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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo de 31.12.2022
Queridos leitores do Blog "O Grito do Bicho”
Publicamos matérias superinteressantes e selecionadas que levam vocês a terem conhecimento das questões ligadas aos animais e meio ambiente no mundo todo. Podem ler no nosso blog www.ogritodobicho3.com ou diretamente nos títulos abaixo.
• Protetora de animais é vítima de agressão em Foz do Iguaçu (PR)
• Cachorro é abandonado junto com a jaqueta de tutor e o espera em vão
• Aos nossos leitores Feliz Ano Novo
• Vira-lata caramelo entra no SBT e é adotado por Danilo Gentili
• Em Manaus, cachorro resgatado das ruas é adotado por turista e vai morar na Holanda
• A Máfia dos Tigres: Rival de Joe Exotic vence batalha na Justiça
• Jovens pulam em rio de crocodilos para salvar cachorro que autoridades ignoraram
• Adolescente é investigado por suspeita de matar e torturar cachorro em transmissão pela internet
• Cão é abandonado com mochila, cartão de vacinação e brinquedo
• Mulher adota galo e o leva para passear nas ruas de Porto Alegre (RS)
• Do bolsonarismo à covardia: neonazista mata cachorro para intimidar técnicos da Anvisa
Não deixem de compartilhar nossas publicações.
Abração a todos e obrigado pelo carinho com nosso trabalho.
sheila moura
Em 2021 já enfrentamos a ameaça dos eventos climáticos extremos
Pela World Meteorological Organization (WMO)*
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, os últimos sete anos devem ser os sete mais quentes já registrados. Um evento de resfriamento La Niña no início e no final de 2021 teve um efeito de curta duração e menor nas temperaturas globais, mas não reverteu a tendência de aquecimento de longo prazo como resultado das concentrações recordes de gases de efeito estufa das atividades humanas.
Os impactos combinados da variabilidade natural do clima e da mudança climática mais uma vez se desdobraram diante de nossos olhos ao longo de 2021. A energia da supercomputação e a tecnologia de satélite nos ajudaram a prever e monitorar muitos dos eventos extremos, enquanto a engenhosidade científica impulsionou nossa compreensão da enormidade das mudanças que as acompanham em nosso sistema climático.
As perdas econômicas estão aumentando à medida que a exposição aumenta. Mas, do lado positivo, sistemas aprimorados de alerta precoce de múltiplos perigos levaram a uma redução significativa na mortalidade. No entanto, existem lacunas nas redes de observação meteorológica em muitos países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento. O Systematic Observing Financing Facility (SOFF) busca mobilizar recursos para fortalecer essas redes e preencher as grandes lacunas nos dados básicos de tempo e clima, que são fundamentais para as previsões do tempo, esforços eficazes de adaptação e investimentos.
Há também uma necessidade crescente de investir no monitoramento de orçamentos de gases de efeito estufa usando modelos baseados em terra, de satélite e de simulação para melhor compreender os sumidouros, fontes e comportamento do dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.
A OMM monitora o estado do clima global e registra eventos extremos , que ceifam milhares de vidas todos os anos. Isso foi mais uma vez destacado pelo tufão Rai (conhecido como Odette nas Filipinas), que atingiu as Filipinas em 16 de dezembro como o equivalente a uma categoria 5 de alto nível, levando a várias centenas de vítimas e devastação generalizada em um país que é regularmente atingida por ciclones tropicais. O aumento do nível do mar e padrões de precipitação mais intensos aumentaram os impactos.
Muitos – mas não todos – eventos extremos são responsáveis pelas mudanças climáticas. Assim, uma onda de calor no Canadá e partes adjacentes do Noroeste dos EUA empurrou as temperaturas para quase 50 ° C na Colúmbia Britânica, Canadá no final de junho, causou centenas de mortes relacionadas ao calor e alimentou incêndios devastadores. A mesma região foi atingida por chuvas excepcionais e inundações em novembro.
O Vale da Morte, na Califórnia, atingiu 54,4 ° C durante uma das várias ondas de calor no sudoeste dos EUA em julho. Muitas partes do Mediterrâneo experimentaram temperaturas recordes em agosto. A Sicília atingiu 48,8 ° C, um recorde europeu provisório. Grandes incêndios florestais ocorreram em muitas partes da região, com a Argélia, o sul da Turquia e a Grécia especialmente afetados.
Chuvas extremas atingiram a província de Henan, na China, de 17 a 21 de julho. A cidade de Zhengzhou recebeu em 20 de julho 201,9 mm de chuva em uma hora (um recorde nacional chinês) e 720 mm para o evento como um todo, mais do que sua média anual.
A Europa Ocidental experimentou algumas das inundações mais severas já registradas em meados de julho. Partes da Alemanha e da Bélgica receberam de 100 a 150 mm em uma vasta área em 14-15 de julho sobre solo já saturado, causando inundações e deslizamentos de terra e mais de 200 mortes.
As chuvas persistentes acima da média na primeira metade do ano em partes do norte da América do Sul, particularmente no norte da bacia amazônica, levaram a inundações significativas e de longa duração na região. O Rio Negro em Manaus (Brasil) atingiu seu nível mais alto já registrado. As inundações também atingiram partes da África Oriental, com o Sudão do Sul sendo particularmente afetado.
Uma seca significativa afetou grande parte da região subtropical da América do Sul pelo segundo ano consecutivo. A precipitação foi bem abaixo da média em grande parte do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e norte da Argentina. A seca também contribuiu para uma crise humanitária em partes do Chifre da África, incluindo a Somália, e no sul de Madagascar.
Muitos dos impactos das mudanças climáticas são sentidos através da água, como enchentes, secas e degelo acelerado das geleiras. A OMM estabeleceu uma Coalizão de Água e Clima para melhorar os serviços globais relacionados à água, infraestruturas e serviços multirriscos, adotando serviços meteorológicos, hidrológicos e climáticos como uma unidade do sistema terrestre. Também estabeleceu um painel de alto nível composto por chefes de estado, ministros, setor privado e representantes da juventude para orientar a coalizão.
Muito mais ainda precisa ser feito. Ao longo de 2022, a OMM continuará seu trabalho para fortalecer os sistemas de alerta precoce, fechar as lacunas nas redes de observação meteorológica e hidrológica nos países em desenvolvimento e salvar vidas e meios de subsistência.
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/12/2021
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
A responsabilidade de votar e agir por um 2022 mais verde - SÉRGIO MARGULIS
Cada voto será estratégico para definir os rumos do país neste momento tão crítico
Em 2022, o brasileiro terá decisões históricas a tomar. A mais importante delas é assumir uma postura responsável diante das eleições para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Cada voto será estratégico para definir os rumos do país neste momento tão crítico. A busca pela sustentabilidade deve abraçar não só o desafio das mudanças climáticas, causadas pelo aquecimento global, mas também a redução da desigualdade, a sina que envergonha o país.
Para tentar desacelerar o aquecimento, o próximo mandatário brasileiro deverá ter a coragem, com apoio do Congresso Nacional, de zerar o desmatamento na Amazônia e dar os rumos da transição para uma economia verde. Para que isso ocorra, o brasileiro precisa eleger um presidente que demonstre ser capaz de cumprir compromissos reais com o meio ambiente. Governos são fundamentais para agir contra o aquecimento global e é por isso que votar de forma consciente torna-se, a cada ano que passa, uma atitude mais decisiva para a vida na Terra.
Os políticos são fundamentais, mas não são os únicos responsáveis por salvar o planeta. Além do voto na urna, há diversas outras decisões individuais e coletivas que temos que adotar para tornar 2022 um ano mais verde. No livro “Mudanças no clima: tudo o que você queria e não queria saber”, mostramos como é possível ter uma vida mais sustentável. Há muitas práticas e comportamentos que ajudam a reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Antes de tudo, é preciso dizer que a maioria das emissões está relacionada ao consumo, especialmente nos níveis de renda mais altos. Portanto, a regra geral é evitar o consumismo. A todo momento, somos bombardeados por propagandas de roupas, produtos descartáveis, acessórios, embalagens excessivas. No fundo, temos consciência de que grande parte disso é desnecessária. Por isso, dê preferência a empresas e lojas certificadas ou que apoiem abertamente o combate ao aquecimento global, adotando práticas sustentáveis e outras posturas verdes.
O consumo de carne bovina também precisa ser reavaliado em 2022. Essa é uma das ações mais efetivas contra o aquecimento global. As emissões de carne bovina são cinco vezes maiores do que as equivalentes da carne de frango, por exemplo. Se tirar o boi do prato é difícil, diminuir seu consumo é bem possível. Podemos definir “segundas-feiras sem carne” e levar isso a sério – acredite, já será uma importante contribuição.
Em casa, são inúmeras as ações que ajudam a preservar o meio ambiente, como reciclar o lixo, separando materiais reaproveitáveis (alumínio, papel, plásticos), usar aparelhos mais eficientes (com selo de eficiência energética), tirar equipamentos da tomada quando não estão em uso, utilizar o ar-condicionado com moderação, reduzir a duração do banho quente e dar preferência às escadas sempre que possível. Sua saúde e seu bolso também agradecem.
Ao sair de casa, a decisão mais importante é evitar ao máximo o transporte individual, especialmente os carros a gasolina. O transporte coletivo é muito menos poluidor, pois dividimos as emissões de gases de efeito estufa com outros passageiros. Andar a pé ou ir de bicicleta são as melhores opções. Se tiver que usar o carro, abasteça-o com etanol. Carros híbridos ou elétricos emitem muito menos, e definitivamente é preciso escolher carros menores e eficientes.
Em relação ao mundo do trabalho, o ideal é trabalhar de casa, sempre que possível. A pandemia nos trouxe uma lição: a de que podemos substituir viagens de negócios por reuniões virtuais. Os aviões consomem enormes quantidades de querosene, e as emissões são gigantescas. Caso não seja possível se reunir de modo virtual, tenha em mente que os voos sem escalas emitem menos.
Um novo ano se aproxima e traz a possibilidade de uma vida mais sustentável. Todos temos que mudar de atitude e rever hábitos. O planeta está com febre e precisa do esforço de todos os governos e nós cidadãos para evitar danos irreversíveis. Dê o primeiro passo e comece. Escolher governos sérios e comprometidos com o planeta é uma escolha em nossas mãos.
*Sergio Margulis é autor do livro “Mudanças no clima, tudo o que você queria e não queria saber”, que pode ser baixado gratuitamente em PDF aqui.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/12/2021
Eventos mais marcantes da área ambiental em 2021 e perspectivas para 2022
Pela Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
Por um lado, desmatamento, enchentes, seca histórica, incêndios, degradação dos biomas, ameaças aos territórios de povos tradicionais e alertas de cientistas sobre a emergência climática. Por outro, acordos entre países para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, mais consciência e boas práticas entre as empresas e vozes ativas na sociedade civil mostrando a necessidade de mudanças profundas no modelo de desenvolvimento. O ano de 2021 termina com grandes desafios no campo ambiental para o Brasil e o mundo. Especialistas projetam um 2022 com obstáculos consideráveis, mas também com uma pitada de esperança para o Brasil, diante das eleições e de perspectivas de avanços em assuntos relevantes para a sustentabilidade do planeta.
“Foi um ano muito difícil para o meio ambiente e a biodiversidade brasileira, com grande expansão do desmatamento, especialmente na Amazônia, muita queimada no Cerrado, muita grilagem de terras públicas com retirada ilegal de madeira e ouro. Em Brasília, as bancadas do governo e dos lobbies do atraso aprovaram no Congresso Nacional vários projetos de lei contrários ao meio ambiente, sem levar em conta o agravamento da crise hídrica e do aquecimento global. Graças ao Poder Judiciário, que tem atuado à luz da Constituição Federal, o estrago não foi maior”, analisa Braulio Dias, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor da Universidade de Brasília (UnB). Ele e outros especialistas fizeram um balanço dos eventos mais marcantes da área ambiental em 2021 e traçaram algumas perspectivas para 2022. Veja a seguir:
Desmatamento na Amazônia
O ano foi marcado pela divulgação de novos recordes de desmatamento na Amazônia. De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira teve aumento de 21,97% em um ano. No período da análise consolidada, que vai de agosto de 2020 a julho de 2021, a área desmatada foi de 13.235 quilômetros quadrados, a maior taxa registrada nos últimos 15 anos. O Governo Federal, que vem sofrendo forte pressão interna e externa para proteger a Amazônia, assumiu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2028, mas foi fortemente criticado por atrasar a divulgação das informações do Inpe de forma proposital antes da COP26. “Neste tema da Amazônia, a credibilidade internacional do Brasil continuou a despencar em 2021. A decisão do governo de esconder os dados de desmatamento durante a COP26 foi a gota d’água”, frisa Braulio Dias.
Natureza e terras indígenas ameaçadas
Especialistas e pesquisadores identificaram diversos projetos de lei, decretos e Propostas de Emendas à Constituição (PEC) danosos ao meio ambiente ao longo do ano. Muitas dessas medidas avançaram e foram aprovadas no Congresso Nacional com rapidez inédita. Dentre os retrocessos estão a PEC 191/2020, que prevê a abertura de terras indígenas para mineração, hidrelétricas e agronegócio; as “leis de grilagem” (PL 2633/2020 e PLS 510/2021); e a “lei geral de licenciamento ambiental” (PL 3729/2004). “Há também as invasões de garimpeiros em terras indígenas, especialmente nas áreas Yanomami e Munduruku, com grandes consequências ambientais, além de humanas. As recentes liberações para a mineração sinalizam aberturas maiores”, pontua Philip Fearnside, também membro da RECN e do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O pesquisador também menciona o avanço da aprovação da pavimentação da BR-319, entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). “É um dos eventos com maiores impactos no futuro na Amazônia”, salienta Fearnside.
Margens de rios em risco, população insegura
O Congresso Nacional aprovou em dezembro um projeto de lei que transfere da União para os municípios a competência para definir as regras de proteção às margens de rios, lagos, lagoas e demais cursos d’água de cidades brasileiras. O texto altera o Código Florestal e pode permitir a realização de intervenções e obras, além de facilitar a regularização de construções irregulares em Áreas de Preservação Permanente (APP). “Essas áreas devem ser conservadas, pois contribuem para a proteção da biodiversidade, ajudam a regular o microclima, protegem recursos hídricos e também oferecem bem-estar para as populações. Não faz sentido flexibilizar a legislação, gerando incertezas sobre as APPs e colocando a população em risco”, alerta André Ferretti, membro da RECN e gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.
Seca histórica no Brasil
O Brasil iniciou o período de seca na região Centro-Sul, em maio, com o menor volume de chuvas registrado nos reservatórios em 91 anos. A escassez ligou um alerta geral nas autoridades sobre os riscos de um novo “apagão” no Brasil, exigindo medidas “excepcionais” para garantir o fornecimento de energia elétrica, sobretudo com o aumento do uso das usinas termelétricas. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que representam 70% da capacidade de armazenamento do País, finalizaram o mês de abril com nível médio de armazenamento de 34,7%. As chuvas nos reservatórios que asseguram o abastecimento de água nas metrópoles também tiveram menor intensidade no verão passado. No Sistema Cantareira, por exemplo, que abastece municípios da Grande São Paulo, o volume de chuvas no primeiro trimestre do ano foi o mais baixo desde o final da grave crise hídrica de 2016, que obrigou a região a utilizar o “volume morto” dos reservatórios.
Alerta vermelho sobre o aquecimento global
Em agosto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas publicou seu aguardado relatório, apontando a “inequívoca” responsabilidade humana no aquecimento do planeta. Considerado o mais contundente estudo sobre o tema em três décadas, o trabalho dos cientistas demonstra que as atividades humanas são responsáveis por 98%, ou seja 1,07oC do total de 1,09oC que o planeta já aqueceu desde a Revolução Industrial. O IPCC também explica que o limite estabelecido no Acordo de Paris – 1,5oC de aquecimento em relação à era pré-industrial –, provavelmente será excedido nos próximos 20 anos. Somente uma redução drástica nas emissões de gases de efeito estufa poderá fazer a temperatura média da Terra se manter dentro da meta até o final do século.
Fenômenos climáticos extremos pelo mundo
Em junho, mais de 200 pessoas, a maioria idosas, tiveram morte súbita no Canadá por causa de uma onda de calor com temperaturas que chegaram a 50 graus Celsius. Mais de 170 mortes e prejuízos de cerca de 2 bilhões de euros foram provocados por enchentes no Oeste da Alemanha, em julho. No mês seguinte, o calor intenso provocou incêndios florestais devastadores no Mediterrâneo, atingindo regiões da Turquia e, principalmente, Itália e Grécia. Enchentes históricas foram registradas na China em julho e outubro, gerando destruição, deixando milhares de pessoas desabrigadas e provocando mais de 300 mortes, além dos prejuízos materiais. No Brasil, mais de 50 cidades baianas decretaram situação de emergência em dezembro por causa de fortes chuvas, que provocaram a morte de 10 pessoas, deixaram centenas de feridos, mais de 6 mil desabrigados. No mesmo período, no Norte de Minas Gerais, as enchentes foram responsáveis por cinco mortes e cerca de 2 mil desabrigados. “A realidade confirma o que a ciência vem dizendo há muito tempo: os fenômenos estão ocorrendo com mais frequência, mais intensidade e, por vezes, fora de um período esperado. No caso dos tornados no Brasil, o mais assustador é que percorreram áreas muito maiores que o comum, chegando a 350 quilômetros de extensão”, salienta Carlos Rittl, também membro da RECN, especialista em políticas públicas da Rainforest Foundation da Noruega e ex-secretário executivo do Observatório do Clima.
COP 26 – A aguardada Conferência do Clima da ONU
Sem condições de ser realizada em 2020 por causa da pandemia, a 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26) ocorreu em Glasgow, na Escócia, em novembro. Cercada de grande expectativa, a reunião teve importantes anúncios de metas voluntárias dos países para “descarbonizar” a economia, mas também decepções. O Brasil comprometeu-se a zerar o desmatamento ilegal até 2028 e assinou acordo, junto com outros 100 países, para reduzir em 30% a emissão do gás metano até 2030. Muitas definições, no entanto, serão tratadas apenas na COP27, em 2022. O Brasil contou com a segunda maior delegação na conferência de Glasgow, atrás apenas do Reino Unido. Além de autoridades, líderes empresariais e celebridades presentes, também houve destaque para a participação de movimentos sociais e lideranças indígenas. A jovem ativista brasileira Txai Suruí, de 24 anos, foi a primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência sobre clima.
COP15 – a Conferência da biodiversidade
A primeira parte da 15ª Conferência das Partes sobre a Biodiversidade das Nações Unidas, a COP15, foi realizada de forma virtual de 11 a 15 de outubro. As negociações presenciais em Kunming, na China, serão realizadas em abril de 2022. Como principal resultado do evento, mais de 100 países assinaram a Declaração de Kunming, comprometendo-se a criar um novo pacto global para proteção da biodiversidade. A criação de um fundo internacional para conservação ambiental, com uma dotação inicial de US$ 233 milhões do governo da China, foi outro resultado do evento.
Início da Década do Oceano
Entre as boas notícias ambientais do ano está o início da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. A Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu que entre 2021 e 2030 todos os países unam esforços para a geração e divulgação de conhecimento sobre o oceano. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que é uma das instituições da sociedade civil representantes da Década do Oceano no Brasil, promoveu uma jornada de cocriação de soluções para o mar e as regiões costeiras. O Camp Oceano selecionou 19 propostas de todo o país para serem colocadas em prática a partir de 2022, totalizando R$ 3,7 milhões em apoio. Além disso, o primeiro Edital Conexão Oceano de Comunicação Ambiental ofereceu cinco bolsas para a produção de reportagens sobre a temática, que foram publicadas em veículos de comunicação de diferentes regiões do país, em variados formatos e plataformas.
Mudança no Ministério do Meio Ambiente
Em junho, o ministro Ricardo Salles foi exonerado do Ministério do Meio Ambiente, dando lugar a Joaquim Leite, que já ocupava uma secretaria do órgão. O ex-ministro foi alvo de operação da Polícia Federal, em maio, que resultou também no afastamento da cúpula do Ibama, por suspeita de facilitar o contrabando de madeira. A troca no comando foi recebida com um misto de alívio e baixas expectativas por ambientalistas. Salles ficou marcado por uma polêmica declaração em reunião ministerial em 2020, quando disse que a pandemia seria a oportunidade para modificar normas que seriam questionadas na Justiça, aproveitando o foco da mídia na Covid-19 para “passar a boiada” em regramentos. Com perfil mais discreto, a gestão de Leite segue a mesma linha de Salles.
Sai Trump, entra Biden
Na política internacional, o ano começou com uma grande novidade: a posse de Joe Biden, no dia 20 de janeiro, como presidente dos Estados Unidos. Com um discurso ambiental bem ensaiado, mencionando a crise do clima entre as suas prioridades, o novo mandatário recolocou os EUA no Acordo de Paris e apresentou a meta de reduzir em 50% as emissões do País até 2030, com um pacote trilionário de recuperação verde. Em abril, Biden promoveu uma cúpula de líderes mundiais sobre o clima em preparação para a COP26. Ao longo do ano, no entanto, contradições internas foram aparecendo. Impasses com senadores, inclusive do Partido Democrata, sobre incentivos à retomada verde e ao pacote de estímulo à energia limpa travaram a pauta ambiental nos Estados Unidos. O ano chega ao fim com uma série de dificuldades do novo governo em relação às negociações com o Congresso.
PERSPECTIVAS PARA 2022
Eleições no Brasil
Com mais espaço na agenda pública, pressões e interesses conflitantes internos e externos, especialistas acreditam que a pauta ambiental deve marcar presença nas campanhas de candidatos nas eleições gerais do Brasil em 2022. Além de escolher o presidente da República e os governadores, o pleito também definirá as bancadas da Câmara dos Deputados, a renovação de um terço do Senado – 27 cadeiras – e os representantes para as Assembleias Legislativas Estaduais e Câmara Distrital, no Distrito Federal. “O ano promete ser muito difícil na área política. Resta a esperança de termos alguns bons candidatos para as eleições e termos a felicidade de poder eleger governantes e legisladores competentes e comprometidos com os interesses da sociedade brasileira”, destaca Braulio Dias.
Olhos atentos à Amazônia
A política ambiental para proteger a Amazônia deve seguir atraindo a atenção da opinião pública tanto no Brasil quanto no exterior. Os relatórios periódicos de órgãos que acompanham de perto o bioma e a delicada situação das terras indígenas seguirão sob o foco da imprensa e das entidades dedicadas à causa ambiental. Caso a agenda do governo seja mantida, são esperadas pressões ao Brasil vindas a partir da perda de investimentos estrangeiros, possibilidade de boicote a produtos nacionais e até sanções comerciais de outros países.
COP27 do Clima, COP15 da Biodiversidade e Rio + 30
Entre os grandes eventos globais do próximo ano estão a COP27 do Clima, que será realizada no Egito, em novembro, com a missão de regulamentar diversos pontos do Acordo de Paris, como o mercado de carbono e outros mecanismos de apoio financeiro a países em desenvolvimento. A segunda parte da COP15 da Biodiversidade será realizada em abril, na China, com a missão de estabelecer diretrizes globais para a proteção das espécies até 2050. Outro evento relevante será o Rio + 30 Cidades, previsto para junho, para discutir o papel das mudanças climáticas mundiais nos grandes centros urbanos.
Fortalecimento da economia verde
O compromisso das empresas na proteção e conservação do meio ambiente deve seguir em alta, numa crescente conscientização sobre os impactos socioambientais de negócios econômicos. Maior fôlego para um mercado global de carbono, boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) valorizadas pelas corporações, fundos verdes com a adesão de investidores e o fortalecimento de negócios com impacto socioambiental positivo são alguns dos movimentos de mercado que devem trazer o meio ambiente para o centro do mundo corporativo em 2022.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/12/2021
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
Geleiras do Himalaia estão derretendo em ritmo acelerado
Pela University of Leeds*
O estudo, liderado pela Universidade de Leeds, conclui que nas últimas décadas as geleiras do Himalaia perderam gelo dez vezes mais rapidamente nas últimas décadas do que a média desde a última grande expansão glaciar há 400-700 anos, um período conhecido como Pequena Idade do Gelo.
O estudo também revela que as geleiras do Himalaia estão diminuindo muito mais rapidamente do que as geleiras de outras partes do mundo – uma taxa de perda que os pesquisadores descrevem como “excepcional”.
O artigo, publicado na Scientific Reports, fez uma reconstrução do tamanho e das superfícies de gelo de 14.798 geleiras do Himalaia durante a Pequena Idade do Gelo. Os pesquisadores calculam que as geleiras perderam cerca de 40% de sua área – diminuindo de um pico de 28.000 km 2 para cerca de 19.600 km 2 hoje.
Durante esse período, eles também perderam entre 390 km 3 e 586 km 3 de gelo – o equivalente a todo o gelo contido hoje nos Alpes da Europa Central, no Cáucaso e na Escandinávia combinados. A água liberada por meio desse degelo elevou o nível do mar em todo o mundo entre 0,92 mm e 1,38 mm, calcula a equipe.
O Dr. Jonathan Carrivick, autor correspondente e chefe adjunto da Escola de Geografia da Universidade de Leeds , disse: “Nossas descobertas mostram claramente que o gelo está sendo perdido nas geleiras do Himalaia a uma taxa pelo menos dez vezes maior do que a taxa média no passado séculos. Essa aceleração na taxa de perda surgiu apenas nas últimas décadas e coincide com a mudança climática induzida pelo homem. ”
Degelo do Himalaia ameaça os sistemas fluviais da Ásia
A cordilheira do Himalaia abriga a terceira maior quantidade de gelo glaciar do mundo, depois da Antártida e do Ártico, e é frequentemente chamada de “Terceiro Pólo”.
A água do degelo liberada pelas geleiras do Himalaia forma as cabeceiras dos principais sistemas fluviais da Ásia. A aceleração do degelo das geleiras do Himalaia tem implicações significativas para centenas de milhões de pessoas que dependem dos principais sistemas fluviais da Ásia para obter alimentos e energia. Esses rios incluem o Brahmaputra, Ganges e Indus.
A recessão e o estreitamento das geleiras do Himalaia aumentam as preocupações sobre a sustentabilidade do abastecimento de água na região.
A equipe usou imagens de satélite e modelos digitais de elevação para produzir contornos da extensão das geleiras há 400-700 anos e para ‘reconstruir’ a superfície do gelo. As imagens de satélite revelaram cristas que marcam os limites da antiga geleira e os pesquisadores usaram a geometria dessas cristas para estimar a extensão da antiga geleira e a elevação da superfície do gelo. Comparar a reconstrução da geleira com a geleira agora, determinou o volume e, portanto, a perda de massa entre a Pequena Idade do Gelo e agora.
As geleiras do Himalaia estão geralmente perdendo massa mais rápido nas regiões orientais – ocupando o leste do Nepal e o Butão ao norte da divisão principal. O estudo sugere que essa variação se deve provavelmente a diferenças nas características geográficas nos dois lados da cordilheira e sua interação com a atmosfera – resultando em padrões climáticos diferentes.
As geleiras do Himalaia também estão diminuindo mais rapidamente onde terminam em lagos, que têm vários efeitos de aquecimento, em vez de onde terminam em terra. O número e o tamanho desses lagos estão aumentando, portanto, pode-se esperar uma aceleração contínua na perda de massa.
Da mesma forma, as geleiras que têm quantidades significativas de detritos naturais em suas superfícies também estão perdendo massa mais rapidamente: elas contribuíram com cerca de 46,5% da perda de volume total, apesar de representarem apenas cerca de 7,5% do número total de geleiras.
O Dr. Carrivick disse: “Embora devamos agir urgentemente para reduzir e mitigar o impacto da mudança climática causada pelo homem nas geleiras e rios alimentados com água do degelo, a modelagem desse impacto nas geleiras também deve levar em conta o papel de fatores como lagos e detritos. ”
O coautor, Dr. Simon Cook, professor sênior de Geografia e Ciências Ambientais da Universidade de Dundee, disse: “As pessoas na região já estão vendo mudanças que estão além de qualquer coisa testemunhada por séculos. Esta pesquisa é apenas a confirmação mais recente de que essas mudanças estão se acelerando e terão um impacto significativo em nações e regiões inteiras ”.
Referência:
Lee, E., Carrivick, J.L., Quincey, D.J. et al. Accelerated mass loss of Himalayan glaciers since the Little Ice Age. Sci Rep 11, 24284 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-03805-8
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Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2021
Como ampliar a educação ambiental nas escolas?
A conservação do meio ambiente e dos recursos naturais depende diretamente da conscientização, compreensão de problemas ambientais e da mudança de alguns hábitos. Para isto, campanhas sobre sustentabilidade e educação ambiental são ferramentas importantes para conscientização, sobretudo no ambiente escolar, onde são passados os primeiros ensinamentos.
A educação ambiental nos colégios é capaz de trazer uma compreensão mais aprofundada sobre o tema. Segundo a professora de Biologia do Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) Tamboré, Maristela Rangel, algumas mudanças só podem ser feitas através do ensino escolar. “A educação ambiental levanta muitos aspectos do papel do cidadão na sociedade e é um assunto fundamental a ser trabalhado nas escolas”, afirma.
A professora explica que o mais importante é demonstrar aos alunos que cuidar do meio ambiente não é difícil e isto pode ser feito através de pequenos gestos, evitando impactos maiores futuros. Maristela cita os “3Rs” da sustentabilidade, sendo os atos de reduzir, reutilizar e reciclar. “O mais importante é o de reduzir, pois, assim, diminuímos o consumo de materiais sem necessidade, além de ensinar e demonstrar a importância da coleta seletiva, conscientizar e promover a redução do uso plástico, estimular o reaproveitamento e evitar o desperdício, trabalhar com hortas orgânicas”.
Como parte das atividades sustentáveis a serem desenvolvidas na escola, a professora cita:
Consumo consciente da água: Os alunos podem cronometrar os seus banhos ao longo de um mês, montar um gráfico para demonstrar quanta água foi gasta e como poderiam economizar.
Desperdício/Reaproveitamento: Trabalhar com os alunos, demonstrando o funcionamento de uma composteira. Aqui também podem ser trabalhados os conceitos de adubação orgânica, seres vivos do solo e associar com a horta na escola.
Redução do consumo plástico: Estimular o uso de garrafinhas para encher no bebedouro, demonstrar os estragos que o plástico causa no meio ambiente, mostrar a eles as opções de produtos sem plástico como escovas de dente de bambu, xampu sólido, cotonetes com haste de papel, canudo de metal entre outros.
Coleta seletiva: Trabalhar a coleta seletiva utilizando lixeiras para recicláveis e orgânico dentro da sala de aula, orientando o que pode ou não ser reciclado sempre que o aluno tiver dúvidas na hora de realizar o descarte.
Observação da fauna: realizar com os alunos saídas guiadas para a observação de animais, sempre demonstrando a importância do equilíbrio para que estes seres possam seguir exercendo o seu nicho ecológico no ambiente em que vivem.
Por fim, Maristela ressalta que os pais também possuem papel importante na educação e devem se mostrar receptivos às mudanças de hábitos dos filhos e às novas informações levadas para casa, colocando-as em prática no dia a dia.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2021
domingo, 26 de dezembro de 2021
Perdas globais por catástrofes seguradas sobem para US$ 112 bilhões em 2021
• Catástrofes naturais causaram perdas globais seguradas estimadas em US ﹩ 105 bilhões em 2021, a quarta maior alta desde 1970
• O furacão Ida foi o principal evento deficitário, mas, novamente, mais da metade das perdas globais vieram de perigos secundários
• As perdas por catástrofes naturais provavelmente continuarão a crescer mais do que o PIB global, dados os aumentos na riqueza, urbanização e mudanças climáticas
Eventos climáticos extremos em 2021, incluindo congelamento invernal profundo, inundações, tempestades severas, ondas de calor e um grande furacão, resultaram em perdas anuais seguradas de catástrofes naturais estimadas em US﹩ 105 bilhões, a quarta maior alta desde 1970, de acordo com as estimativas do sigma preliminar do Swiss Re Institute.
Embora o furacão Ida tenha sido o desastre natural mais caro em 2021, a tempestade de inverno Uri e outros eventos secundários causaram mais da metade das perdas totais, pois o acúmulo de riqueza e os efeitos da mudança climática em áreas sujeitas a desastres geraram reivindicações. Desastres provocados pelo homem geraram outros
US﹩ 7 bilhões em perdas seguradas, resultando em perdas globais seguradas estimadas de US﹩ 112 bilhões em 2021.
“Em 2021, as perdas seguradas de desastres naturais novamente excederam a média dos dez anos anteriores, continuando a tendência de um aumento anual de 5 a 6% nas perdas visto nas últimas décadas. Parece ter se tornado a norma que pelo menos um evento de perigo secundário, como uma enchente severa, tempestade de inverno ou incêndio florestal, a cada ano resulta em perdas de mais de US﹩ 10 bilhões. Ao mesmo tempo, o furacão Ida é um lembrete gritante da ameaça e do potencial de perda dos perigos de pico. Apenas um desses eventos atingindo áreas densamente povoadas pode impactar fortemente as perdas anuais”, disse Martin Bertogg, Head of Cat Perils na Swiss Re.
Os dois desastres naturais mais caros do ano foram registrados nos Estados Unidos. O furacão Ida causou US﹩ 30-32 bilhões em danos estimados para segurados, incluindo inundações em Nova York e a tempestade de inverno Uri causaram US﹩ 15 bilhões em perdas de segurados. Uri trouxe frio extremo, forte nevasca e acúmulo de gelo, especialmente no Texas, onde a rede elétrica sofreu várias falhas devido às condições de congelamento. O evento mais caro na Europa, entretanto, foram as inundações de julho na Alemanha, Bélgica e países vizinhos, causando até US﹩ 13 bilhões em perdas seguradas, em comparação com perdas econômicas de mais de US﹩ 40 bilhões. Isso indica uma lacuna de proteção contra inundações ainda muito grande na Europa. A enchente foi o desastre natural mais caro para a região desde 1970 e o segundo maior do mundo, depois da enchente de 2011 na Tailândia.
“O impacto dos desastres naturais que vivenciamos este ano mais uma vez destaca a necessidade de investimentos significativos no fortalecimento da infraestrutura crítica para mitigar o impacto das condições climáticas extremas”, disse Jérôme Jean Haegeli, Swiss Re’s Group Chief Economist. “Os investimentos em infraestrutura apoiam o crescimento sustentável e a resiliência e precisam ser aumentados. Somente nos EUA, a lacuna de investimento em infraestrutura para manter infraestrutura crítica e obsoleta é de US﹩ 500 bilhões em média por ano até 2040. Em parceria com o setor público, a indústria de seguros é crítica para fortalecer a resiliência da sociedade aos riscos climáticos, investindo e subscrevendo infraestrutura sustentável.”
Outra atividade devastadora de perigo secundário na Europa incluiu fortes tempestades convectivas em junho, com tempestades, granizo e tornados causando danos generalizados a propriedades na Alemanha, Bélgica, Holanda, República Tcheca e Suíça. As perdas seguradas resultantes são estimadas em US﹩ 4,5 bilhões. Em outras partes do mundo, ocorreram graves inundações na província chinesa de Henan e na Colúmbia Britânica no Canadá, entre outros.
Na outra extremidade do espectro climático extremo, o Canadá, partes adjacentes dos EUA e muitas partes do Mediterrâneo experimentaram temperaturas recordes em 2021. Durante os últimos dias de junho, uma “cúpula de calor” estabeleceu um novo recorde de temperatura canadense de todos os tempos de quase 50 °C em uma vila na Colúmbia Britânica. As temperaturas no Vale da Morte, Califórnia, atingiram 54,4 °C durante uma das várias ondas de calor no Sudoeste. O calor excepcional costumava ser acompanhado por incêndios florestais devastadores. No entanto, as perdas seguradas associadas foram menores do que nos últimos anos, quando os incêndios afetaram áreas mais populosas. Na Califórnia, os incêndios florestais destruíram, em particular, grandes áreas florestais, mas, em contraste com 2017, 2018 e 2020, invadiram áreas de menor concentração de propriedade.
Essas estimativas de perda por catástrofe do sigma são para danos à propriedade e excluem reivindicações relacionadas a COVID-19. As estimativas de perda neste comunicado à mídia são preliminares e estão sujeitas a alterações, uma vez que nem todos os eventos geradores de perdas foram totalmente avaliados ainda. Por exemplo, a atividade catastrófica em dezembro permaneceu elevada e as perdas resultantes ainda estão sendo avaliadas. A COVID-19 alongou o ciclo de vida dos sinistros, especialmente para grandes eventos, e levará muito mais tempo do que o normal para avaliar a contagem final.
Acesse site sigma para visualizar, baixar e compartilhar dados de catástrofes naturais projetados em mapas mundiais .
Fonte: Swiss Re Group
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2021
Tartarugas marinhas – saiba o que fazer se encontrar uma fêmea desovando ou um ninho
Embora sejam marinhas, as tartarugas utilizam o ambiente terrestre – a areia das praias – para desovar, buscando o local adequado à incubação dos ovos e ao nascimento dos filhotes, ou seja, praias escuras e desocupadas
Até abril de 2022, está acontecendo a temporada reprodutiva de tartarugas marinhas na costa da Bahia. Iniciada em setembro, a temporada tem seu pico entre os meses de novembro, dezembro e janeiro. Os primeiros ninhos já foram identificados e protegidos pelo Programa de Monitoramento de Quelônios Marinhos do Terminal Marítimo de Belmonte, promovido pela Veracel Celulose, e há a expectativa de que os primeiros filhotes comecem a nascer durante este mês de dezembro.
Com orientação do Centro TAMAR-ICMBio, e execução da consultoria ambiental CTA, a Veracel traz algumas orientações para que a população saiba o que fazer se identificar algum ninho, filhote ou tartarugas em desova. Este período reprodutivo é de extrema importância para as espécies, mas é também um momento que os animais se tornam muito frágeis nas praias, justamente em um período em que as faixas de areia estão ocupadas por turistas e moradores, por isso, é muito importante que a população saiba como é possível ajudar as tartarugas, caso identifiquem uma.
“A região sul da Bahia é muito importante para o turismo do nosso país, mas também é uma região de reprodução das tartarugas marinhas na costa brasileira. Por isso, é muito importante que todos nós saibamos o que fazer ao ver um ninho, para evitar ao máximo as interferências externas e protegermos o ciclo de vida desses animais”, destaca Tarciso Matos, coordenador de meio ambiente da Veracel Celulose e responsável pelo Programa de Monitoramento de Quelônios Marinhos do Terminal Marítimo de Belmonte.
O programa, promovido pela companhia, monitora diariamente as praias da área de influência do Terminal, visando acompanhar e proteger as tartarugas marinhas. Anualmente, o monitoramento ocorre em cerca de 25Km de praias , ao norte e ao sul do Terminal de Belmonte
Embora sejam marinhas, as tartarugas utilizam o ambiente terrestre – a areia das praias – para desovar, buscando o local adequado à incubação dos ovos e ao nascimento dos filhotes, ou seja, praias escuras e desocupadas. Ao visitar um local de reprodução de tartarugas marinhas, ao flagrar uma fêmea em processo de desova ou avistar um ninho, é importante estar atento às orientações abaixo:
• Respeitar o deslocamento das tartarugas desde o mar até a praia, não invadindo seu espaço nem obstruindo seu caminho;
• Permanecer a uma distância maior que 20 metros (ou a indicada pelo guia, quando for o caso);
• Não tirar fotos com flash. A luz assusta e desorienta as tartarugas;
• Não usar focos de luz ou lanternas à noite pelos mesmos motivos;
• Não fazer fogueiras nas praias onde as tartarugas fazem seus ninhos;
• Não permitir que haja contato das tartarugas com animais domésticos;
• Não se colocar imediatamente em frente a uma tartaruga em processo de desova, seja em qualquer etapa dela;
• Manter-se em silêncio;
• Não fumar;
• Não cavar os ninhos.
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Centro TAMAR ICMBio) possui abrangência em toda a orla brasileira em especial nas áreas consideradas prioritárias para a reprodução das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral brasileiro. O centro coordena as avaliações do estado de conservação das tartarugas marinhas, bem a elaboração e a implementação do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação das Tartarugas Marinhas, que visa à conservação dessas espécies e dos ecossistemas costeiros e marinhos dos quais dependem. A condução dessas estratégias se dá por meio de uma rede de instituições que trabalham com as cinco espécies de quelônios marinhos que ocorrem ao longo da costa brasileira, incluindo ações de pesquisa, monitoramento, conservação e educação ambiental.
Outra abrangência do Centro Tamar ICMbio é o monitoramento da biodiversidade do bioma marinho costeiro no Mar do Leste brasileiro, compreendido entre Cabo Frio-RJ e Salvador-BA, com ênfase nos impactos de empreendimentos e demais atividades antrópicas. O Centro auxilia ainda no manejo e na criação de Unidades de Conservação federais por meio de estudos, monitoramentos e capacitação voltados para a conservação e para o uso sustentável da biodiversidade. A missão do Centro Tamar ICMBio é proteger as tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, por meio de ações de pesquisa e conservação, gerando alternativas econômicas sustentáveis às comunidades que dependem dessas espécies e criando áreas protegidas que garantam a conservação do ecossistema marinho/costeiro a longo prazo.
Segundo o coordenador do TAMAR ICMBio, Joca Thomé, as ações realizadas pela Veracel em seu Programa de Monitoramento fazem parte das ações de proteção dos ninhos e registro dos encalhes para avaliar impactos nessas espécies, sendo o único ponto de monitoramento de longo prazo na região sul da Bahia, portanto importantíssimo para a conservação dessas espécies numa das regiões de maior biodiversidade do Atlântico Sul.
Na temporada reprodutiva anterior a esta, ocorrida entre setembro de 2020 e março de 2021, o Programa de Monitoramento de Quelônios da Veracel registrou 322 ocorrências reprodutivas de quatro das cinco espécies de quelônios marinhos com presença no Brasil, com predominância da Caretta caretta, ou tartaruga cabeçuda, além de ter acompanhado 266 ninhos com desova e o nascimento de aproximadamente 14 mil filhotes de tartarugas. Na temporada vigente, já foram registrados mais de 100 ninhos, com previsão de eclosão a partir desse mês de dezembro.
filhotes de tartarugas marinhas em seu caminho ao mar
Filhotes de tartarugas marinhas em seu caminho ao mar
Monitoramento e proteção das tartarugas marinhas
O Programa de Monitoramento de Quelônios Marinhos do Terminal Marítimo de Belmonte é realizado pela Veracel desde 2005 e contempla a execução de cerca de 200 horas de monitoramento mensal, diurno e noturno, em 35 km de praias. Além do acompanhamento da reprodução dos animais, o Programa também realiza o registro da presença de quelônios encalhados nos trechos monitorados.
O Programa também contempla a liberação do acesso às praias adjacentes ao terminal para as máquinas, o acompanhamento das atividades maquinárias, diálogos sobre a proteção do meio ambiente (com colaboradores e população em geral) e monitoramento da incidência de iluminação artificial nas adjacências do Terminal.
As atividades possuem metodologia e periodicidade definidas e estão respaldadas por Autorização para Manejo de Fauna, emitida pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA). Durante o período reprodutivo de tartarugas marinhas na costa brasileira, as equipes realizam ações para proteção de ninhos e preservação dos ovos, seja com marcação, colocação de telas de proteção ou com a transferência dos ovos, caso estejam em uma área de risco para os filhotes. Somente nas últimas cinco temporadas de desova, a Veracel registrou mais de 94 mil nascimentos de tartarugas na região do monitoramento de seu Programa.
Ao longo desses 17 anos, a execução do Programa proporcionou o registro contínuo dos eventos reprodutivos no sul da Bahia – região de Belmonte, informações importantes para o Plano de Ação Nacional para Conservação das Tartarugas Marinhas, com registros de espécies como a tartaruga-verde (Chelonia mydas) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). A tartaruga-verde desova preferencialmente em ilhas oceânicas, tendo seus maiores sítios reprodutivos localizados na ilha de Trindade, no Espírito Santo; em Fernando de Noronha, em Pernambuco; e no Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte. Já tartaruga-de-couro, desova regularmente no litoral norte do Espírito Santo, próximo à foz do Rio Doce. O registro dessas espécies na região Sul da Bahia são fenômenos considerados importantes para a conservação destas espécies.
A Veracel licenciou o Centro de Reabilitação do Terminal Marítimo de Belmonte, que será instalado pela empresa em 2022 e gerido pelo CTA para a reabilitação e a necropsia dos quelônios marinhos registrados pelo Programa de Monitoramento. Este deverá ser o primeiro local do Extremo Sul da Bahia, especializado para os cuidados e para pesquisas dedicadas à proteção dessas espécies de animais. A operação do Centro visa a receber tartarugas debilitadas e com necessidades de tratamento veterinário; reintroduzir à natureza os espécimes resgatados e realizar a investigação da causa de morte dos animais encontrados.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2021
Catálogo sobre espécies plantadas em ações de reflorestamento na Amazônia é lançado
Baixe gratuitamente o catálogo com informações de mais de 90 espécies adequadas ao reflorestamento na região amazônica
Um guia prático e de fácil leitura com informações detalhadas para orientar o produtor rural sobre as espécies plantadas na recuperação de áreas degradadas e/ou alteradas de sua propriedade através das ações do Plantar Rondônia, projeto implementado pelo Centro de Estudos Rioterra para apoiar a regularização ambiental rural em Rondônia e que já beneficiou mais de 2 mil agricultores familiares do estado desde sua criação, em 2018.
Ao todo, mais de 90 espécies estão descritas e identificadas em fotos, com informações sobre nome popular e classificação científica, principais características, recomendação de local de plantio, grupo ecológico, cultura (florestal, econômica e/ou exótica) e indicação de usos.
As espécies citadas no catálogo são as produzidas no Viveiro da organização, localizado em Itapuã do Oeste, onde mais de um milhão de mudas são produzidas anualmente e entregues aos agricultores beneficiados pelo Plantar Rondônia e também para atender os projetos de restauração florestal em escala desenvolvidos pelo CES Rioterra em áreas degradadas de Unidades de Conservação do Estado.
No apoio ao reflorestamento de áreas de Preservação Permanente e Reserva legal de propriedades da agricultura familiar de Rondônia, os produtores recebem as mudas organizadas nos chamados rocamboles de mudas, onde diferentes espécies estão intercaladas de acordo com o arranjo agroflorestal adequado para a área a ser recuperada.
Cada espécie é escolhida por suas funções econômicas e ecológicas e por sua adequação às características da área onde será plantada. Como muitas desses espécies podem ser desconhecidas para o produtor rural, o que dificulta o manejo correto e o sucesso no desenvolvimento da área plantada, o CES Rioterra desenvolveu este catálogo para melhor orientar o agricultor sobre as boas práticas na rotina de cuidados com sua área reflorestada.
“Esta é mais uma forma que encontramos para apoiar os agricultores familiares de Rondônia no manejo de suas propriedades através de um modelo sustentável, que possibilita desenvolver a agricultura e ampliar a produção e a geração de renda sem abrir mão da conservação ambiental e contribuindo no combate às mudanças climáticas”, complementa Alexis Bastos, coordenador de projetos do Centro de Estudos Rioterra.
O Catálogo de Espécies está disponível gratuitamente no endereço: http://rioterra.org.br/pt/wp-content/uploads/2021/12/Catalogo-de-Especies-2021_H.pdf
Aproveite esta oportunidade para saber mais sobre as espécies adequadas para o reflorestamento na região Amazônica e compartilhe este conteúdo para que mais pessoas possam acessar estes conhecimentos.
O projeto Plantar Rondônia é realizado pelo Centro de Estudos Rioterra em cooperação com a Ação Ecológica Guaporé e a Federação dos Trabalhadores Rurais de Rondônia, em parceria com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e apoio financeiro do BNDES através do Fundo Amazônia.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2021
sábado, 25 de dezembro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 24.12.2021
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• “Me leva pra casa”: animais resgatados em Brumadinho ganham ensaio
• Japão usa enguias para acender árvore de Natal
• Investigação expõe decapitação de lagartos por fornecedora da Gucci
• ENTREVISTA EXCLUSIVA com o Secretário de Proteção Animal da cidade do Rio de Janeiro
• Cadela que desaparece em conexão no aeroporto de Guarulhos (SP)
• Barulho humano no Mar Ártico faz baleias raras até passarem fome
• Leonardo DiCaprio pulou em lago congelado para salvar os próprios cães
• Homem abandona cadela e vários filhotes em rua de Fortaleza (CE)
• Lei proíbe carroceiros de açoitarem cavalos em Campo Grande (MS)
• Após tornado, mais de mil animais são resgatados por grupo de voluntários na Bahia
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sheila moura
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - edição especial do dia 21.12.2021
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ENTREVISTA EXCLUSIVA com o Secretário de Proteção Animal da cidade do Rio de Janeiro
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 19.12.2021
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• Menina de 5 anos dá o cobertor para PRF salvar animal ferido na BR-060
• Só para lembrar o porque lutamos por eles
• Cenas de terror: argentinos saqueiam carne de animais ainda vivos após caminhão bater
• Mulher com câncer grava pedido antes de morrer e roga ajuda aos animais que recolheu da rua
• Cães de rua usam ar-condicionado de loja para se refrescar em dia quente
• Ibama fecha único centro de triagem de animais silvestres do Rio
• Seca prolongada mata dezenas de girafas no Quênia
• MP pede prisão de dono de fazenda onde búfalas foram encontradas passando fome e sede
• Falso veterinário suspeito de fazer cirurgias em cachorros é preso por maus-tratos contra animais
• Passarelas para travessia de animais são instaladas em área verde de Campinas (SP)
• Após divórcio, ex-marido é condenado a pagar auxílio a cinco cães e um gato
• Corrida de cães e tatuagens em animais poderão ser proibidas em SC
• Protetor de cães morre e deixa quase 200 animais órfãos
• Vitória: relator retira de pauta projeto que libera caça esportiva
• Mulher entra em córrego para salvar cães filhotes abandonados em SP
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GREENPEACE BRASIL - ensagem
Olá , espero que este e-mail te encontre bem.
Eis que 2021 está chegando ao fim… Neste ano-eternidade, nunca o luto e a luta caminharam tão juntos. Vivemos muitas perdas, individual e coletivamente, e lutamos também, como pudemos, para tentar frear tanto descalabro.
O Congresso Nacional ainda parece determinado a fechar o ano com chave de ouro - proveniente de garimpo ilegal, claro! - e segue tentando passar a boiada: PL da grilagem, mudanças no licenciamento ambiental, um PL anti-terrorismo que na prática cerceia a manifestação da sociedade civil… A lista é grande.
A Amazônia sofre. O desmatamento bateu recordes, o garimpo avança como nunca, abre cicatrizes e contamina rios em terras indígenas, mata e morre para seguir alimentando uma economia que destrói. O governo brasileiro segue desgovernando, no gerúndio mesmo, e enquanto a fome se instala sorrateira e dolorida no dia a dia dos brasileiros, já entramos em clima de campanha eleitoral, mais um mata e morre que demandará muito de todos nós.
Mas - e sempre tem um mas! - foi nesse mesmo ano que vimos a maior manifestação indígena em Brasília, durante o Acampamento Terra Livre, pressionando pela não aprovação do Marco Temporal no Congresso e acompanhando de perto a votação do caso Xokleng no Supremo Tribunal Federal. Ambos ficaram para o ano que vem.
Na COP 26, a presença significativa dos movimentos sociais brasileiros - os indígenas, as juventudes, o movimento negro, os quilombolas - fez com que um outro Brasil possível se fizesse ouvir, um Brasil onde as soluções não servem só a alguns, onde a emergência climática é pauta transversal e a voz daqueles que mais serão impactados pela crise são as ouvidas primeiro.
Nossa esperança resiste - e mais do que nunca, esperançar virou ato político. Que nesse final de ano você encontre espaço para cultivar a sua: no abraço dos seus, no pé na terra, em um mergulho na água. Na natureza e neste país lindo que ainda insiste em nos presentear com um arco-íris inesperado, um pôr-do-sol de tirar o fôlego, uma fruta gostosa colhida do pé.
2022 não será fácil, mas não estaremos sós. Obrigada por estar sempre com a gente! Seguiremos contando com o seu apoio - e em 2022, mais do que nunca, estarmos juntos será essencial!
Boas festas e até já já,
Carol, em nome de todo o time do Greenpeace Brasil.
sábado, 18 de dezembro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - boletim Informativo do dia 18.12.2021
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• Aliada de Bolsonaro quer liberação para caçar animais
• Vídeo chocante mostra acidente em corrida que terminou com dois cavalos mortos
• Cientistas estudam efeitos da pandemia em animais domésticos e selvagens
• Santuário desenvolve mochila transparente para gata que não pode andar ver o mundo
• Campanha contra PL que libera caça de animais silvestres agita Twitter
• Ativistas fazem ato na Avenida Paulista contra maus-tratos a animais na cadeia de alimentos
• Mulher dá cocaína a macaco, joga o animal na privada e puxa a descarga
• Cãozinho tenta se salvar durante enxurrada em Três Pontas (MG)
• Camelo foge de presépio vivo nos EUA
• Circo é notificado por usar cachorro pulando do alto de escada suspensa
• PL que permite caça desportiva no Brasil será votado amanhã (14)
• Cães que perderam sua casa não param de se abraçar no abrigo
• Golfinho de espécie ameaçada de extinção morre por afogamento após ser resgatado de rede de pesca
• Peritos encontram 98 carcaças de búfalos enterradas em duas valas clandestinas de fazenda de Brotas
• Heleno defende garimpo na Amazônia: 'Continuaremos a mapear as riquezas'
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sheila moura
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
Alertas do Deter apontam para 249 km² devastados na Amazônia em novembro
A grilagem de terras tem consumido rapidamente a Amazônia: 30% do desmatamento registrado em 2021 (agosto de 2020 à julho de 2021) ocorreu em terras públicas não destinadas
Apesar da redução, os estados do Pará, Mato Grosso do Sul e Acre lideram os índices de destruição
Dados do sistema DETER-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira (10), indicam que 249,49 km² da Amazônia esteve com alertas de desmatamento durante o mês de novembro – o menor número da série histórica.
Embora tenha havido queda em comparação com o mesmo mês do ano passado, 19,45% menor, os alertas de janeiro a novembro deste ano, já somam 8.142 km2 Ainda que o mês de dezembro não tenha sido computado por completo, este já é o terceiro maior acumulado anual, só perdendo para os dois anos anteriores do atual governo.
“Essa diminuição é importante, mas infelizmente não há motivo para comemorar. Trata-se de um fato pontual que não foi causado por nenhum ato do atual governo. O que temos é a omissão completa no campo ambiental que nos conduziu até aqui, com três anos de taxas de desmatamento recordes acima de 10.000 km2, uma epidemia de garimpos ilegais e invasão de terras públicas, unidades de conservação e Terras Indígenas, tudo isso com a conivência e aprovação do palácio da Alvorada”, afirma Rômulo Batista, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.
As ameaças à Amazônia seguem a todo vapor. Um levantamento feito pelo Greenpeace Brasil revela que grandes frigoríficos do país compraram gado, de forma direta ou indireta, de fazendas com desmatamento ilegal localizadas em áreas públicas federais e suspeitas de grilagem, contribuindo com a destruição ambiental e o caos fundiário.
A grilagem de terras tem consumido rapidamente a Amazônia: 30% do desmatamento registrado em 2021 (agosto de 2020 à julho de 2021) ocorreu em terras públicas não destinadas, e para piorar a situação, na última quarta-feira (08) um novo relatório para o PL da Grilagem (PL 2159/2021) foi apresentado em comissões do Senado e poderá ser votado nas próximas semanas.
“Essas alterações propostas na lei atual sobre regularização fundiária favorecem grileiros e estimulam mais desmatamento, levando o Brasil cada vez mais longe dos investidores, dos mercados consumidores mais exigentes e dos compromissos internacionais assumidos anteriormente e há pouco na COP26, em Glasgow”, complementa Batista.
Fonte: Greenpeace
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/12/2021
Mortes em conflitos por terra disparam em 2021
Os dados de “Violência contra a Ocupação e a Posse” nos mostram que a Destruição de Casa, Destruição de Pertences, Expulsão, Grilagem, Pistolagem e Impedimento de acesso a Área de Uso Coletivo alcançou um número de famílias atingidas até 31 de agosto de 2021, maior do que o verificado em todo o ano de 2020. 418 territórios no país foram alvo desse tipo de violência nos primeiros 8 meses de 2021. 28% deles são território indígenas.
Entre janeiro e novembro de 2021, foram registrados 26 assassinatos em conflitos no campo. Um aumento de 30% em relação a todo o ano anterior, quando foram registrados 20 assassinatos [1]. O número de sem-terras assassinados passou de 2, em 2020, para 6, em 2021. Mortes em consequência de conflitos dispararam, tendo um aumento de 1.044%, passando de 09, em todo o ano de 2020, para 103 registradas até o momento. Dessas 103, 101 foram de indígenas Yanomamis.
O Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Dom Tomás Balduino (Cedoc/CPT) apresenta neste Dia Internacional dos Direitos Humanos (10), os Dados Parciais dos Conflitos no Campo referentes ao período de 01 de janeiro a 31 de agosto de 2021. Com exceção das categorias de assassinatos e de mortes em consequência, que dizem respeito às violências contra a pessoa, e que aqui apresentamos as ocorrências até o presente momento.
Em 2021, de acordo com os dados parciais, houve um aumento no número de famílias envolvidas nos Conflitos por Terra em 3,55%, apesar de haver diminuição do número de conflitos deste tipo. As ações de resistência dos povos, comunidades tradicionais e movimentos sociais, voltaram a subir, após o descenso do primeiro ano de pandemia. Os acampamentos passaram de 2, entre os meses de janeiro e agosto de 2020, para 3, no mesmo período de 2021, com um aumento de 291% no número de famílias envolvidas. O número de famílias em ocupações e retomadas registrado em 2021, teve um aumento de 558,57%, passando de 519 para 3.418, o que já corresponde a mais que o dobro do número total de famílias registrado em todo o ano de 2020 (1.391). Isso mostra que mesmo com o receio de contaminação pela Covid-19, essas famílias precisaram resistir para manter-se vivas e nos territórios tradicionalmente ocupados. A ofensiva contra os povos do campo, das águas e das florestas não entrou em quarentena.
Em 2021, 418 territórios sofreram “Violência Contra Ocupação e a Posse”. Desses, 28% são territórios indígenas; 23% quilombolas; 14% são territórios de posseiros; 13% são territórios de sem-terras, entre outros. A “destruição de casa” aumentou 94%, “destruição de pertences” 104%, “expulsão” 153%, “grilagem” 113%, “pistolagem” 118% e “impedimento de acesso às áreas de uso coletivo” aumentou 1.057%. Todos esses dados, registrados entre janeiro e agosto deste ano, já ultrapassam os dados de todo o ano de 2020.
Entre as categorias que mais causaram Violências Contra a Ocupação e a Posse: Fazendeiro (23%), Empresário (18%), Governo Federal (14%), Grileiro (13%). A categoria Garimpeiro passou de 3% em 2020 para 6% em 2021. O salto desta categoria também foi registrado em Conflitos pela Água, tendo passado de menos de 1%, em 2020, para 5% em 2021.
violência contra ocupação e posse
Violência contra a Pessoa: triplica o assassinato de sem-terras e mortes em consequência disparam
Em 2021, foram registrados até o momento 26 assassinatos relacionados a conflitos no campo. Comparado com todo ano de 2020, já representa um aumento de 30% de assassinatos no campo.
assassinatos relacionados a conflitos no campo
Das 26 vítimas de assassinatos, 8 eram indígenas, 6 sem-terra, 3 posseiros, 3 quilombolas, 2 assentados, 2 pequenos proprietários e 2 quebradeiras de coco babaçu. Em relação a 2020, o número de indígenas e quilombolas assassinados se manteve igual. O número de sem-terras triplicou, passou de 2 em 2020 para 6 em 2021. Todos os quilombolas assassinados em 2021 (3) eram do Maranhão, o estado com o maior número de assassinatos no ano (9), cerca de um terço do total registrado até o momento.
Todos os 6 sem-terra assassinados foram mortos na Amazônia, dentre os quais, 5 foram mortos em Rondônia. Todos integrantes da Liga dos Camponeses Pobres. 3 deles foram mortos em um Massacre no dia 13 de agosto [2], pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PM de Rondônia e pela Força de Segurança Nacional, no Acampamento Ademar Ferreira, em Nova Mutum, distrito de Porto Velho. Esse foi o único massacre registrado pela CPT, até o momento, em 2021. O conflito na região continua muito tenso [3]. O número de posseiros assassinados passou de 1 em 2020, para 3 em 2021, e de assentados de 1 em 2020 para 2 em 2021.
assassinatos relacionados a conflitos no campo
Além disso, houve um aumento de 50% nas agressões, 200% nas ameaças de prisão, 1.100% nas humilhações, 14% na intimidação e 1.044% nas mortes em consequência.
assassinatos relacionados a conflitos no campo
Das 103 mortes em consequência registradas até o momento em 2021, 101 foram de indígenas yanomamis. Dessas 101 mortes, não é possível extrair, de acordo com as fontes, o número exato de crianças, mulheres e homens que morreram em consequência de conflitos no campo. Isso ocorre pois a fonte de pesquisa não fornece tais informações especificadas. Mas, das 101 mortes, temos informações de que pelo menos 45 eram crianças. A maior parte destes dados foi apresentada no II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’Kwuana, ocorrido entre 4 e 7 de setembro de 2021, na região da Tabalascada, município do Cantá, ao norte de Roraima. Há, inclusive, grande dificuldade em estabelecer as datas exatas de ocorrência destas mortes.
Acompanhamos durante o ano de 2021, diversas invasões de garimpeiros ao território Yanomami, resultando em assassinatos, agressões, ameaças, ameaça ao território, contaminação da água, desmatamento, além de serem vetores de doenças diversas, incluindo a Covid-19. Vimos também crianças sendo sugadas por dragas [4] e morrendo afogadas ao fugirem dos tiros [5] disparados pelos criminosos. A falta de políticas públicas de saúde e alimentação expôs o alto índice de desnutrição que acomete as crianças yanomamis, muitas vezes mortalmente, e também expôs como doenças, a exemplo de malária, leishmaniose e pneumonia, ainda matam esses indígenas em nosso país.
Manifestações e Ações de Solidariedade
Nos primeiros oito meses de 2020, foram registradas 768 Manifestações de Luta, com a presença de 365.526 pessoas. No mesmo período em 2021, foram 1278 Manifestações de Luta, com a presença de 360.781 pessoas. Comparando os dois anos observa-se o aumento de 66,40% no número de Manifestações de Luta e uma redução de 1,29% do número de pessoas presentes em tais manifestações. Compreende-se que o aumento das Manifestações de Luta aconteceu, principalmente, pela participação dos povos do campo, das florestas e das águas nos atos pró vacinação e contra o governo Bolsonaro, e também pelas ações de solidariedade realizadas, principalmente, pelas famílias assentadas e acampadas, que doaram alimentos à população urbana. A redução do número de pessoas se justifica pelo fato de muitas das informações contidas nas fontes não trazerem este número, o que impossibilita um registro preciso dos participantes das manifestações. Em 2020 tivemos, durante todo o ano, um total de 1.348 Manifestações de Luta com a presença de 408.176 pessoas.
Ações de Solidariedade representaram 382 “Manifestações de Luta”, que corresponde a 29,89% do total de Manifestações de Luta realizadas em 2021. O Paraná foi o estado em que mais ocorreram ações de solidariedade (91), seguido de Pernambuco (55), Alagoas (33), São Paulo (27), entre outros.
As Manifestações de Luta que abordaram a Questão Indígena tiveram um aumento de 146% em comparação com 2020. De janeiro a agosto de 2020 foram registradas 46, já no mesmo período de 2021 foram registradas 113 Manifestações de Luta com essa temática. Aqui destacamos o “Acampamento Terra Livre”, o “Levante pela Terra” e o “Acampamento Luta Pela Vida”, todos realizados em Brasília pelos povos indígenas. Os acampamentos também tiveram adesão nacional, com manifestações e atos realizados nos territórios indígenas. A resistência ao julgamento do Marco Temporal foi a principal pauta das ações dos indígenas. A tese desrespeitaria o direito fundamental dos povos indígenas, que se concretiza no direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam.
violência pela questão indígena
Amazônia Legal
Os indígenas continuam sendo as maiores vítimas dos Conflitos por Terra na Amazônia Legal. Porém, eles passaram de 42% das vítimas em 2020, para 33% em 2021. Da mesma forma, os quilombolas passaram de 24% em 2020, para 19% em 2021. Em contrapartida, aumentou a violência contra posseiros, sem-terras e assentados na região. Em 2020, 13% das vítimas de violência em conflitos por terra eram posseiros, 10% sem-terra e 4% assentados. Em 2021, passa a ser 19,5% de posseiros, 12% de sem-terra e 7% assentados. Fazendeiros (30%) e grileiros (14%) são os maiores causadores dessas violências na Amazônia Legal.
Dos 26 assassinatos registrados em 2021, 20 ocorreram na Amazônia Legal. 77% do total. Em relação à violência contra a ocupação e a posse na região, os números são alarmantes. 93% do total de famílias vítimas de grilagem de janeiro a agosto de 2021 foram na Amazônia. Além disso, mesmo com uma leve redução de 3% nos dados de desmatamento ilegal, a região ainda responde por 92% das famílias impactadas por esse tipo de crime. 91% do total de famílias que tiveram seus territórios invadidos foi na Amazônia, bem como 80% das famílias impedidas de acessarem as áreas de uso coletivo e 78% das famílias vítimas de pistolagem. As famílias vítimas de contaminação por agrotóxicos na Amazônia, mesmo com uma redução de 11% em relação ao ano anterior, ainda correspondem a 80% do total de famílias vítimas desse tipo de crime no Brasil.
violência contr a ocupação e a posse na amazônia legal
[1] Na publicação “Conflitos no Campo Brasil 2020”, lançada em maio deste ano, a tabela de assassinatos trouxe um total de 18 assassinatos. Após a publicação ser lançada, o Cedoc da CPT recebeu mais 2 assassinatos no estado do Amazonas, que foram atualizados no banco de dados e, por isso, aqui trazemos um total de 20 assassinatos em conflitos no campo no ano de 2020.
[2] https://www.cptnacional.org.br/noticias/acervo/massacres-no-campo/112-rondonia/5779-porto-velho-2021
[3] https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/5868-maior-acao-de-reintegracao-de-posse-em-rondonia-repete-os-rastros-do-massacre-de-corumbiara
[4] https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/geral/5832-draga-de-garimpeiros-sugou-criancas-indigenas-que-brincavam-no-rio-diz-lideranca-yanomami
[5] https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/conflitos-no-campo/5647-ataques-de-garimpeiros-provocaram-a-morte-de-duas-criancas-yanomamis
Fonte: CPT
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/12/2021
Mudança climática aumenta a disseminação de pragas e doenças nas safras
Pelo Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK)*
Com base em um conjunto de dados exclusivo e não publicado, de 1970 a 2016, uma equipe internacional, incluindo o Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), comparou registros estatísticos de longo prazo sobre a ocorrência de pragas e doenças na China com potenciais fatores climáticos – como temperatura, precipitação, umidade – bem como fatores de práticas agrícolas, incluindo, por exemplo, aplicação de fertilizantes, irrigação, uso de pesticidas.
Eles descobriram que, desde a década de 1970, a ocorrência de pragas e doenças agrícolas na China aumentou quatro vezes. A mudança climática é responsável por provavelmente cerca de 20 por cento do aumento observado, com grandes variações entre as diferentes províncias chinesas.
Ao olhar mais de perto para os fatores climáticos, especialmente as temperaturas noturnas mais altas podem aumentar a chance de pragas e doenças nas colheitas, de acordo com os cientistas. As emissões de gases de efeito estufa do uso de combustível fóssil aumentariam o aquecimento.
Os cientistas, portanto, projetaram como as futuras mudanças climáticas na China podem influenciar as pragas e doenças das plantações até o final deste século. Eles descobriram que, em um cenário de alta emissão de gases de efeito estufa, a ocorrência de pragas e doenças agrícolas aumentaria ainda mais. Embora as incertezas envolvidas sejam substanciais, os cientistas concluem que a ocorrência, além do aumento que eles encontraram no último meio século, pode potencialmente dobrar.
O cientista e coautor do estudo do PIK, Christoph Müller, afirma: “Nosso estudo mostra que as mudanças climáticas afetam a ocorrência de pragas e doenças nas colheitas, que ameaçam a produção global de alimentos e a segurança alimentar. Isso também desafia os sistemas de proteção de lavouras existentes e a produtividade geral. Essas descobertas devem nos alertar que melhores dados e mais pesquisas são necessárias neste campo para melhor mitigar os impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos. ”
Referência:
Wang, C., Wang, X., Jin, Z. et al. Occurrence of crop pests and diseases has largely increased in China since 1970. Nat Food (2021). https://doi.org/10.1038/s43016-021-00428-0
Article has an altmetric score of 49
Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/12/2021
sábado, 11 de dezembro de 2021
Emissões dos incêndios florestais em 2021 superam o total de combustíveis fósseis da UE
Incêndios florestais globais em 2021 emitiram 6.450 megatons de CO2, ou 148% a mais do que o total de emissões de combustíveis fósseis da UE em 2020
Em 2021, várias regiões ao redor do mundo experimentaram temporadas de incêndios florestais devastadores. Todos nós lemos histórias angustiantes sobre a miséria humana e os danos à propriedade causados por incêndios florestais intensos e prolongados. Ao longo do ano, o Copernicus Atmosphere Monitoring Service * (CAMS) tem observado de perto os incêndios florestais globais e suas emissões.
Usando observações de satélite de incêndios ativos, o CAMS estima a quantidade de poluentes que eles emitem em tempo quase real e prevê o impacto na composição atmosférica global e na qualidade do ar, fornecendo dados que permitem aos tomadores de decisão tomar medidas mitigadoras informadas. Vamos dar uma olhada no que os dados revelaram.
De acordo com os cientistas do CAMS, incêndios florestais globais em 2021 causaram um total estimado de 1.760 megatons de emissões de carbono, o que equivale a 6.450 megatons de CO 2 . Para colocar este número em alguma perspectiva – as emissões totais de CO 2 de combustíveis fósseis na UE em 2020 ascenderam a 2600 megatons , em outras palavras – os incêndios florestais este ano geraram 148% a mais do que as emissões totais de combustíveis fósseis da UE em 2020.
Emissões estimadas mais altas de todos os tempos
A atividade de incêndio florestal deste ano em algumas regiões do mundo foi em uma escala muito maior do que a vista anteriormente no conjunto de dados CAMS, de acordo com o cientista sênior do ECMWF Copernicus Atmosphere Monitoring Service e especialista em incêndios florestais Mark Parrington. “À medida que o ano está chegando ao fim, vimos extensas regiões experimentando intensa e prolongada atividade de incêndios florestais. As condições regionais mais secas e quentes sob um clima em mudança aumentaram o risco de inflamabilidade e o risco de incêndio da vegetação ”, disse ele, acrescentando que isso levou a alguns incêndios extremamente grandes e de rápido desenvolvimento que persistiram por um longo período de tempo.
Consequentemente, várias regiões ao redor do mundo viram algumas de suas emissões estimadas mais altas em 2021, com base no conjunto de dados do Sistema de Assimilação Global de Incêndio ( GFAS ) do CAMS de 19 anos , desde 2003. O verão de 2021 em particular experimentou uma série de incêndios florestais extremos o que levou às emissões estimadas mais altas para alguns dos meses no conjunto de dados CAMS GFAS. Não apenas partes extensas foram afetadas durante o verão, mas sua persistência e intensidade foram notáveis. Isso incluiu vastas extensões na Sibéria, América do Norte, Mediterrâneo oriental e central e Norte da África.
Emissões globais de carbono de incêndios florestais entre 1 de janeiro e 30 de novembro desde 2003 de acordo com dados CAMS GFAS.
Emissões globais de carbono de incêndios florestais entre 1 de janeiro e 30 de novembro desde 2003 de acordo com dados CAMS GFAS.
Julho mostrou um alto nível de emissões estimadas no conjunto de dados GFAS, com 343 megatons de carbono liberados na atmosfera. Mais da metade dessas emissões foram causadas por incêndios na América do Norte e na Sibéria, duas das áreas mais afetadas. Isso se seguiu à intensa e persistente atividade de fogo no oeste da Sibéria e no Canadá em abril, que coincidiu com temperaturas de superfície anormalmente altas nessas regiões. A situação em agosto foi ainda pior, com emissões totais estimadas mensais ainda mais altas – cerca de 378 megatons de carbono foram liberados na atmosfera globalmente, de acordo com os dados do GFAS.
Sibéria
Um grande número de incêndios florestais ocorreu em áreas do oeste da Sibéria, em torno de Omsk e Tyumen, resultando em emissões diárias bem acima da média dos anos anteriores no conjunto de dados para 2003-2021. Os territórios orientais não eram tão ativos no início da temporada e essa diferença se refletia claramente nas anomalias da temperatura da superfície para as regiões. No entanto, as coisas mudaram no verão, e os incêndios florestais na República Sakha, no nordeste da Sibéria, estabeleceram o maior total de horário de verão no conjunto de dados CAMS GFAS de junho a agosto, mais do que o dobro dos anos anteriores.
A intensidade diária do fogo medida como Fire Radiative Power (FRP), que usa dados de sensoriamento remoto para estimar a quantidade de biomassa queimada, atingiu níveis significativamente acima da média de junho até o início de setembro. Outras regiões no leste da Rússia, incluindo partes do Círculo Polar Ártico, Chukotka Autonomous Okrug e Irkutsk Oblast, também sofreram incêndios, mas muito menos do que em 2020 e 2019.
Emissões cumulativas diárias de carbono em incêndios florestais do Sistema de assimilação global de fogo CAMS (GFAS). Crédito: Copernicus Atmosphere Monitoring Service / ECMWF.
Emissões cumulativas diárias de carbono em incêndios florestais do Sistema de assimilação global de fogo CAMS (GFAS). Crédito: Copernicus Atmosphere Monitoring Service / ECMWF.
América do Norte
Incêndios florestais ocorreram nas partes ocidentais da América do Norte por um período significativo do final de junho ao final de agosto. As áreas mais afetadas incluem várias províncias do Canadá, bem como a Califórnia e os estados do noroeste do Pacífico dos EUA. Entre os incêndios estava também o maior incêndio registrado na história do estado da Califórnia, batizado de Dixie Fire em homenagem à estrada em que começou. O Dixie Fire conseguiu queimar quase um milhão de acres , antes de ser finalmente 100% contido em outubro.
Ao todo, esses incêndios liberaram emissões de carbono totais estimadas de aproximadamente 83 megatons na atmosfera. A alta intensidade e persistência das emissões de incêndios florestais puderam ser vistas nas previsões globais do CAMS quando uma grande nuvem de fumaça cruzou o Atlântico Norte e, misturando-se aos incêndios florestais da Sibéria, atingiu partes ocidentais das Ilhas Britânicas e noroeste da Europa no final de agosto antes de viajar grandes partes da Europa.
Proporção de mistura de monóxido de carbono CAMS em 500 hPa (aproximadamente 5 km) previsão válida para 12 UTC em 19 de agosto, mostrando o transporte de fumaça de incêndios na América do Norte através do Atlântico. Crédito: Copernicus Atmosphere Monitoring Service / ECMWF
Proporção de mistura de monóxido de carbono CAMS em 500 hPa (aproximadamente 5 km) previsão válida para 12 UTC em 19 de agosto, mostrando o transporte de fumaça de incêndios na América do Norte através do Atlântico. Crédito: Copernicus Atmosphere Monitoring Service / ECMWF
O Mediterrâneo
Muitos países ao redor do Mediterrâneo oriental e central sofreram vários dias de incêndios florestais de alta intensidade em julho e agosto, levando a altas concentrações de partículas finas (conhecidas como PM2.5) e degradação da qualidade do ar. As condições particularmente secas e quentes durante os meses de verão proporcionaram o ambiente ideal para incêndios florestais intensos e duradouros.
A Turquia foi a mais atingida em julho, com os dados CAMS GFAS mostrando a intensidade diária do fogo em níveis muito altos, que estavam bem acima da média para a região. Outros países também afetados pelos incêndios florestais devastadores incluem Grécia, Itália, Albânia, Macedônia do Norte, Argélia e Tunísia.
Subcontinente indiano
A queima sazonal de restolho de safra no Paquistão e no noroeste da Índia ocorre todos os anos entre o final de setembro e o final de novembro. A poluição por neblina e fumaça causada por esta atividade foi claramente aparente em imagens de satélite visíveis durante outubro e novembro de 2021 e também se refletiu em valores muito altos de partículas finas e profundidade óptica de aerossol nas previsões globais do CAMS em toda a região. Isso contribuiu para a degradação da qualidade do ar em toda a planície indo-gangética, estendendo-se do Paquistão a Bangladesh, onde foi observada poluição significativa do ar, afetando milhões de pessoas.
A maioria dos incêndios ocorreu nos estados indianos de Punjab e Haryana. Punjab, em particular, experimentou um grande número de incêndios e emissões – as emissões estimadas do CAMS GFAS para setembro-novembro foram as mais altas em 2021 para o conjunto de dados. O Paquistão também experimentou vários dias de potência radiativa acima da média durante este período. O acúmulo de poluição do ar e neblina ao longo da Planície Indo-Gangética durante este período foi devido a uma combinação de fatores – emissões causadas pela atividade agrícola, temperaturas mais frias e a topografia (na imagem abaixo você pode ver como a linha do Himalaia age como uma barreira, mantendo as emissões e as partículas no local).
Ações mitigadoras informadas
Altas temperaturas, raios fortes, ventos fortes e outros eventos climáticos extremos que criam as condições ideais para incêndios florestais estão se tornando cada vez mais comuns devido aos efeitos das mudanças climáticas. Nessas condições, é extremamente importante que os tomadores de decisão tenham acesso a informações atuais e precisas sobre as condições atmosféricas, como as produzidas pelo CAMS, para que possam tomar as medidas necessárias para proteger as pessoas dos efeitos da degradação da qualidade do ar e da fumaça. poluição.
“Está claro a partir de 2021 que as mudanças climáticas estão proporcionando os ambientes ideais para incêndios florestais, que também podem ser agravados pelas condições climáticas locais. À medida que a temporada de incêndios começa no hemisfério sul, estaremos acompanhando de perto os desenvolvimentos. Nossas previsões de cinco dias permitem que os tomadores de decisão, organizações e indivíduos tomem medidas de mitigação antes de qualquer incidente de poluição ”, disse Parrington.
Saiba mais sobre monitoramento de incêndio nas perguntas e respostas do CAMS Wildfire: https://atmosphere.copernicus.eu/qa-wildfires
* CAMS é implementado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF) em nome da Comissão Europeia.
Pelo Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), com tradução e edição de Henrique Cortez
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/12/2021
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 11.12.2021
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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
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"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 9.12.2021
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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
HIV/AIDS – 40 anos de uma pandemia que não acabou
Por Cátia Guimarães – EPSJV/Fiocruz
Valentina nunca viu uma pessoa morrer de Aids. Não teve tempo de ser fã do Cazuza, tampouco ouviu falar do Betinho e sua campanha contra a fome nem assistiu aos filmes do Rock Hudson. Quando ela nasceu, nos anos 2000, as propagandas na televisão e nos pontos de ônibus já anunciavam que “a vida podia ser positiva com ou sem Aids”, mostrando como era possível viver bem com HIV. Quando fez seu primeiro ‘exame de sangue’, o uso de seringas descartáveis já era parte da rotina dos serviços de saúde e, embora ela provavelmente nem saiba, caso tivesse precisado de transfusão ou hemodiálise, encontraria bancos de sangue com um controle sanitário muito mais rígido do que aqueles que levaram a tantas contaminações nos anos 1980. Com vida sexual ativa, Valentina nem sequer se lembra da última campanha pública que lhe fez pensar sobre o uso do preservativo. Como tem mais medo de uma gravidez precoce do que de contrair Aids, a pílula anticoncepcional faz mais parte da sua vida do que a camisinha.
Ao contrário da personagem que abre esta reportagem, Jefferson Campos é uma pessoa real. Hoje com 30 anos, ele recebeu o diagnóstico de HIV positivo em 2018, quando tinha 27. Cientista social com atuação na área da saúde, ele considera que era muito bem informado sobre o assunto, tanto que fazia testes periódicos – o que permitiu que descobrisse a infecção logo no começo – e, na maioria das vezes, usava preservativo nas relações sexuais. Campos diz que sua geração chegou a pegar algumas campanhas mais fortes de prevenção à Aids, mas ele percebia que os parceiros mais jovens – na casa dos 20 anos – tinham uma atitude “mais frouxa” em relação à prevenção. “Quando o parceiro era da minha faixa etária, não tinha discussão, [o preservativo] estava ali. Se eu não demandasse, ele iria demandar o uso da proteção. Já com uma galera mais jovem, essa demanda não vinha”, relata.
“A gente trabalhava a questão de prevenção e da promoção da saúde muito mais do que se faz hoje em dia. Há uma deterioração da área de prevenção do HIV e das doenças sexualmente transmissíveis”
Nemora Barcellos
A sobreposição dessas duas histórias serve para mostrar que, na verdade, Valentina não é apenas uma personagem fictícia: ela é uma tentativa de concentrar em um único nome características que os entrevistados desta reportagem reconhecem em boa parte da geração mais jovem, herdeira do sucesso que a ciência mundial e a política brasileira conquistaram no combate à Aids. Trata-se de uma parcela da população que nunca teve contato com a sentença de morte que a contaminação pelo HIV significou durante muito tempo. Adicionalmente, vive num contexto em que a ‘perna’ da prevenção, que sempre foi parte fundamental da Política Nacional de Aids, anda enfraquecida, com poucas campanhas e trabalhos de base, contribuindo para um cenário de profunda desinformação. “A gente trabalhava a questão de prevenção e da promoção da saúde muito mais do que se faz hoje em dia. Há uma deterioração da área de prevenção do HIV e das doenças sexualmente transmissíveis [DSTs]”, lamenta a infectologista Nemora Barcellos, professora da Unisinos e integrante da Comissão de Política, Planejamento e Gestão da Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O fato é que esse retrato da juventude em relação à Aids pode parecer confortável diante da real queda na taxa de mortalidade da doença, mas talvez essa seja uma análise superficial. Primeiro porque, como vários testemunhos nesta reportagem vão mostrar, não é indiferente viver com ou sem HIV. Segundo porque, dependendo da classe social e das condições de vida das muitas Valentinas que existem por esse país afora, o risco de morte não deixou de existir.
Viver com HIV
“No início a gente só tinha o AZT e o DDI, que era uma bola redonda enorme. Eu tive muito problema com a adesão, no princípio, porque os tratamentos causavam muitos efeitos colaterais: diarreias, o AZT deixava a pele das pessoas escura… Eu cheguei, numa época, a tomar 21 comprimidos por dia! Tinha comprimido para impedir que o HIV entrasse na célula, outro para impedir que ele se reproduzisse, outro para impedir que circulasse no sangue… Era uma loucura”. O relato é de Silvia Almeida, soropositiva há quase 28 anos. Hoje sua prescrição é de quatro comprimidos diários – uma exceção, que se deve ao fato de ela estar na chamada terapia de resgate. “O organismo pode se acostumar com a medicação e o HIV, por ser um vírus mutante, vai burlando, achando formas de se defender daquele medicamento. Mas isso vai muito também da questão da adesão: quanto mais você não tem adesão [ao tratamento], mais vai tendo brechas para que o vírus se proteja daquele medicamento”, explica.
No que diz respeito à adaptação do vírus à medicação, Marcelo Soares, pesquisador em Aids que trabalha no Instituto Nacional do Câncer (Inca), ressalta que esse é um problema típico das pessoas que desenvolveram a doença há mais tempo, no começo da pandemia de Aids. “O HIV, de fato, muda muito. Como ele se replica rapidamente, da mesma forma que se torna resistente a uma resposta imunológica do próprio indivíduo ou a uma eventual vacina, ele também se torna resistente aos medicamentos”, confirma. Mas pondera: “Com as drogas que são utilizadas hoje, para o vírus se tornar resistente, ele precisa acumular oito, nove mutações diferentes juntas, o que é difícil”. O pesquisador explica que a medicação continua “atacando o vírus em pontos diferentes das suas etapas de multiplicação”, mas, diferente do tratamento que fez Silvia Almeida tomar mais de 20 comprimidos na década de 1990, hoje esse coquetel normalmente é concentrado em uma única pílula.
De fato, com o desenvolvimento científico e tecnológico que levou à produção de medicamentos eficazes, sem efeitos colaterais imediatos e com uma administração mais simples, a capacidade de viver com HIV se tornou realidade. E não parou por aí: na continuidade das pesquisas, descobriu-se que o uso de medicamentos desde o momento do diagnóstico, sem precisar esperar o desenvolvimento da doença, era capaz de reduzir a carga viral a ponto de ela se tornar indetectável. Daí surgiu a fórmula que transformou (para melhor) a vida social e afetiva das pessoas soropositivas: I=I (i é igual a i), o que significa que a carga viral indetectável é também intransmissível, ou seja, quem está nessa condição não repassa o HIV para outras pessoas. Isso porque, como explica Soares, os antirretrovirais conseguem conter a reprodução do vírus de modo que ele não possa chegar às partes “periféricas” do corpo, como sangue e sêmen. “É seguro. Já existe muita evidência científica. I é igual a I com certeza, não há mais nenhuma sombra de dúvida”, garante.
Vinícius Marinho/Fiocruz
Teste rápido de HIV: o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamentoFoto: Vinícius Marinho/Fiocruz
O impacto dessa mudança na vida das pessoas soropositivas varia. Jefferson Campos relata que, embora não se sentisse na obrigação de informar sobre a sua soropositividade para os parceiros, já que, estando indetectável, ele não colocava ninguém em risco, muitas vezes decidiu contar a sua história, sobretudo nas relações com pessoas mais jovens, como forma de conscientizar sobre a importância da proteção. E ele diz que nunca houve uma desistência ou um afastamento em função dessa informação. “Depois que a pessoa entendia [o I=I], a coisa fluía, não se tornava um obstáculo”, garante. Essa, no entanto, não é propriamente a regra – e talvez aqui também haja um corte geracional. Para Eduardo Barbosa, por exemplo, as coisas ainda são mais conflituosas. Ele contraiu o HIV no final da década de 1980 e teve a confirmação em 1994. “Quando eu descobri [o diagnóstico], fiquei uns quatro a cinco anos sem me relacionar com ninguém, sem ter relação sexual, morrendo de medo de transmitir. No momento presente isso é um misto, que vem e volta na cabeça da gente o tempo inteiro”, relata. E completa: “Contar ou não é uma coisa ainda muito difícil. Na comunidade LGBT, a rejeição ainda é muito forte. À medida que você conta que tem HIV, mesmo que fale que é indetectável, vem o bloqueio. As pessoas têm informação, mas isso não mudou o comportamento”.
Para Paulo Giacomini, jornalista e militante do movimento de Aids, que vive com o vírus há mais de três décadas, essa transição, depois de tantos anos com medo de contaminar as pessoas que se aproximavam, também não foi nada fácil. Ele relata que, hoje, sente desejo sexual e tem ereções sem qualquer dificuldade do ponto de vista físico, mas basta a relação começar a se concretizar e vir o “toque” para que não consiga ir adiante. “Isso não é físico, é psicológico”, analisa, associando diretamente à sua condição de soropositivo.
As exigências do tratamento e a cura que ainda não veio
Mesmo nos muitos casos em que a fórmula I=I tem proporcionado situações mais felizes, é preciso não perder de vista que ela não é sinônimo de cura nem de eliminação do vírus do organismo: o HIV continua armazenado em células que funcionam como uma espécie de “reservatório”, principalmente, no sistema nervoso central. “O HIV infecta e insere o seu material genético dentro desses reservatórios anatômicos. E eles são refratários, inclusive, às drogas antirretrovirais, não são atingidos pela terapia. O vírus se insere no genoma das nossas células: essa é a grande estratégia do HIV que faz com que a gente não consiga se livrar dele”, explica Soares.
Por isso, se o tratamento for interrompido, esses vírus ‘escondidos’ se multiplicam rapidamente e voltam a circular pela corrente sanguínea e outras partes do corpo, tornando-se novamente detectável e transmissível. Além disso, enquanto uma pessoa soropositiva em tratamento contínuo não chega a desenvolver a doença, o aumento da carga viral é um caminho aberto para o surgimento das infecções oportunistas que passam a atingir o corpo quando a Aids ataca o seu sistema imunológico. Mesmo com todo o progresso científico e tecnológico nessa área, portanto, a Aids continua não tendo cura e a prevenção e a vigilância precisam ser constantes.
E, por mais estranho que possa parecer, situações que levam a ‘baixar a guarda’ são mais comuns do que se imagina. “Tomar remédio a vida inteira, todos os dias da vida, também não é fácil”, testemunha Silvia Almeida. Eduardo Barbosa viveu essa experiência recentemente, no contexto da pandemia de Covid-19. “Foi bastante desgastante para mim. Foi um período em que eu fiquei pensando na minha própria vida. E, mesmo com toda a consciência que eu tenho, com todo o meu trabalho de ativista militante, com a experiência de ter sido diretor de departamento de HIV/Aids, membro de ONG, eu relaxei com o meu acompanhamento. Teve momentos em que me vi com depressão: eu não queria tomar medicação nenhuma. Pela primeira vez na minha vida, desde que a gente instituiu [o tratamento como antídoto], fiz um exame de carga viral e deu 790 cópias”, conta, relatando o espanto de, depois de 15 anos, deixar de ser indetectável. “Se você tira o tratamento, esse pouquinho de células que está produzindo vírus começa a se replicar em níveis astronômicos. São milhões de partículas virais geradas por dia em um indivíduo infectado que não esteja sob tratamento. Rapidamente você atinge a carga viral de novo em poucas semanas”, explica Soares. Com a retomada do tratamento, como ocorreu com Barbosa, a carga viral volta a diminuir, também de forma veloz. Para ser indetectável, a pessoa precisa ter menos de 40 cópias de vírus por mililitro de sangue no corpo.
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Embora não tenham efeitos colaterais imediatos, como os que tornavam o quadro de infecção por HIV muito mais doloroso no início da pandemia, os medicamentos administrados hoje também demandam cuidados de curto a longo prazo. Uma das consequências possíveis é uma perda óssea mais acelerada. “Eu tenho uma preocupação maior de ter uma prática diária de exercício físico. Isso colocou para mim a necessidade de tomar mais consciência sobre o cuidado com o meu corpo”, descreve Campos. Para quem experimentou as versões mais antigas dos remédios e se mantém em tratamento até hoje, as consequências são mais evidentes: numa cirurgia odontológica recente, Eduardo Barbosa perdeu os dentes superiores e tem dificuldade de fazer um implante dentário em função exatamente da perda óssea. “Por mais que a gente tenha hoje todo um arsenal de medicamentos e exames, que melhoram um pouco a qualidade de vida, a gente tem muitas sequelas”, relata.
A clareza de que não apenas a qualidade de vida como a própria sobrevivência depende de políticas públicas sobre as quais não se tem total controle é um fio condutor da experiência de quem vive com HIV
E as eventuais dificuldades que podem surgir em relação ao tratamento não são só individuais. Embora ainda não haja dados sistematizados, pesquisadores e militantes da área suspeitam que o efeito da crise sanitária atual sobre o tratamento de HIV/Aids pode não ter se dado apenas em situações isoladas, como a de Eduardo Barbosa. “Temos fontes que relatam impactos complicados da pandemia de Covid-19 sobre a Aids”, diz Veriano Terto Júnior, vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), citando, como exemplos, casos de atrasos em consultas e resultados de diagnóstico, além da redução do número de testes. “O atraso significa afastamento das pessoas do sistema de saúde. Ter perda de pessoas no sistema e abandono de tratamento pode ser um efeito que a [pandemia de] Covid-19 traga, gerando um aumento nos casos e mortalidade de Aids no Brasil”, alerta.
A clareza de que não apenas a qualidade de vida como a própria sobrevivência depende de políticas públicas sobre as quais não se tem total controle é um fio condutor da experiência de quem vive com HIV. Essa foi, de alguma forma, a motivação da organização de movimentos sociais de pessoas soropositivas que, desde o final da década de 1980, passaram a pressionar, acompanhar e mesmo ajudar a executar a política de Aids. E, ainda hoje, esse sentimento pauta as trajetórias individuais. “Só o que me assusta é não ter acesso ao meu medicamento. Porque é isso que me dá tranquilidade de seguir vivendo, de que não vou ter nenhuma complicação em função do HIV”, diz Jefferson Campos. Ele conta que, pelo grau de informação que sempre teve, desde que recebeu o diagnóstico do HIV, nunca sentiu medo de morrer. Sabia que tinha direito a um tratamento que é cientificamente seguro e capaz de lhe permitir uma vida sem maiores riscos em função da Aids, mas sempre soube também que isso dependia da disponibilidade contínua das medicações que, se não fossem garantidas pelo Estado, seriam impagáveis para ele e para a maior parte da população. Campos reconhece que um direito já consolidado e garantido em lei é mais difícil de ser retirado, mas o momento da conjuntura nacional não lhe inspira segurança. “A gente passou a ter uma instabilidade política no país, beirando o contexto do autoritarismo, e a visão histórica nos permite saber que determinados direitos, mesmo conquistados, podem ser desfeitos”, afirma.
Com uma experiência pouco traumática – tratamento sem efeitos colaterais, acolhimento da família e amigos e nenhum caso de preconceito explícito em função da sua condição de soropositivo –, Campos diz que, no geral, sua tendência é esquecer o HIV e “seguir a vida”. “Eu casei, somos sorodiscordantes [quando o parceiro não tem o vírus da Aids], queremos ter nossos filhos, temos projeto profissional e acadêmico. Nesse sentido, a vida segue normal. Mas eu tenho o pavor de que, por alguma instabilidade política, meu direito ao medicamento possa estar ameaçado”, reforça. Além disso, diz, os projetos de futuro também dependem de estratégias que não podem desconsiderar a existência do HIV. Ele se deparou com essa questão recentemente, quando começou a planejar um doutorado no exterior. “Todos os lugares que eu pude pesquisar como possibilidade de vida acadêmica fora do país não têm acesso gratuito ao medicamento [de HIV]”, diz. E questiona: “Eu estou tranquilo porque tenho acesso ao meu tratamento. E se deixar de ter?”.
Nessa busca, ele se deu conta ainda de outro problema: países que impõem restrições à entrada de pessoas soropositivas. De acordo com um relatório da Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, em 2019, 11 “países, territórios e áreas”, entre eles Ucrânia e Indonésia, exigiam testes ou divulgação de estado sorológico de pessoas com HIV, baseando-se nesses resultados para proibir a permanência de curta ou longa duração. Outros 18, como Angola, Austrália, Cuba e Israel, impunham restrições de entrada, permanência ou residência, seguindo os mesmos critérios. Um terceiro grupo, que englobava 19 nações, se permitia deportar estrangeiros em função do HIV – aqui, Egito, Síria e Rússia são alguns exemplos.
E os entrevistados desta reportagem que vivem com HIV há muito tempo testemunham que essas barreiras não são apenas geográficas. “Hoje, se cuidando, você não precisa adoecer, não precisa desenvolver Aids, se fizer o seu tratamento com adesão normal. Tudo isso evoluiu. Mas a questão da discriminação e do estigma parece que ainda está paralisada lá atrás, há 40 anos”, resume Silvia Almeida. Giacomini concorda: “Eu vejo jovens de 23, 25 anos que não viveram os anos 1980, mas que, quando recebem o diagnóstico, se remetem diretamente àquela cara da Aids que as pessoas tinham quando o Cazuza foi exposto na capa da Veja. O discurso de que se pegar não tem nada é diferente do impacto. E o impacto do diagnóstico ainda é o mesmo porque o estigma, o preconceito e a discriminação com as pessoas vivendo com HIV ainda são os mesmos”. Exatamente por isso, segundo Eduardo Barbosa, a primeira bandeira de luta do movimento de Aids que sobrevive nos dias de hoje continua ser contra esse cenário. “O estigma ainda é muito forte”, reforça.
Nem todos têm tratamento
Também no Brasil, apesar de uma redução muito significativa, ainda se morre de Aids
Ao longo dessas quatro décadas, mais de 30 milhões de pessoas morreram de Aids no mundo e, ainda hoje, de acordo com Marcelo Soares, não existe um único país que não tenha casos da doença. De acordo com as Estimativas Globais de Saúde de 2019, produzidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), apesar do destaque para o crescimento dos problemas crônicos, como cardiopatias e diabetes, naquele ano a Aids ainda ocupava o 9º lugar no ranking das doenças que mais matam no mundo. Segundo Terto Júnior, calcula-se, “numa perspectiva conservadora”, que cerca de 12 milhões de pessoas contaminadas não têm acesso a medicamentos. “Isso significa que elas vão adoecer e morrer de Aids”, lamenta – mesmo com todo o desenvolvimento científico e tecnológico pelo qual esse campo passou.
“Já morreu quase dez vezes mais pessoas de HIV do que de Covid-19 no mundo até hoje e ainda vai continuar morrendo muita gente de HIV depois de a gente ter controlado a Covid”
Marcelo Soares
Também no Brasil, apesar de uma redução muito significativa, ainda se morre de Aids. Em 2019, último ano de que se tem dados oficiais concluídos, 10,5 mil óbitos foram registrados tendo a doença como causa básica. Se comparado à mortalidade que seguiu uma curva crescente até o começo do tratamento com antirretrovirais, em 1996, a queda é substantiva. O trauma da tragédia sanitária gerada pela pandemia atual – que, até o fechamento desta reportagem, tinha matado mais de 607 mil brasileiros – também pode fazer esse número parecer pequeno. “O HIV mata muito mais devagar, gera uma doença de ação e desenvolvimento prolongados”, distingue Marcelo Soares, que compara: “Já morreu quase dez vezes mais pessoas de HIV do que de Covid-19 no mundo até hoje e ainda vai continuar morrendo muita gente de HIV depois de a gente ter controlado a Covid”. É verdade que, especificamente no caso do Brasil, hoje essa relação é invertida: em 20 meses morreu pelo novo coronavírus quase o dobro da quantidade de pessoas que vieram a óbito de Aids em 40 anos (pouco menos de 350 mil), o que, além de expressar a diferença de velocidade de ação das duas doenças, talvez reflita também a forma distinta como as duas pandemias foram enfrentadas no país.
Diferente da imagem povoada por artistas e gente das classes altas da década de 1980, hoje a Aids atinge principalmente grupos e populações vulneráveis
Os parâmetros, portanto, precisam ser outros, principalmente a análise do que justifica a permanência da mortalidade por uma doença que, apesar de não ter cura, hoje é perfeitamente tratável. “Temos uma média de 27 a 30 pessoas morrendo de Aids diariamente no Brasil”, alerta Veriano Terto Júnior, que completa: “Isso dá a dimensão de que esse ainda é um problema grave de saúde pública”. De acordo com o Sistema de Mortalidade do DataSUS, no bloco das doenças infecciosas e parasitárias, o HIV foi o responsável pela causa específica do maior número de mortes em 2020, com mais do que o dobro de óbitos da segunda causa – os dados, claro, ainda não contabilizam a Covid-19.
Uma das chaves para entender esse cenário talvez seja a mudança do perfil epidemiológico que a doença sofreu ao longo desses anos, não apenas aqui: diferente da imagem povoada por artistas e gente das classes altas da década de 1980, hoje a Aids atinge principalmente grupos e populações vulneráveis. Na verdade, segundo Terto Júnior, mesmo naquela época essa era mais uma imagem midiática do que um retrato da realidade. Por isso, levar o tratamento a todos os soropositivos e interromper os óbitos pela doença ainda são desafios no mundo e no Brasil. “As preocupações se deslocaram, mas persistem do ponto de vista do número de infecções, da utilização dos serviços de saúde e da emergência diagnóstica, que permanece em função da alta mortalidade sustentada por diagnósticos tardios”, resume Nemora Barcellos. Sobretudo depois do protocolo que determina o início do tratamento logo após o diagnóstico – o que, no Brasil, aconteceu em 2013 –, identificar a contaminação pelo HIV o mais rápido possível é fundamental para reduzir o risco e garantir uma vida melhor. Aliás, tal como os medicamentos, os testes para detecção de HIV também evoluíram muito e, além de estarem disponíveis nas unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), alguns fornecem o resultado na hora.
Rovena Rosa/ABr
Balões em homenagem ao Dia Mundial da Luta contra a Aids, 1º de dezembroFoto: Rovena Rosa/ABr
Hoje os números mais preocupantes dessa epidemia no Brasil recaem novamente sobre os homossexuais masculinos, classificados como HSH, homens que fazem sexo com homens. Mas nem de longe essa trajetória foi uma linha reta. Afinal, no Brasil e no mundo, o perfil epidemiológico da Aids sofreu muitas mudanças, chegando, em alguns momentos, a escancarar os riscos que cercavam famílias heterossexuais e eram escondidos pelo preconceito: houve períodos em que mulheres casadas, em relacionamentos monogâmicos, foram focos principais de campanhas de informação sobre a doença, porque os números mostravam que elas estavam crescentemente sendo contaminadas pelos maridos que contraíam o vírus em relacionamentos extraconjugais. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicado em dezembro do ano passado, em 2019 apenas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste as relações homo e bissexuais foram responsáveis pela maioria das contaminações. Em todas as outras, ainda que com uma vantagem muito pequena, prevaleceram as transmissões pelas relações hetero. No consolidado nacional, no entanto, o crescimento maior se dá entre HSH: dados de 2018 mostravam que as infecções por HIV cresciam nesse segmento, atingindo 18,4%, uma proporção 46 vezes maior do que na população em geral.
Outros elementos ajudam a montar esse perfil: entre 2009 e 2019, também segundo o boletim do Ministério da Saúde, houve uma queda de 51% na proporção de casos entre pessoas brancas, enquanto, entre as negras, a diminuição foi de 36,4% e 17,6% entre as pardas. A faixa etária de 20 a 34 anos concentrou 52,7% dos casos entre 2007 e junho de 2020. Tanto o número de infecções quanto o de óbitos continuam mais altos no Sudeste, mas as diferenças regionais apontam uma maior mortalidade no Norte e Nordeste: enquanto a taxa de pessoas mortas por Aids no Brasil caiu de 5,8 para 4,1 por 100 mil habitantes entre 2009 e 2019, os estados do Acre, Pará, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba tiveram aumento desses coeficientes. O boletim do Ministério da Saúde destaca os casos do Acre, que dobrou esse número de 1,1 para 2,2 óbitos por 100 mil habitantes e, principalmente, o do Amapá, que subiu de 0,6 para 5,8. “Hoje em dia a Aids é caracterizada por [atingir] pessoas mais pobres, populações mais vulneráveis econômica e socialmente. Ela afeta mais negros do que brancos, como qualquer problema de saúde pública. E tem o agravante das identidades e comunidades sexuais, como populações de trans e prostitutas, que são muito impactadas pela Aids e têm um outro tipo de vulnerabilidade, pelos estigmas relacionados à sexualidade”, resume Terto Junior.
Em relação à desigualdade regional, uma exceção que persiste nesse cenário é o Rio Grande do Sul. Numa tabela que lista a situação do HIV/Aids nas cidades com mais de 100 mil habitantes, a partir dos indicadores de taxa de detecção, mortalidade e primeira contagem de CD4 (células que vão sendo eliminadas pelo HIV e que, quando muito reduzidas, indicam que o diagnóstico não foi precoce), o boletim de 2020 do Ministério da Saúde mostra que seis dos 20 municípios com pior situação no ranking pertencem ao Rio Grande do Sul – de acordo com Nemora Barcellos, quase um quarto dos diagnósticos no estado identificam pessoas com CD4 inferior a 200, o que significa um estágio avançado da doença, que dificulta o tratamento. Também na hierarquia das capitais, Porto Alegre só está em situação mais desfavorável do que Belém. “No Brasil você tem diferentes epidemias. Tem uma epidemia que cresce no Norte, uma epidemia que nunca se reduziu na região Sul, duas regiões onde se mantém uma mortalidade persistente”, resume.
Desafios da assistência
Tudo isso apesar do sucesso da Política brasileira de combate à Aids. E as razões são várias. Por um lado, Barcellos analisa que os serviços de saúde “ainda não são ideais” para o acompanhamento das pessoas soropositivas. Sem negar a importância da descentralização promovida pelo SUS, ela explica que a vantagem de se ter uma atenção básica territorializada, próxima da realidade do usuário, pode se tornar um obstáculo quando se trata de um diagnóstico de HIV. “A assistência se aproxima do indivíduo, mas isso tem alguns aspectos que não são totalmente favoráveis, principalmente pelo medo de ser reconhecido pela doença mais próximo de sua casa”, explica Barcellos.
A preparação do sistema para uma efetiva articulação entre a atenção básica e as média e alta complexidade, além da relação indissociável entre prevenção e assistência, são outros desafios que o SUS enfrenta para garantir uma melhor qualidade de vida aos pacientes de HIV/Aids – a socióloga Cristina Camara lembra, inclusive, que esse deveria ter sido um aprendizado para a pandemia de Covid-19, que enfrentou problema semelhante com a falta de leitos de internação, por exemplo. “As pessoas eram infectadas, adoeciam e morriam rápido, então você tinha que ter um contínuo do acompanhamento disso”, explica Camara, referindo-se à pandemia de Aids. Eduardo Barbosa aponta um aspecto complementar: muitos que, como ele, sobreviveram à infecção tendo vivido a pior fase da epidemia, hoje demandam maior atenção especializada. “Eu preciso de otorrino, de oftalmo, de nutricionista, de endocrinologista… O SUS é o meu ‘plano de saúde’. E a falta de profissionais de saúde, a terceirização e precarização dos serviços são dificultadores”, diz.
Desinformação e conservadorismo
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Para além (e antes) da assistência, outra “barreira” que Barcellos identifica ao controle da Aids no Brasil hoje é o conservadorismo. “A iniciação sexual é muito mais precoce nas populações menos favorecidas, onde ainda há a cultura de que ter um filho é o que te faz adulta. Então, você teria que começar a trabalhar questões de sexualidade com dez anos pelo menos”, defende, apontando a importância da educação sexual nas escolas e outros espaços. “Mas o conservadorismo trabalha num outro sentido, ele argumenta que se você não fala você não estimula [no caso, o sexo], o que é uma inverdade absoluta”, completa.
“O conservadorismo crescente é um obstáculo principalmente para a prevenção, mas em certa medida também para o tratamento porque afasta as pessoas de procurarem ajuda”
Veriano Terto Junior
Terto Junior concorda: “O conservadorismo crescente é um obstáculo principalmente para a prevenção, mas em certa medida também para o tratamento porque afasta as pessoas de procurarem ajuda. Atualmente, a Aids é uma doença basicamente de transmissão sexual. Num país onde a sexualidade tende a ser apagada das agendas institucionais e de governo, isso tem consequência para a transmissão. Sem poder falar sobre sexualidade a gente avança pouco”, opina, reforçando que esse é um obstáculo também para o controle da sífilis e outras DSTs. “Todo esse contexto conservador impede que se fale sobre saúde sexual e reprodutiva em escolas, na mídia, em vários locais”, diz. E lamenta: “Isso estimula a ignorância e quem paga são as pessoas mais vulneráveis. Quem vai ter a gravidez indesejada muitas vezes são meninas que já vêm de uma geração de outras mulheres que também tiveram gravidez indesejada e precoce”.
Marco Bianchetti/Unsplash
Contexto de conservadorismo, que condena a educação sexual nas escolas e outros espaços, é obstáculo na luta contra a AidsFoto: Marco Bianchetti/Unsplash
Eduardo Barbosa também ressalta que esse cenário tem se agravado muito, mas ele alerta que a concessão ao conservadorismo já tinha começado a atravessar a política de Aids há mais tempo. E, nesse caso, seu testemunho é como ex-diretor do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde no período de 2005 a 2013, onde, “em nome da governabilidade”, ele diz ter vivenciado situações de censura a materiais de campanha – voltados para prostitutas e público LGBT – ainda no governo Dilma Rousseff. Barbosa também relata que foi chamado a se explicar no Congresso Nacional sobre uma cartilha que tematizava a redução de danos para usuários de drogas e apresentava ilustração de uma relação sexual. “Eu sempre acreditei no tripé ‘assistência, prevenção e direitos humanos’ [para o combate à Aids]. Mas faz um tempo já que a gente descaracterizou essa parte dos direitos humanos”, lamenta.
No caso específico da Aids, o vice-presidente da Abia destaca ainda o quanto esse contexto impede que as pessoas saibam que existem outras formas de prevenção além do preservativo. Ele se refere principalmente à Prep, sigla para Profilaxia Pré-Exposição, que consiste em pessoas que não têm o HIV tomarem, preventivamente, uma combinação de duas das drogas usadas no tratamento dos soropositivos. “É como se fosse uma barreira porque, como você já está com a droga no organismo, na hora em que o vírus tenta invadir, as chances de ele ser neutralizado são altíssimas”, explica Soares. Como parte da política brasileira de Aids, os medicamentos da Prep também são fornecidos pelo SUS. “Tem que discutir com esses jovens que existem outros métodos [de prevenção] para que eles sejam mais autônomos. Mas o ideal seria que essas escolhas fossem melhor informadas, fossem escolhas mais conscientes. E não é o que a gente tem visto”, resume
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/12/2021
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