agua potavel 300x221 Água tratada, um gargalo a ser vencido
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Melhorar o acesso à água potável e, consequentemente, a qualidade de vida de milhares de pessoas que ainda morrem por doenças de veiculação hídrica é um desafio a ser vencido por governos do mundo inteiro. Às vésperas do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, o Brasil não tem muitos motivos para se orgulhar.
Na Rio+20 houve reconhecimento de que a água está no centro do desenvolvimento sustentável, sendo critica e importante também as questões de saneamento nas três dimensões do desenvolvimento sustentável – econômica, social e ambiental. Duas iniciativas recentes revelam a importância da cooperação quando se trata de garantir o abastecimento de água tratada, qualquer que seja a situação.
A Unicef, braço da ONU para a infância, montou na Síria uma operação em larga escala de distribuição para mais de 10 milhões de pessoas – quase metade da população – toneladas de hipoclorito de sódio, solução com porcentual de cloro ativo na faixa de 2,0% a 2,5%, para tratamento da água. Por causa da guerra civil, os estoques de cloro estão em níveis considerados críticos, tornando o acesso à água de qualidade um desafio em muitas regiões do país. Com essa estratégia de fornecimento de cloro, a ONU pretende evitar doenças como diarreia e cólera, enfermidades transmitidas por via hídrica.
Em São Paulo, no litoral norte, o governo do Estado e a Sabesp, distribuíram, em fevereiro, hipoclorito de sódio para a população de São Sebastião desinfetar áreas e objetos atingidos pelas enchentes, uma forma de evitar doenças e o agravamento de casos da dengue.
Os dois exemplos acima mostram que mesmo em situações limites é possível garantir a qualidade da água que chega às torneiras e atuar de forma preventiva para evitar a proliferação de doenças. Em condições normais, o desafio é promover a cooperação para levar água tratada a 100% da população, evitando a morte de milhares de pessoas por doenças que já deveriam ter sido banidas das estatísticas de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada dia 3.900 crianças morrem devido à água suja ou falta de higiene. Ainda de acordo com a OMS, 88% das mortes por diarreia são devidas ao saneamento inadequado.
Dono de 12% de toda a água doce do mundo, o Brasil apresenta dados alarmantes que expõem a precariedade do saneamento e do abastecimento. Apenas 20 dos cem municípios analisados por um estudo do Instituto Trata Brasil oferecem água tratada para toda a população. O mesmo estudo, que foi divulgado este ano, informa ainda que o investimento em saneamento ainda é pequeno – corresponde a apenas 0,22% do PIB, quase um terço do que seria necessário, 0,63%.
As pesquisas expõem claramente que o saneamento é um dos gargalos a ser superado. A universalização do acesso ao abastecimento de água potável e saneamento e manejo de recursos de hídricos é uma das metas previstas na Agenda 21, documento gerado durante a Rio 92, realizada no Rio de Janeiro. Até 2020, estabelece o documento, toda a população do país deve ter acesso à água e à rede de esgoto. Esse compromisso foi ratificado na Rio + 20. Contudo, passadas duas décadas, o Brasil ainda está longe de atingir a meta da Agenda 21.
É importante, portanto, que o Dia Mundial da Água não seja somente mais uma data comemorativa, mas uma oportunidade para identificar os problemas e propor soluções, num esforço conjunto para reverter o quadro em que o país ainda em se encontra em termos de saneamento básico e manejo sustentável dos recursos hídricos. Vontade e interesse em cooperar e meios para melhorar o saneamento não faltam. Falta mais ação.
* Martim Afonso Penna é diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor)