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domingo, 27 de fevereiro de 2022
Centro nacional que monitora desastres naturais teve menor orçamento da história em 2021, diz diretor
Por Mariana Alvim para a BBC News Brasil –
Em dezembro de 2015, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) entregava ao município de Petrópolis (RJ) uma moderna Estação Total Robotizada (ETR), um equipamento capaz de detectar a movimentação de terra e, assim, ajudar a detectar possíveis deslizamentos nos morros.
Mas, neste fevereiro de 2022, quando fortes chuvas levaram à morte de mais de cem pessoas no município, o equipamento não estava mais em Petrópolis, e sim em Cachoeira Paulista (SP), onde está uma unidade do Cemaden. Em 2017, as nove ETRs que a instituição havia espalhado para municípios piloto no país, incluindo Petrópolis, precisaram ser retiradas para manutenção e nunca mais voltaram, segundo conta o diretor do Cemaden, o físico Osvaldo Moraes.
“Essas estações requerem a calibração em laboratório, mas não tínhamos orçamento para isso. Preferimos retirá-las do campo do que deixá-las lá, depreciando-se. Não tínhamos recurso para fazer esta manutenção, e continuamos sem recurso”, relata Moraes.
O Cemaden é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e, segundo dados enviados pelo próprio centro à reportagem, este teve em 2021 o menor orçamento desde sua criação, em 2011. No ano passado, o Cemaden recebeu R$ 17,9 milhões de verbas federais; em 2020, havia recebido R$ 20,9 milhões; e em 2012, R$ 90,7 milhões (o primeiro ano de que se há registro). Estes valores são nominais, ou seja, não incluem as variações inflacionárias.
Orçamento anual do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) . Valores em R$ . Gráfico de colunas mostra decréscimento do orçamento .
Para 2022, Moraes diz que há a previsão de uma recomposição deste orçamento, com valor anual total de R$ 23 milhões.
A BBC News Brasil pediu posicionamentos para o MCTI e para o Ministério da Economia sobre os cortes orçamentários para o Cemaden nos anos recentes, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Segundo o diretor do centro, os anos iniciais trouxeram os maiores volumes de verbas; entre 2015 e 2020, os valores ficaram em um mesmo patamar, até a queda em 2021. O Cemaden foi criado em 2011, meses após chuvas, enchentes e deslizamentos deixarem mais de 900 mortos da Região Serrana do Rio de Janeiro, área da qual Petrópolis faz parte.
“Esse orçamento inicial foi muito alto porque se destinava exatamente a uma coisa que o Brasil não tinha antes. Era para fazer a compra e instalação da rede de monitoramento”, ressalva Osvaldo Moraes.
Alertas enviados em Petrópolis
Foto aérea mostra grande desabamento em meio a casas
Foto desta quinta-feira (17/2) mostra grande desabamento no morro da Oficina, em Petrópolis / REUTERS
Em resumo, a função do Cemaden é, com seus equipamentos, monitorar áreas de risco — não só para enchentes, mas também para seca, entre outros — e emitir alertas para o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), que então encaminha a sinalização para as defesas civis locais.
Segundo reportagem do jornal O Globo de quarta-feira (16/2), o comandante da Defesa Civil em Petrópolis confirmou que recebeu alertas do Cemaden para o município nesta semana e, na terça-feira (15), mensagens de SMS foram enviadas à população.
Entretanto, o diretor Osvaldo Moraes diz que “nem a Nasa (agência espacial americana)” seria capaz de prever tamanho volume de chuvas que ocorreu naquele dia, e nem o local exato dos desastres com precisão: “A gente sabia que iria acontecer na Região Serrana do Rio de Janeiro, mas não se seria em Petrópolis, e sendo em Petrópolis, em qual local.”
A meteorologista Camila Frez, que trabalha na defesa civil de um município do Rio, concorda: “Eu estava no monitoramento este dia (terça-feira), tinha sim previsão de chuvas moderadas a fortes, mas foi realmente excepcional. O núcleo de chuvas ficou sobre Petrópolis, foi realmente muito intensa.”
Frez explica que uma lei de 2012 estabeleceu que a proteção e a defesa civil são responsabilidade compartilhada entre governo federal, estados e municípios, embora cada um destes tenha suas funções específicas. Por exemplo, a União é responsável por estabelecer normas e critérios na área — como quais são os critérios para se decretar calamidade pública. Ela também, na prática, estrutura sistemas como o próprio Cemaden e a Interface de Divulgação de Alertas Públicos (Idap), que permite o envio de alertas à população através de SMS e TV por assinatura.
Os estados devem ajudar os municípios na elaboração de planos de contingência e mapeamento de áreas de risco, além de articular as ações da União e cidades em seu território. Na outra ponta, os municípios são responsáveis por mapear áreas de risco, realizar simulações com a população e fornecer assistência emergencial.
“Quando a gente pensa que grande parte dos municípios não possui equipes técnicas dentro das defesas civis municipais, o Cemaden ajuda muito, porque eles têm esses especialistas. E muitas vezes (as cidades) não têm investimento para adquirir equipamentos de monitoramento, então o Cemaden ajuda nisso também, porque eles possuem equipamentos hidrológicos, geológicos e meteorológicos”, explica a meteorologista, especialista em defesa civil.
Mas o próprio diretor da instituição diz que a cobertura do Cemaden é insuficiente para chegar a todos os municípios brasileiros.
“Nós temos no Brasil mais de 5 mil municípios, e a rede do Cemaden cobre apenas 30% deles. Não temos orçamento para fazer a expansão da rede de monitoramento. Esse é um gargalo”, diz Osvaldo Moraes.
Segundo o físico à frente da instituição, o orçamento dos últimos anos tem possibilitado a manutenção da estrutura que já existe — mesmo assim, não da forma ideal.
“Os equipamentos vão degradando com o tempo, a gente não consegue repor aqueles que a gente tem. E temos defasagem tecnológica: há equipamentos mais modernos que poderiam ser adquiridos, para substituir a atual rede.”
Grande torre em gramado
Radar meteorológico do Cemaden em Natal (RN) /DIVULGAÇÃO/CEMADEN
Holofotes e cifras que desaparecem pouco a pouco
Presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski diz que também há verbas insuficientes, e em alguns casos quase nulas, para a prevenção e gestão de desastres direcionada aos municípios — onde “tudo arrebenta” nessas situações.
“Qualquer fato ou ato sempre acontece em um município, e é onde o cidadão mora. A União está a milhares de quilômetros, o estado está na capital, então logicamente o poder mais próximo a quem o cidadão se dirige, é a prefeitura,” aponta Ziulkoski.
“O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil diz que a União compartilharia responsabilidades, forneceria assistência técnica e financeira. Só que a técnica é para inglês ver, e dinheiro, tem menos ainda.”
“O município não tem recurso, então não é feita a prevenção. Isso se repete. Infelizmente, temos que dizer que isso (tragédia como em Petrópolis) vai se repetir”, lamenta.
“Não adianta a lei dizer que é o município que tem que mapear áreas de risco. A pessoa não tem onde morar e vai para uma encosta, uma área de risco, e não há recurso para (o município) fornecer habitação em outra região com mais segurança.”
O presidente da CNM reclama também que a cada vez que um grande desastre natural acontece, políticos da esfera federal e estadual prometem verbas — que, segundo ele, desaparecem um pouco mais a cada ano.
“A quantidade vai diminuindo até que o resto nunca vem, fica em restos a pagar”, aponta Ziulkoski, lembrando do Fundo Especial para Calamidades Públicas (Funcap) que, na prática, “não tem mais nada de recurso”.
Um exemplo disso apareceu em um levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo no Portal da Transparência, o qual mostrou nesta quarta-feira (16) que apenas 47% do valor previsto (R$ 192,8 milhões de R$ 407,8 milhões) para o programa de prevenção e resposta a desastres do governo estadual do Rio foi de fato empenhado em 2021.
Em nota enviada à BBC News Brasil, o governo estadual do Rio afirmou que “mesmo com diversas restrições financeiras em 2021” investiu “mais de R$ 300 milhões em quase 30 ações relacionadas à prevenção de desastres e emergências na Região Serrana”.
“Neste ano de 2022, em apenas dois meses, o governo já empenhou R$ 115 milhões, 1/4 do que foi investido em 2021, com perspectiva de investir quase R$ 1 bilhão na região”, completa a nota.
Previsão de mais eventos extremos
Carro em meio a água, com casas ao fundo
Foto de dezembro de 2021 mostra inundação em Ilhéus (BA) / REUTERS
A meteorologista Camila Frez diz que embora os governos precisem promover medidas estruturais como impedir a moradia em áreas de risco, medidas não estruturais como a emissão de alertas são também “essenciais”.
“Como a gente não consegue eliminar totalmente os riscos, fazer todas as obras (estruturais), são as medidas não estruturais que vão minimizar os riscos de desastres”, diz a especialista, destacando a importância da população fazer seus cadastros para receber alertas em suas cidades, enviando uma mensagem de SMS gratuitamente para o número 40199 com o CEP do endereço.
Para Frez, soluções como essas, estruturais ou não estruturais, envolvendo governos e população, serão cada vez mais necessárias.
“Está aumentando o número e a frequência dos desastres naturais. Com o problema das mudanças climáticas, teremos cada vez mais eventos extremos acontecendo — da seca às chuvas intensas.”
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No Clima da Caatinga: projeto realiza plantio de 5.000 mudas na Reserva Natural Serra das Almas
O projeto “No Clima da Caatinga” (NCC), iniciativa realizada pela Associação Caatinga com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, realiza durante o mês de fevereiro o plantio de 5.000 mudas na Fazenda Gameleira, área que foi recentemente anexada à Reserva Natural Serra das Almas, unidade de conservação localizada na divisa entre os municípios de Crateús, no Ceará e Buriti dos Montes, no Piauí.
O objetivo do plantio é enriquecer a área da Fazenda Gameleira com 10 diferentes espécies de plantas nativas. A iniciativa do projeto está alinhada às ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global, bem como à década de recuperação dos ecossistemas. De acordo com o coordenador técnico da Associação Caatinga, Samuel Portela, as ações também reforçam a importância da ação para sequestro de carbono e segurança hídrica. “A iniciativa contribui para o sequestro e estoque de carbono, bem como para a segurança hídrica de comunidades do entorno da Reserva Natural Serra das Almas, na medida que as florestas contribuem para a disponibilidade de água”, explica. O “No Clima da Caatinga” também implementa as ações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, plano global de sustentabilidade lançado pelas Organizações das Nações Unidas em 2015.
A produção das mudas plantadas foi realizada em um viveiro da Associação Caatinga. A água utilizada para irrigação das mudas veio do Sistema Bioágua instalado no local, uma tecnologia sustentável que filtra a água utilizada na cozinha e nos banheiros da unidade de conservação. “As sementes foram compradas dos coletores locais, que foram capacitados por ações passadas do ‘No Clima da Caatinga’. O projeto, além de restaurar uma área degradada, gera renda para as comunidades que estão ao redor da Serra das Almas”, pontua Samuel.
Além disso, serão doadas 100 mudas para escolas do entorno da Serra das Almas, trazendo como foco o desenvolvimento e a conscientização das crianças com atividades de educação ambiental.
Sobre a Fazenda Gameleira
A Fazenda Gameleira contém uma área de 456 hectares. A compra do território ocorreu há cerca de 2 anos e é mais uma das conquistas da Associação Caatinga em prol da conservação e preservação do nosso ecossistema. A Fazenda Gameleira é de fundamental importância para consolidar os limites da RNSA. Com a incorporação do espaço, a Reserva passa a ter 6.285,38 hectares de área total, mantendo-se como a maior RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) do Ceará.
Sobre o “No Clima da Caatinga”
O projeto “No Clima da Caatinga” é uma iniciativa patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O projeto tem a finalidade de buscar a diminuição dos efeitos potencializadores do aquecimento global por meio da conservação do semiárido, a partir do desenvolvimento de um modelo integrado de conservação da Caatinga. Na atual etapa, que terá a duração de três anos, o projeto, que atua no semiárido nordestino desde 2011, vai promover ações que vão desde a restauração florestal até a distribuição de tecnologias sociais de convivência com o semiárido e adaptação às mudanças climáticas.
#Envolverde
Estudo comprova relação entre desmatamento e pobreza na Amazônia
Por ClimaInfo –
Desde Salles, o ministério do meio ambiente e muitos congressistas interessados em passar a boiada alegam que o desmatamento é necessário para o desenvolvimento e a qualidade de vida na Amazônia. Mas uma nova evidência científica prova que é exatamente o contrário: o desmatamento só tem gerado pobreza, conflitos sociais e inibido o desenvolvimento econômico da região.
Trata-se do Índice de Progresso Social (IPS) da Amazônia 2021, formado pela avaliação de 45 indicadores de saúde, saneamento, moradia, segurança, educação, comunicação, equidade de gênero e qualidade do meio ambiente.
Liderado pelo Imazon, o estudo revela que os 20 municípios com as maiores áreas de desmatamento nos últimos três anos tiveram IPS médio de 52,38 (em uma escala de 0 a 100), número 16% inferior à média dos 722 municípios da Amazônia Legal, que é de 54,59, e 21% menor que o índice do Brasil, de 63,29. “Todos esses municípios campeões de desmatamento também são, infelizmente, campeões da pobreza, da desigualdade e do baixo progresso social”, declarou Beto Veríssimo, do Imazon, à Piauí.
De forma geral, o estudo mostra que a situação da Amazônia está pior do que há três anos. A média da região a colocaria na 128ª colocação entre as 168 nações analisadas pelo índice, se a Amazônia fosse um país. Os 20 municípios que mais desmataram na região nos últimos três anos estariam em situação ainda pior, se fossem um país. A nota mais próxima seria da Nigéria, 52,65, que ocupa a 138ª posição entre 168 nações, a 30ª pior colocação. O Correio Braziliense publicou mais detalhes.
O IPS 2021 está disponível, de forma interativa, na plataforma Data Zoom Amazônia, lançada na última quinta (17/2). Desenvolvida pelo Departamento de Economia da PUC-Rio, dentro da iniciativa Amazônia 2030, a plataforma disponibiliza informações com base em fontes como INPE, Imazon, IBAMA, IBGE e MapBiomas na forma de rankings, mapas interativos, gráficos, relação entre variáveis e séries temporais. A plataforma foi notícia no Bom Dia Amazônia, Estação Cultura e Portal Amazônia.
Em tempo: Assis Moreira informa no Valor que vários ministros da Agricultura da União Europeia defenderam nesta segunda (21/2) a ampliação da lista de commodities proibidas de entrar no mercado europeu por estarem vinculadas ao desmatamento – entre elas cana-de-açúcar, milho e borracha. Segundo observadores ouvidos pela reportagem, os dois últimos ítens têm maiores chances de se juntar à lista de restrições.
#Envolverde
No Cerrado, mulheres bordam ipê e divulgam plantas medicinais para defender territórios
Por Nanci Pittelkow para o De olho nos ruralistas –
Entre os 27 movimentos do campo com nomes femininos, as retireiras do Araguaia e as raizeiras do Cerrado unem atividades tradicionais com o sustento da família e garantem a mobilização e conscientização das comunidades
Dois movimentos bem diferentes mostram como as mulheres têm se mobilizado no Cerrado pela manutenção do território e preservação do ambiente a partir dos conhecimentos tradicionais.
De um lado, a Articulação Pacari de Plantas Medicinais do Cerrado, conhecida como as Raizeiras do Cerrado, um movimento fundado em 1999 que reúne mulheres de seis estados em torno da manutenção do conhecimento tradicional das plantas medicinais. Do outro, as Retireiras do Araguaia, movimento das comunidades tradicionais no município de Luciara (MT) fundado em 2018, e que está conseguindo ampliar a renda das famílias com o resgate do artesanato.
De Olho nos Ruralistas divulgou na semana passada um levantamento inédito dos movimentos com protagonismo de camponesas representado nos próprios nomes: “Brasil tem pelo menos 27 movimentos de camponesas“. Pelo menos 27 estão em atividade. Além dessas articulações, os núcleos femininos e a liderança de mulheres em grandes organizações também têm crescido.
Retireiras escolhem o ipê amarelo como símbolo
Os retireiros e retireiras do Araguaia são de uma comunidade tradicional cuja essência é a criação de gado familiar em pastagens naturais, contrária à pecuária extensiva. Desde a década de 1940, esse modo de vida em Luciara é passado de pai para filho, com a figura masculina como protagonista. Mas, em 2018, as mulheres da comunidade resolveram se unir para se autoafirmar e fortalecer a luta junto aos homens.
“O bordado sempre foi passado de mãe para filha como instrumento de trabalho e sustento econômico”, explica Lidiane Taverny Sales, uma das integrantes das Retireiras do Araguaia. “Mas o bordado também fortalece a luta pelo território, por isso usamos o ipê amarelo como símbolo e marca, além de estampas que retratam plantas e animais da região”. Os bordados são únicos, nunca padronizados, sempre autorais.
Desde 2013 a comunidade vem sendo pressionada para desocupar suas terras, situação que se agravou sob o governo de Jair Bolsonaro. A reunião das filhas, irmãs, mães, netas e esposas de retireiros, a partir do compartilhamento do corte, costura e bordado permitiu repassar esses conhecimentos para gerações futuras, além de incrementar a renda e alinhar a política de resistência. “Estamos desde 2003 pedindo reconhecimento de território, todos os relatórios são favoráveis à nossa causa, mas as forças políticas e econômicas são mais fortes”, relata Lidiane.
Como o trabalho dos homens depende do fluxo das águas e da lida com o gado, com muitos períodos ausentes, sem salário fixo, as mulheres fornecem a administração da casa e a base do sustento, muitas com salário como funcionárias públicas ou aposentadas. “Refletimos que só existem retireiros porque existem as retireiras”. A atividade ainda é restritiva às mulheres pela divisão do trabalho.
“Encontrar mulheres no trato com o gado não é comum”, diz Lidiane, ainda que elas participem de tarefas como a vacinação dos bovinos, cuidados com a roça e pesquem para o consumo da família. Nas reuniões com os homens elas percebem que são receptivos, escutam o que as mulheres falam e não desanimam em relação à luta.
Os bordados são fonte de renda e instrumento de resistência das retireiras. (Foto: Reprodução)
Conhecimento das plantas medicinais une mulheres de seis estados
A Articulação Pacari de Plantas Medicinais do Cerrado (Raizeiras do Cerrado) surgiu em 1999 para divulgar o conhecimento do uso e coleta de ervas medicinais para preparos fitoterápicos. “Nossa bandeira é manter o Cerrado em pé e ajudar as comunidades nas sua condição de saúde e vida usando as plantas medicinais nativas”, afirma Lucely Moraes Pio.
Hoje, a articulação reúne mulheres de seis estados: Goiás, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia. Com apoio técnico de agrônomos e farmacêuticos, a Farmacopeia Popular do Cerrado, um documento referência para a discussão sobre esse conhecimento tradicional e que aponta a necessidade de políticas públicas específicas.
Uma das lutas dessas mulheres é tornar as práticas dos raizeiros e raizeiras do Cerrado Bem Cultural de Natureza Imaterial. O processo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Natural (Iphan) está em lento andamento desde 2009. Além das plantas medicinais, as raizeiras têm trabalhado para garantir renda com outros produtos extrativistas, como a comercialização de doces e frutas in natura e a criação de uma linha de cosméticos a partir do óleo de gueroba.
Todo essa articulação garante o manejo de mais de 300 espécies de plantas e ervas. Para a comunidade, as plantas são vendidas a baixo custo ou apenas distribuída.
Conhecimento das raizeiras foi compilado na Farmacopeia Popular do Cerrado. (Foto: Divulgação/Articulação Pacari)
De olho na resistência mostra o protagonismo feminino no campo
O De Olho na Resistência, programa semanal sobre os povos do campo do De Olho nos Ruralistas, abriu a temporada de 2022 falando sobre esses movimentos que surgiram ao longo das últimas quatro décadas pelas mãos das mulheres camponesas.
Desde seu início, o observatório vem acompanhando a trajetória dessas mulheres, tendo seu ápice na cobertura in loco da última Marcha das Margaridas, em 2019. O movimento reúne milhares de camponesas, indígenas e quilombolas em Brasília a cada quatro anos.
Além da cobertura jornalística, foi lançado em 2021 o programa De Olho na História, que conta a trajetória de várias dessas e outras mulheres. Desde dezembro, já foram homenageadas Dona Dijé, fundadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, e a líder sindical Maria Margarida Alves, cujo nome inspira a marcha.
| Nanci Pittelkow é jornalista. |
Foto principal (Rede Cerrado): a raizeira Lucely Moraes Pio faz parte do movimento surgido em 1999, que reúne saber tradicional com preservação ambiental
#Envolverde
Incêndios florestais podem aumentar 30% até 2050
Por Martin Kuebler para o DW Brasil –
Relatório prevê que focos em áreas verdes se tornarão mais frequentes e extremos, mesmo em lugares atípicos, como o Ártico. Especialistas pedem a governos que invistam mais na prevenção, não só no combate aos incêndios.
Bombeiros exaustos batalham há semanas contra o fogo no norte da Argentina. Alimentados por ventos fortes, pouca chuva e baixa umidade decorrente de uma seca excepcionalmente longa, os incêndios florestais já destruíram quase 8 mil quilômetros quadrados de floresta, pântano e terras agrícolas – uma área equivalente a cinco cidades de São Paulo.
“Isso nunca aconteceu conosco, nunca vivemos algo assim, fomos realmente vencidos”, afirmou o morador Jorge Ayala à agência de notícias AP no fim de semana. E a expectativa é que desastres como esses se tornem mais constantes e destrutivos, nos próximos anos e décadas.
Incêndios extremos – mais frequentes, intensos e cada vez mais localizados em áreas atípicas, como o Ártico – devem aumentar até 14% até 2030 e 30% até meados do século, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do centro ambientalista sem fins lucrativos GRID-Arendal, da Noruega.
A probabilidade de incêndios pode aumentar até 50% maior, até 2100. Mesmo se o mundo conseguir reduzir significativamente as emissões, provavelmente haverá um aumento dos incêndios florestais, afirma o relatório.
Pesquisadores têm cada vez mais relacionado esses desastres às mudanças climáticas causadas pela humanidade, um fato ressaltado pelo relatório, que liga a crescente gravidade dos incêndios a uma maior incidência de secas, temperaturas crescentes e fortes ventos.
“Ao mesmo tempo, a mudança climática é agravada pelos incêndios florestais, principalmente pela devastação de ecossistemas sensíveis e ricos em carbono, como turfeiras e florestas tropicais”, afirmam os autores do relatório.
À medida que esses ecossistemas são destruídos, eles liberam na atmosfera cargas de CO2 que estavam contidas, contribuindo ainda mais para o aquecimento global e reduzindo o potencial de captura de emissões futuras. “Isso transforma as paisagens em barris de pólvora, tornando mais difícil deter o aumento das temperaturas.”
Nações pobres são as mais afetadas
A terrível previsão já começou a se tornar realidade. Nos últimos anos, houve temporadas de incêndios cada vez mais destrutivas em locais como América do Norte, Brasil, partes da Europa, Sibéria e Austrália, que devastaram ecossistemas e comunidades em todo o mundo.
Essa destruição – de plantações e casas, da saúde humana e da natureza – mostra que incêndios florestais “afetam desproporcionalmente as nações mais pobres do mundo”, segundo o relatório. As consequências podem durar anos, após os incêndios serem extintos, sobretudo em partes do mundo que carecem de recursos para reconstruir e se adaptar ao ambiente em mudança.
“O fogo afeta o ar, o solo, a água”, lembra Glynis Humphrey, da Universidade da Cidade do Cabo, que contribuiu para o relatório. “O fogo interage de perto com o clima, em termos de emissões de carbono e padrões de chuva, e afeta a saúde dos seres humanos e do ecossistema. E afeta os empregos e a situação econômica em que os indivíduos se encontram.”
Foco na prevenção, não na resposta
Os cientistas alertam que a maior parte dos gastos governamentais globais relacionados a incêndios florestais é dedicada ao combate às chamas após o início do fogo, com menos de 1% destinado ao planejamento, prevenção e preparação. Para enfrentar esse risco crescente e diminuir o impacto de incêndios destrutivos, os governos precisarão “mudar radicalmente seus investimentos”.
“As reações atuais dos governos aos incêndios florestais muitas vezes colocam dinheiro no lugar errado”, afirma Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma. “Temos que minimizar os riscos de incêndios florestais extremos, estando mais bem preparados: investir mais na redução do risco de fogo, trabalhar com as comunidades locais, e fortalecer o compromisso global de combater a mudança climática.”
O relatório pede aos governos que destinem dois terços do financiamento ao planejamento, prevenção, preparação e recuperação. “É essencial que o fogo esteja na mesma categoria que a gestão de desastres com enchentes e secas”, disse Humphrey em coletiva de imprensa. “É absolutamente essencial.”
Conhecimento indígena
Embora parte desse financiamento deva ser destinada ao monitoramento e análise aprimorados, a fim de entender melhor como os incêndios florestais estão evoluindo num clima em mudança, e o que pode ser feito para gerenciar isso, os autores também destacam a importância do conhecimento indígena.
Isso pode incluir o uso de queimadas induzidas, ou “incêndios bons”, para reduzir o combustível capaz de alimentar chamas maiores. Outros métodos incluem criar aceiros ou usar chamas controladas para estabelecer paisagens em mosaico, que inibem a propagação de incêndios florestais; ou promover o crescimento de grama e plantas que ajudam a evitar a seca.
“Enquanto os países e as economias se desenvolvem, e a demografia muda, muitas dessas práticas tradicionais perdem força ou mudam ou diminuem com o tempo, ou dão lugar a práticas alternativas”, diz Peter Moore, que trabalhou como especialista em gestão de incêndios na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Em resposta a uma consulta da DW, Moore apontou que as práticas indígenas estão começando a ser reconhecidas e implementadas na Austrália, Canadá e oeste dos Estados Unidos, com organizações como a International Savanna Fire Management Initiative transplantando práticas indígenas tradicionais da Austrália para locais como Botsuana.
O ex-especialista da FAO enfatizou que a documentação e ter esse conhecimento amplamente acessível são as chaves para convencer o mundo do valor dessas práticas tradicionais, “ser capaz de mapear a experiência [indígena], de trabalhar com ela e reintroduzi-la de volta no meio ambiente”.
#Envolverde
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 22.02.2022
Queridos leitores do Blog "O Grito do Bicho”
Publicamos matérias superinteressantes e selecionadas que levam vocês a terem conhecimento das questões ligadas aos animais e meio ambiente no mundo todo. Podem ler no nosso blog www.ogritodobicho3.com ou diretamente nos títulos abaixo.
• Com avanço do desmatamento, animais do Cerrado e da Amazônia perdem até 90% do habitat
• Governo espanhol aprova lei que proíbe venda de animais em lojas
• Gato ajuda a encontrar corpo de tutor nos escombros em Petrópolis (RJ)
• Cachorro sobe no telhado após ter casa inundada e é resgatado durante temporal
• Ajudem os animais de Petrópolis
• Dra. Carla Sassi e toda equipe do GRAD em ação em Petrópolis
• Petrópolis tem pelo menos 50 animais resgatados em meio à tragédia
• Thomas Müller é mais um atleta envolvido em polêmica de violência contra animais
• Animais apreendidos na operação ‘Fake Bois’ estão morrendo de fome no AC
• Cão cai em bueiro e é resgatado por moradores em Fortaleza (CE)
• Cliente acusa pet shop de maus-tratos após flagrar "porquinho" ferido em gaiola
• Tragédia de Petrópolis: moradores voltam ao Morro da Oficina atrás de animais
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Abração a todos e obrigado pelo carinho com nosso trabalho.
sheila moura
Fragmentação florestal na Amazônia aumenta os efeitos negativos do aquecimento nas árvores
University of Helsinki*
Um novo estudo publicado na Nature Communications liderado por pesquisadores da Universidade de Helsinque, em cooperação com cientistas de todo o mundo, detalha o impacto que o aumento das temperaturas tem na floresta amazônica. O estudo mostra que árvores altas na Amazônia Central são impactadas por temperaturas máximas do sub-bosque acima de 35 graus.
Se as emissões muito altas de gases de efeito estufa (GEE) e CO2 dobrarem em relação aos níveis atuais até 2050, as temperaturas máximas na Amazônia provavelmente ultrapassarão 35 graus Celsius pelo menos 150 dias por ano até o final do século, de acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.
As copas das florestas antigas e intactas geralmente amortecem as altas temperaturas observadas no sub-bosque até certo ponto. No entanto, quando as temperaturas nessas camadas subjacentes atingem 35 graus, como geralmente acontece em agosto e setembro em muitas regiões, as árvores altas perdem suas folhas e galhos.
– Se o número de dias registrando essas temperaturas muito altas dentro das florestas aumentar, poderemos ver que as árvores altas sofrerão consideravelmente, diz o pesquisador de pós-doutorado Matheus Nunes , principal autor do estudo.
A “respiração” da Terra está em fluxo
Nas florestas tropicais, ainda há muitas incertezas no momento e nas causas de eventos sazonais, como queda e explosão de folhas. Compreender esses padrões é crucial para entender como os ecossistemas tropicais responderão às mudanças climáticas.
– Projetamos um experimento usando pesquisas repetidas usando um moderno scanner a laser para investigar a dinâmica sazonal das florestas amazônicas, diz Eduardo Maeda , coordenador do projeto financiado pela Academia da Finlândia.
Nas últimas décadas, tem havido um debate se as plantas na Amazônia são mais limitadas pela luz ou pela água. Este estudo fornece evidências de que o problema é mais complexo, pois demonstrou uma alta variabilidade nas camadas verticais da floresta. Em outras palavras, as árvores que ocupam as camadas inferiores, ou estratos, foram mais limitadas à luz, enquanto as árvores altas que ocupam os estratos superiores foram mais afetadas pelas variações climáticas.
Fragmentação florestal
Para complicar ainda mais, o estudo mostra que o desmatamento na região exacerba os efeitos negativos do aquecimento.
– As pequenas e fragmentadas florestas remanescentes tendem a ter temperaturas mais quentes no sub-bosque, por causa da maior penetração de luz na floresta, diz José Luís Camargo , coautor do estudo e diretor do “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais”, o estudo mais antigo da fragmentação de habitat na Amazônia Central.
As temperaturas mais quentes nesses fragmentos florestais remanescentes aumentam a pressão sobre as árvores altas, que fazem com que as árvores percam suas folhas e galhos por um tempo prolongado. Atualmente, estima-se que 176.555 km2 de florestas amazônicas estejam sob a influência de efeitos de borda. Se o desmatamento continuar e as florestas se tornarem mais fragmentadas, provavelmente veremos consequências graves e uma mudança em grande escala na forma como os ecossistemas tropicais respiram.
Fragmentação florestal na Amazônia aumenta os efeitos negativos do aquecimento nas árvores
Foto: Richard Bierregaard
História do estudo
Os cientistas há muito procuram entender se as florestas degradadas podem manter importantes funções do ecossistema, como capturar carbono da atmosfera para reduzir o aquecimento global, preservar o ciclo da água para manter as chuvas e temperaturas baixas e preservar a biodiversidade.
Um dos maiores e mais longos experimentos sobre os efeitos da fragmentação florestal foi iniciado em 1979 na Amazônia Central (perto de Manaus, Brasil) por uma equipe de cientistas liderada pelo pioneiro biólogo conservacionista Thomas Lovejoy , que faleceu em dezembro passado. Para o ‘Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais’ (BDFFP), Lovejoy e colegas trabalharam com agricultores locais – que estavam desmatando a floresta para a pecuária – para que uma série de fragmentos florestais ficasse intacta. Centenas de artigos científicos já foram publicados a partir do projeto, contribuindo para nossa compreensão dos efeitos da fragmentação do habitat nas florestas tropicais e sua capacidade de persistir e sustentar a biodiversidade.
Referência:
Nunes, M.H., Camargo, J.L.C., Vincent, G. et al. Forest fragmentation impacts the seasonality of Amazonian evergreen canopies. Nat Commun 13, 917 (2022). https://doi.org/10.1038/s41467-022-28490-7
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Henrique Cortez *, tradução e edição.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/02/2022
Avanço da agropecuária no Cerrado e na Amazônia reduz a biodiversidade
Desmatamento e da conversão de matas nativas – A maior parte das espécies perdeu entre 25% e 65% da área original de distribuição, sendo as espécies do Cerrado as mais impactadas
O aumento do desmatamento e da conversão de matas nativas, especialmente para a produção de soja e a pecuária, tem reduzido o habitat da maioria das espécies da Amazônia e do Cerrado.
Isso é o que mostra uma análise realizada pelo WWF-Brasil e parceiros que avaliou 486 espécies (183 aves, 101 anfíbios, 118 mamíferos e 84 lagartos e serpentes). Algumas perderam mais da metade da área original de distribuição. As maiores perdas estão no Cerrado.
Algumas das espécies ameaçadas são bem conhecidas pelos brasileiros, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que teve mais da metade de seu habitat perdido, e o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) escolhido pela Fifa como mascote oficial da Copa do Mundo de 2014. Em um período de cinco anos, o tatu-bola viu aumentar em 9% a cultura de soja dentro dos limites da sua distribuição, na região do Matopiba, no Cerrado.
A redução da diversidade de espécies está normalmente associada ao desaparecimento de ecossistemas e seus serviços ambientais. Como alerta o estudo, “o impacto sobre espécies associadas a áreas úmidas e matas de galeria como anfíbios, por exemplo, indica que estamos impactando também os recursos hídricos”.
Do total de espécies analisadas, 136 são endêmicas, com mais de 95% da área de distribuição restrita a esses biomas. Nesse caso, as perdas médias foram de 17% para a Amazônia e 35% para o Cerrado, o que é preocupante já que estas espécies não ocorrem em nenhum outro local.
Cerrado na mira da destruição
O bioma é a savana com maior biodiversidade do planeta, mas também um dos mais ameaçados. Nos últimos dez anos, o Cerrado perdeu 6 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo que cerca da metade disso (3,2 milhões de hectares) ocorreu no chamado “Matopiba”, que inclui partes dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“Além de já ter perdido mais da metade da sua cobertura original, o que restou no Cerrado encontra-se bastante fragmentado e, em muitos casos, degradado pela ação intensa do homem, criação de gado, fogo recorrente, invasão de espécies exóticas, dentre outros”, avalia Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. “É essencial a mudança de mentalidade das empresas e do governo: a destruição do ecossistema é desnecessária, pois já existem áreas suficientes para a expansão do agronegócio – que inclusive, já está sendo prejudicado com quebras de safras constantes por conta da degradação ambiental”.
De acordo com Frederico Machado, Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil, “o setor privado brasileiro já tem bons exemplos de como ampliar a produção, sem desmatar, e um deles é a Moratória da Soja na Amazônia. Acordo multissetorial que desde a sua assinatura promoveu drástica redução da destruição causada pela soja”. É necessário igual comprometimento do setor de soja com o Cerrado, assim como do maior esforço do setor pecuário em não desmatar.
Os dados do MapBiomas indicam que as principais atividades responsáveis pelo desmatamento e queima do Cerrado e da Amazônia são as produções de gado e soja. Até 2021, a agropecuária já ocupava mais de 40% do Cerrado (23,7% pastagem; 8,9% soja; 7,3% mosaico agricultura e pastagem), e 14% na Amazônia (13,5% pastagem; 1,2% soja) da área original destes biomas.
Sobre o estudo
O estudo foi realizado pela consultoria Gondwana, sob coordenação do pesquisador Cristiano de Campos Nogueira, e tem o objetivo de apresentar as consequências da perda de vegetação nativa para a biodiversidade do Cerrado e da Amazônia brasileira, além de acrescentar evidências para propor políticas públicas e ações de conservação das espécies destes biomas.
Para calcular o impacto da perda de habitat sobre a biodiversidade, os pesquisadores cruzaram mapas da distribuição de cada uma das espécies (disponíveis no site da IUCN) e os dados de uso do solo para o Cerrado e para a Amazônia (do MapBiomas).
Fonte: WWF-Brasil
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2022
Relatório aponta que mineradoras e investidores internacionais são cúmplices da destruição da Amazônia
Por Caio de Freitas Paes, Thiago Domenici, Agência Pública
Agência Pública
A quarta edição do relatório “Cumplicidade na destruição IV — Como mineradoras e investidores internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia”, lançado nesta terça-feira, 22, reúne uma série de dados e informações sobre o avanço dos interesses das grandes mineradoras sobre as terras indígenas no país desde 2020.
O relatório, feito em parceria entre a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a ONG Amazon Watch, também aborda o papel da indústria da mineração nas mudanças climáticas e na devastação da biodiversidade no Brasil. Além disso, o material expõe os impactos socioambientais da atividade sobre povos indígenas e suas terras, em especial na Amazônia.
Apib e Amazon Watch nomearam as empresas que lideram e financiam “a corrida pelo roubo dos recursos minerais, com o aval do atual governo brasileiro”, e tecem recomendações para pôr fim à “cadeia da destruição” nas Terras Indígenas. Entre as oito mineradoras destacadas no relatório estão as canadenses Belo Sun e Potássio do Brasil, operadas pelo banco canadense Forbes & Manhattan (F&M) e citadas ontem em reportagem exclusiva da Agência Pública.
As outras mineradoras citadas no relatório são: Vale, Anglo American, Mineração Taboca/Mamoré Mineração e Metalurgia (ambas do Grupo Minsur), Glencore, AngloGold Ashanti (veja, ao final da matéria, nota de Esclarecimento da AngloGold Ashanti sobre mineração em Terras Indígenas) e Rio Tinto. Segundo Apib e Amazon Watch, estas companhias “possuem pedidos ativos sobrepostos a Terras Indígenas no sistema da Agência Nacional de Mineração; têm histórico de impactos sobre territórios e povos indígenas no Brasil, em especial, na Amazônia; e possuem vínculos com corporações financeiras internacionais”.
À Pública, Rosana Miranda, assessora de campanhas da Amazon Watch, explicou que as informações da publicação pretendem orientar novos marcos regulatórios que freiem o avanço da mineração e do garimpo sobre as terras indígenas. “Uma das expectativas é trazer a discussão para o caráter central e urgente que precisa ter sobre mineração em terras indígenas num momento em que o Congresso tenta passar esse pacote de destruição, caso do PL 191 [que abre os territórios indígenas para a mineração e outras atividades extrativas]”.
Ontem, a Agência Pública revelou, a partir de um conjunto de documentos, bastidores dos negócios entre o governo Bolsonaro e o grupo Forbes & Manhattan, com foco sobre Belo Sun e Potássio do Brasil — duas empresas ligadas a este banco de investimentos de risco canadense.
A investigação revelou como um general de brigada e velho conhecido do vice-presidente da República Hamilton Mourão (PRTB) no Exército tem feito lobby para este grupo canadense aqui no país. Tanto Belo Sun quanto Potássio do Brasil estão entre as primeiras contempladas pela Pró-Minerais Estratégicos, uma política federal criada em março de 2021 voltada para mineradoras com problemas em seus licenciamentos ambientais — como no caso das duas companhias ligadas ao F & M.
Segundo o relatório, até 5 de novembro de 2021, Belo Sun seguia com 11 requerimentos minerários ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) com sobreposições em terras indígenas, todos para pesquisa de ouro. Os pedidos invadem áreas dentro das terras indígenas Arara da Volta Grande do Xingu e Trincheira Bacajá, respectivamente com 7 e 4 requerimentos da mineradora canadense.
Já a Potássio do Brasil detinha 19 requerimentos minerários ativos até 5 de novembro de 2021, com sobreposições em três Terras Indígenas. Desse total, 14 dos pedidos têm interferência sobre territórios dos povos Mura, 4 sobre terras dos Munduruku e um dos Kaxuyana. O relatório aponta a Terra Indígena Jauary como a mais impactada por esta mineradora.
Em 12 desses requerimentos, os relatórios de pesquisa não foram aprovados pela ANM. Em outros 4, a agência autorizou a prorrogação dos pedidos e informou desmembramento das áreas com interferência sobre terras indígenas. Um requerimento teve pedido de desistência homologado pela ANM.
Mineradoras do grupo F&M ameaçam indígenas e ribeirinhos, segundo relatório
Apib e Amazon Watch são enfáticas ao analisarem o projeto de mineração de ouro da canadense Belo Sun, ligada ao grupo F & M. “Será o maior projeto de exploração de ouro da América Latina — e o golpe final à região da Volta Grande do Xingu”, às margens da usina hidrelétrica de Belo Monte, como afirmam no relatório recém-lançado.
As organizações também repercutem comunidades atingidas pela proposta caso Belo Sun avance. “Eles estão usando o argumento que o Brasil está passando por uma crise, e que esse empreendimento (Belo Sun) é bom. Bom pra quê? Pra quem?”, diz um morador da Vila da Ressaca em Senador Porfírio (PA), assentamento da reforma agrária na área de influência do projeto.
O assentamento está no centro da disputa por trás de um acordo de Belo Sun com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), feito com apoio de um militar da reserva. Como revelado pela Agência Pública ontem (21), o general de brigada do Exército Cláudio Barroso Magno Filho reuniu-se, em nome de Belo Sun, com a presidência do Incra um dia antes da assinatura do acordo para a concessão de uso de áreas na Vila da Ressaca, para que a mineradora garimpe ouro.
O outro projeto minerário do grupo F&M na Amazônia se destaca por razões distintas, segundo Apib e Amazon Watch. “Mineradoras podem violar direitos indígenas muito antes de suas atividades entrarem em operação, e o caso da Potássio do Brasil é exemplar nesse sentido”, afirmam as organizações.
O recém-lançado relatório aponta que a mineradora canadense “não respeitou o direito de consulta às comunidades indígenas” do povo Mura atingidas por seu projeto, Potássio Autazes, no município de mesmo nome — a pouco mais de 100 km da capital Manaus (AM). Mais de 14 mil indígenas podem ser atingidos pela iniciativa, com risco de “contaminação de fontes de água essenciais para a vida das comunidades”, segundo Apib e Amazon Watch.
As entidades destacam ainda que a Potássio do Brasil “está descumprindo decisão judicial” em seus negócios recentes. As organizações referem-se a um contrato assinado entre a mineradora do grupo F&M e a construtora chinesa CITIC. Como revelado pela Pública, os executivos-chefe destas duas companhias reuniram-se com o vice-presidente Mourão em 2019 para discutirem o projeto. Desde então, a iniciativa avança e, hoje, é avaliada como “estratégica” para o Brasil, segundo o governo Bolsonaro.
Números impressionam
O relatório denuncia o excesso de requerimentos de pesquisa mineral protocolados na ANM com impacto em Terras Indígenas a partir de uma análise feita em parceria com o projeto Amazônia Minada, do Infoamazonia. Em 5 de novembro de 2021, o Amazônia Minada identificou 2.478 pedidos ativos e sobrepostos a 261 terras indígenas no sistema da ANM. Esses processos estão em nome de 570 mineradoras, associações de mineração e grupos internacionais. Juntos, eles tentam explorar uma área de 10,1 milhões de hectares em todo o Brasil, quase o tamanho da Inglaterra.
Segundo o relatório, até 5 de novembro de 2021, Belo Sun seguia com 11 requerimentos minerários ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) com sobreposições em terras indígenas
Segundo o relatório, até 5 de novembro de 2021, Belo Sun seguia com 11 requerimentos minerários ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM) com sobreposições em terras indígenas
A pesquisa encontrou um total de 225 requerimentos minerários ativos das mineradoras citadas no relatório, sobrepostos a 34 Terras Indígenas. A Vale lidera este ranking com 75 pedidos ativos, seguida pela Anglo American, com 65, e pelas duas empresas do Grupo Minsur (Taboca e Mamoré), com outros 35. Na sequência vêm Potássio do Brasil, com 19 requerimentos ativos, Rio Tinto, com 14, Belo Sun, com 11, Glencore, com 3 e AngloGold Ashanti, com 3. Os pedidos são para mineração de metais diversos, em especial cobre, ouro, níquel, sais de potássio, zircão, cassiterita, bauxita e diamante.
Os 225 requerimentos visam uma área total de 572.738 hectares, o tamanho do Distrito Federal. O Pará é o estado com a maior concentração de pedidos: 143 requerimentos sobrepostos a 22 Terras Indígenas.
As mineradoras destacadas no relatório receberam um total de USD 54,1 bilhões em financiamentos, do Brasil e do exterior, segundo Apib e Amazon Watch. No texto, as organizações afirmam que as corporações sediadas nos Estados Unidos continuam entre as principais financiadoras “cúmplices na destruição” no Brasil. Juntas, as gestoras financeiras Capital Group, BlackRock e Vanguard investiram USD 14,8 bilhões nas mineradoras com interesses em áreas indígenas e histórico de violações de direitos.
Rosana Miranda, assessora de campanhas da Amazon Watch, explica ainda que o relatório pretende pressionar as empresas que assumem compromissos formais de respeito aos povos indígenas, de respeito à sustentabilidade, a tornarem esses compromissos em ações concretas – “se colocando contra esse tipo de legislação”, explica.
Outra questão, segundo ela, é que o relatório objetiva “pressionar o capital internacional, pressionar esses outros atores e seus governos que regulam esses atores financeiros, para que eles coloquem limites na forma como esses investimentos chegam para essas empresas, para que adotem políticas mais restritivas com relação a investimentos que violam os direitos de povos indígenas e destruição da floresta”.
Reportagem originalmente publicada na Agência Pública
Esclarecimento da AngloGold Ashanti sobre mineração em Terras Indígenas
A AngloGold Ashanti informa que não opera e não tem interesse em operar em Terras Indígenas (TIs). Na década de 1990, a produtora de ouro solicitou requerimentos de pesquisa mineral em diversas regiões no país. Três dessas áreas posteriormente foram demarcadas como Terras Indígenas (TIs), o que levou a companhia a desistir das mesmas.
A decisão foi protocolada junto à Agência Nacional de Mineração (ANM) no final da década de 1990. No entanto, como não houve atualização do processo no sistema da ANM, a AngloGold Ashanti ratificou a retirada do requerimento de pesquisa em 21 de junho de 2021.
Atualmente, os investimentos da empresa no Brasil estão concentrados basicamente na expansão de suas minas localizadas em Minas Gerais e Goiás.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2022
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
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sábado, 19 de fevereiro de 2022
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
Instituto Akatu aponta as tendências de consumo consciente para 2022
Da adoção de estilos de vida de baixo carbono ao desejo de conexão com a natureza, confira os comportamentos que estão em alta no mundo
O ano de 2022 já está a todo vapor e, cada vez mais, o consumo consciente tem pautado as conversas e iniciativas de pessoas, marcas e instituições. A pandemia trouxe diversas adaptações nos comportamentos, e muitos consumidores começaram a repensar suas reais necessidades e hábitos cotidianos, seja por motivos financeiros ou por entenderem que suas ações geram impactos positivos ou negativos para eles mesmos, para a sociedade e para o meio ambiente. Essas mudanças em evidência representam algumas das principais tendências para a prática do consumo consciente neste ano. E, por isso, o Instituto Akatu — principal ONG do país dedicada à sensibilização e à mobilização para o consumo consciente — levantou algumas delas.
Confira:
Estilos de vida de baixo carbono vieram para ficar!
Muitas pessoas passam a compreender melhor a importância da adoção de hábitos diários que ajudem a combater a crise climática. De acordo com o relatório 10 Principais Tendências Globais de Consumo 2022, desenvolvido pela Euromonitor, 67% dos consumidores do mundo tentaram causar um impacto positivo no meio ambiente por meio de suas ações cotidianas no último ano.
A Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, produzida pelo Akatu em parceria com a GlobeScan, destaca a percepção por parte dos brasileiros de que nosso estilo de vida tem impacto na crise climática e de que estamos diante de um desafio enorme. No país, 8 em cada 10 respondentes veem os eventos climáticos extremos como incomuns, 5 em cada 10 consideram que eles são muito incomuns e alarmantes, e 86% desejam reduzir seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza.
Chamados de “agentes do clima”, os consumidores conscientes dos impactos de seus hábitos optam por escolhas mais sustentáveis no dia a dia, como reduzir o consumo de plástico de uso único, preferir produtos biodegradáveis, evitar o desperdício de alimentos, separar resíduos para reciclagem e exigir transparência e ação por parte das marcas e empresas.
Comprar itens de segunda mão está na moda!
Muitos consumidores querem viver de forma sustentável e, ao mesmo tempo, procuram alternativas com um custo mais acessível. Essas questões têm impulsionado a busca por itens de segunda mão: um levantamento do Sebrae destaca que, no primeiro semestre de 2021, foram abertos 48,58% brechós a mais em relação ao primeiro semestre de 2020 — maior crescimento na abertura de novos negócios no comércio de itens usados em seis anos.
“Ao comprar um item usado, o consumidor evita os impactos negativos associados à produção de um novo, colaborando, consequentemente, com a preservação dos recursos naturais. Ele ainda fomenta uma economia mais sustentável, que promove a extensão da vida útil dos produtos, e pode adquirir algo de qualidade por um valor mais acessível”, explica Bruna Tiussu, gerente de comunicação do Akatu.
Mais natureza, por favor!
Em 2021, muitas pessoas deixaram as capitais e se mudaram temporariamente para o interior ou para áreas rurais. Mas a tendência é que isso se torne algo permanente, principalmente com a continuidade do trabalho remoto. A busca por reconexão com o meio ambiente segue em alta na medida em que as empresas oficializam o home office — o que contribui para a redução do consumo de energia elétrica em escritórios e da utilização de meios de transporte que utilizam combustíveis fósseis. Segundo a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021, mais da metade dos brasileiros (55%) pretende trabalhar mais de casa no pós-pandemia. E, mesmo em áreas urbanas, uma parcela expressiva de moradores deve buscar um contato maior com a natureza.
Paixão e propósito, sim!
O equilíbrio entre vida pessoal e profissional nunca foi tão apreciado. Em 2015, apenas 12% dos consumidores do mundo priorizaram um tempo para si, o que dobrou para 24% em 2021. Já 42% sentem que podem fazer a diferença a partir das suas ações, como destaca o relatório da Euromonitor. A Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2021 também aponta uma mudança na percepção do consumidor neste sentido: para 56% dos brasileiros, a pandemia afetou significativamente prioridades gerais ou o que é pessoalmente importante, índice que sobe para 62% quando computadas apenas as respostas de mulheres.
“A busca por uma vida conectada com propósito inclui a prática de atividades que impactam positivamente a saúde física e mental das pessoas e o consumo de produtos e serviços que sigam a mesma linha, ou seja, que também gerem impactos positivos ou gerem menos impactos negativos que seus similares”, avalia Bruna Tiussu.
Controlar o bolso é preciso
O estudo Pinterest Predicts 2022, da plataforma de compartilhamento de imagens Pinterest, prevê que a busca por dicas de educação financeira terá um crescimento de 155%, enquanto a procura por dicas de investimento crescerá 195% em 2022. A ânsia por equilíbrio financeiro é obviamente um reflexo da decorrente crise financeira que atingiu — e ainda atinge — uma parcela significativa da população. De acordo com a pesquisa do Akatu e da GlobeScan, 62% dos brasileiros tiveram sua situação financeira afetada negativamente em 2021, e 70% afirmam que vão passar a economizar mais dinheiro na vida pós-pandemia.
A boa notícia é que a maioria dos consumidores está relativamente otimista com o futuro. O estudo da Euromonitor indica que 51% dos consumidores acreditam que terão melhores condições financeiras nos próximos cinco anos. E, se esse desenvolvimento vier acompanhado de hábitos mais conscientes de consumo, como dizer não ao supérfluo, gerar menos resíduos e evitar desperdícios, todo mundo sai ganhando.
Confira todos os detalhes sobre todas essas tendências aqui.
Sobre o Instituto Akatu
Criado em 15 de março de 2001, o Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para um novo jeito de viver com consumo consciente e mais bem-estar para todos. As atividades do Instituto estão focadas na mudança de comportamento do consumidor em duas frentes de atuação: Educação e Comunicação, com o desenvolvimento de campanhas, conteúdos e metodologias, pesquisas, jogos e eventos. O Akatu também atua junto a empresas que buscam caminhos para a nova economia, ajudando a identificar oportunidades que levem a novos modelos de produção e consumo — modelos que respeitem o ambiente e o bem-estar, sem deixar de lado a prosperidade. Confira.
#Envolverde
ONU-Habitat lança projeto com rede de 52 cidades-polo do Nordeste e Sudeste
A partir de fevereiro, os 52 municípios que fazem parte da área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) receberão capacitações para aprimorar seu planejamento urbano e promover o desenvolvimento sustentável. A ação é fruto da parceria entre o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Sudene e abrange a Rede de Cidades Polo (G52) – um grupo de municípios com papel de influência em suas regiões intermediárias segundo critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nos dias 21 e 22 de fevereiro, o projeto realiza seu primeiro evento. A oficina “G52: Cidades-Polo ampliando os marcos do desenvolvimento regional” terá o lançamento do projeto de implementação da estratégia territorial do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), por meio da criação de um espaço de intercâmbio e cooperação com prefeituras e especialistas sobre governança compartilhada, cooperação intermunicipal e gestão em rede.
O evento será realizado de forma online, via Microsoft Teams, às 10h dos dias 21 e 22. A programação inclui uma apresentação do projeto, oficinas temáticas sobre inovação e sustentabilidade financeira e a coleta de considerações sobre o trabalho em rede a ser desenvolvido. O evento é voltado para prefeitos, gestores, servidores, representantes da sociedade civil, do setor privado e academia. As inscrições podem ser realizadas neste link.
“Esse evento é importante para sensibilizar os municípios sobre os benefícios de atuação em conjunto para fortalecer as políticas públicas. Queremos criar uma sinergia para alcançar objetivos estratégicos relacionados às agendas globais de desenvolvimento sustentável”, ressalta a coordenadora do programa pelo ONU-Habitat Brasil, Luciana Tuszel.
O coordenador-geral de Cooperação e Articulação de Políticas da Sudene, Renato Vaz, destaca que o projeto nasce com o objetivo de fortalecer a capacidade dos municípios de desenvolver soluções para seus desafios de forma inovadora e compartilhada.
“Queremos aproveitar o potencial que o trabalho de várias instituições articuladas em rede oferece: aprendizado mais rápido, compartilhamento de melhores práticas, soluções inovadoras, ganho de capacidade institucional e ganhos de escala na implementação de soluções”, exemplifica.
Legenda: Identidade visual do projeto apresenta elementos da cultura e do contexto nordestinos comuns a diversas cidades contempladas
Foto: © ONU-Habitat
Identidade visual
Com o evento, o projeto também lança sua nova identidade visual. A marca faz referência a elementos da cultura e do contexto nordestinos – tais como os cactos, característicos do bioma da caatinga nordestina; as bandeirinhas das tradicionais festas de São João; a arquitetura vernacular e os geradores de energia eólica. Além disso, a logo destaca o “G52”, remetendo ao grupo de cidades-polo inseridas no projeto.
As ilustrações têm um tom lúdico e jovial, transmitindo alegria, positividade e força – o que dialoga com as cores fortes e fechadas que compõem a paleta. O azul predominante remete à identidade visual do próprio ONU-Habitat.
O projeto
Firmada em outubro, a parceria tem como objetivo contribuir com a implementação do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE). Para isso, a iniciativa promove políticas amparadas em modelos de governança compartilhada, e estimula as capacidades institucionais dos municípios em temas como planejamento regional, financiamento e desenvolvimento de projetos, governo digital e cidades inteligentes centradas nas pessoas.
A parceria também promoverá estratégias de comunicação e advocacy para posicionar a rede de municípios como referência regional para informação, difusão e implementação de iniciativas relacionadas ao desenvolvimento urbano sustentável.
Para a assessora de Cooperação Descentralizada do PNUD no Brasil, Ieva Lazareviciute, o fortalecimento das capacidades das 52 cidades-polo indutoras do desenvolvimento na região Nordeste vai possibilitar uma intensa troca de experiências entre estas cidades, além de sua interação com outras organizações no Brasil e no exterior. “Isso vai permitir o aprendizado coletivo e o contato com novos recursos financeiros e de conhecimento até então pouco acessados. Esta rede será, sem dúvida, uma experiência de grande repercussão para a implementação da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a partir das cidades”, complementa.
“Convidamos todas as prefeituras a se engajarem neste projeto como protagonistas e líderes do desenvolvimento regional. Estamos muito ansiosos pelas próximas etapas do projeto e com altas expectativas nos resultados a serem colhidos para toda região”, acrescenta Vaz.
Conheça os municípios – As 52 cidades são divididas entre os nove estados do Nordeste e dois do Sudeste. São duas em Alagoas (Arapiraca e Maceió), onze na Bahia (Barreiras, Feira de Santana, Guanambi, Ilhéus, Irecê, Itabuna, Juazeiro, Paulo Afonso, Salvador, Santo Antônio de Jesus e Vitória da Conquista), seis no Ceará (Crateús, Fortaleza, Iguatu, Juazeiro do Norte, Quixadá e Sobral), sete no Maranhão (Bacabal, Balsas, Caxias, Imperatriz, Presidente Dutra, Santa Inês e São Luís), cinco na Paraíba (Cajazeiras, Campina Grande, João Pessoa, Patos e Sousa), quatro em Pernambuco (Caruaru, Petrolina, Serra Talhada e Recife), sete no Piauí (Bom Jesus, Corrente, Floriano, Parnaíba, Picos, São Raimundo Nonato e Teresina), três no Rio Grande do Norte (Caicó, Mossoró e Natal), duas em Sergipe (Aracaju e Itabaiana), duas no Espírito Santo (Colatina e São Mateus) e três em Minas Gerais (Governador Valadares, Montes Claros e Teófilo Otoni).
*Créditos da imagem destacada: Legenda: Salvador é uma das onze cidades da Bahia que fazem parte da área de atuação da Sudene, escolhidas por exercerem um papel de influência em sua região seguindo critérios do IBGE
Foto: © Roberto Huczek/Unsplash
#Envolverde
Coalas entram na lista de espécies ameaçadas de extinção
Por CicloVivo –
Há mais de 10 anos, ambientalistas alertam sobre a necessidade de proteção aos coalas
É oficial: o governo australiano declarou que os coalas entraram para a triste lista doas espécies ameaçadas de extinção, graças ao desmatamento e incêndios florestais que mataram diversos animais e destruíram seu habitat, principalmente nos últimos 2 anos.
“Ainda há tempo para salvar esta espécie icônica se a listagem servir como um ponto de virada na conservação dos coalas. Precisamos de leis mais fortes e incentivos aos proprietários de terras para proteger suas casas na floresta”, afirmou Sussan Ley, ministra do Meio Ambiente da Austrália.
A ministra aceitou a aceitou a recomendação do comitê científico de espécies ameaçadas para que as populações de coalas tivessem seu status de conservação atualizado. Esta mudança inclui três regiões da Austrália (Queensland, New South Wales and the Australian Capital Territory).
Ações urgentes para evitar a extinção
coalas extinção
Entrar nesta lista significa que a situação da espécie é reconhecida como urgente e a esperança é que esta mudança traga ações efetivas para proteger a população de coalas. É importante ressaltar que os coalas estão na lista de animais vulneráveis há cerca de 9 anos e, desde então, a situação só piorou.
Em 2011, o CicloVivo já havia publicado uma matéria sobre cientistas australianos que pediam atenção para a possibilidade de extinção dos coalas. Naquela época, pesquisadores já pediam que a espécie entrasse na lista de animais ameaçados.
Em janeiro o governo australiano anunciou um investimento de US$ 50 milhões para ajudar a espécie, mas, apesar de comemorado por ambientalistas, o investimento é pequeno frente às causas que levaram os coalas à ameaça de extinção: perda de habitat por causa de urbanização e desmatamento, mudanças climáticas, incêndios florestais e doenças.
A decisão só veio depois que incêndios florestais de grandes proporções vitimaram muitos animais e tornaram evidente a ameaça à sobrevivência dos coalas, um dos símbolos da Austrália.
Agora, a ministra Ley declarou que, além de alterar o status de conservação dos coalas, o país pretende finalmente adotar um plano nacional de recuperação.
Plano de recuperação para os coalas
O plano de recuperação define as principais ameaças ao coala e as ações necessárias para evitar sua extinção. Alguns planos foram desenvolvidos e apresentados ao longo dos últimos 10 anos, mas nenhum foi efetivamente colocado em prática.
Na Austrália existem cerca de 200 planos de recuperação, desenvolvidos para as mais diversas espécies.
Alexia Wellbelove, gerente sênior de campanha Humane Society International (HSI), disse que a decisão de Ley deve levar os governos australianos a fazer mais para lidar com o estado de declínio do meio ambiente do país. Além da HSI, a WWF-Australia e a International Fund for Animal Welfare participam ativamente das ações para defesa da espécie no país.
Para a ambientalista, a decisão precisa ser seguida por uma ação sobre a revisão das leis ambientais nacionais. “Até que tenhamos fortes padrões ambientais nacionais que especifiquem áreas proibidas em torno de habitats críticos para espécies como o coala, a destruição do habitat continuará e isso deve ser resolvido com urgência”, disse Wellbelove
#Envolverde
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 17.02.2022
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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo do dia 16.02.2022
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
Pesquisa identifica esgoto e combustível fóssil no ambiente da Antártica
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
MesmoPesquisa identifica esgoto e combustível fóssil no ambiente da Antártica,ecodebate,ambiente da Antártica,poluição no ambiente da Antártica,impacto humano no ambiente da Antártica sendo um dos menores continentes da Terra — seus 14 milhões de km² representam menos de 3% da superfície terrestre —, a Antártica é um dos poucos ambientes ainda preservados do mundo e, por isso, serve como sentinela para as demais regiões do planeta.
Daí o alerta embutido em estudos recentes, publicados por um grupo de pesquisadores do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que revelam o impacto da atividade humana na região da Baía do Almirantado, uma das mais movimentadas do continente antártico.
A consequência do aumento dessa interferência tem sido a ocorrência de elementos e substâncias associadas ao uso do petróleo e do descarte de esgoto.
A partir de amostras de sedimento marinho, coletadas pelos pesquisadores entre os anos 2000 e 2020, que refletem a variabilidade ambiental ao longo dos últimos 60 anos, os pesquisadores utilizaram três diferentes classes de biomarcadores químicos para evidenciar as possíveis mudanças ambientais que ocorreram naquele ambiente durante aquela escala de tempo. Os materiais foram estudados pela equipe do Laboratório de Geoquímica Orgânica e Poluição Marinha (LaGPoM), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros Oceânicos da UFPR.
Os resultados foram publicados nas revistas científicas Marine Chemistry, Science of The Total Environment e Organic Geochemistry.
Um dos elementos analisados foi o fósforo. O fósforo tem origem natural no ambiente antártico, estando relacionado às alterações físicas das rochas e aos solos — abundantes em material orgânico produzido por aves —, mas também está presente no esgoto. Quando há atividade humana, há descarte de esgoto no ambiente e, consequentemente, os níveis de fósforo devem ser maiores do que os encontrados em períodos mais antigos, anteriores à presença frequente do homem na Antártica.
Pesquisa identifica esgoto e combustível fóssil no ambiente da Antártica
Sedimentos foram recolhidos na Baía do Almirantado, onde está localizada a estação antártica brasileira. Fotos: LaGPoM-UFPR/Acervo
Conforme explica César de Castro Martins, coordenador da pesquisa, os cientistas levantaram os valores de base para o elemento fósforo em períodos pretéritos à presença humana na Baía do Almirantado e compararam esses níveis com dados atuais. Na península Keller, na baía, está localizada a Estação Antártica Comandante Ferraz, da Marinha Brasileira.
“Nossas amostras refletem períodos mais recentes e apontam valores mais altos de fósforo. Portanto, esse elemento pode ser usado para avaliar a transformação do ambiente marinho antártico nas condições de elevação de temperatura e de aumento de atividades humanas provenientes de pesquisa e de turismo”.
Os hidrocarbonetos alifáticos foram outra classe de biomarcadores investigada pela equipe. Essas substâncias podem ser encontradas em organismos marinhos e terrestres e também no petróleo.
“É um marcador orgânico capaz de refletir a utilização de combustíveis fósseis proveniente da atividade humana na Antártica”, afirma Martins. Novamente, as amostras de sedimento que refletem os últimos 60 anos foram utilizadas para análise.
A observação resultou em uma mistura de fontes que seriam a origem dos hidrocarbonetos alifáticos. Os pesquisadores entenderam que encontraram biomarcadores que retratam a variabilidade da produtividade marinha e o aporte continental, que pode ser resultado da mudança climática na região.
Aquecimento global parece contribuir para que resíduos do continente cheguem ao mar
Nessa avaliação, os pesquisadores notaram que, no período de 1975 a 1992, houve um aumento maior na concentração de alguns hidrocarbonetos, o que pode significar que a elevação da temperatura do planeta leva mais material continental para a região marinha da Antártica.
“Alguns organismos marinhos mais adaptados a essa condição de temperatura elevada tiveram maior abundância. Quando uma condição ambiental se altera, algumas espécies se adaptam e outras declinam, podendo chegar à extinção”, diz Martins.
Por último, em parceria com pesquisadores da Universidade de Bristol, do Reino Unido, os cientistas calibraram uma ferramenta geoquímica que permite o estudo da temperatura da superfície do mar em períodos anteriores aos contemplados por registros instrumentais. Segundo o professor, dados de estações meteorológicas na Antártica começaram a surgir a partir da década de 1940. Antes disso, não há como saber qual seria a temperatura da superfície do mar.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/02/2022
Futuro da Amazônia pode depender da restauração de áreas degradadas
Por Amazônia 2030
A Amazônia pode salvar a própria Amazônia. Isso é o que aponta o estudo sobre a restauração de áreas prioritárias da floresta, desenvolvido pelos pesquisadores Bernardo Strassburg, Paulo Branco e Álvaro Iribarrem. A pesquisa mostra que, se apenas 10% da área degradada da Amazônia fosse restaurada de forma otimizada, uma receita de até R$ 132 bilhões poderia ser gerada. Abrindo a possibilidade de novos financiamentos com essa receita.
Isso ocorreria porque, com a restauração priorizada, cerca de 2,6 bilhões de toneladas de Co2 seriam retirados da atmosfera. “Se você comercializa esse potencial crédito de carbono vindo dessas áreas, por exemplo, você tem um cenário que é bom para muita coisa ao mesmo tempo. Ou seja: você gera receita a partir de carbono obtido com a restauração”, explica Strassburg, que é diretor executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Ele ainda argumenta que é possível usufruir desse dinheiro em benefício da própria floresta.
“A gente sabe que mais ou menos metade desse valor seria destinado aos fazendeiros por custo de restauração, para os locais e para quem faz essa restauração. Mas ainda sobra 50%, são R$ 66 bilhões. Esse valor poderia ser usado para investir em política pública, para financiar programas de desenvolvimento sustentável, para buscar caminhos mais sustentáveis para o desenvolvimento da própria Amazônia”, defende o pesquisador.
PRIORIDADES
A recuperação de áreas desmatadas e degradadas é uma prioridade para a superação de desafios globais, como a mitigação das mudanças do clima. No Brasil, a meta estabelecida através do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg, 2017) é de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa em todos os biomas brasileiros até 2030. Se considerarmos que a Amazônia Legal brasileira ocupa quase 60% do território nacional (IBGE, 2019), a recuperação florestal da região deve ser vista como uma questão, sobretudo, estratégica, tendo em vista as elevadas taxas de desmatamento e o alto potencial de regeneração natural do bioma.
Os resultados do estudo, entretanto, mostram que a restauração isolada, sem o planejamento de áreas prioritárias, pode ser uma escolha nada inteligente.
“Um estudo anterior ao nosso mostra que se restaurar 10% da Amazônia sem priorização, sem planejamento, o processo é muito menos eficiente. O custo é até 10 vezes mais efetivo se você seguir a priorização”, ressalta Strassburg. Ele ainda aponta que, se os gestores escolherem apenas pelo fator de custo, ou seja, por onde seria mais barato restaurar, ao invés de ir para fatores como clima ou biodiversidade, o resultado dessa restauração pode ser oito vezes menor. “Então, com o mesmo trabalho, ao invés de retirar 2,6 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera, como se fôssemos pelas áreas prioritárias, conseguiríamos apenas 330 milhões de toneladas. Estamos falando da mesma área, ainda restaurando os 10% do que foi perdido, a mesma dimensão de esforço, mas em locais diferentes por conta da prioridade”, destaca o diretor do IIS.
CRITÉRIOS
Três critérios são utilizados para definir quais são as áreas prioritárias para recuperação florestal no Bioma Amazônia: 1. Conservação da biodiversidade, que visa a redução no risco de extinção das espécies ameaçadas e/ou endêmicas da Amazônia; 2. Mitigação de mudanças do clima, que busca otimizar o potencial de sequestro de carbono; 3. Retorno socioeconômico, que tem como objetivo desenvolver a restauração por meio de baixos custos e, ao mesmo tempo, aumentar a geração de emprego e renda na região. A ideia, então, é encontrar soluções balanceadas, simultaneamente, entre os três benefícios.
Nos casos de mudanças climáticas e potencial de retorno socioeconômico, as áreas prioritárias se concentram, em grande parte, no “arco do desmatamento” (região em que o desmatamento se concentra historicamente –território que vai do Oeste do Maranhão e sul do Pará, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre). Por outro lado, para a redução do risco de extinção de espécies, as áreas prioritárias estão concentradas mais ao Norte e nas margens do rio Amazonas. Isso acaba por evidenciar uma relação de “perde-e-ganha” entre os critérios utilizados e aponta a necessidade de um cenário multicritério, como o utilizado pela pesquisa, que leva em consideração todas essas relações juntas. Ao comparar os custos desse cenário com outros, ele se mostrou extremamente vantajoso, representando uma economia de aproximadamente R$ 43 bilhões por ano.
Além disso, a priorização ‘multicritério’ oferece subsídios para a tomada de decisão para definir por qual área começar a recuperação florestal. Como consequência, se torna de grande utilidade no processo de construção e aprimoramento de políticas públicas e também em processos de tomada de decisão no âmbito do poder público, do setor privado e da sociedade civil.
“O interessante desse estudo é que ele reforça, realça e quantifica o impacto gigantesco que a restauração pode trazer para esses desafios locais e globais quando feita de forma planejada. Além disso, a gente consegue quantificar e mapear e, a partir disso, atuar diretamente nas escolhas que os tomadores de decisão devem ter quando forem restaurar uma área. Isso porque a gente consegue quantificar os benefícios de cada área, ver qual, juntando os fatores, é mais benéfica de ser restaurada. Você mapear ajuda demais na tomada de decisão, porque mostra as prioridades e sai de algo genérico para algo concreto. Você passa a argumentar com dados”, defende Strassburg.
E QUAIS SÃO AS ÁREAS PRIORITÁRIAS?
Como resultado, a pesquisa conclui que há áreas prioritárias por toda a Amazônia. Algumas são mais importantes para a conservação da biodiversidade, clima, impacto social e, em alguns casos, são importantes para todos esses fatores juntos.
restauração de áreas prioritárias da floresta amazônica
“Os resultados mostram que a restauração em regiões próximas a calha e foz do rio Amazonas, Bragantina no Pará e Colíder no Mato Grosso são de altíssima importância para a conservação da biodiversidade, enquanto que o Sudeste Paraense, Nordeste Mato-grossense e região de Ji-Paraná em Rondônia, tem alto potencial para sequestro de carbono”, destaca Strassburg, acrescentando que “tais regiões também seriam prioritárias para impactos socioeconômicos”.
Os mapas elaborados pela pesquisa também apontam por onde começar a implementação da recuperação, levando em conta os diferentes cenários descritos. É possível perceber, a partir da delimitação por estados, que há regiões de alta prioridade em toda a Amazônia.
“É interessante notar que todos os estados Amazônicos possuem regiões de altíssima prioridade para estes três critérios, reforçando a mensagem de que todos podem contribuir e se beneficiar de um programa de restauração em larga escala em áreas prioritárias”.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/02/2022
O país que resolveu envenenar a sua população
Por Samyra Crespo* para a Eco21 –
O que aconteceu ontem, com 301 deputados votando a flexibilização da legislação que regula a liberação dos agrotóxicos no país (contra 150 votos da oposição e 2 abstenções), me lembra a frase de Nelson Rodrigues:
“Se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas, o mundo estaria salvo”.
Pois é o que se verifica: os canalhas votam unidos e estão cada vez mais ousados. Mas por que ousam?
É uma pergunta cuja parte da resposta está no nosso voto.
Conseguiram formar uma maioria dentro do Congresso e passam o trator na oposição.
As chamadas ‘bancada da bala’, ‘ bancada do boi’ e a bancada comprada pelos poderosos lobbies das empresas que vendem insumos agrícolas estão fortemente ancoradas no Congresso no que se convencionou chamar de “representação dos interesses ruralistas “. Muitos deputados e senadores são eles mesmos fazendeiros e/ou filhos das oligarquias locais de latifundiários.
O que muda com o PL aprovado a toque de caixa ontem?
Primeiro, muda de nome para mascarar o que a coisa realmente é: em vez de agrotóxico, chame “pesticida” . Quem e contra matar a ‘peste’?
Depois dá a última palavra na liberação dos agrotóxicos ao Ministério da Agricultura, que em geral tem como titular um representante dos agricultores.
A ANVISA, órgão que liberava ou não os produtos, agora fará pareceres técnicos que poderão ser – ou não – acatados pelo Ministério.
Ou seja, a decisão será política. E política viciada.
Que retrocesso!!!
Desde que este Governo assumiu, mais de 300 novos agrotóxicos foram liberados. Para que tantos?
Em que outro país do mundo isto ocorre?
O Brasil virou a nova rota para venda de produtos tóxicos banidos em outros países.
Como temos expandido nossas áreas de cultivo (principalmente cana e soja) somos a desejada fronteira dos milionários negócios das empresas produtoras de veneno.
Este panorama do “liberou geral” precisa ser modificado.
Mais do que nunca as eleições de 22 apontam para a necessidade de alterar a composição do Congresso, e não só mudar o Presidente. Vejam o que está acontecendo com o governo dos democratas nos EUA – emparedado pelos republicanos trumpistas.
As piores consequências das medidas de ontem no Congresso Nacional são, infelizmente, previsíveis: mais veneno no seu prato, mais alergias e cânceres em humanos e animais, mais água envenenada nos rios e lençóis freáticos, solo morto, e por aí segue.
Alimentação saudável? Produção orgânica? Esqueça!!! Será nicho de mercado para ricos.
Podemos ignorar isto?
Podemos deixar essa necropolítica conduzir nossa vida?
Eu digo um sonoro e indignado NÃO, e você?
* Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
#Envolverde
APPs Urbanas: Novos Limites?
Por Eduardo de Avelar Lamy* e Anna Carolina Faraco Lamy** –
No dia 30.12.21, foi publicada e sancionada no Diário Oficial da União a Lei Federal n.º 14.285/2021, a qual altera as disposições do Código Florestal (Lei Federal n.º 12.651/2012) sobre Áreas de Preservação Permanente – APP localizadas em áreas urbanas consolidadas.
Veja-se que para fins de sua conceituação, a Lei Federal n.º 14.285/2021 define como áreas urbanas consolidadas aquelas áreas que se encaixem nos seguintes critérios normativos, a teor do ser art. 2º:
estar incluída no perímetro urbano ou em zona urbana pelo plano diretor ou por lei municipal específica;
dispor de sistema viário implantado;
estar organizada em quadras e lotes predominantemente edificados;
apresentar uso predominantemente urbano, caracterizado pela existência de edificações residenciais, comerciais, industriais, institucionais, mistas ou direcionadas à prestação de serviços;
dispor de, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana implantados:
drenagem de águas pluviais;
esgotamento sanitário;
abastecimento de água potável;
distribuição de energia elétrica e iluminação pública;
limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos.
Desta maneira, ao alterar o código florestal, a nova lei estabelece, em síntese, que uma vez ouvidos os Conselhos Estaduais e Municipais de meio ambiente, os limites de Áreas de Preservação Permanente – APP em áreas urbanas consolidadas poderão ser alterados conforme for estabelecido em plano diretor ou outra lei local específica.
Com isso, as APP que, na lei original (12.651/2012), deveriam ser delimitadas com base na largura dos corpos hídricos, passam, em área urbana consolidada, a ser definidas segundo outros critérios a serem fixados por órgãos estaduais e municipais, que podem implicar na redução da área protegida.
Por certo, a intenção do legislador foi fazer com que os novos critérios para definição de APP em áreas urbanas consolidadas viabilizem empreendimentos que, com base na versão anterior do Código Florestal, não poderiam ser implementados, ou que, implementados, se encontrariam irregulares.
No entanto, é importante destacar que a lei 14.285/2021 contraria precedentes do STF e STJ cujo fundamento está na natureza nacional das normas gerais ambientais e na competência legislativa concorrente em tema ambiental, que entendem que essa redução de APP com vistas à restrição de proteções ambientais não seria permitida, de modo que a nova legislação certamente será questionada perante o Poder Judiciário, especialmente sob o prisma da sua inconstitucionalidade.
* Advogado. Sócio do escritório Lamy & Faraco Lamy Advogados. Professor Associado da UFSC nos cursos de graduação, mestrado e doutorado. Doutor em Direito pela PUC-SP.
** Advogada Sócia do Lamy & Faraco Lamy Advogados. Mestre em Direito Processual Penal pela UFSC. Doutora em Direito Processual Penal pela UFPR. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP).
#Envolverde
Privatização de parques nacionais agrava situação de povos tradicionais, dizem especialistas
Por Murilo Pajolla para o Brasil de Fato –
Estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a privatização de cinco parques e florestas nacionais deverá aprofundar um processo de apagamento dos modos de vida tradicionais que começou na ditadura militar e só foi interrompido recentemente, a partir de intervenções do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU). A avaliação é feita por especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato.
“Quando a gente está conseguindo que o Estado dê uma guinada no sentido de reconhecer essas populações, vem mais essa mudança. E a gente não tem a menor ideia do que vai ser a nova diretriz da gestão desses lugares”, afirma a antropóloga Ana Beatriz Viana Mendes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A inclusão de cinco novas unidades de conservação no Programa Nacional de Desestatização (PND) do governo federal pode significar uma nova ameaça à sociobiodiversidade e aos direitos de populações tradicionais que há décadas se reivindicam como legítimas ocupantes desses territórios, avaliam os especialistas.
A privatização está sendo estimulada por meio de um decreto assinado por Bolsonaro em 7 de fevereiro, após recomendação do conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), formado pelo presidente e por ministros de Estado.
Segundo o governo federal, o objetivo é promover a concessão dessas áreas à iniciativa privada para a execução dos serviços públicos de apoio à visitação, com previsão do custeio de ações de apoio à conservação, à proteção e à gestão.
Unidades a serem privatizadas
Entraram na “fila” da privatização as seguintes unidades de conservação: Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Rio de Janeiro; Parque Nacional da Serra da Canastra e Parque Nacional da Serra do Cipó, ambos em Minas Gerais; Parque Nacional de Caparaó, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo; e Floresta Nacional de Ipanema, em São Paulo.
O projeto da concessão será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e o leilão ficará a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atual gestor das unidades.
Parques devem ser lucrativos?
O assessor jurídico da ONG Terra de Direitos, Pedro Martin, afirma que a desestatização tem como inspiração o modelo norte-americano de turismo ecológico. A justificativa é que as unidades de conservação podem gerar alta lucratividade e possibilidades de investimentos, assim como ocorre nos Estados Unidos.
“A privatização vem de um fundamento de que o Estado não teria, em tese, competência para o aproveitamento econômico dessas unidades e as coloca dentro de uma estratégia de mercado”, afirma o advogado.
“Então se descaracteriza a proteção ambiental dessas áreas a partir da entrega à iniciativa privada, que é, muitas vezes, um processo sem participação social, principalmente das pessoas mais interessadas”, complementa.
Direitos ameaçados
Martin identifica a ameaça de três direitos das populações tradicionais: “O direito ao território, que significa também o controle do espaço por esses habitantes. O acesso à participação em qualquer processo público não sigiloso e que envolva o interesse público da sociedade. E também o próprio direito à consulta prévia, livre e informada”, enumera.
Em meio à pandemia, o controle social do processo de privatização de unidades de conservação se torna ainda mais precário. Sem audiências públicas presenciais, parte dos moradores fica impossibilitada de participar das discussões virtuais, em razão da necessidade de acesso à internet.
A estratégia de entrega da gestão unidades à iniciativa privada está presente desde o início do governo Bolsonaro, defendida pelo ex-ministro Ricardo Salles. Ele chegou a propor a concessão sem licitação das serras da Canastra e do Cipó à Vale, após os crimes de Brumadinho.
Criminalização da luta pela terra na Serra da Canastra
Juntas, as cinco unidades a serem privatizadas têm quase 2,8 mil quilômetros quadrados, três vezes o tamanho da área urbana da cidade de São Paulo. Com quase 2 mil quilômetros quadrados, a maior delas é a Serra da Canastra, lar das nascentes do rio São Francisco e de comunidades tradicionais que ocupam a região há pelo menos 250 anos.
Segundo Aderval Costa Filho, antropólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Serra da Canastra é ocupada por mais de 1.500 famílias de produtores e moradores da área rural, 43 comunidades tradicionais e 550 famílias tradicionais da região.
O Parque foi criado em 1972 durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, sobrepondo-se a territórios já habitados por essas populações. Até há pouco tempo, explica o pesquisador, a relação do Estado com as comunidades era marcada pela truculência.
Reunião de moradores da Serra da Canastra; “lideranças foram criminalizadas”, diz antropólogo / Projeto Mapeamento de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais/UFMG
“Embora tenha sido legitimado a partir do apelo de vários setores da sociedade, o Parque foi implementado à força e à revelia, sem qualquer tipo de negociação com as famílias e comunidades que habitavam a região, que foram expropriadas do seu próprio território com violência e com muito autoritarismo”, conta.
Ao estudar a região durante dois anos para a elaboração de um laudo antropológico a pedido da Justiça Federal, Filho concluiu que houve um processo de criminalização de produtores e de lideranças locais, envolvendo organizações de base que lutavam pela permanência de seus modos de vida.
“Houve várias medidas de aquisição de propriedades, constantes autuações de infração ambiental aos proprietários, sobretudo por realizar o manejo controlado do fogo nas partes baixas e algumas partes altas que ficaram fora da área desapropriada e regularizada”, afirma.
A tensão só diminuiu a partir de 2017, quando uma ação ajuizada pela Defensoria Pública da União (DPU) resultou uma vitória judicial reconhecendo o direito à exploração econômica dos “canastreiros”, população que tradicionalmente explora a agricultura, pecuária e a mineração.
O antropólogo lamenta que a unidade esteja prestes a ser privatizada, em um momento em que as famílias estão sendo tratadas com mais respeito e tolerância pelo poder público. E alerta: o enorme potencial de extração de diamantes na Serra da Canastra pode estar por trás de interesses privados.
“Se empresas de mineração forem apontadas como potenciais cessionárias dessa concessão – e considerando também os crimes socioambientais que têm sido cometidos por essas empresas – pode-se aí inferir que sorte de interesses pairam sobre a Serra da Canastra. Não só riscos à manutenção dos modos de vida, mas à própria preservação dos recursos naturais”, afirma.
Famílias expulsas da Serra do Cipó
Localizada na zona metropolitana de Belo Horizonte, a Serra do Cipó é um dos destinos turísticos mineiros mais importantes. O Parque Nacional que carrega o nome da formação geológica foi criado como unidade estadual em 1979.
“A ditadura militar simplesmente expulsou pequenos produtores da área e várias famílias saíram sem nenhuma indenização e sem ter lugar para viver”, conta a antropóloga Ana Beatriz Viana Mendes, da UFMG.
“Esse processo aconteceu não só na época de criação do parque, mas também nos anos seguintes. A gente vê até recentemente poucas famílias resistindo a se manter no lugar, em razão das multas e da fiscalização que proíbe, por exemplo, o corte de uma capoeira que está em estado de regeneração para fazer roça”, descreve a pesquisadora, que acompanha conflitos envolvendo unidades de conservação desde os anos 2000.
Escombros de casa abandonada na Serra do Cipó, em janeiro de 2013 / Ana Beatriz Viana Mendes
Segundo ela, apenas cinco famílias se mantiveram no território, além de outras sete que fazem uso esporádico das terras. Assim como no caso da Serra da Canastra, elas tiveram seus direitos declarados recentemente. Em 2019, uma negociação mediada pelo Ministério Público Federal (MPF) reconheceu que os habitantes podem fazer o manejo tradicional, conforme aprendido com seus ancestrais.
“Então quando a gente está conseguindo que o Estado dê um pouco essa guinada no sentido de reconhecer esses direitos, vem mais uma mudança que é a concessão para iniciativa privada. E a gente não tem a menor ideia de qual vai ser a nova diretriz da gestão desses lugares”, avalia Mendes.
A Serra do Cipó também é alvo da exploração mineral. No município de Conceição do Mato Dentro, a Anglo American explora ferro e expõe a população ao risco de rompimento de uma barragem, a exemplo do que aconteceu com em Mariana e Brumadinho, cidades não muito distantes da unidade de conservação.
“A gente está nesse contexto de dizimação por completo feito pela iniciativa privada feita nos territórios e aos povos que vivem nos territórios. E agora vem essa abertura para a concessão. Isso me soa muito impossível de ser bem feito, tendo em vista o contexto”, opina a pesquisadora.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
*Crédito de imagem destacada: Serra da Canastra é habitada por milhares de integrantes de comunidades tradicionais – Fabianni Luiz Ribeiro
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O que se sabe sobre a covid longa
Por DW Brasil –
Dois anos após o início da pandemia, cientistas ainda pesquisam as causas da covid longa, ou seja, sintomas que persistem depois de o paciente ter se recuperado da doença. Aqui, alguns conhecimentos adquiridos.
Não faz muito tempo, pacientes com sintomas persistentes de covid-19 diziam ter a impressão que seus médicos não as levavam a sério. Agora, mais de dois anos após o início da pandemia, as coisas estão mudando.
Hoje, sabe-se mais sobre a condição denominada “covid longa”. Milhões a têm em todo o mundo, tem-se uma ideia melhor sobre o que a causa, mas a pesquisa ainda está em andamento. E demorará alguns anos até se conhecerem seus efeitos a longo prazo.
O que é covid longa?
Na covid longa, os sintomas debilitantes de uma infecção pelo Sars-CoV-2 não param após o vírus ter deixado o organismo. Dificuldades respiratórias, fadiga extrema e dores no peito podem persistir por meses, representando um desafio no cotidiano e para a volta à normalidade.
Alguns estudos sugerem que entre 14% e 30% dos pacientes que tiveram covid-19 manifestam pelo menos um sintoma de covid longa no período de 90 dias após a recuperação da infecção.
Isso significa que, dos 412 milhões de casos de covid-19 em todo o mundo registrados pela Universidade Johns Hopkins até esta segunda-feira (14/02), entre 57 e 123 milhões já sofreram ou estão sofrendo de covid longa.
Pouco se sabe sobre os efeitos de longo prazo da covid longa sobre os indivíduos e a sociedade como um todo. Levará anos até que haja dados confiáveis sobre isso.
Os pesquisadores identificaram uma série de fatores de risco, mas ainda estão tentando descobrir o que exatamente causa a covid longa. Ela não se manifesta da mesma forma em todos, e ainda é um mistério por que alguns a desenvolvem e outros não.
Covid longa é menos grave com a ômicron?
A ômicron é atualmente a variante dominante do vírus Sars-Cov-2, há indicações de que ela causa infecções mais brandas na maioria dos casos. É também uma das formas mais infecciosas da covid-19, e há preocupações de que o número absoluto de casos de ômicron possa levar a um aumento nos números de covid longa.
As chances de desenvolver uma covid longa são maiores após uma infecção grave, mas ela pode se desenvolver independentemente de se ter tido uma infecção grave ou leve.
Quais suas causas?
A covid longa é definida como uma síndrome heterogênea − pode ser causada por diferentes fatores ou por uma mistura de fatores, e por isso há mais de um tipo dela.
“Há pelo menos dois tipos: um ocorre em pacientes covid-19 tão graves que foram tratados numa unidade de terapia intensiva, sob risco de vida. E outro pode ocorrer em indivíduos que tinham sintomas leves a moderados”, explica Joachim Schultze, do instituto alemão de pesquisa do cérebro, DZNE. Sua forma mais severa é causada por danos a múltiplos órgãos.
Como obter um melhor diagnóstico
Os médicos precisam entender o mecanismo da covid longa para poder diagnosticar e tratar adequadamente os pacientes. E já há progressos.
Oftalmologistas na Alemanha, por exemplo, têm investigado os vasos capilares dos olhos de pacientes com covid longa e observado como a doença parece afetar sua forma, comprometendo a capacidade do sangue de fluir através do corpo.
A relação da covid longa com o sangue
Um estudo publicado em janeiro encontrou quatro fatores de risco principais:
alto nível de RNA de Sars-CoV-2 em amostras de sangue
presença de autoanticorpos, que atacam os próprios tecidos orgânicos
diabetes tipo 2
reativação de uma infecção anterior pelo vírus Epstein-Barr
Os pesquisadores também encontraram anticorpos específicos no sangue de pacientes com covid longa.
Essas descobertas mostram como certos fatores podem aumentar o risco de desenvolver sequelas de longo prazo, mas não são suficientes para prever quais pacientes correm risco. Os pesquisadores tampouco entendem por que alguns pacientes não a contraem.
Impacto de longo prazo individual e social
Também não há como prever por quanto tempo a covid-19 ainda afetará os indivíduos e as comunidades nos próximos anos. Faltam simplesmente os dados sobre o impacto da covid longa sobre a economia global, a sociedade e os serviços de saúde.
Mas os pesquisadores estão acompanhando estes desdobramentos. Alguns estudos em larga escala visam rastrear a saúde dos pacientes muito depois de suas infecções e recuperação da covid-19. Outros estudos calculam o impacto da covid longa sobre os sistemas de saúde, sociedades e economias.
Porém pesquisadores como Joachim Schultze frisam a necessidade de mais estudos para fornecer melhores definições clínicas e critérios diagnósticos sobre as várias formas de covid prolongada. Eles acreditam que precisarão de muito mais dados para poder compreender seu impacto total.
Vacinas protegem contra a covid longa?
Alguns dados mostram que as vacinas podem diminuir o risco de se desenvolver covid longa após uma infecção por Sars-CoV-2.
Dois estudos − um em Israel e outro no Reino Unido − indicaram que os inoculados com duas doses seriam são menos propensos a sintomas de covid prolongada do que os não vacinados. Esse cientistas também concluíram que as vacinas não causam covid prolongada, a qual só ocorre após uma infecção viral.
De acordo com os estudiosos, as vacinas ajudam a reduzir os riscos associados à covid longa de duas maneiras: primeiro, as vacinas ajudam a evitar infecções por covid-19; em segundo lugar, reduzem a gravidade dos sintomas quando ainda não se está infectado. As vacinas, entretanto, não removem totalmente o risco de covid longa.
A conclusão, segundo Schultze, seria que é importante os cientistas sejam autorizados a desenvolver novas ferramentas de diagnóstico e opções terapêuticas para a covid longa, enquanto também continuam a identificar seu impacto mais amplo na sociedade.
#Envolverde
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