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terça-feira, 10 de novembro de 2009

COP-15: China resiste, apesar de liderar emissões


A China resiste a adotar fortes medidas contra a mudança climática para não deter seu crescimento econômico, o que poderia derivar em desemprego e instabilidade social. Mas, não agir com firmeza contra o fenômeno definitivamente causará os mesmos, ou maiores, problemas. O debate em Pequim sobre suas prioridades aumentam quando faltam quatro semanas para a 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), onde entre 7 e 18 de dezembro, em Copenhague, se tentará delinear um tratado para reduzir as emissões mundiais de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Perante o mundo, a China insiste que ainda é uma nação em desenvolvimento e que não lhe devem pedir compromissos que criem obstáculos para seus esforços no sentido de tirar da pobreza mais de 200 milhões de seus habitantes. Mas, em nível interno, os líderes chineses são criticados por apoiarem uma expansão econômica que causa degradação ambiental e, em definitivo, perpetua a pobreza. Em um informe divulgado em setembro, o Instituto de Economia Ambiental da Universidade de Renmin calculou que a adoção de rígidas metas de redução das emissões custará à China 7% de seu produto interno bruto até 2050. Mas, se houver um acordo para que as metas adaptem-se às suas necessidades econômicas esse custo será de apenas 2,3% de seu PIB.

Este argumento abre a porta para um menor compromisso chinês, se é que existe algum, na conferência da capital dinamarquesa. Porém, esta atitude será contraproducente, insistem analistas. Eles afirmam que a mudança climática já se destaca entre os principais fatores que perpetuam a pobreza na China. O lobby ambientalista liderado pelo destacado economista Hu Angang exortou o governo chinês a realizar sérios esforços para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.

“A degradação ambiental, as secas e o crescente risco de desastres significam que no futuro teremos mais e mais pessoas voltando a cair na pobreza”, disseram em um informe conjunto as organizações internacionais Greenpeace e Oxfam. Angang, professor de políticas públicas na Universidad de Tsinghua, em Pequim, afirmou que a China é a maior vitima da mudança climática. Nos últimos anos, este país sofreu mais secas, tempestades, inundações e aumento do nível do mar, tudo o que dificulta sua luta para tirar milhões de pessoas da pobreza.

Nesse informe, supervisionado por Angang, acadêmicos e ativistas dizem que o crescente gasto para reduzir as emissões e mitigar os efeitos da mudança climática seria pelo menos compensado pelas economias em reconstrução de ajuda diante dos desastres “É irracional falar das condições nacionais da China quando se argumenta que não devemos adotar sanções contra a mudança climática. Lutar contra o aquecimento global está no centro dos interesses nacionais da China”, afirmou Angang.

A quarta avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), divulgado em fevereiro de 2007, revela a vulnerabilidade chinesa diante do aquecimento do planeta. Um significativo número de acadêmicos da China participaram como coautores do estudo, o que deu maior relevância aos seus resultados em nível local. A pesquisa sugere que a mudança climática exacerbará as secas nos áridos norte e oeste do país e agravará as inundações no sul e leste. Dizendo que a terra absorveu menos água durante as últimas inundações do que durante os períodos de chuvas tradicionais, os acadêmicos previram que as duas coisas aprofundaram a já grave escassez de água e os problemas de erosão do solo.

A crescente incidência das secas e das inundações inclinou a opinião pública a favor da adoção por Pequim de medidas contra o aquecimento global. A pressão interna se acentuou com as críticas internacionais das ações de Pequim na frente ambiental. Fortemente dependente do carvão para impulsionar sua economia, a China superou os Estados Unidos como maior emissor de gases de efeito estufa.

Diplomatas chineses argumentam que o Sul em desenvolvimento não deveria submeter-se a tetos para emissões enquanto se esforça para superar a pobreza, e, por outro lado, exortam o Norte industrial a liderar as medidas contra o aquecimento planetário, ajudando as nações pobres com tecnologia e capital para a adoção de medidas de mitigaçao. Entretanto, muitos no Ocidente, particularmente os Estados Unidos, temem que permitir que a China expanda seu crescimento sem obrigações ambientais seria uma injusta vantagem econômica.

Os Estados Unidos são o único país industrializado fora do Protocolo de Kyoto, instrumento internacional contra a mudança climática que expirará em 2012, alertou que consideraria novas tarifas alfandegárias se sentir-se em desvantagem com outros países exportadores ao aumentar seus custos com a adoção de uma economia com menos carvão. Longe de se comprometer com uma redução, a China estabeleceu medidas que – argumenta – ajustam-se mais à suas condições nacionais, com metas de eficiência para a indústria, desenvolvimento de energias renováveis e impostos sobre exportações com uso intensivo de energia.
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FONTE : Antoaneta Bezlova, da IPS (IPS/Envolverde)

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