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sexta-feira, 23 de julho de 2021
A restauração florestal e seus efeitos na biodiversidade da Mata Atlântica
Por Rafael Bitante Fernandes, Aretha Medina e Cícero Homem de Melo Júnior* , publicado no Conexão Planeta –
A Mata Atlântica é reconhecidamente um dos biomas biodiversos do mundo, o que ressalta sua riqueza natural. A pesquisa Contas de Ecossistemas: Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil, divulgada pelo IBGE, mostrou que, em 2014, havia 3.299 espécies de animais e plantas ameaçadas no Brasil, o que representava 19,8% do total de 16.645 espécies avaliadas.
A Mata Atlântica foi, portanto, o bioma com mais espécies ameaçadas, tanto em números absolutos (1.989), como proporcionalmente (25%). Isso é resultado da forte fragmentação de seus remanescentes florestais.
Hoje, restam apenas 12,4% da vegetação nativa com mais de 3 hectares e dados publicados na revista Nature Communications, no final de 2020, mostram que mesmo os fragmentos florestais que resistiram ao desmatamento perderam de 25% a 32% de sua biomassa e de 23 a 31% da sua biodiversidade.
Restauração mundial
Ainda assim, é possível reverter esse cenário! A solução está em criar mecanismos para proteger cada metro quadrado de remanescentes naturais e trabalhar intensamente na agenda da restauração, convertendo áreas degradadas e de baixa aptidão agrícola em novas florestas naturais.
O movimento Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – lançado em abril de 2009 por quarenta organizações ambientalistas, indivíduos, empresas e governos – identificou 15 milhões de hectares dentro desta realidade.
Na primeira semana de junho deste ano, foi lançada oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Década da Restauração de Ecossistemas, que tem como objetivo inspirar e apoiar múltiplos setores, comunidades locais e indivíduos para colaborar, desenvolver e catalisar iniciativas de restauração em todo o mundo.
Restauração, na prática
Foto: SOS Mata Atlântica/Divulgação
Projetos de restauração florestal, como o do Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica-Heineken Brasil, localizado no município de Itu, no interior de SP, apresentam resultados importantes e podem servir de exemplo para outras iniciativas.
Esse trabalho teve início em 2007, em uma área de 526 hectares, onde a pastagem era predominante. Ao longo de cinco anos, toda a sua área foi recomposta por meio de plantio de mudas de espécies florestais nativas, que somaram um total de 720 mil indivíduos.
O município, que contava com 9,77% de remanescentes florestais com mais de 3 hectares, passou a contar com novos 380 hectares de florestas, contribuindo com um aumento em 6% de vegetação nativa.
Os esforços para transformar os plantios de mudas de árvores nativas em uma floresta no futuro passam por metodologias, técnicas e muita ciência – necessárias para garantir a sua perpetuidade e funcionalidade ecológica ao longo do tempo.
Assim, foram selecionadas 110 espécies com base em múltiplos critérios buscando, por exemplo, sua relação com a fauna regional, gerando condições para o estabelecimento de uma dinâmica natural similar à de um remanescente florestal.
Alimentos e refúgio
Foto: Haroldo Palo Jr.
Neste local, alguns estudos foram realizados, sendo dois deles focados na relação da área em processo de restauração florestal e a fauna.
A primeira pesquisa foi sobre as aves, e levantou as espécies de ocorrência entre 2010 e 2015 nas áreas restauradas e foi realizada por pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação da UFSCar/Sorocaba. Neste período, o levantamento apresentou um salto de 86 para 209 espécies e este incrível aumento está atribuído principalmente ao crescimento da floresta implantada, com maior fonte de alimentos e refúgio para as aves.
Outro dado impressionante está atrelado aos mamíferos que ocupam a área.
Ao longo de dois anos de monitoramento realizados com armadilhas fotográficas, buscas ativas e análises fecais, 21 espécies de mamíferos de médio e grande porte foram registradas. Dessas, cinco encontram-se em algum grau de ameaça de extinção, sendo elas: a onça-parda, o gato-do-mato-pequeno, o gato-mourisco, a lontra e a paca.
Isso demonstra a importância da área para a conservação da diversidade local e regional.
Diversos indícios, tais como fonte de alimentação e reprodução no local, caracterizam a área como refúgio importante para a fauna silvestre. Esse estudo foi realizado pelo time de pesquisadores da Esalq-USP, do Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação da Fauna (LeMAC), sob coordenação da Prof. Dra. Kátia Ferraz.
Manutenção da biodiversidade
As iniciativas devem ser contínuas e uma estratégia para conexão de remanescentes, formando o que chamamos de corredores ecológicos, é vital para manutenção da biodiversidade.
Isso deve ser feito através das áreas de preservação permanente, que são faixas de vegetação nativa, que devem ser mantidas ou restauradas, ao longo de nascentes, córregos e rios principalmente, permitindo assim o fluxo de fauna e flora, estabelecimento de uma série de relações naturais.
A ciência aponta que a restauração florestal em larga escala na Mata Atlântica pode ser um alento para a sua biodiversidade e para muitos outros desafios que a humanidade encara neste século.
O plantio de florestas do bioma mais devastado do Brasil protege espécies ameaçadas, sequestra carbono da atmosfera, garante a disponibilidade de água para as cidades, contribui com a polinização para a produção de alimentos e o bem estar da população.
*Rafael Bitante Fernandes, Aretha Medina e Cícero Homem de Melo Júnior são, respectivamente, gerente, coordenador e técnico de restauração florestal na SOS Mata Atlântica
Edição: Mônica Nunes / Foto: Marcos Amend (Mata Atlântica no Parque Nacional Pau Brasil)
Publicado em 22 de julho de 2021 no Conexão Planeta
SOS Mata Atlântica
ONG ambiental brasileira que atua na promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento
do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental,
comunicação e engajamento da sociedade
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