cidades Relatório enfatiza importância da biodiversidade nas cidadesDe acordo com documento da CBD, até 2030 60% da população mundial viverá em áreas urbanas e 60% das futuras cidades ainda não estão construídas, o que pode gerar um grande impacto na biodiversidade e ecossistemas
Árvores para absorver o dióxido de carbono e melhorar a qualidade do ar, zonas úmidas para purificação de água, agricultura urbana: essas são apenas algumas das alternativas que podem ser adotadas nas cidades para torná-las mais sustentáveis. E é isso que aborda o novo relatório da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), apresentado nesta segunda-feira (15) na 11ª Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 11).
Segundo o documento, intitulado Panorama de Cidades e Biodiversidade (Cities and Biodiversity Outlook), até 2030 cerca de 60% da população mundial viverá em áreas urbanas, e das cidades existentes até lá, 60% ainda não estão construídas. Isso deve gerar um impacto na biodiversidade e nos ecossistemas em termos de perda de terras agrícolas para a urbanização, o que, por sua vez, pode criar uma séria ameaça à segurança alimentar.
O relatório cita que a Ásia será responsável por quase 50% do aumento de terras urbanas e as maiores mudanças ocorrerão na Índia e na China. Já a América Latina, cuja porcentagem da população que vive em cidades é de 80% e passará para 90%, se tornará, a mais urbanizada das regiões do planeta.
Por isso, o texto ressalta a importância de se unir conceitos de sustentabilidade e preservação da biodiversidade à criação de novas cidades e ao desenvolvimento das atuais. Além disso, se bem planejadas, as atuais e futuras áreas urbanas também poderão melhorar a sustentabilidade, promovendo métodos de desenvolvimento de baixo carbono e eficientes na utilização de recursos.
E apesar do rápido e desordenado crescimento pelo qual a maioria das cidades está passando, o que dificulta a implementação de estratégias de sustentabilidade e conservação da biodiversidade, já existem exemplos adotados que contribuem para esses conceitos.
Alguns deles estão bem próximos dos brasileiros, como a abordagem inovadora de gestão de resíduos em Curitiba, no Paraná. No Programa Troca Verde, os habitantes de comunidades de baixa renda podem substituir seu lixo por frutas e vegetais nos 96 postos de troca da cidade. A cada mês, mais de 6,5 mil pessoas trocam uma média de 255 quilos de lixo coletado por 92 quilos de frutas e vegetais.
Curitiba ainda tem o Programa Biocidade, que une esforços para reduzir a perda da biodiversidade local, plantando espécies nativas na área urbana, estabelecendo áreas protegidas, preservando recursos hídricos e estimulando o transporte por bicicletas e à pé.
Outro exemplo brasileiro é o Programa de Segurança Alimentar de Belo Horizonte, que criou uma política abrangente para combater a fome e assegurar um fornecimento de alimentos saudáveis, melhorando a nutrição e reduzindo a pobreza e a mortalidade. O programa ganhou o prêmio Políticas do Futuro em 2009.
Mas há também outros exemplos por todo o mundo, como o estabelecimento de uma meta de redução de emissões per capita de 60% na cidade de Yokohama, no Japão, as ações para controlar as mudanças climáticas e melhorar a qualidade do ar na Cidade do México, o desenvolvimento da agricultura urbana em Kampala, em Uganda, e em cidades cubanas, e a criação de corredores verdes em Melbourne, na Austrália.
O documento finaliza com dez mensagens chave a respeito da sustentabilidade e da proteção da biodiversidade nas áreas urbanas: a urbanização é tanto um desafio quanto uma oportunidade para gerir os serviços ecossistêmicos globalmente; uma biodiversidade rica pode existir em cidades; a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos são capitais naturais essenciais; manter o funcionamento de ecossistemas urbanos pode melhorar significativamente a saúde e o bem-estar humanos; os serviços ecossistêmicos urbanos e a biodiversidade podem ajudar a contribuir para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas; aumentar a biodiversidade dos sistemas alimentares urbanos pode melhorar a segurança alimentar e nutricional; serviços ecossistêmicos devem ser integrados às políticas e planejamentos urbanos; o manejo exitoso da biodiversidade e serviços ecossistêmicos deve ser baseado em um envolvimento em múltipla escala, multissetorial e de múltiplas partes; as cidades oferecem oportunidades únicas para aprender e educar sobre um futuro resiliente e sustentável; as cidades têm um grande potencial para gerar inovações e ferramentas de governança e, portanto, podem – e devem – liderar o desenvolvimento sustentável.
“A forma como as cidades são projetadas, a forma como as pessoas vivem nelas e as decisões políticas das autoridades locais definirão a sustentabilidade global futura”, concluiu Braulio Dias, secretário executivo da CBD.

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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.