Barcelona, Espanha, agosto/2012 – Nos tempos recentes predomina a insistência em uma aumentada importância da bacia do Pacífico. Justifica-se em grande parte esta persistente moda na inserção dos interesses de China e América Latina e nos vínculos asiáticos com a economia norte-americana, além da europeia.
Os mitos da globalização também contribuem para o reforço do mito que transforma. Em matéria de segurança, o Pentágono está colocando o grosso da frota nos portos do Pacífico, como se esperasse uma nova Pearl Harbor. Esta tônica, porém, contrasta com a história de cinco séculos e os dados do presente que reforçam a permanência da ligação atlântica.
Assim, deve-se considerar que o estabelecimento de uma plena zona de livre comércio entre os países do Tratado de Livre Comércio da América do Norte e da União Europeia (UE), o bloco resultante seria a maior região econômica do planeta, sem competição de qualquer aliança estabelecida entre os países do hemisfério ocidental com partes da Ásia.
Somente entre Estados Unidos e UE, o conjunto econômico seria o maior e mais próspero mercado, compreendendo mais de 54% do produto bruto mundial em valor absoluto e 40% em poder aquisitivo.
É preciso considerar que este intercâmbio birregional gera quase US$ 5 trilhões e emprega 15 milhões de trabalhadores. Este intercâmbio comercial representa 30% do total mundial, com um montante que chegou aos US$ 636 bilhões em 2011, aumento de 14% em relação ao ano anterior. O setor de serviços abarca 40% do intercâmbio mundial. Tanto no comércio quanto em serviços, cada uma das partes é a provedora mais importante e insubstituível da outra.
Estados Unidos e Europa são mutuamente a principal fonte e o principal destino dos investimentos estrangeiros diretos, mais de 60% do investimento interno total e mais de 75% do externo. Ocorre que os investimentos dos Estados Unidos na Holanda, durante a década de 2000-2010, foram nove vezes maiores do que os investimentos na China; os investimentos norte-americanos na Grã-Bretanha foram sete vezes maiores, e na Irlanda o triplo do que no gigante asiático.
Na mesma década, as empresas norte-americanas destinaram à Europa 60% de seus investimentos externos. Reciprocamente, os investimentos europeus nos Estados Unidos representaram quase 75% do total. Em cifras comparativas, os investimentos europeus dos Estados Unidos quadruplicaram os realizados em toda a Ásia.
No campo da ajuda externa ao desenvolvimento, a contribuição conjunta chega a 80% da global. Enquanto a população conjunta de mais de 800 milhões (501 milhões na Europa e 310 milhões nos Estados Unidos) representa menos de 12% da mundial, sua participação no produto mundial ultrapassa a metade: 28% da UE e 25% dos Estados Unidos.
Conjuntamente, Europa e Estados Unidos contribuíram com mais de US$ 100 bilhões na mesma década.
Voltando o olhar para o sul, embora o vínculo comercial entre Europa e América Latina seja comparativamente modesto, a dependência latino-americana da Europa e dos Estados Unidos não tem igual.
O segundo investidor na América Latina é a Europa. A UE e seus países-membros são os primeiros doadores em solo latino-americano. Um país emblemático, a Espanha, deve sua globalização às operações de suas empresas na América Latina. Sem o continente americano, o espanhol não seria a segunda “segunda língua” do mundo, com mais estudantes do que qualquer outro idioma, com exceção do inglês.
Enquanto se critica ciclos de aparente desdém dos Estados Unidos em relação à América Latina, com o atual, as águas sempre voltam ao seu curso e se efetua uma “redescoberta” do sócio (ou da vítima) natural.
Se os Estados Unidos podem ser acusados frequentemente de considerarem a Europa como aliada garantida e sócia econômica confiável, o certo é que quando a problemática europeia dispara os alarmes (como é o atual caso da crise da zona do euro), Washington reage e sabe distinguir onde estão suas prioridades e seus interesses.
Por tudo que foi dito, aplicável a outras dimensões, comprova-se seguramente a sólida existência desse triângulo que tem sua origem terminológica no mito de Atlantis. É mais, considera-se que este vínculo triangular continua tendo mais valor do que a vaga rede estendida nas duas margens do Pacífico, com resultado de diversos fatores (estratégicos e econômicos) que pouco têm a ver com a história e os vínculos humanos e sociais.
Nem a ascensão dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), nem a detectável inserção comercial asiática na América Latina serão suficientes para apagar mais de meio milênio de existência comum, compartilhando valores que dificilmente deixarão de pesar na permanência do triângulo Atlântico.
Se existe uma macrorregião idônea para as “alianças estratégicas”, na terminologia da UE, esta é a que compreende desde o Alasca até a Terra do Fogo, de São Petersburgo a Santiago do Chile, desde o Bósforo até a Califórnia, do Panamá a Gibraltar.
**************************
FONTE : Envolverde/IPS
* Joaquín Roy é catedrático Jean Monnet e diretor do Centro da União Europeia da Universidade de Miami (jroy@Miami.edu).
(IPS)
Os mitos da globalização também contribuem para o reforço do mito que transforma. Em matéria de segurança, o Pentágono está colocando o grosso da frota nos portos do Pacífico, como se esperasse uma nova Pearl Harbor. Esta tônica, porém, contrasta com a história de cinco séculos e os dados do presente que reforçam a permanência da ligação atlântica.
Assim, deve-se considerar que o estabelecimento de uma plena zona de livre comércio entre os países do Tratado de Livre Comércio da América do Norte e da União Europeia (UE), o bloco resultante seria a maior região econômica do planeta, sem competição de qualquer aliança estabelecida entre os países do hemisfério ocidental com partes da Ásia.
Somente entre Estados Unidos e UE, o conjunto econômico seria o maior e mais próspero mercado, compreendendo mais de 54% do produto bruto mundial em valor absoluto e 40% em poder aquisitivo.
É preciso considerar que este intercâmbio birregional gera quase US$ 5 trilhões e emprega 15 milhões de trabalhadores. Este intercâmbio comercial representa 30% do total mundial, com um montante que chegou aos US$ 636 bilhões em 2011, aumento de 14% em relação ao ano anterior. O setor de serviços abarca 40% do intercâmbio mundial. Tanto no comércio quanto em serviços, cada uma das partes é a provedora mais importante e insubstituível da outra.
Estados Unidos e Europa são mutuamente a principal fonte e o principal destino dos investimentos estrangeiros diretos, mais de 60% do investimento interno total e mais de 75% do externo. Ocorre que os investimentos dos Estados Unidos na Holanda, durante a década de 2000-2010, foram nove vezes maiores do que os investimentos na China; os investimentos norte-americanos na Grã-Bretanha foram sete vezes maiores, e na Irlanda o triplo do que no gigante asiático.
Na mesma década, as empresas norte-americanas destinaram à Europa 60% de seus investimentos externos. Reciprocamente, os investimentos europeus nos Estados Unidos representaram quase 75% do total. Em cifras comparativas, os investimentos europeus dos Estados Unidos quadruplicaram os realizados em toda a Ásia.
No campo da ajuda externa ao desenvolvimento, a contribuição conjunta chega a 80% da global. Enquanto a população conjunta de mais de 800 milhões (501 milhões na Europa e 310 milhões nos Estados Unidos) representa menos de 12% da mundial, sua participação no produto mundial ultrapassa a metade: 28% da UE e 25% dos Estados Unidos.
Conjuntamente, Europa e Estados Unidos contribuíram com mais de US$ 100 bilhões na mesma década.
Voltando o olhar para o sul, embora o vínculo comercial entre Europa e América Latina seja comparativamente modesto, a dependência latino-americana da Europa e dos Estados Unidos não tem igual.
O segundo investidor na América Latina é a Europa. A UE e seus países-membros são os primeiros doadores em solo latino-americano. Um país emblemático, a Espanha, deve sua globalização às operações de suas empresas na América Latina. Sem o continente americano, o espanhol não seria a segunda “segunda língua” do mundo, com mais estudantes do que qualquer outro idioma, com exceção do inglês.
Enquanto se critica ciclos de aparente desdém dos Estados Unidos em relação à América Latina, com o atual, as águas sempre voltam ao seu curso e se efetua uma “redescoberta” do sócio (ou da vítima) natural.
Se os Estados Unidos podem ser acusados frequentemente de considerarem a Europa como aliada garantida e sócia econômica confiável, o certo é que quando a problemática europeia dispara os alarmes (como é o atual caso da crise da zona do euro), Washington reage e sabe distinguir onde estão suas prioridades e seus interesses.
Por tudo que foi dito, aplicável a outras dimensões, comprova-se seguramente a sólida existência desse triângulo que tem sua origem terminológica no mito de Atlantis. É mais, considera-se que este vínculo triangular continua tendo mais valor do que a vaga rede estendida nas duas margens do Pacífico, com resultado de diversos fatores (estratégicos e econômicos) que pouco têm a ver com a história e os vínculos humanos e sociais.
Nem a ascensão dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), nem a detectável inserção comercial asiática na América Latina serão suficientes para apagar mais de meio milênio de existência comum, compartilhando valores que dificilmente deixarão de pesar na permanência do triângulo Atlântico.
Se existe uma macrorregião idônea para as “alianças estratégicas”, na terminologia da UE, esta é a que compreende desde o Alasca até a Terra do Fogo, de São Petersburgo a Santiago do Chile, desde o Bósforo até a Califórnia, do Panamá a Gibraltar.
**************************
FONTE : Envolverde/IPS
* Joaquín Roy é catedrático Jean Monnet e diretor do Centro da União Europeia da Universidade de Miami (jroy@Miami.edu).
(IPS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário