das famílias ribeirinhas da Estação Ecológica Terra do Meio, que é uma extensa área protegida no Pará. A cacauicultura apoiada pela Synergia é feita por meio de assistência técnica e extensão rural (ATER), com base em técnicas agrícolas, saberes tradicionais e arranjos produtivos, que auxiliam desde o plantio até o escoamento do cacau e a busca por acesso ao mercado de cacau. O Projeto Redes do Médio Xingu apoia um modelo produtivo baseado em sistemas agroflorestais, sem agredir o meio ambiente. Isso acontece porque é uma agricultura que captura, em média, 16 toneladas de carbono por hectare, ao ano. Além disso, o plantio do cacau é feito em conjunto com outras espécies, como copaíba e andiroba, que promovem sombra ao cacau e maior circulação da fauna local pela cacauicultura. Também é utilizado o cacau híbrido, que possui maior resistência, pois é cultivado com diversas variantes do cacau. Tais fatores agregam valor ao cacau produzido. A cadeia produtiva do cacau é uma grande oportunidade de geração de renda para as famílias da Esec Terra do Meio. De acordo com a Comissão Executiva de Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), uma família consegue cuidar, em média, de uma área de 5 hectares de cacau, o que corresponde a 5 mil pés da cultura. Com cada pé produzindo cerca de 1 kg ao ano, é possível colher até 5 toneladas de cacau. Quem faz parte da cadeia produtiva do cacau da Terra do Meio Para além do cultivo, é importante conhecer a história das famílias que fazem parte da cadeia produtiva do cacau da Terra do Meio e que, muitas vezes, se cruzam por laços de sangue. Além disso, trata-se de uma forma de compreender a realidade da floresta, que depende do respeito humano para se manter viva. Conheça as famílias produtoras do cacau da Terra do Meio: Domingas e Raimundo Nazário O casal Domingas e Raimundo vive em Império Sorriso Bonito, às margens do Rio Iriri. No começo da assistência técnica, Raimundo parecia desconfiado, dava a entender que não estava muito de acordo com o que ouvia. Mas, por ter muito conhecimento da roça, do solo e do ambiente ao redor, entendeu rapidamente as instruções e pegou o jeito do cacau. Os 2.700 pés plantados crescem com vigor em Sorriso Bonito, o império dos otimistas Raimundo e Domingas, e devem gerar 250 quilos de colheita. A colheita do casal Domingas e Raimundo deve chegar a 250 quilos. Foto: Synergia Marilene e Rosinaldo Gomes Rosinaldo e Marilene têm 5 mil pés de cacau plantados em sua lavoura. Rosinaldo é filho de Raimunda Gomes, a moradora mais idosa da Esec Terra do Meio. A família Gomes cultiva sua roça com apreço aos detalhes e seguindo as orientações técnicas que recebem para aplicar em seus 5 mil pés plantados. A previsão é colher cerca de duas toneladas de cacau. Marilene e Rosinaldo esperam colher duas toneladas de cacau da Terra do Meio. Foto: Synergia Benedito Gomes (Benê) Benê também é filho de Raimunda Gomes. Sua roça fica mais distante da beira do rio, a cerca de 2 km por um caminho que, na estação chuvosa, se percorre de canoa mata adentro. Sua roça é nova, tem cerca de dois anos, e Benê está animado para fazer novos plantios com as técnicas de sombreamento que aprendeu nas sessões de assistência técnica. Benê tem se dedicado bastante ao cacau e tem expectativas de ótima colheita esse ano. Benê está animado para fazer novos plantios com as técnicas de sombreamento. Foto: Synergia Cleonice e José Gomes José Gomes, conhecido por Zé Boi, é a principal referência entre os moradores da Esec Terra do Meio. Seu apelido deve-se à sua força física, capaz de carregar grandes quantidades de castanha. Zé Boi e sua esposa, Cleonice (Nicinha), inspiram os moradores e moradoras da região pela disposição em aprender e investir em sua roça, cuidando do futuro de seus filhos, noras e netos/as que vivem ao redor de sua propriedade, hoje com 9 mil pés de cacau e uma expectativa de colheita de 2,5 toneladas em 2023. Cleonice e José Gomes tem expectativa de colher 2,5 toneladas do Cacau da Terra do Meio. Foto: Synergia Naldo e Francisca Naldo e Francisca fazem parte da família de Zé Boi e Nicinha. Francisca herdou a capacidade de trabalho de seu pai e sua mãe e inspirou o marido, Naldo, que possui talento também de carpinteiro. Naldo é constantemente chamado para construir barcaças e cochos para a produção do cacau. Sua roça cacaueira não é das maiores, tem cerca de 3.500 pés plantados, mas sua expectativa de colheita para 2023 é otimista: 250 quilos de Cacau da Terra do Meio. Naldo e Francisca esperam colher 250 quilos de cacau, em 2023. Foto: Synergia Maria e Roberto Gomes (Tijubina) Maria e Tijubina são considerados/as os/as maiores entusiastas da cultura do cacau na Esec Terra do Meio. Não é raro encontrar Tijubina vendendo seus sacos de farinha e de milho para gerar renda e investir na cultura do cacau, pois vê nela a oportunidade de melhorar as condições de vida de sua família. O casal tem 5 mil pés de cacau plantados e um planejamento consistente para aumentar sua colheita ano a ano. Casal tem 5 mil pés de cacau da Terra do Meio. Foto Synergia Chiquinha e Zé Mineiro Chiquinha costuma receber o técnico da Synergia sempre com bom humor: “que bom ter você aqui, homem de Deus”, diz ela já listando suas dúvidas sobre a plantação. A roça cacaueira de Zé Mineiro e Chiquinha guarda memórias dos tempos da matriarca, Maria, que já se aventurava na cultura do cacau mesmo antes da implantação da cadeia produtiva. Atualmente, Zé Mineiro e Chiquinha têm 4 mil pés de cacau plantados e uma expectativa de safra de 250 quilos em 2023. Chiquinha e Zé Mineiro têm 4 mil pés de cacau da Terra do Meio. Foto: Synergia Tica e Edson Tica e Edson cuidam juntos/as de sua roça de cacau e aproveitam cada segundo da assistência técnica para tirar dúvidas e entender o processo. Tica gosta de lembrar que, no início, resistia ao uso da técnica de poda do cacau, pois “dava dor no coração”. Depois, ao ver como a planta reagia às podas, mudou de opinião e entendeu que era para o bem de sua roça. Este ano de 2023, o casal está com expectativa de que seus 5 mil pés plantados gerem uma safra de cerca de 400 quilos de Cacau da Terra do Meio. Tica e Edson têm grande expectativa para a colheita de 2023. Foto: Synergia Próximos passos da cadeia produtiva do cacau A colheita e o escoamento são os próximos passos da cadeia produtiva do cacau e, como apoio, a Synergia custeará o frete para locomover toda a produção da safra que irá para o paiol da cantina da Esec Terra do Meio. Para acompanhar as novidades da cadeia produtiva do cacau e outras frentes do Projeto Redes do Médio Xingu, não perca as notícias da Synergia. *Artigo publicado originalmente por Synergia Socioambiental. (Envolverde)

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Quem são os inimigos dos ambientalistas

por Samyra Crespo – Mia Couto filósofo e escritor moçambicano, diz que em vez de produzir riquezas, estamos produzindo ricos Posso afirmar sem medo de errar que os ambientalistas, em sua maioria, acreditam na possibilidade de reformar o capitalismo, dando a ele uma feição inteligente (mais eficaz nas suas promessas de prosperidade) e mais ecológica. Os teóricos chamam a essa tendência majoritária hoje, cujos operadores são os sustentabilistas, de “A modernização ecológica do capitalismo”. Assim, longe de ser revolucionário este movimento vem abraçando o reformismo como ideologia politico-econômica. Este veio de crenças e sua diligente tradução em práticas de “negócios sustentáveis” se configurou nas primeiras duas décadas deste século, ainda em curso. O mote principal dos sustentabilistas é mainstreamming the ecology (colocar a ecologia no coração da economia capitalista). Portanto não venham com esse papo de que somos marxistas e anticapitalistas ferrenhos. Há os que discordam do status-quo. São antes anti-establishment. E representam hoje grupos minoritários. Vamos aprofundar isto. E vou precisar de dois posts para o mesmo assunto. Um texto muito grande ninguém lê e aqui é um embate público, não acadêmico. Quando eu estava na faculdade um professor que estudara a formação da classe industrial paulista e a formação das novas fortunas originadas na commodity da época – o café – se espantava com os alunos da pós graduação que só tinham apetite para falar dos movimentos sociais, dos pobres e oprimidos. Inclusive eu que naquele momento desenvolvia meu mestrado estudando os integristas católicos envolvidos no Golpe de 64. Vocês devem estudar os ricos, o poder econômico por eles constituído pois a opressão e a pobreza estão aí como resultado, dizia nosso professor de estudos agrários. Essas reminiscências me vêm à mente quando vejo diariamente as cotações do dólar dar taquicardia e os colunistas políticos e econômicos se referirem ao Deus MERCADO. O mercado pensa assim, o mercado pensa assado. Olho para o voo solo e torpedeado de Thomas Piketty, o economista francês – que se utilizando de base de dados sistemáticas e séries históricas, longitudinais, nos mostrou didaticamente como ao longo de séculos – e mesmo enfrentando grandes guerras, as fortunas se mantém nas mãos de algumas poucas famílias. Também explica como a ciranda financeira torna novas pessoas tidas como empreendedores exemplares, tipo Bill Gates e Slim o magnata mexicano muito, muito ricas. Ao final do século XX vimos dois fenômenos intimamente ligados ocorrer: a expansão do capitalismo (territorial e culturalmente falando) e a concentração brutal da riqueza. Como substrato, massa de pobres e mesmo bolsões de miséria em países tidos como desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos. Pena, diz Mia Couto filósofo e escritor moçambicano, que em vez de riqueza estamos produzindo ricos, riqueza esta que só é distribuída com escândalo. Basta ver os debates em torno da “renda minima”, não só no Brasil. Faz-se brutais mudanças tecnológicas que destroem milhões de empregos e mesmo as migalhas que serão distribuídas aos que “sobram” desta transição são alvo de controvérsia. A pergunta que não quer calar é: de onde vêm as fortunas do Brasil? Respondo que se você quer saber quem são os inimigos dos ambientalistas, siga o dinheiro. A riqueza no Brasil tem base fundiária, rentista e imobiliária. Extração de madeira, mineração e comércio do solo urbano. O industrialismo sempre contou com proteção de mercado e as commodities com largos subsídios. O avanço sobre terras públicas, o desmatamento, as Serras Peladas, o avanço do boi e da soja. Sacaram? Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo ” O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.

OS DENTES DO TUBARÃO

por Ricardo Young, presidente do IDS Brasil – Se as mudanças climáticas são o tubarão que assusta a humanidade, a crise hídrica são seus dentes! A sociedade civil vê a água como direito, os povos originários como sagrada, as empresas como mercadoria, o agro como insumo, os governos como obrigação e risco político, a academia como uma possível ciência… e a água, candidamente é, antes de mais nada, inefável. É a essência da vida! É sobretudo a base de um ecossistema pleno, saudável e de uma sociedade sustentável. Por conseguinte, o tema da água só pode ser tratado de forma holística, colaborativa, integrada e planetária. A Água está para o debate multilateral hoje, como estava o carbono na década de 2000. Podemos considerar o protocolo de Kioto como a primeira iniciativa internacional. Mas, foi em Copenhague, em 2009, que o compromisso de engajamento sério dos países para a redução do carbono foi tentado e, finalmente, em 2015, o mundo amadureceu em torno dos NDC e dos ODS. A diferença é que os gases de efeito estufa são causadores do aquecimento global e a crise hídrica é uma das suas principais consequências. Por mais que se fale em mitigação e adaptação, a mudança dos regimes de chuva, a acidificação dos oceanos, a elevação do nível dos mares, a contaminação dos rios e lagos com pesticidas, a poluição dos corpos d’água com microplásticos e muitos outros fenômenos a que acometemos os recursos hídricos não serão resolvidos nem no tempo, nem através dos mesmos mecanismos utilizados pelo carbono. Mais do que o carbono, passível de regulação em suas emissões nacionais, a água desafia os conceitos estruturais de soberania. Daí o paradoxo, como essência a vida é um bem comum cuja dinâmica não obedece a fronteiras nem métricas convencionais. Necessitamos reconhecer a urgência de nos dobrarmos ao imperativo de uma economia regenerativa, alicerçada em Soluções Baseadas na Natureza, única capaz de restaurar o equilíbrio ecossistêmico para que a água, na sua escassez ou abundância, não se torne mais um terror a assolar a humanidade. Imaginem, a essência da vida tornando-se a sua principal ameaça. Como uma das mais letais consequências da Crise Climática, temos que assumir este como um desafio para diversas gerações a nos convocar, desde já, a acelerar processos regenerativos, ao mesmo tempo em que trabalhamos na mitigação das causas do aquecimento global. O melhor da ciência, do conhecimento ancestral e da biomimética serão necessários para impulsionar a regeneração. Temos que, humildemente, reconhecer que apesar das assombrosas conquistas da engenharia pesada, não será ela isoladamente que dará as respostas; até porque estamos falando em um direito sagrado à vida, em regeneração de ecossistemas, em reflorestamento em grande escala, em resgate da diversidade biológica, campos estes em que, comprovadamente, as soluções cinzas não têm contribuído, a não ser marginalmente. Podemos concordar ou não, mas a verdade é que antes de nos extinguirmos como espécie, temos a oportunidade de renascermos como civilização, de nos reconectar com a vida e nossas origens, resgatar a sabedoria ancestral que tanto renegamos, rever nossos valores e o sentido existencial de nossa humanidade. Não podemos jamais desmerecer nossa evolução, mas necessitamos da humildade de entendermos que, ao eleger a natureza como algo a ser conquistado, perdemos a oportunidade de aprender com ela. Ao saquearmos a terra, a vida, as florestas para forçarmos escalas de produção, perdemos a oportunidade de compreender a generosidade, a abundância deste planeta. É claro que a tecnologia de ponta será necessária. É claro que a nanotecnologia, a microbiologia, a hidrologia, a agronomia, a genética e nossos conhecimentos de ponta serão necessários. No entanto, o que faz a expertise não é a excelência da ferramenta, mas é a qualidade do artesão. Sem uma total mudança de mentalidade, uma reconciliação profunda com a natureza livre e selvagem, a compreensão de que ela engendrou soluções altamente sofisticadas para milhares de desafios, entender como ela se auto-organiza, responde sistemicamente em uma espiral evolutiva, não daremos as respostas necessárias. Se nossa tecnologia apenas baseada na física e nas ciências representassem evolução, não nos encontraríamos onde estamos: de que vale termos superado doenças, distâncias, as barreiras temporais, a gravidade e outros feitos assombrosos se não conseguimos garantir os pilares e princípios que permitem a vida no planeta? Cuidamos da fachada e do jardim, enquanto as estruturas de nossa casa estão ruindo. O milagre da vida está comprometido, e diante deste, nenhum feito é de fato relevante no longo prazo. É da vida que temos que cuidar, é da comunidade de vida que temos que zelar; guardiões da vida, essa é a melhor potencialidade da espécie humana. (IDS Brasil/ Envolverde) Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Quando ‘verde’ não é realmente verde: o problema com o Greenwashing

Por Carolina Proaño – Chefe de DEI e Meio Ambiente para Latam Intersect PR – Em 5 de junho, celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente e, a cada ano, por trás das ações e iniciativas, surgem dezenas de promoções e publicidades falando sobre a importância de cuidar do ambiente. No entanto, é muito comum encontrar empresas que, nem internamente, nem em seus processos de produção, nem nos resultados ou serviços que oferecem, agem em consonância com essa preocupação. E há um termo para isso – chama-se Greenwashing, quando uma empresa ou organização dedica mais tempo e dinheiro a afirmar que é “verde” por meio da publicidade e do marketing do que a aplicar realmente práticas empresariais que minimizem o impacto ambiental. Um exemplo clássico é o de uma empresa de energia que realiza uma campanha publicitária promovendo uma tecnologia “verde” na qual está trabalhando, mas essa tecnologia ecológica representa apenas uma pequena parte do negócio da empresa que, no mais, não é tão eco amigável, ou faz sua campanha logo após um vazamento de petróleo ou uma explosão em uma planta. Ou implementa programas de reflorestamento que não cobrem minimamente os estragos que gera. Por que eles fazem isso? Porque está na moda, porque é uma tendência global e assim podem melhorar sua reputação, atrair mais clientes e gerar mais vendas. Em 2021, os consumidores americanos gastaram 150 bilhões de dólares em produtos comercializados como sustentáveis. Esse número mostra que os consumidores estão dispostos a pagar mais por esse tipo de produto e, infelizmente, algumas empresas usam táticas de Greenwashing para tirar proveito dessa tendência. O que pode comprometer sua imagem e seu negócio. Em 2010, um relatório da TerraChoice descobriu que 95% dos produtos ecológicos eram comercializados por meio de falsas alegações ecológicas. Em um estudo mais recente, a Comissão Europeia (e outras autoridades da região) realizou uma ampla varredura intersetorial de sites para identificar casos de Greenwashing. Suas conclusões revelaram que o este ainda é um problema frequente: em 42% dos casos, as alegações ecológicas eram exageradas, falsas ou enganosas. Em 37% dos casos, as alegações ecológicas incluíam afirmações vagas e gerais, usando palavras como “respeitoso com o meio ambiente” e “sustentável” com pouca justificação. Em 59% dos casos, não havia provas facilmente acessíveis que apoiassem a alegação ecológica e em mais de 50% dos casos, a empresa não podia fornecer informações suficientes para que os consumidores avaliassem a precisão da declaração ecológica feita. No final, as empresas podem ter sua reputação prejudicada e ter dificuldades para provar que seu discurso está alinhado com suas atividades. Como evitar cair nessa armadilha? Analisando se seu produto e/ou ações são realmente ecológicos e, se não forem assumindo compromissos e planejando ações – mensuráveis e sustentáveis a longo prazo, tanto interna quanto externamente – que levem a organização a melhorar suas práticas ambientais. Sendo transparentes e honestos sobre suas práticas e impacto ambiental. E se estiverem progredindo, mas ainda tiverem muito a percorrer, reconheça isso e comunique seus objetivos de melhoria. Declarações como “amigo do ambiente” ou “sustentável” devem ser específicas, mensuráveis e apoiadas por dados ou certificações de terceiros. Evite declarações vagas ou enganosas sem nenhuma informação específica que as apoie. Considere todo o ciclo de vida de seu produto ou serviço, desde a produção até a eliminação. Se estiver focando em reduzir sua pegada de carbono, por exemplo, certifique-se de também abordar questões como redução de resíduos, uso da água e biodiversidade. Busque e obtenha certificações de terceiros. As certificações podem fornecer verificação independente de suas práticas ambientais e ajudar a criar credibilidade entre os consumidores. Use uma abordagem baseada em ciência para estabelecer metas ambientais e medir o progresso. Isso pode ajudá-lo a evitar declarações falsas ou enganosas e garantir que suas ações realmente façam a diferença. A verdade é que cada vez mais empresas e iniciativas comerciais se preocupam em fazer um bom marketing ecológico. Essas são as marcas que trabalham em sua estratégia de comunicação analisando e avaliando suas ações primeiro de dentro da empresa e depois se preocupando em contá-las às suas comunidades e clientes. São aquelas que se destacam porque suas ações ecológicas são compromissos para todo o ano. Essa é a atitude que as audiências e público de hoje estão buscando em marcas e serviços que consomem e que os comunicadores devem incentivar nas estratégias que desenvolvem para seus clientes. Sobre Carolina Proaño Carolina é responsável por criar e coordenar ações de Relações Públicas e comunicação relacionadas à diversidade, equidade e inclusão e meio ambiente da Latam Intersect PR no setor privado, além de apoiar ONGs e organizações humanitárias e ambientalistas com as quais colaboramos. Como feminista e ativista pelos direitos sexuais e reprodutivos de meninas e mulheres e, em geral, pelos direitos humanos e ambientais, Carolina constantemente se especializa em tudo relacionado à comunicação com perspectiva de gênero, Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) em comunicações, marketing verde, jornalismo e direitos humanos, publicidade não sexista e outras áreas onde a comunicação pode ser usada como ferramenta de mudança positiva e real, tanto dentro como fora das organizações e nas comunidades às quais estas pertencem. (Envolverde)

Climate Ventures e WayCarbon lançam calculadora de impactos climáticos positivos focada em Florestas e Uso do Solo

Ferramenta poderá ser utilizada por empresas, startups verdes e investidores na medição da descarbonização proposta por soluções em fase de planejamento Calculadora também permite que os empreendimentos verifiquem o potencial de contribuição de suas operações para a agenda de clima A Climate Ventures, primeira plataforma brasileira de inovação com ênfase no clima, em parceria estratégica com a WayCarbon​, maior consultoria com foco em sustentabilidade e mudança do clima na América Latina​, está lançando uma calculadora de impacto climático para o setor de Florestas e Uso do Solo. Com uso gratuito, a ferramenta, que é inédita na América Latina, foi desenvolvida com o apoio do Fundo Vale, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Bayer e Instituto de Cidadania Empresarial (ICE).  Inicialmente, a calculadora poderá ser utilizada por empresas, startups verdes e investidores dedicados à recuperação de florestas e ao bom manejo de solos, e irá permitir a mensuração da estimativa de redução de toneladas de carbono/ano de cada projeto, em emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) e outros indicadores de impacto climático. A ferramenta irá utilizar cálculos automatizados baseados em metodologias já consolidadas como IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) e o GHG Protocol, tornando-se assim uma solução de grande relevância para a adequação dos projetos em desenvolvimento ou em fases iniciais, auxiliando na projeção dos argumentos de venda de soluções climáticas. A calculadora utiliza como matriz de oportunidades o estudo A Onda Verde, que consolida os principais desafios que o país enfrenta, e que faz um chamado aos atores do ecossistema de impacto brasileiro para protagonizarem uma transformação sistêmica na relação entre negócios, pessoas e meio ambiente. O setor de Florestas e Uso do Solo é o primeiro a receber a tecnologia. Até o final de 2023, as outras áreas de interesse levantadas pelo estudo A Onda Verde, como Indústria, Agropecuária e Gestão de Resíduos, também receberão suas próprias versões da calculadora, adaptadas para cada setor. Como funciona Com acesso gratuito através do site www.aondaverde.com.br/calculadora, a calculadora gera resultados que levam em consideração dados sobre a performance do projeto em cinco fatores de impacto positivo: 1) redução de uso de insumos agrícolas; 2) restauração de florestas; 3) aprimoração do manejo na produção florestal; 4) redução de queima de resíduos agrícolas; 5) prevenção de desmatamento. Além dos fatores de impacto, são considerados detalhamentos do projeto em análise, tais como: processos de nitrogenização do solo utilizados em substituição aos insumos tradicionais, total da área/ano restaurada, tipo de bioma da área e tipos de culturas impactadas pela solução. O resultado é fornecido em toneladas de carbono/ano que deixarão de ser emitidos, acompanhado de um comparativo em emissões de carbono de automóveis. A simulação também apresenta um gráfico com o volume das emissões distribuído pelos cinco fatores de impacto. “A Calculadora de Impacto Climático vai permitir que milhares de empreendedores, investidores e profissionais possam estimar o impacto climático potencial de soluções inovadoras de descarbonização nos mais diversos setores da economia, começando pelo setor de Florestas e Uso do Solo. É uma ferramenta inédita na América Latina, que utiliza tecnologia e inteligência de dados para orientar lideranças a investir em soluções de impacto positivo no clima, alinhada à mais avançada ciência”, revela Daniel Contrucci, diretor executivo e cofundador da Climate Ventures.  A ferramenta vem para oferecer uma alternativa para empresas e startups que não encontram no mercado solução similar para negócios em fase inicial. As grandes empresas já usam consultorias para fazer seus inventários de carbono, mas os empreendimentos menores não o fazem, seja por falta de cultura, tempo, orçamento ou tecnologia.   Para Liz Lacerda, do time Parcerias e Fomento do Fundo Vale, o grande diferencial da ferramenta é instrumentalizar negócios em fase inicial a pensarem no carbono de impacto, já sabendo como integrar o impacto positivo à sua estratégia de negócio, e enxergar oportunidades para produtos e serviços relacionados à mitigação, adaptação e resiliência à crise climática. ”Uma vez possível o cálculo do impacto climático por meio de manejo florestale práticas agrícolas sustentáveis, entende-se o impacto de cada negócio frente às suas emissões ou sequestro de carbono. Mapeando e organizando esses dados, é possível cruzar informações para entender quais projetos incorporam a retirada de carbono do solo e quais geraram impacto positivo para chegar a um cálculo coerente”, afirma ela. ​​​​​ “Sabemos o tamanho do desafio que é medir o impacto climático de um negócio ou solução e a importância de tirar da invisibilidade esse impacto. Por isso é muito gratificante ver a primeira versao da calculadora sendo lançada. É o primeiro grande passo nessa jornada e esperamos seguir evoluindo e transformando esta ferramenta, para que ela contemple não só os impactos ambientais, mas também sociais e econômicos”, finaliza Henrique Pereira, Diretor de Consultoria da WayCarbon. (#Envolverde)

Agricultor belga encontra a solução ideal para limpar as batatas que SERÃO ARMAZENADAS

Eric Simoens é um agricultor e proprietário da Hove Ter Hille em Jabbeke, situada na região dos pólderes perto da costa belga. Os principais produtos cultivados são batatas, trigo, milho e sementes de cevada. Além de um empreendimento de turismo rural, também fazem agricultura por contrato com outros agricultores da zona. No ano passado, a empresa agrícola do Sr. Simoens teve sérios problemas com o excesso de solo e de torrões durante e após a colheita da batata. Este problema foi particularmente evidente quando foi necessário contratar um grande número de trabalhadores para limpar as batatas de semente armazenadas, a fim de prepará-las para a plantação. Para resolver o problema da sujidade e limpar a colheita de batata antes do armazenamento, a empresa agrícola de Eric Simoens contactou a TOMRA Food e acabou por adquirir uma máquina de separação TOMRA 3A. A máquina foi instalada no início da linha de operação que transporta as batatas para as instalações de armazenamento, de modo a remover o excesso de torrões, granulados e outros materiais estranhos. Em anos particularmente húmidos, o excesso de sujidade pode representar 30-40% do volume total de batatas colhidas, segundo o Sr. Simoens. Ele expressa sua satisfação com os resultados, dizendo: “Agora precisamos de muito menos pessoal para fazer um ótimo trabalho, e a TOMRA 3A também remove o material desnecessário que não pode ser removido manualmente. Agora temos um produto muito limpo no armazenamento que é ideal para ser entregue aos processadores de batata.” Ele também está impressionado com o facto de a TOMRA 3A estar equipada com uma ligação à Internet 4G, o que lhe permite entrar em contacto com um especialista da TOMRA caso surja algum problema com o funcionamento da máquina. “O especialista técnico pode ver a máquina na tela do seu computador virtualmente e, em conjunto, discutem soluções e ajustes que podem ser feitos para resolver o problema até que a máquina volte a funcionar na perfeição,” observa o Sr. Simoens. TOMRA 3A: Confiabilidade e acessibilidade A TOMRA 3A é uma recente inovação da TOMRA para culturas de raízes recém-colhidas, oferecendo aos produtores de batata capacidades de seleção inigualáveis, confiabilidade e acessibilidade. O classificador é normalmente utilizado à entrada de um armazém de batatas, onde efetua uma limpeza final imediatamente após a colheita recente ter passado por uma pré limpeza mecânica e equipamento de remoção de terra. O classificador utiliza um processo de inspeção óptica e ejeção em voo para detetar e remover pedras, torrões e outros detritos do produto oriundos do campo. “A TOMRA 3A melhora a sua antecessora em todos os aspetos”, disse Jim Frost, Director de Produto da TOMRA Food. “Ao desenvolver esta máquina, aprendemos com a nossa experiência de trabalho com agricultores neste sector e adotamos tecnologias líderes de mercado já comprovadas em algumas das nossas outras aplicações de classificação.” O sofisticado sistema de imagem da TOMRA 3A tem capacidades de deteção de cor para identificar batatas verdes indesejadas. A tecnologia de iluminação LED de estado sólido e pulsada com câmaras de alta resolução permite distinguir entre o produto bom e o material estranho. Sobre TOMRA Food A TOMRA Food projeta e fabrica máquinas de classificação baseadas em sensores e soluções integradas de pós-colheita, transformando a produção global de alimentos com o intuito de maximizar a segurança alimentar e minimizar a perda de alimentos, garantindo assim que “Todos os Recursos Contem”. Mais de 13.800 unidades estão instaladas em produtores, embaladores e processadores de alimentos em todo o mundo para confeitaria, frutas, frutas secas, grãos e sementes, produtos de batata, proteínas, nozes e vegetais. A TOMRA Food opera centros de excelência, escritórios regionais e locais de fabricação nos Estados Unidos, Europa, América do Sul, Ásia, África e Australásia. Siga a TOMRA Food no Facebook @TOMRA.Food, Twitter @TOMRAFood, Instagram @TOMRAFood e no LinkedIn em TOMRA Food. A TOMRA Food é uma divisão do Grupo TOMRA. A TOMRA foi fundada em 1972 e começou com o desenho, fabricação e venda de máquinas de venda reversa (RVMs) para coleta automatizada de recipientes de bebidas usadas. Hoje, a TOMRA está liderando a revolução de recursos para transformar a maneira como os recursos do planeta são obtidos, usados e reutilizados para permitir um mundo sem desperdício. As outras divisões de negócios da empresa incluem TOMRA Recycling, TOMRA Mining e TOMRA Collection. A TOMRA possui aproximadamente 105.000 instalações em mais de 100 mercados em todo o mundo e teve uma receita total cerca de 12 bilhões de NOK em 2022. O Grupo emprega ~5.000 funcionários globalmente e está listado publicamente na Bolsa de Valores de Oslo. A sede da empresa fica em Asker, Noruega. Para obter mais informações sobre a TOMRA, consulte www.tomra.com (#Envolverde)

Oito em cada dez estudantes brasileiros se mostram preocupados com o futuro do meio ambiente

Dado foi trazido por pesquisa sobre mudanças climáticas com crianças e adolescentes do Brasil e do México; quase metade deles considera que suas opiniões não são ouvidas “Acho que estamos demorando muito para agir contra as mudanças climáticas; quando for tarde demais, não haverá remédio para isso.” “Ouça o que os jovens têm a dizer, porque nós vivenciamos diariamente os problemas ambientais.” Essas são frases que compõem o relatório “Crianças e Mudanças Climáticas”, produzido a partir de percepções de crianças e adolescentes sobre o tema. O material foi elaborado com base na escuta de 457 estudantes, entre 10 e 18 anos, de 13 escolas maristas de Educação Básica no Brasil e no México. Entre os jovens brasileiros, 79% se mostraram preocupados com o futuro do meio ambiente. No México, esse percentual chegou a 94%. O relatório, produzido por meio de uma parceria entre o Centro Marista de Defesa da Infância (CMDI), do Grupo Marista, com a Clínica de Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, UMBRASIL e Província do México Central, traz o resultado de um processo de escuta, que surgiu a partir de um chamado da Organização das Nações Unidas (ONU). A intenção foi consultar a opinião de crianças e adolescentes em diferentes países para, a partir dessa chamada pública, elaborar o Comentário Geral N.º 26, pelo Comitê dos Direitos da Criança, que trata sobre os Direitos da Criança e do Meio Ambiente, com foco especial nas Mudanças Climáticas. As 24 páginas do material trazem, além de frases de impacto de meninos e meninas, uma série de percentuais que mostram a percepção e a preocupação desses jovens com o futuro do planeta, e mais, a reflexão sobre o quanto essas crianças e adolescentes são levados a sério. “É cada vez mais importante envolver esses jovens em discussões e debates sobre temas como esse. Enquanto adultos, temos a responsabilidade de oferecer informações de qualidade, com linguagem amigável e fontes confiáveis, além de garantir espaço para que eles possam expressar o que sente, o que sabem e o que desejam e serem ouvidos de fato.”, reforça a analista de projetos do CMDI, Marcela Carsten. A importância de ser levado a sério O material mostra que 90% das crianças brasileiras e 97% das mexicanas disseram que já ouviram falar sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, como o direito à educação, à informação, acesso à água limpa e o direito de serem escutados. No entanto, quando essas mesmas crianças e adolescentes foram perguntadas se suas opiniões eram consideradas pelos responsáveis por tomar as decisões, apenas 64% dos estudantes brasileiros afirmaram que sim e 56% dos estudantes mexicanos concordaram. “Não é somente na escola que eles devem ter espaço para falar do assunto, mas em todos os lugares. Se analisarmos os depoimentos desses meninos e meninas, percebemos que eles pedem ajuda pelo nosso planeta”, finaliza Marcela. O relatório está disponível no site do Centro Marista de Defesa da Infância para download: https://centrodedefesa.org.br/wp-content/uploads/2022/11/BR-E-book-Criancas-e-Mudancas-Climaticas-v4_converted.pdf

Projeto Lupa do Bem lança e-book para ajudar ONGs e projetos sociais na captação de recursos

Desenvolvido pela Sherlock Communications, publicação de linguagem acessível orienta as organizações e entidades do terceiro setor na busca por fontes de financiamento As organizações não governamentais (ONGs) e organizações da sociedade civil (OSCs) desempenham um papel fundamental na solução de diversos problemas sociais e ambientais. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 815 mil instituições do terceiro setor em atividade. No entanto, a grande maioria ainda enfrenta desafios significativos, principalmente em relação a financiamentos e sustentabilidade financeira. A última pesquisa da Doação Brasil mostra, por exemplo, que o percentual de doadores para organizações e iniciativas socioambientais encolheu de 46%, em 2015, para 37%, em 2020. Além deste cenário, a falta de acesso à informação clara e objetiva e conhecimento de como desenvolver estratégias de captação de recursos para suas iniciativas é um dos gargalos. Pensando nisso, o Projeto Lupa do Bem, da Sherlock Communications, lança o Guia de Mobilização de Recursos, um e-book voltado para orientar as organizações na busca por fontes de captação de recursos. A publicação, disponível no portal https://lupadobem.com/guia-de-mobilizacao-de-recursos/, traz dados sobre doações no país, orientação acerca de um planejamento contínuo, a importância de uma comunicação de valor e o mapeamento das fontes de captação. Um e-book que aborda desde a elaboração de um plano de captação de recursos até o uso de tecnologia e marketing para alcançar potenciais doadores. Um trabalho que durou três meses, desde a pesquisa até a divulgação, envolvendo profissionais de comunicação, captação e design. O e-book, segundo explica Fabiana Moreno, coordenadora de PR da Sherlock Communications, surgiu da falta de apoio e, muitas vezes, conhecimento, que pequenas organizações ou projetos têm sobre o tema e como podem ampliar sua atuação. “Existem diversas estratégias que as ONGs e OSCs no Brasil podem adotar para captar recursos de forma eficiente e sustentável. A captação pode ser realizada com diversas estratégias, como a busca por doações individuais e corporativas, além de eventos de arrecadação de fundos. É importante que essas organizações estabeleçam metas claras e definam um plano de ação detalhado para alcançá-las. Com o lançamento do e-book, nosso objetivo é ajudar instituições a localizar em que momento estão e qual a melhor estratégia a seguir”, detalha Fabiana. Comunicação acessível – Visando proporcionar um conteúdo com linguagem acessível, o Projeto Lupa do Bem realizou uma parceria com a Pitanga.Mob, empresa especializada em engajamento e captação de recursos, para desenvolver o conteúdo do e-book. A publicação de 22 páginas esclarece termos técnicos e simplifica explicações sobre o funcionamento de editais e outras formas de captação de recursos, temas que originalmente são vistos como mais complexos pelos criadores de projetos. “O objetivo dessa parceria é diminuir as brechas entre as ONGs e o tema, tornando o assunto mais democrático. Com toda certeza, esse é o diferencial do nosso e-book”, comenta Fabiana. Outro ponto abordado na publicação é que, além da busca pela captação, é necessário também uma comunicação transparente e eficiente com os doadores, mostrando o impacto das doações e como elas estão contribuindo para a realização da missão da organização. O Projeto Lupa do Bem é um espaço dedicado à produção e divulgação de conteúdo de impacto social para fortalecer projetos e pessoas que causam mudanças em todo o país e são vozes das comunidades locais. A iniciativa dá voz a quem busca tornar o mundo menos desigual e incentivar as boas ações. “Nosso intuito é impactar a sociedade por meio da comunicação, além de tornar-se um grande fomentador de trabalhos de ONGs, OSCIPs e outras entidades do terceiro setor”, finaliza Fabiana Moreno. “Por meio do conhecimento é possível gerar uma rede que pode diminuir as diferenças sociais”. (Envolverde)

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Mudança Climática – Europa aquece o dobro da média global

A mudança climática está causando um grande impacto humano, econômico e ambiental na Europa, o continente que mais se aquece no mundo. O ano de 2022 foi marcado por calor extremo, seca e incêndios florestais. As temperaturas da superfície do mar em toda a Europa atingiram novos máximos, acompanhadas por ondas de calor marinhas. O derretimento da geleira foi sem precedentes. O relatório State of the Climate in Europe 2022, o segundo de uma série anual, foi produzido em conjunto pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia. Mostra como a Europa tem aquecido o dobro da média global desde a década de 1980, com impactos de longo alcance no tecido socioeconômico e nos ecossistemas da região. Em 2022, a Europa estava aproximadamente 2,3 °C acima da média pré-industrial (1850-1900) usada como linha de base para o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Mas, em sinal de esperança para o futuro, a energia renovável gerou mais eletricidade do que o poluente gás fóssil pela primeira vez no ano passado. A energia eólica e solar gerou 22,3% da eletricidade da União Europeia (UE) em 2022, ultrapassando o gás fóssil (20%). “Pela primeira vez, mais eletricidade foi gerada por energia eólica e solar do que por gás fóssil na UE. O aumento do uso de fontes de energia renováveis ​​e de baixo carbono é crucial para reduzir a dependência de combustíveis fósseis”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas. “Os serviços climáticos desempenham um papel fundamental em garantir a resiliência dos sistemas de energia a choques relacionados ao clima, no planejamento de operações e em informar medidas para aumentar a eficiência energética”, disse ele. O relatório tem um foco especial em energia e destaca como condições meteorológicas mais extremas, incluindo calor intenso, fortes precipitações e secas, têm implicações crescentes para a oferta, demanda e infraestrutura do sistema de energia da Europa. Europa temperatura anual 2022 anomalias de temperatura média O relatório foi divulgado para coincidir com a 6ª Conferência Europeia de Adaptação às Mudanças Climáticas em Dublin, na Irlanda, e é acompanhado por um Story Map interativo. “O estresse térmico recorde que os europeus experimentaram em 2022 foi um dos principais impulsionadores do excesso de mortes relacionadas ao clima na Europa. Infelizmente, isso não pode ser considerado uma ocorrência pontual ou uma estranheza do clima. Nossa compreensão atual do sistema climático e sua evolução nos informa que esses tipos de eventos fazem parte de um padrão que tornará os extremos de estresse térmico mais frequentes e intensos em toda a região”, disse o Dr. Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service. Com base nas informações do banco de dados de eventos de emergência (EM-DAT), os riscos meteorológicos, hidrológicos e climáticos na Europa em 2022 resultaram em 16.365 mortes relatadas e afetaram diretamente 156.000 pessoas. Cerca de 67% dos eventos foram relacionados a inundações e tempestades, representando a maior parte dos danos econômicos totais de cerca de US$ 2 bilhões. Muito mais graves, em termos de mortalidade, foram as ondas de calor, que supostamente levaram a mais de 16.000 mortes em excesso. “Em 2022, muitos países do oeste e sudoeste da Europa tiveram seu ano mais quente já registrado. O verão foi o mais quente já registrado: as altas temperaturas exacerbaram as condições de seca severa e generalizada, alimentaram violentos incêndios florestais que resultaram na segunda maior área queimada já registrada e levaram a milhares de mortes associadas ao excesso de calor”, disse o Prof. Taalas. Números de impacto para algumas ocorrências de desastres Nota: Os números de impacto para algumas ocorrências de desastres podem estar ausentes devido à indisponibilidade de dados. Mensagens-chave Temperaturas : A Europa viu seu verão mais quente já registrado. Vários países, incluindo Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Espanha, Suíça e Reino Unido tiveram seu ano mais quente já registrado. A temperatura média anual de 2022 para a Europa ficou entre a segunda e a quarta mais alta já registrada, com uma anomalia de cerca de 0,79 °C acima da média de 1991-2020. Esta linha de base é usada como referência padrão para comparar as variações de temperatura, precipitação, etc. com a média de 30 anos e, assim, fornecer informações para setores sensíveis ao clima. A precipitação esteve abaixo da média em grande parte da região em 2022. Foi o quarto ano seco consecutivo na Península Ibérica e o terceiro ano seco consecutivo nas regiões montanhosas dos Alpes e Pirenéus. A França teve o janeiro a setembro mais seco, e o Reino Unido e Uccle (Bélgica) tiveram o janeiro a agosto mais seco desde 1976, com consequências de longo alcance para a agricultura e a produção de energia. A reserva de água da Espanha caiu para 41,9% de sua capacidade total até 26 de julho, com capacidade ainda menor em algumas bacias. As geleiras na Europa perderam um volume de cerca de 880 km 3 de gelo de 1997 a 2022. Os Alpes foram os mais afetados, com uma redução média na espessura do gelo de 34 metros. Em 2022, as geleiras nos Alpes europeus experimentaram um novo recorde de perda de massa em um único ano, causada por quantidades muito baixas de neve no inverno, um verão muito quente e deposição de poeira no Saara. A camada de gelo da Groenlândia perdeu 5.362 ± 527 Gt de gelo entre 1972 e 2021, contribuindo com cerca de 14,9 mm para o aumento médio global do nível do mar. Ele continuou perdendo massa durante 2022, de acordo com avaliações científicas. As temperaturas médias da superfície do mar em toda a área do Atlântico Norte foram as mais quentes já registradas e grandes porções dos mares da região foram afetadas por ondas de calor marinhas fortes ou mesmo severas e extremas. As taxas de aquecimento da superfície oceânica, particularmente no leste do Mar Mediterrâneo, nos mares Báltico e Negro e no sul do Ártico foram mais de três vezes a média global. As ondas de calor marinhas levam à migração de espécies e extinções em massa, chegada de espécies invasoras e perturbação dos ecossistemas e da biodiversidade. Perda de massa de geleira nos Alpes Suíços Fonte: World Meteorological Organization (WMO) [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Cúpula de Paris aborda dívida global e mudanças climáticas

A cúpula de Paris abordará a questão da dívida global e as mudanças climáticas, reconhecendo que a dívida excessiva e as desigualdades econômicas representam obstáculos para a implementação de políticas eficazes de combate ao clima Resumo: A relação entre dívida e mudanças climáticas será destacada, pois muitos países com altos níveis de dívida têm dificuldades em alocar recursos para medidas climáticas. Durante a cúpula, serão discutidas propostas como a reestruturação da dívida e a criação de um fundo internacional para apoiar os países mais afetados pelas mudanças climáticas. No entanto, há desafios a serem superados na implementação dessas medidas, exigindo o apoio contínuo de organizações internacionais, instituições financeiras e governos nacionais, além da distribuição justa dos recursos disponíveis para promover o desenvolvimento sustentável globalmente. Por Henrique Cortez Introdução: A cidade de Paris será palco de uma importante cúpula mundial que reunirá líderes de todo o mundo para discutir duas questões urgentes e interconectadas: a dívida global e as mudanças climáticas. O evento, que ocorre em junho de 2023, busca estabelecer um diálogo aberto e colaborativo entre nações em busca de soluções para esses desafios complexos e urgentes. Dívida global e desigualdades: A questão da dívida global tem sido uma preocupação constante para muitos países, especialmente aqueles em desenvolvimento. A cúpula de Paris reconhece que a dívida excessiva e as desigualdades econômicas podem representar obstáculos significativos para a implementação de políticas eficazes de combate às mudanças climáticas. Os líderes presentes concordarão que soluções inovadoras e abordagens colaborativas são necessárias para enfrentar esse problema. A relação entre dívida e mudanças climáticas: As mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças globais da atualidade. Com eventos climáticos extremos se tornando mais frequentes e devastadores, é imperativo que a comunidade internacional atue com determinação para mitigar os impactos e promover a sustentabilidade ambiental. No entanto, muitos países com altos níveis de dívida enfrentam dificuldades para alocar recursos significativos para essas medidas, prejudicando seus esforços. Compromissos e soluções propostas: Durante a cúpula, os líderes presentes se comprometerão a explorar opções para aliviar a dívida desses países, ao mesmo tempo em que incentivam o investimento em ações relacionadas ao clima. Propostas como a reestruturação da dívida, alongamento dos prazos de pagamento e implementação de medidas de alívio serão discutidas como possíveis soluções. Além disso, será debatida a criação de um fundo internacional para apoiar os países mais afetados pelas mudanças climáticas, permitindo-lhes investir em medidas de mitigação e adaptação. Desafios e perspectivas futuras: Embora a cúpula de Paris represente um passo importante no reconhecimento da interseção entre dívida e mudanças climáticas, ainda há desafios significativos a serem superados. A implementação efetiva das medidas propostas exigirá o apoio contínuo de organizações internacionais, instituições financeiras e governos nacionais. Além disso, é essencial garantir que os recursos disponíveis sejam distribuídos de forma justa e equitativa, a fim de promover o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Conclusão: A cúpula de Paris sobre dívida global e mudanças climáticas pode ser um marco importante na busca por soluções para esses problemas globais urgentes. Ao reconhecer a relação entre dívida e ação climática, os líderes presentes demonstrarão um compromisso renovado em abordar essas questões de forma integrada. Agora, é necessário traduzir esses compromissos em ações tangíveis, capacitando países com altos níveis de dívida a adotar medidas significativas para enfrentar as mudanças climáticas. Somente através do trabalho conjunto e da cooperação global poderemos superar esses desafios e construir um futuro sustentável para as próximas gerações. [ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ] in EcoDebate, ISSN 2446-9394

A emergência climática já é realidade

Cientistas alertam em relatório que as mudanças climáticas levaram a Terra a “código vermelho” Escrevendo na revista BioScience, uma coalizão internacional liderada por pesquisadores da Oregon State University diz em um relatório que os sinais vitais da Terra atingiram o “código vermelho” e que “a humanidade está enfrentando inequivocamente uma emergência climática”. No relatório especial, “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency 2022”, os autores observam que 16 dos 35 sinais vitais planetários que eles usam para rastrear as mudanças climáticas estão em extremos recordes. Os autores do relatório compartilham novos dados que ilustram o aumento da frequência de eventos extremos de calor, o aumento da perda global de cobertura de árvores devido a incêndios e uma maior prevalência do vírus da dengue transmitido por mosquitos. Além disso, eles observam que os níveis de dióxido de carbono atmosférico atingiram 418 partes por milhão, o mais alto já registrado. William Ripple, professor da OSU College of Forestry, e o pesquisador de pós-doutorado Christopher Wolf são os principais autores do relatório, e 10 outros cientistas americanos e globais são coautores. “Olhe para todas essas ondas de calor, incêndios, inundações e tempestades maciças”, disse Ripple. “O espectro da mudança climática está à porta e batendo forte.” O relatório segue por cinco anos o “World Scientists’ Warning to Humanity: A Second Notice”, publicado pela Ripple e colegas da BioScience e coassinado por mais de 15.000 cientistas em 184 países. “Como podemos ver pelos surtos anuais de desastres climáticos, estamos agora no meio de uma grande crise climática, com muito pior por vir se continuarmos fazendo as coisas do jeito que temos feito”, disse Wolf. “A mudança climática não é uma questão isolada”, disse o coautor Saleemul Huq, da Independent University Bangladesh. “Para evitar mais sofrimento humano incalculável, precisamos proteger a natureza, eliminar a maioria das emissões de combustíveis fósseis e apoiar adaptações climáticas socialmente justas, com foco em áreas de baixa renda que são mais vulneráveis.” O relatório aponta que nas três décadas desde que mais de 1.700 cientistas assinaram o original “Aviso dos Cientistas Mundiais à Humanidade” em 1992, as emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 40%. “À medida que as temperaturas da Terra estão subindo, a frequência ou magnitude de alguns tipos de desastres climáticos pode realmente estar aumentando”, disse Thomas Newsome, da Universidade de Sydney, coautor do relatório. “Pedimos aos nossos colegas cientistas de todo o mundo que se manifestem sobre as mudanças climáticas.” séries temporais de atividades humanas relacionadas ao clima Séries temporais de atividades humanas relacionadas ao clima. Os dados obtidos desde a publicação de Ripple e colegas (2021) são mostrados em vermelho (cinza escuro na impressão). No painel (f), a perda de cobertura arbórea não contabiliza o ganho florestal e inclui a perda por qualquer causa. Para o painel (h), hidroeletricidade e energia nuclear são mostradas na figura suplementar S1. No painel (j), os ativos desinvestidos refletem o total de ativos sob gestão com base em compromissos institucionais. Referência: William J Ripple, Christopher Wolf, Jillian W Gregg, Kelly Levin, Johan Rockström, Thomas M Newsome, Matthew G Betts, Saleemul Huq, Beverly E Law, Luke Kemp, Peter Kalmus, Timothy M Lenton, World Scientists’ Warning of a Climate Emergency 2022, BioScience, 2022;, biac083, https://doi.org/10.1093/biosci/biac083 in EcoDebate, ISSN 2446-9394

terça-feira, 20 de junho de 2023

Dia Mundial do Albatroz chama atenção para os efeitos da poluição por plástico na sobrevivência das espécies

Campanha global coloca em evidência quatro espécies especialmente ameaçadas pelos resíduos plásticos e seus efeitos tóxicos A poluição plástica é um dos principais desafios para a conservação marinha, não só pelos efeitos no ecossistema, mas também pelas consequências para a sobrevivência dos animais que vivem nele. Estudos estimam que até 90% de todas as aves marinhas vão ingerir plástico em algum momento de sua vida e além dos efeitos que os plásticos podem causar ao levar à obstrução ou perfuração do trato gastrointestinal, esses materiais também podem liberar uma infinidade de produtos químicos que podem ser absorvidos pelo trato digestivo, podendo causar intoxicação e morte. Para alertar sobre essa ameaça global, o Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, se uniu à campanha do Dia Mundial do Albatroz, celebrado em 19 de junho. As aves escolhidas para estampar a campanha deste ano são duas espécies do Hemisfério Sul diretamente afetadas pelo lixo plástico: o albatroz-real-do-Norte (Diomedea sanfordi), endêmico da Nova Zelândia e ameaçado de extinção, e o albatroz-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), símbolo do Projeto Albatroz e mais comumente encontrado em águas brasileiras. Além disso, o Dia Mundial do Albatroz também retoma as duas espécies celebradas no ano passado, o albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes) e o albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), do Oceano Pacífico Norte. Isso acontece porque ambas espécies são consideradas quase ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da IUCN e, segundo pesquisadores, ingerem mais plástico do que as espécies dos mares do Sul. image.png Esforço global para a conservação Segundo os representantes do Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), a poluição por plástico é considerada uma das principais ameaças às populações de albatrozes ao redor do mundo, ao lado das mudanças climáticas e da captura incidental pela pesca. O plástico, inclusive, foi tema de uma série de discussões do maior encontro de especialistas sobre essas espécies, a 13a Reunião do Comitê Assessor, realizada em maio, na Escócia. A fundadora e coordenadora geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves, é também vice-presidente do comitê assessor, e participou ativamente do evento deste ano, contribuindo para o debate sobre o assunto. Segundo ela, o Brasil encara a poluição plástica de forma séria, colaborando com ações de educação ambiental e pesquisas que apoiem políticas públicas para a conservação dessas aves. “Toda a vida do planeta está interconectada. Quando falamos sobre combater a poluição por plástico para proteger os albatrozes, também estamos protegendo peixes, mamíferos, corais, microrganismos, plantas, e também a saúde humana. Juntos, com ações estratégicas, podemos mudar isso”. Tatiana também ressalta que na reunião deste ano, a vice-coordenadora do Grupo de Trabalho de Populações e Status de Conservação (PaCSWG), a médica veterinária do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CEMAVE/ICMBio) e colaboradora do Projeto Albatroz, Patrícia Serafini, apresentou a pesquisa ‘Rede colaborativa para avaliar a ingestão de plástico e exposição a aditivos químicos em albatrozes e petréis ao largo da costa do Argentina e Brasil’, feita em uma parceria com pesquisadores do país vizinho. O estudo busca provar os efeitos menos visíveis do lixo plástico na vida selvagem, como a toxicidade derivada dos materiais. Por meio de uma rede colaborativa, foi avaliada a ingestão de plástico (itens de menos de 1 mm) em 17 espécies de Procellariiformes, incluindo sete listadas pelo ACAP e que ocorrem ao longo da costa do Brasil e Argentina. Itens plásticos foram encontrados em 30,6% das carcaças examinadas, o que indica que a ingestão deste tipo de material é um problema comum para albatrozes e petréis no Oceano Atlântico Sudoeste, destacando a necessidade de estudos sobre seus efeitos subletais. O estudo ainda não foi publicado de forma oficial. Para Andrei L. Roos, Analista Ambiental do CEMAVE/ICMBio e atual coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP), é essencial divulgar informações sobre a poluição por plástico para sensibilizar a sociedade. “Estamos na Década do Oceano e, além dos efeitos do plástico no ecossistema, há uma série de informações ainda pouco conhecidas pelo público sobre como esses materiais, que parecem inofensivos, representam ameaças sérias para a biodioversidade”. Impactos da poluição por plástico Os albatrozes são aves oceânicas que passam a maior parte da vida em alto-mar, viajando longas distâncias para buscar alimento e se reproduzir em ilhas remotas. Por esses motivos, poucas pessoas têm contato com eles. Porém, ações como jogar uma garrafa de água na praia ou uma embalagem plástica no chão, podem colocar as espécies em perigo. Isso porque os plásticos são feitos de materiais resistentes, à base de compostos químicos como ftalatos (responsáveis por deixá-los maleáveis), metais pesados (como mercúrio) e poluentes orgânicos persistentes (POPs, como inseticidas) e levam cerca de 500 anos para se decompor. Assim, ao confundirem plásticos com alimentos, os albatrozes se alimentam desses resíduos que não são digeridos e se acumulam em seu sistema digestivo. Esses materiais podem perfurar órgãos ou impedir a passagem de comida, levando à morte dos animais por inanição. Muitos albatrozes também regurgitam plásticos em meio à comida oferecida aos filhotes, colocando em perigo a sobrevivência dos filhotes e a continuidade da espécie, já que os casais colocam apenas um ovo a cada um ou dois anos. Intoxicação por plástico Quando ingerido, o plástico pode passar anos dentro do corpo das aves, liberando compostos químicos que causam doenças crônicas, intoxicação e até morte. Entre os produtos químicos que podem ser liberados pelos plásticos estão os ésteres ftalatos, um grupo de produtos químicos amplamente utilizados para alterar as características físicas dos plásticos. No estudo “Ésteres de ftalatos (plastificantes) na glândula uropigial e sua relação com a ingestão de plásticos por aves marinhas na costa do Espírito Santo, Leste do Brasil”, publicado no ano passado no Journal of Zoo and Wildlife Medicine, os pesquisadores estudaram a presença destes materiais na glândula usada pelos albatrozes para impermeabilizar suas penas. A médica veterinária Patrícia Serafini, e a consultora técnica Alice Pereira, colaboradoras do Projeto Albatroz, participaram do estudo. Nele, três ésteres de ftalato, dimetil ftalato (DMP), ftalato de dibutila (DBP) e ftalato de dietilhexila (DEHP), foram quantificados na glândula uropigial de 48 aves marinhas de 16 espécies coletadas no litoral do Espírito Santo. O DMP foi detectado em 16 aves (33%) de 10 espécies, o DBP em 15 aves (31%) de 11 espécies e o DEHP em 21 aves (44%) de 11 espécies. Segundo Patrícia Serafini, apesar das altas frequências de detecção, as baixas concentrações de ftalatos detectadas nas aves estudadas sugerem níveis de exposição abaixo dos limites de toxicidade conhecidos. “Mesmo assim, mais estudos sobre o potencial adverso dos efeitos da exposição aos ftalatos nas aves marinhas são necessários para entender a gravidade da poluição por plástico, especialmente no desenvolvimento reprodutivo dos embriões e filhotes de albatroz”. Sobre o ACAP O Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP) reúne 13 países cujos mares territoriais são utilizados por albatrozes e petréis para a alimentação, migração ou reprodução, principalmente no Hemisfério Sul. Atualmente, também são signatários do acordo: Argentina, Austrália, África do Sul, Chile, Espanha, Equador, França, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Reino Unido e Uruguai. O ACAP tem o intuito de coordenar os esforços dos países signatários e estabelecer metas para a conservação destas aves. Em 2008, o Governo Federal ratificou a adesão do Brasil ao acordo. A entrada do país no ACAP é estratégica devido à alta incidência de capturas em nosso mar territorial. Estima-se que até 4 mil albatrozes e petréis morram incidentalmente todos os anos fisgados pelos anzóis das pescarias de espinhel somente no Brasil. O Acordo estabelece diretrizes multilaterais para proteger estas aves ao redor do mundo. Em linhas gerais, ele propõe a troca de dados e resultados de pesquisas sobre a ocorrência de albatrozes e petréis nos países participantes, a criação de planos de ajuda mútua entre as nações, além de recomendar práticas e usos de medidas que visem diminuir a captura incidental de aves marinhas. Saiba mais sobre o ACAP no site: https://acap.aq/ Sobre o Projeto Albatroz Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, que tem o patrocínio da Petrobras. O Projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores. A principal linha de ação do Projeto, nascido no ano de 1990, em Santos (SP), é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar Políticas Públicas e a promoção de ações de Educação Ambiental junto aos pescadores, jovens e às escolas. O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil. Atualmente, o Projeto Albatroz mantém bases de atuação em seis estados brasileiros. Mais informações: www.projetoalbatroz.org.br

Um dos maiores níveis de microplásticos já relatados para moluscos foram...

Estuário de Santos tem um dos maiores níveis de contaminação por microplásticos do mundo

por Cristiane Paião | Agência FAPESP – Estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que o estuário de Santos, no litoral paulista, é um dos locais mais contaminados por microplásticos do mundo atualmente. Na pesquisa, foram avaliadas três áreas: a região da balsa Santos-Guarujá, a praia do Góes e a ilha das Palmas. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam dados internacionais, publicados anteriormente em mais de cem estudos de 40 países, com amostras de ostras e mexilhões coletados nessas três regiões durante o mês de julho de 2021. O ponto em que foi observado maior nível de contaminação foi a área da balsa. Nesse trecho, os animais avaliados apresentaram o pior estado nutricional e de saúde, com uma média que variou entre 12 e 16 partículas plásticas por grama de tecido. “Em um dos mexilhões, nós encontramos mais de 300 microplásticos por grama. É importante destacar que o ponto de coleta do Góes era uma comunidade tradicional de pescadores até bem pouco tempo. Hoje, vivem cerca de 300 pessoas ali, uma praia que é meio afastada e só dá para chegar de barco ou por uma trilha. Muito provavelmente, [essas pessoas] consomem esses animais na dieta, tendo em vista que esse paredão rochoso é de fácil acesso aos pescadores”, destaca Victor Vasques Ribeiro, doutorando no Instituto do Mar (IMar-Unifesp). O estudo publicado na revista Science of the Total Environment foi conduzido durante o mestrado de Ribeiro, com apoio da FAPESP. Como explicam os autores, um estuário é um ambiente aquático de transição entre um rio e o mar, que acaba sofrendo a influência das marés e apresenta áreas de grande variabilidade que possuem desde águas doces, na região da cabeceira, passando por águas mais salobras, até chegar às águas marinhas, próximo à sua desembocadura. Esses ambientes mantêm um dos ecossistemas mais importantes do país, os manguezais, que servem de abrigo e berçário para um grande número de animais. O estuário de Santos, localizado na região metropolitana da Baixada Santista, abriga o maior porto da América Latina e está sob a influência direta de descargas de resíduos industriais e domésticos dos municípios ao seu redor. “Da minha perspectiva, nenhuma surpresa”, afirma o professor da Unifesp Ítalo Braga de Castro sobre os resultados divulgados no artigo. “Como eu já estudava outros contaminantes, via que essa região era recordista de contaminação também para outras substâncias químicas perigosas. Aqui, nós temos o porto mais movimentado da América Latina e um dos maiores adensamentos urbanos brasileiros. Santos é uma cidade populosa: considerando toda a Baixada Santista, temos algo em torno de 1 milhão de habitantes. Tudo isso contribui para que o estuário seja alvo do lançamento de várias substâncias químicas perigosas e resíduos, que vêm das atividades domésticas e industriais, além do transporte de materiais plásticos no mar”, acrescenta. O diferencial desta pesquisa, segundo Castro, foi mostrar que tanto as ostras quanto os mexilhões funcionam como sentinelas da contaminação. A conclusão se baseia em experimentos feitos com duas espécies: a Crassostrea brasiliana, popularmente conhecida como ostra-de-pedra, e o Perna perna, ou mexilhão marrom. “A partir disso, podemos ampliar a pesquisa, usando os dois organismos para medir, historicamente, as mudanças que têm ocorrido no nosso território”, destaca o professor. Agora, durante o doutorado de Ribeiro, o grupo pretende, com apoio da FAPESP, estender a análise para os estuários do Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Animais bivalves Como ostras e mexilhões filtram a água para se alimentar, os pesquisadores imaginaram que seria interessante investigar se esses animais poderiam ser utilizados como uma espécie de ferramenta para ajudar a medir a contaminação por microplásticos também em outros locais do país, ajudando, assim, a monitorar a contaminação nas zonas costeiras. “São espécies que não se locomovem, vivem a vida toda aderidos a um costão rochoso, a uma superfície dura de uma ponte ou de um píer. Então, são extremamente expostos à contaminação desses locais e, como se alimentam por filtração, acabam retendo as partículas em seus tecidos”, explica Castro à Agência FAPESP. Durante o estudo, foram medidos comprimento, largura, altura e peso de conchas e tecidos. Também foram analisados o estado de nutrição e saúde desses organismos. “Para analisar os microplásticos, digerimos quimicamente os tecidos utilizando uma solução de hidróxido de potássio, tomando os cuidados necessários para evitar a contaminação cruzada no ambiente laboratorial”, detalha o pesquisador. O próximo passo agora, segundo o professor da Unifesp, será entender quando esse problema da contaminação dos bivalves começou, tanto em Santos quanto em outras cidades litorâneas, e como evoluiu ao longo do tempo, conforme as indústrias foram se instalando na região. Para isso, serão analisados animais armazenados em coleções zoológicas. “Por meio de uma colaboração com o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), nós analisaremos amostras coletadas e preservadas no Brasil desde a década de 1920. Essa abordagem permitirá reconstruir historicamente os eventos que influenciaram o aumento da contaminação”, adianta Castro. Políticas públicas Para o orientador da pesquisa, é importante destacar que contaminação é diferente de poluição. “A gente só fala em poluição quando há um dano. O estudo não avaliou o dano, só a ocorrência. As pessoas usam como sinônimos, mas os termos têm significados diferentes”, explica Castro. Um dos achados que chamou a atenção dos pesquisadores foi o número de fibras incolores de tamanho entre 10 e 1.000 μm (micrômetros) encontradas na análise das ostras e dos mexilhões, além de compostos de celulose e acrílico, provavelmente vindos da poluição do estuário pelo lançamento de esgotos domésticos que contêm resíduos de lavagem de roupas. “As fibras têxteis têm sido apontadas como o tipo mais comum de microplásticos encontrados em zonas com altos índices de ocupação urbana”, observa. O professor explica que, toda vez que um navio transporta matéria-prima para a produção de plásticos, ele deixa escapar pequenos pedaços. “São bolinhas de plástico, chamadas de pellets, que vêm nos contêineres. Durante as operações de carga e descarga, muitas dessas bolinhas acabam escapando para o ambiente, contaminando o estuário e as praias da região com esse material. No entanto, os microplásticos encontrados nos moluscos não foram originados dos pellets e sim de fibras têxteis”, destaca o professor da Unifesp. A fonte provável, segundo ele, é a lavagem doméstica de roupa. “Hoje em dia, grande parte das nossas roupas é sintética, portanto, plástica. Quando você as lava, muitas dessas fibras se soltam e caem na rede de esgoto, onde o resíduo é lançado. Como não tem tratamento nas estações para remover essas partículas, elas acabam contaminando o ambiente”, ressalta Castro. Por isso, segundo o grupo de pesquisa, além de fornecer as bases para estudos futuros, o objetivo deste levantamento também foi o de reunir dados para ajudar a pautar novas políticas públicas para saneamento básico em todo o Brasil, tendo em vista que, atualmente, a legislação não exige a remoção dos microplásticos dos efluentes. Por enquanto, o que temos é a Lei Nº 7.661, de 16 de maio de 1988, que estabelece regras para o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, além da Constituição Federal, que também protege o meio ambiente. “Não é uma ilegalidade, embora seja um absurdo, por gerar um impacto para a saúde do estuário, dos organismos e, na ponta final, para saúde das pessoas”, conclui o cientista. Áreas protegidas Nos últimos anos, o grupo da Unifesp tem se dedicado a diversos estudos sobre o tema, avaliando, por exemplo, a contaminação por microplásticos no interior de áreas marinhas protegidas. “Queremos entender se essas áreas, dedicadas à conservação da biodiversidade, estão sob a ameaça da contaminação. Temos duas alunas de doutorado do laboratório dedicadas a essa temática. A Yonara Garcia Borges Felipe focará em áreas protegidas do Estado de São Paulo, em colaboração com o professor da USP Alexander Turra e com Maria Teresa Castilho Mansor, da Fundação Florestal. Já o estudo da doutoranda Beatriz Zachello Nunes está avaliando o problema dos microplásticos em escalas globais e nacionais, com apoio de instituições ambientais australianas”, informa Castro. O artigo Oysters and mussels as equivalent sentinels of microplastics and natural particles in coastal environments pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048969723010847. Compartilhar: