juliana ok TERRAMÉRICA   Riscos e oportunidades climáticas
As empresas se arriscam a perdas econômicas pela mudança climática, afirma Juliana Campos Lopes. Foto: Cortesia IBC
As iniciativas para reduzir emissões climáticas nas empresas, principalmente mediante a eficiência energética, são amortizadas em no máximo três anos, segundo Juliana Campos Lopes, do Carbon Disclosure Project.
Santiago, Chile, 22 de outubro de 2012 (Terramérica).- Investidores e empresários se preocupam cada vez mais com os efeitos da mudança climática, sentidos em vastas regiões do planeta, e temem uma queda persistente no valor de suas operações. “Há claros sinais de que o tema está presente, e as empresas se arriscam inclusive a acumular perdas econômicas em consequência da mudança climática”, disse ao Terramérica a brasileira Juliana Campos Lopes, diretora para a América Latina do Carbon Disclosure Project (CDP).
Esta organização sem fins lucrativos promove a informação de empresas, investidores e cidades para transformar as atividades econômicas de forma a prevenir uma mudança climática perigosa. Trata-se de facilitar o diálogo entre investidores institucionais e empresas, para a entrega de informação sobre riscos e oportunidades que a mudança climática apresenta e de dados sobre emissões de gases-estufa, manejo da água e cadeias de fornecimento das maiores empresas do mundo.
Em nome dos grandes investidores, o CDP envia um questionário solicitando informação às empresas mais cotadas em bolsas de valores. Hoje, mais de 655 investidores globais empregam a solicitação de informação do CDP para tomar suas decisões. A organização também tem programas para empresas e governos locais.
TERRAMÉRICA: Por que é importante os investidores e as empresas adotarem padrões ambientais?
JULIANA CAMPOS LOPES: Porque a mudança climática já é parte direta dos negócios. Temos o caso recente das companhias automobilísticas japonesas que sofreram grandes perdas pelas inundações que afetaram sua cadeia de fornecimento na Tailândia. Esta é uma visão do ponto de vista de risco, mas também é possível converter esse risco em oportunidades. Para muitas empresas que adotam padrões para reportar informações na área de clima ou da própria pegada de carbono é uma forma de acesso a novos mercados e ter vantagens competitivas. Muitos mercados restringem o ingresso de produtos que não apresentem sua pegada de carbono, o que é uma forma de cumprir obrigações de algumas regiões, como Europa ou Estados Unidos, que já exigem esses parâmetros.
TERRAMÉRICA: Qual o ritmo de adoção destes padrões na América Latina?
JCL: Em matéria de regulação não temos muitas iniciativas, mas no âmbito dos países há alguns compromissos de redução de gases de efeito estufa, embora a discussão ainda não seja concludente. Porém, existe uma tendência clara para que as regulações sejam mais restritivas e também se começará a internacionalizar os custos ambientais nos preços de produtos e serviços. Este é o cenário mais geral que acaba por implantar uma forma de fazer negócios. As companhias da América Latina que já começam a reportar seus dados climáticos têm como principal benefício antecipar-se a esse cenário, seja em termos de regulação quanto de mercado. O questionário do CDP é um plano de ação que orienta a gestão de emissões, que gera ganhos, por redução dos custos e das perdas de energia. Tudo isto gera uma amortização.
TERRAMÉRICA: Quanto tempo essa amortização demora para ocorrer?
JCL: As iniciativas para reduzir emissões, principalmente mediante eficiência energética, são amortizadas no máximo em três anos. É preciso desmitificar a ideia de que a amortização destes investimentos é de longo prazo. São alguns dos benefícios que as empresas já estão reportando.
TERRAMÉRICA: Quais os padrões ambientais que vocês propõem?
JCL: O CDP recomenda as metodologias mais aceitas, com a família de normas ISO 14.000. A maioria das companhias tem operações em mais de um país, assim o benefício de uma norma internacional é que seja compatível e aceita em diferentes regiões. Também é utilizada para se ter uma visão comparativa, que é outra coisa que fomentamos: a criação de indicadores para medir a qualidade da gestão internamente e para oferecer esses indicadores aos investidores, que os empregam na análise da composição e portfólios de investimento.
TERRAMÉRICA: Onde estão centradas as emissões das empresas?
JCL: Entre 50% e 80% estão na cadeia de fornecimento. Então, todo este esforço de medir e reportar emissões pode ficar comprometido se não houver um olhar para essa cadeia.
TERRAMÉRICA: A consciência climática de investidores e empresários aumentou nos últimos tempos?
JCL: Sim, principalmente na medida em que o problema se torna mais crítico. Há claros sinais de que o tema está presente e as empresas se arriscam inclusive a perdas econômicas devido à mudança climática. Podemos citar as secas nos Estados Unidos, que levaram o preço dos grãos nos mercados internacionais a um pico. Tudo isto está gerando uma mudança de modelo. Agora devemos falar não apenas de mitigação, mas também de adaptação. A América Latina é, depois da África, a região que mais vai sofrer com a mudança climática, embora não seja a que mais contribui para causá-la. Uma característica da região é que, por exemplo, a maioria dos negócios na área agrícola se destina à exportação para mercados com critérios mais rígidos. Por isto, esse cenário leva a modificar a visão dos empresários e investidores regionais.
TERRAMÉRICA: Qual deveria ser o papel do Estado?
JCL: É muito importante em nível nacional quanto local. O setor privado se mostra cada vez mais ativo na construção desses parâmetros, mas justamente a falta de um consenso dos governos nacionais em nível global faz com que tenhamos uma abordagem muito fragmentada, e começam a surgir distintos parâmetros. Há muitas iniciativas de medição e relatórios de emissões, mas a ausência de um contexto regulatório leva a uma visão fragmentada que começa a causar inclusive algumas confusões. Um fator novo é o papel mais ativo dos governos locais. As cidades são as que sentem os maiores impactos da mudança climática e devem enfrentar o dia a dia da realidade de adaptação. Há aí um grande espaço de cooperação com o setor privado, porque tanto a mitigação como a adaptação exigem financiamento, por isso pode existir uma grande oportunidade para iniciativas público-privadas.

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FONTE : Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.

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Carbon Disclosure Project, em inglês
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.