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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
Restaurar 10% de áreas degradadas da Amazônia pode gerar receita de R$ 132 bilhões
Aproximadamente 2,6 bilhões de toneladas de CO2 podem ser retirados da atmosfera com a restauração otimizada
A Amazônia pode salvar a própria Amazônia. Isso é o que aponta o estudo sobre a restauração de áreas prioritárias da floresta, desenvolvido pelos pesquisadores Bernardo Strassburg, Paulo Branco e Álvaro Iribarrem. A pesquisa mostra que, se apenas 10% da área degradada da Amazônia fosse restaurada de forma otimizada, uma receita de até R$ 132 bilhões poderia ser gerada. Abrindo a possibilidade de novos financiamentos com essa receita.
Isso ocorreria porque, com a restauração priorizada, cerca de 2,6 bilhões de toneladas de Co2 seriam retirados da atmosfera. “Se você comercializa esse potencial crédito de carbono vindo dessas áreas, por exemplo, você tem um cenário que é bom para muita coisa ao mesmo tempo. Ou seja: você gera receita a partir de carbono obtido com a restauração”, explica Strassburg, que é diretor executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Ele ainda argumenta que é possível usufruir desse dinheiro em benefício da própria floresta.
“A gente sabe que mais ou menos metade desse valor seria destinado aos fazendeiros por custo de restauração, para os locais e para quem faz essa restauração. Mas ainda sobra 50%, são R$ 66 bilhões. Esse valor poderia ser usado para investir em política pública, para financiar programas de desenvolvimento sustentável, para buscar caminhos mais sustentáveis para o desenvolvimento da própria Amazônia”, defende o pesquisador.
Prioridades
A recuperação de áreas desmatadas e degradadas é uma prioridade para a superação de desafios globais, como a mitigação das mudanças do clima. No Brasil, a meta estabelecida através do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg, 2017) é de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa em todos os biomas brasileiros até 2030. Se considerarmos que a Amazônia Legal brasileira ocupa quase 60% do território nacional (IBGE, 2019), a recuperação florestal da região deve ser vista como uma questão, sobretudo, estratégica, tendo em vista as elevadas taxas de desmatamento e o alto potencial de regeneração natural do bioma.
Os resultados do estudo, entretanto, mostram que a restauração isolada, sem o planejamento de áreas prioritárias, pode ser uma escolha nada inteligente.
“Um estudo anterior ao nosso mostra que se restaurar 10% da Amazônia sem priorização, sem planejamento, o processo é muito menos eficiente. O custo é até 10 vezes mais efetivo se você seguir a priorização”, ressalta Strassburg. Ele ainda aponta que, se os gestores escolherem apenas pelo fator de custo, ou seja, por onde seria mais barato restaurar, ao invés de ir para fatores como clima ou biodiversidade, o resultado dessa restauração pode ser oito vezes menor. “Então, com o mesmo trabalho, ao invés de retirar 2,6 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera, como se fôssemos pelas áreas prioritárias, conseguiríamos apenas 330 milhões de toneladas. Estamos falando da mesma área, ainda restaurando os 10% do que foi perdido, a mesma dimensão de esforço, mas em locais diferentes por conta da prioridade”, destaca o diretor do IIS.
Critérios
Três critérios são utilizados para definir quais são as áreas prioritárias para recuperação florestal no Bioma Amazônia: 1. Conservação da biodiversidade, que visa a redução no risco de extinção das espécies ameaçadas e/ou endêmicas da Amazônia; 2. Mitigação de mudanças do clima, que busca otimizar o potencial de sequestro de carbono; 3. Retorno socioeconômico, que tem como objetivo desenvolver a restauração por meio de baixos custos e, ao mesmo tempo, aumentar a geração de emprego e renda na região. A ideia, então, é encontrar soluções balanceadas, simultaneamente, entre os três benefícios.
Nos casos de mudanças climáticas e potencial de retorno socioeconômico, as áreas prioritárias se concentram, em grande parte, no “arco do desmatamento” (região em que o desmatamento se concentra historicamente –território que vai do Oeste do Maranhão e sul do Pará, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre). Por outro lado, para a redução do risco de extinção de espécies, as áreas prioritárias estão concentradas mais ao Norte e nas margens do rio Amazonas. Isso acaba por evidenciar uma relação de “perde-e-ganha” entre os critérios utilizados e aponta a necessidade de um cenário multicritério, como o utilizado pela pesquisa, que leva em consideração todas essas relações juntas. Ao comparar os custos desse cenário com outros, ele se mostrou extremamente vantajoso, representando uma economia de aproximadamente R$ 43 bilhões por ano.
Além disso, a priorização ‘multicritério’ oferece subsídios para a tomada de decisão para definir por qual área começar a recuperação florestal. Como consequência, se torna de grande utilidade no processo de construção e aprimoramento de políticas públicas e também em processos de tomada de decisão no âmbito do poder público, do setor privado e da sociedade civil.
“O interessante desse estudo é que ele reforça, realça e quantifica o impacto gigantesco que a restauração pode trazer para esses desafios locais e globais quando feita de forma planejada. Além disso, a gente consegue quantificar e mapear e, a partir disso, atuar diretamente nas escolhas que os tomadores de decisão devem ter quando forem restaurar uma área. Isso porque a gente consegue quantificar os benefícios de cada área, ver qual, juntando os fatores, é mais benéfica de ser restaurada. Você mapear ajuda demais na tomada de decisão, porque mostra as prioridades e sai de algo genérico para algo concreto. Você passa a argumentar com dados”, defende Strassburg.
E quais são as áreas prioritárias?
Como resultado, a pesquisa conclui que há áreas prioritárias por toda a Amazônia. Algumas são mais importantes para a conservação da biodiversidade, clima, impacto social e, em alguns casos, são importantes para todos esses fatores juntos.
“Os resultados mostram que a restauração em regiões próximas a calha e foz do rio Amazonas, Bragantina no Pará e Colíder no Mato Grosso são de altíssima importância para a conservação da biodiversidade, enquanto que o Sudeste Paraense, Nordeste Mato-grossense e região de Ji-Paraná em Rondônia, tem alto potencial para sequestro de carbono”, destaca Strassburg, acrescentando que “tais regiões também seriam prioritárias para impactos socioeconômicos”.
Os mapas elaborados pela pesquisa também apontam por onde começar a implementação da recuperação, levando em conta os diferentes cenários descritos. É possível perceber, a partir da delimitação por estados, que há regiões de alta prioridade em toda a Amazônia.
“É interessante notar que todos os estados Amazônicos possuem regiões de altíssima prioridade para estes três critérios, reforçando a mensagem de que todos podem contribuir e se beneficiar de um programa de restauração em larga escala em áreas prioritárias”.
Sobre o Amazônia 2030
Como desenvolver a Amazônia, aproveitando de forma sustentável os recursos naturais? Para responder a essa pergunta, quatro reconhecidas organizações de pesquisa brasileiras se juntaram para fazer o mais completo plano de ações para a Amazônia dar um salto de desenvolvimento humano e econômico preservando seus recursos naturais até 2030. Trata-se do projeto Amazônia 2030. O projeto é uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro. Pesquisadores tem gerado conhecimento a partir das experiências dos povos da floresta, empresários, empreendedores e agentes públicos. Esses documentos reunirão recomendações práticas, que poderão ser aplicadas por agentes privados e públicos.
#Envolverde
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