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terça-feira, 10 de novembro de 2020
Compostagem gera alimentos mais saudáveis e economia para produtores
Por Juliana Stern
Cerca de 50% dos resíduos gerados em São Paulo poderiam ser transformados em adubo para agricultura familiar da cidade;
A reciclagem diminui custos para os produtores e promove a oferta de alimentos mais saudáveis;
Cerca de 10 mil toneladas de resíduos são recolhidas na capital paulista diariamente.
O investimento em compostagem, que é a reciclagem de resíduos orgânicos, pode ser uma das respostas para melhorar o acesso da população à alimentos mais saudáveis e a diminuir custos de produção de agricultores.
É o que defendem especialistas da Campanha São Paulo Composta, Cultiva, iniciativa do Instituto Pólis, apoiada por mais de 54 organizações, que tem como intuito melhorar as políticas que envolvem a gestão desses resíduos na cidade.
Durante a pandemia, o número de pessoas que não podem pagar por alimentos de uma dieta mais saudável chegou a três bilhões mundialmente, de acordo com a ONU. No Brasil, um estudo recente da Embrapa Hortaliças e do Instituto Brasileiro de Horticultura (IBRAHORT) acompanhou o consumo domiciliar de hortaliças durante a pandemia e revelou que 36% dos consumidores brasileiros sentiram a diminuição da quantidade e qualidade dos produtos disponíveis.
O composto resultante da reciclagem dos resíduos orgânicos, quando utilizado como adubo, devolve os nutrientes e melhora a saúde do solo. Esse material beneficia a produção agrícola pois aumenta a capacidade de infiltração de água e faz com que cresça o número de microrganismos e outros pequenos animais, importantes para manter a fertilidade da terra.
O composto também contribui com a redução de erosões e mantém a temperatura e os níveis de acidez do solo, o que diminui a incidência de doenças nas plantas.
“Ao estimular a vida no solo, o composto favorece os agricultores que optam pelo sistema orgânico de produção”, explica o especialista em gestão ambiental urbana André Biazoti, assessor técnico da campanha São Paulo Composta, Cultiva. “A utilização do composto substitui o uso de fertilizantes químicos e fortalece as plantas, reduzindo sua suscetibilidade a pragas e fazendo reduzir o uso de agrotóxicos para controle biológico”, completa.
Relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que analisou 12 mil amostras de alimentos entre 2017 e 2018, mostra que, no geral, 23% dos alimentos testados tinham agrotóxicos proibidos ou acima do volume permitido. Das variedades de verduras, legumes e frutas testadas, o pimentão apresentou um dos índices mais preocupantes: oito em cada 10 tiveram resquícios de fertilizantes proibidos ou acima do limite.
Agrotóxicos e insumos químicos podem estar associados a efeitos crônicos no corpo – como cânceres, más-formações congênitas, distúrbios endócrinos ou neurológicos – cujo diagnóstico pode ocorrer em meses ou até décadas após a exposição. A constatação é do Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, divulgado em 2014.
Economia
A compostagem também pode significar economia aos produtores, o que impactaria no preço final dos alimentos, amentando o acesso da população a produtos saudáveis. “No Brasil, 70% dos alimentos consumidos pela população são produzidos pela agricultura familiar e pequenos produtores”, enfatiza Biazoti. “A ampla distribuição do composto feito a partir da reciclagem de resíduos orgânicos não só reduziria os custos com menos uso de fertilizantes como poderia aumentar a qualidade da safra”, defende.
Na cidade de São Paulo, cerca de 80% das unidades de produção agropecuária são propriedades de pequeno porte, com forte presença da agricultura familiar segundo levantamento da Prefeitura. Avaliação da Campanha São Paulo Composta, Cultiva indica que mais de 50% dos resíduos urbanos gerados na capital paulista, que produz cerca de 10 mil toneladas diárias, poderiam ser destinados à compostagem.
Campanha São Paulo Composta, Cultiva | A Campanha São Paulo Composta Cultiva é uma iniciativa do Instituto Pólis, em parceria com mais 54 organizações da sociedade civil, que busca aumentar o nível de comprometimento do governo municipal de São Paulo com as políticas públicas que envolvem a reciclagem dos resíduos orgânicos na cidade, como sobras de alimentos e poda. A ação preparou cartas-compromisso, destinada aos candidatos aos cargos nos poderes legislativo e executivo da capital paulista. Saiba mais em: www.polis.org.br/projeto/sp-composta-cultiva/
Sobre o Instituto Pólis | Organização da sociedade civil (OSC) de atuação nacional, constituída como associação civil sem fins lucrativos, apartidária e pluralista
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/11/2020
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