capaimpactospositivo Empresas podem ter impacto ambiental positivo, diz relatório
Documento mostra exemplos de companhias que abandonaram a abordagem de fazer menos danos ambientais para terem uma atuação realmente positiva sobre a natureza; IKEA, BT e outras firmas integram o time que adotaram a estratégia
Quando procuramos corporações que desenvolvem produtos ou serviços ‘sustentáveis’, geralmente buscamos empresas que, por exemplo, produzem o carro ‘menos poluente’ ou a mercadoria que gera ‘menos lixo’ etc. Se pararmos para analisar, isso significa que estamos financiando companhias que ‘poluem menos’ o meio ambiente, mas que ainda assim geram impactos negativos sobre a natureza, numa espécie de abordagem ‘dos males, o menor’.
Mas será que é possível que as firmas possam ter um impacto realmente positivo sobre os ecossistemas, ajudando a recuperar o meio ambiente? Pelo menos segundo um novo relatório do Forum for the Future, The Climate Group e WWF-UK, a resposta parece ser sim: algumas estratégias podem fazer com que as corporações passem do atual estado de ‘fazer menos mal’ para de fato irem além e melhorarem a situação da natureza.
O documento ‘Net Positive: A new way of doing business’ (algo como ‘Efeito Positivo Líquido: uma nova forma de fazer negócio’) argumenta que esse tipo de estratégia pode ter efeitos muito benéficos para uma empresa, dando a ela vantagem competitiva, segurança na cadeia de suprimentos e o espaço para inovar produtos e serviços, levando a organização a uma posição de liderança.
O relatório estabelece 12 princípios que norteiam essa abordagem de impacto positivo. São eles:
1. A organização visa ter um impacto positivo nas áreas de seus materiais chave;
2. O impacto positivo é claramente demonstrável, se não mensurável;
3. Assim como ter um impacto positivo nas áreas de seus materiais chave, a organização também mostra boas práticas em responsabilidade e sustentabilidade corporativa em todo o espectro de áreas de impacto social, ambiental e econômica, em conformidade com padrões globalmente aceitos;
4. A organização investe em inovação em produtos e serviços, entra em novos mercados, trabalha em toda a cadeia de valores e em alguns casos desafia o modelo de negócios vigente de que depende;
5. Um impacto positivo líquido muitas vezes exige uma grande mudança em abordagem e resultados, e não pode ser atingido pelo business-as-usual;
6. O reporte de progressos é transparente, consistente, autêntico e verificado independentemente quando possível. Limites e possibilidades são claramente definidos e levam em conta tanto impactos positivos quanto negativos. Quaisquer compromissos são explicados;
7. O efeito positivo líquido é mostrado de uma forma robusta e nenhum aspecto de uma abordagem de efeito positivo líquido compensa perdas naturais inaceitáveis e insubstituíveis ou os maus-tratos a indivíduos ou comunidades;
8. Organizações entram em parcerias e redes mais amplas para criarem impactos mais positivos;
9. Cada oportunidades é usada para criar impactos positivos em cadeias de valores, setores, sistemas e no mundo natural e na sociedade.
10. Organizações se engajam publicamente em influenciar a política para mudanças positivas;
11. Se as áreas de materiais chave são ecológicas, métodos ambientalmente restauradores e socialmente inclusivos robustos são aplicados;
12. Uma abordagem inclusiva é adotada a cada oportunidade, garantindo que as comunidades afetadas sejam envolvidas no processo de criar impactos sociais e/ou ambientais positivos.
Entre as empresas que já adotam esse tipo de estratégia, estão a produtora de móveis domésticos Ikea, a companhia de telecomunicação britânica BT, a consultoria francesa Capgemini, a fabricante de alimentos Coca-Cola Enterprise, a empresa de móveis britânica Kingfisher e a firma de rolamentos e vedantes SKF.
A BT, por exemplo, anunciou no último ano planos para se tornar ‘positiva em carbono’ até 2020. A meta é que, para cada tonelada de carbono que a empresa usar em suas operações, seus clientes economizarão três toneladas de CO2.
A Coca-Cola Enterprises, através de seu plano de sustentabilidade, estabeleceu o objetivo de ser uma empresa ‘baixo carbono e zero lixo’. A companhia, que produz 12 bilhões de garrafas por ano, assumiu o compromisso de reciclar mais embalagens do que usa. Como parte dessa estratégia, a firma está trabalhando com uma plataforma de inovação aberta para inspirar os consumidores a reciclarem mais.
Já a Kingfisher estabeleceu seus planos de impacto positivo em outubro de 2012, focando seus esforços em quatro áreas de prioridade que a empresa acredita terem mais impacto: madeira, energia, inovação e comunidades. Já há duas décadas a companhia tem a ambição de que toda a sua madeira venha de fontes responsáveis. Agora, a firma está ajudando a reflorestar terras degradadas, melhorar a qualidade das florestas que estão de pé e defender por mudanças políticas nesse sentido. Além dos impactos positivos, a empresa calcula que economizará entre £45 milhões e £60 milhões por ano até 2020 devido a essa abordagem.
“Um movimento de efeito líquido positivo levará a uma economia de restauração – uma economia que se alinhe com a restauração do ar limpo, pesca, florestas, rios e muitos outros dos ativos do planeta que estão sendo perdidos nas últimas décadas devido ao atual modelo de crescimento ilimitado”, observou Dax Lovegrove, diretor de sustentabilidade e inovação corporativa do WWF-UK.
“As companhias que estão dando bravos passos em direção ao efeito positivo líquido já estão colhendo os benefícios, em termos de assegurar o fornecimento de recursos dos quais elas dependem, investir em inovações radicais e moldar seu contexto operacional. Estamos ansiosos para das as boas-vindas a outras companhias que desejem ir em frente, dando uma contribuição positiva para nosso planeta. Elas serão histórias de sucesso no futuro”, comentou Sally Uren, CEO do Forum for the Future.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)