Tamareiracapa Tamareira, a palma da vida
Tamareira. Foto: Divulgação/Internet
Nuakchot, Mauritânia, 24/8/2012 – “A tamareira é um meio de sobrevivência”, explica a mauritana Tahya Mint Mohammad, agricultora e mãe de três filhos. “Comemos seus frutos, fazemos almofadas, camas e cadeiras; as folhas são usadas para produzir cestas e alimentar o gado”, acrescenta. Aos 44, é a presidente para as duas regiões de Hod, o sul da Mauritânia, das Associações Participativas de Gestão de Oásis (AGPOs), cargo incomum para uma mulher em uma atividade tradicionalmente masculina.
Mohammad se oferece encantada para mostrar sua plantação de palma tamareira, com muita atividade nesta época de coleta, que vai de junho a agosto. “A plantação é meu investimento mais apreciado, e a mantenho bem cuidada e a irrigo com meu shaduf”, disse, se referindo ao sistema tradicional de irrigação com um balde e um contrapeso que tira a água de um poço. A produção depende das chuvas e de conseguir combater gafanhotos, aves e outros animais. Mohammad estima que a colheita deste ano ficará entre 500 e mil quilos de tâmaras.
A Mauritânia tem cerca de dez mil hectares de tamareiras, que incluem plantas maduras e produtivas e também árvores jovens que ainda não dão frutos, bem como árvores macho, principalmente para polinização, disse Mohammad Uld Ahmed Banane, supervisor do Programa de Desenvolvimento Sustentável de Oásis (PDDO), que conta com ajuda do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).
Banane disse que quase 20 mil pessoas em todo o país dependem das tâmaras para viver, em cinco regiões de oásis: Adrar, no norte, Tagant, no centro, e Assaba, Hod oriental e Hod ocidental, no sul. Segundo afirmou, este país produz cerca de 60 mil toneladas de tâmaras por ano, às quais se somam as importadas, cerca de mil toneladas da Argélia e 500 da Tunísia.
Cerca de 60% das tâmaras são comidas entre junho e agosto, durante a Guetna, nome árabe para a época de colheita. O restante é secado para consumo durante o ano. O nutricionista Mohammad Baro afirmou que se trata de uma fruta rica em micronutrientes como ferro e cálcio, e também é uma excelente fonte de energia. Hademine Uld Saleck, imã da principal mesquita de Nuakchot, afirmou que há uma baraka (bênção árabe) sobre as tâmaras, e explicou que costuma ser o primeiro alimento a ser ingerido para quebrar o jejum do Ramadã, especialmente nos países produtores.
Mas os oásis da Mauritânia acusaram o golpe da seca, sofreram sedimentação, falta de água e queda da fertilidade do solo, contou Banane. “Em Adrar a produção foi claramente menor este ano por questões climáticas, como falta de chuva, o pó e o vento que atrasaram a colheita”, disse Sid Ahmed Uld Hmoymed, prefeito de Atar, a principal cidade da região.
O experiente agricultor Mohammad Uld Haj apresentou um lúgubre panorama da situação. “Este ano não tivemos nada, nem tâmaras, nem trigo, nem cevada, nem verduras, nem mesmo melancia, por culpa da seca”. Mas Cheij Uld Mustafa, coordenador do PDDO em Adrar, disse à IPS que, apesar de ter sido um ano difícil, a renda de Uld Haj ficará este ano entre US$ 2,5 mil e US$ 3 mil. Além da seca, a atividade turística nos oásis diminui desde 2007, quando seis franceses foram assassinados por uma facção da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).
O governo criou o PDDO em 2002 para preservar o frágil e valioso ecossistema e conter o êxodo rural que começava a ganhar força. O Fida contribuiu com US$ 37 milhões, segundo Aliun Demba, chefe de cooperação internacional do Ministério do Desenvolvimento Rural. “O programa se concentrou em organizar os agricultores em torno dos oásis para contribuir na emergência de uma sociedade civil capaz de sustentar as AGPOs e fazer investimentos coletivos”, destacou Banane à IPS.
O projeto exige que as AGPOs gerenciem as iniciativas financiadas pelo PDDO e que haja uma contribuição dos próprios agricultores. Os pequenos produtores elegem os representantes das associações, fixam suas próprias prioridades e controlam a renda. Várias AGPOs já receberam fundos da PDDO, entre US$ 46 mil e US$ 92 mil.
Para mostrar técnicas sustentáveis de gestão de terras, o PDDO também criou um pequeno terreno-escola, de 10×10 metros, e uma plantação com árvores frutíferas e verduras intercaladas com tamareiras. “Isto cria três níveis de proteção contra a erosão do solo e permite uma boa conservação, bem como uma eficiente irrigação e a diversificação da renda dos agricultores”, disse Banane.
Em Adrar, onde se encontra quase a metade das plantações de tamareiras, os pequenos produtores se mostraram reticentes em aplicar técnicas modernas, disse Mustafa, o coordenador do PDDO nessa região. As recomendações incluem plantações bem espaçadas, polinização, irrigação por gotejamento ou tubulação, e uso de fertilizantes orgânicos. Em Adrar, os agricultores com mais recursos recorrem à energia solar para extrair água para os dois sistemas de irrigação.
Em termos de mercado, o PDDO ajudou nessa região a criar um grupo para que, trabalhando juntos, seja mais rentável o transporte de tâmaras para Nuakchot, disse Mustafa à IPS. A tamareira e o camelo, dois pilares de sua economia, estão muito bem adaptados ao clima do Saara e do Sahel e continuam sendo valores importantes, ressaltou.

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FONTE : Envolverde/IPS