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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mudança climática: um passo adiante, outro atrás - Maurice Strong

Um inverno extremamente severo na América do Norte, Europa e China, a recessão e a preocupação com outros temas desviaram a atenção sobre uma ação preventiva contra a mudança climática, apesar do acordo de princípio sobre esta necessidade. Isso é particularmente certo nos Estados Unidos, onde o debate sobre a reforma sanitária e outros assuntos polêmicos reduziram a capacidade do presidente Barack Obama de assumir a liderança indispensável para enfrentar essa ameaça.

Na verdade, a conferência sobre mudança climática, realizada em dezembro em Copenhague, produziu boas e más notícias sobre este problema que coloca em risco a segurança e a sustentabilidade do planeta, e que exige uma urgente ação conjunta.

A boa notícia foi o consenso sobre a importância de reduzir as emissões de gases-estufa em níveis manejáveis e o progresso em alguns elementos fundamentais que um acordo internacional deverá incluir. Das más notícias, a mais significativa foi que ficaram claras e não resolvidas diferenças entre as posições das principais partes, sobretudo entre os países mais desenvolvidos e as nações em desenvolvimento.

Muito importante é a posição da China, a maior fonte de emissões, que nos últimos anos se converteu na economia com o mais rápido crescimento do mundo. Porém, a China contribuiu muito menos para o acúmulo de gases-estufa – e em menor proporção ainda se considerarmos essa contaminação por habitante – do que os Estados Unidos e outros países responsáveis pela maior parte da grave ameaça da mudança climática.

Devemos empregar o atual desgaste do apoio à ação contra a mudança climática como oportunidade para resolver as questões que dividem as posições e dar respostas às advertências dos cientistas, impactadas por recentes diferenças entre alguns deles. Um dos mais importantes resultados de Copenhague é que os países mais desenvolvidos tiveram, contra a vontade, de ceder à China e outras nações emergentes o papel político que lhes corresponde de acordo com suas crescentes dimensões econômicas. Assim, confirma-se que o centro geopolítico virou para a Ásia.

A China está comprometida em iniciativas que a converterão em líder de uma transição para uma economia com baixas emissões de carbono. Mesmo assim, uniu-se a outros importantes países emergentes – Brasil, Índia e África do Sul – para insistir que as ações dos países em desenvolvimento contra a mudança climática sejam voluntárias, enquanto o compromisso das nações mais desenvolvidas seja obrigatório. As possibilidades de acordo neste ponto se deterioraram desde Copenhague.

Uma questão primordial é colocar à disposição das nações em desenvolvimento o financiamento e o acesso à tecnologia que precisam para reduzir suas emissões e, ao mesmo tempo, expandir suas economias. Tanto a mudança climática como a crise econômica têm suas raízes nas insuficiências do sistema existente, que agora acentua dramaticamente as abomináveis consequências da brecha entre ricos e pobres. O investimento necessário para isso será de US$ 10 bilhões durante os primeiros anos e uma quantia muito maior a partir de 2020. Embora o número possa parecer pouco realista, é muito menor do que o que se gasta em conflitos militares, particularmente no Iraque e Afeganistão.

É necessária uma mudança fundamental no modo de pensar para superar este desafio. As nações sempre foram capazes de dar prioridade às ameaças à sua própria segurança. Os riscos que surgem da mudança climática constituem a maior ameaça à segurança jamais apresentada à comunidade mundial inteira. Por isso, são essenciais novos ímpetos para negociar um acordo obrigatório que estenda ou substitua o Protocolo de Kyoto, que expirará em 2012.

É um tremendo desafio que exigirá de todas as nações a aceitação de que os interesses de seus próprios povos só podem ser resguardados com uma cooperação que vá além de seus estreitos interesses nacionais.
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FONTE : O autor foi secretário-geral da primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em 1972, e o primeiro diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Direitos exclusivos IPS. Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

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