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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

"Fertilizar" os oceanos é a aposta para reduzir CO2 - 14/01/2009


Sob uma avalanche de protestos, um navio de pesquisa alemão carregado com 20 toneladas de sulfato de ferro partiu em direção à Antártica na última semana com o objetivo de injetar o material no fundo do oceano.

A idéia é incentivar o crescimento das algas nesta região pobre em nutrientes, para que capturem mais dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e, assim, mitiguem o aquecimento global. O experimento, batizado de Lohafez, em referência a palavra Hindu loha, que significa ferro, é visto por ambientalistas como uma violação à lei internacional.

Ainda não existem provas concretas sobre a eficiência de tal medida para o clima e nem mesmo das conseqüências para a biodiversidade marinha. Mas, segundo especialistas, um dos efeitos seria a redução de oxigênio na água, que poderia ser ocasionada pela elevada taxa de decomposição do fitoplâncton.

Apesar das críticas de ambientalistas, uma consulta realizada recentemente pelo jornal britânico "The Independent" com 80 cientistas renomados mostra que a maioria concorda que será preciso investir em projetos de geoengenharia, que forcem a absorção de CO2 pela natureza, como o de fertilização dos oceanos, para mitigar o aquecimento global.
Lohafez

A bordo do navio Polarstern estão 50 cientistas da Alemanha, Índia, Itália, Espanha, Chile, França e Reino Unido que partiram de Cidade do Cabo, na África do Sul, no dia 7 de janeiro, em direção ao mar da Escócia, entre a Argentina e a Península Antártica. Eles ficarão em alto mar durante as próximas oito semanas observando a reação dos organismos à colocação do ferro na água.

Os pesquisadores calculam que, se todo o Oceano Antártico fosse “regado” com sulfato de ferro, seriam removidos até um bilhão de toneladas de carbono da atmosfera a cada ano. Para os ambientalistas, contudo, não há justificativa científica para um projeto em tal escala.

A proposta surgiu no início da década de 90 e, desde então, cinco experimentos já foram realizados. Em 2007, a empresa Planktos levantou a ira de ambientalistas ao anunciar que colocaria ferro nas águas da costa das ilhas de Galápagos. Segundo as organizações ambientais, o projeto afetaria a base da cadeia alimentar do ecossistema, que são os plânctons, o que poderia trazer conseqüências devastadoras. Devido à má publicidade, a empresa fechou as portas e os planos para a costa do Equador nunca se concretizaram.

Moratória da ONU

Na Convenção de Diversidade Biológica das Nações Unidas realizada no ano passado, os 191 países que a compõe concordaram em fazer uma moratória contra todas as atividades de fertilização dos oceanos.

Segundo a Nature, diversas empresas dos Estados Unidos e da Austrália planejavam seqüestrar carbono desta maneira e, assim, vender as neutralizações no mercado de créditos de carbono.

Uma estimativa feita por especialistas em políticas marinhas dos Estados Unidos mostra que se as reduções de emissões de gases do efeito estufa promovidas pela fertilização dos oceanos geraria até US$ 110 bilhões em créditos de carbono. Porém, este tipo de projeto ainda não é aceito nos atuais esquemas de comércio.

Riscos ambientais

Os ambientalistas que fazem campanha contra o Lohafex argumentam que o experimento de 300 quilômetros quadrados não deveria receber permissão por não estar dentro das regras estabelecidas pela convenção - não é de pequena escala e nem está restrito ao litoral.

A diretora do Centro Africano para a Biosegurança de Johannesburg, Mariam Mayet, afirma que o projeto é retrógrado. Mayet tentou pedir ao ministro do meio ambiente da África do Sul que impedisse a saída do navio, porém não obteve sucesso.

O Instituto de Pesquisa Polar e Marinha de Alfred Wegener, responsável pelo Polarstern, nega que o experimento desrespeite a moratória das Nações Unidas.

Segundo a diretora do Instituto, Karin Lochte, o estudo irá analisar a biologia marinha, o fluxo de partículas de carbono e irá tirar dúvidas sobre o impacto a biodiversidade. “Estas são exatamente as informações que precisamos para dizer se um projeto em larga escala de fertilização dos oceanos é justificado”, disse à revista Nature.
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FONTE : Paula Scheidt, do CarbonoBrasil (Com informações da Nature, New Scientist e Wired)


(Envolverde/CarbonoBrasil)

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