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terça-feira, 30 de março de 2010

Poluição da Ásia roda o mundo pela estratosfera

Estudo patrocinado pela NASA demonstra que o fenômeno das monções joga partículas de poluentes dos países asiáticos a até 40 km de altura, onde ficam circulando por anos podendo causar alterações climáticas e danos à camada de ozônio

O crescimento econômico desenfreado de países como China, Índia e Indonésia tem como um de seus fatores negativos a grande poluição resultante da expansão industrial e do aumento da frota de veículos. Até aí alguém poderia pensar que isso é um problema deles e que os seus próprios governos deveriam tomar atitudes para resolver a situação. Mas um estudo publicado na última semana na revista Science comprovou o que já era uma crença entre cientistas e ambientalistas: a poluição atmosférica da Ásia circula todo o planeta.

A descoberta envolve o fenômeno das monções, ventos sazonais acompanhados de chuvas fortes que acontecem principalmente no sudeste asiático. Pesquisadores do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica (NCAR), com o apoio da NASA, conseguiram demonstrar que as monções carregam as partículas poluidoras produzidas na Ásia para a estratosfera e que esses poluentes ficam em suspensão viajando pelo globo por vários anos até que finalmente descem para camadas mais baixas da atmosfera ou são dispersos.

“A monção é um dos sistemas de circulação mais poderosos do planeta e se forma bem onde existe uma grande concentração de poluentes. Com isso, o fenômeno age como uma avenida para a poluição chegar até a estratosfera”, explicou Willian Randel, principal autor do estudo “Monção Asiática Transporta Poluição para a Estratosfera” (”Asian Monsoon Transport of Pollution to the Stratosphere”).

Utilizando imagens de satélites e modelos computacionais, os pesquisadores conseguiram identificar os padrões de circulação atmosférica associados às monções. Para isolar apenas a atividade do fenômeno, os cientistas mapearam a presença de cianeto de hidrogênio, elemento produzido principalmente pela queima de vegetação. Dessa forma, foi possível acompanhar durante a época de queimadas no sudeste da Ásia como essas particulas eram impulsionadas pelas monções para a estratosfera e depois mapear sua viagem pelo mundo.

Além do cianeto de hidrogênio, partículas de carbono negro, dióxido sulfúrico, óxidos nitrogenados e outros poluentes também acabam chegando à estratosfera

“Já se suspeitava desse papel da monção, mas agora mostramos como isso realmente acontece”, afirmou o professor Peter Bernath, da Universidade de York, na Inglaterra.

O estudo sugere ainda que o impacto dos poluentes da Ásia na estratosfera deve aumentar nas próximas décadas por causa do rápido crescimento industrial da região. Além disso, as mudanças climáticas podem alterar em breve o comportamento das monções, apesar de ainda não estar claro se o fenômeno ficará mais intenso ou mais ameno.

Segundo os pesquisadores, mais estudos devem ser realizados para conhecer todos os possíveis efeitos dos poluentes na estratosfera. Mas já se sabe, por exemplo, que eles podem se transformar em aerossóis, que são nocivos para a camada de ozôni, e também que devem ter impacto no clima do planeta, ao impedir a passagem de raios solares.

Mas uma conclusão é fácil de ser percebida, a da necessidade de leis globais para controlar as emissões de poluentes. A ciência cada dia mais reforça as teorias que afirmam que tudo no meio ambiente está interligado e cada novo estudo deveria ser encarado como mais um motivo para legislações e acordos internacionais mais rígidos.
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FONTE : Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil (Envolverde/Carbono Brasil)

Cientista americano defende esforço global para preservar a floresta amazônica

Thomas Lovejoy foi um dos palestrantes do Fórum Internacional de Sustentabilidade, que acontece em Manaus

O cientista Thomas Lovejoy, um dos mais respeitados especialistas em biodiversidade e presidente do Centro Heinz de Ciências, Economia e Meio Ambiente, defendeu, durante o Fórum Internacional de Sustentabilidade, evento promovido pelo LIDE - Grupo de Líderes Empresariais - em Manaus, um "esforço planetário" para restaurar os ecossistemas do mundo, em particular os da floresta amazônica, tema do encontro que acontece nesta sexta-feira e sábado no hotel Tropical.

Lovejoy, que já foi vice-presidente do WWF nos Estados Unidos, alertou para a possibilidade de algumas regiões da floresta amazônica, dentro e fora do Brasil, desaparecerem em alguns anos por causa das intervenções humanas. Ele chamou especial atenção para as regiões Leste e Sul da floresta, que atualmente são as mais afetadas pelas intervenções humanas.

Neste aspecto, o cientista criticou projetos de desenvolvimento que acabam interferindo no equilíbrio do ecossistema, como a construção de rodovias e de hidrelétricas. "Rodovias causam um impacto pesadíssimo e muito sério", explicou Lovejoy. "Estradas induzem ao desmatamento. Elas precisam ser substituídas por trilhos ou por hidrovias. Isso porque, afirmou, a floresta é responsável pelo equilíbrio do clima. Ele citou como exemplo ações de desmatamento realizadas em Rondônia, com a utilização de fogo, que acabou gerando um longo período de seca na região.

Por isso, ele alertou também para a questão do desmatamento parcial, ou seja, derrubada de fragmentos relativamente isolados da floresta. Segundo Lovejoy, há impacto na biodiversidade. "Uma área de um quilômetro quadrado perde metade das espécies de pássaros em 15 anos que vivem sob o dossel da floresta."

O escritor e consultor Mark London, que também participou do debate, apoiou a idéia de ter a floresta amazônica como uma "reserva mundial". "Trata-se de uma oportunidade para o mundo participar deste processo. Se perdermos a floresta tropical, isso será uma catástrofe para o mundo todo. Logo, por que não conseguiríamos apoio mundial para preservá-la?", questionou.

No entanto, no início de sua apresentação, London elogiou as iniciativas de preservação da floresta realizadas hoje, em conjunto com as comunidades locais, como "iniciativas puramente brasileiras". "A solução tem que vir do Brasil. E a obrigação dos demais países é dar apoio como cidadãos do mundo", acrescentou.

London, que é autor do livro "A Última Floresta - A Amazônia na Era da Globalização", destacou, em sua exposição, que os projetos de preservação da Amazônia devem necessariamente incluir o povo que vive por lá. "Esta é a casa deles", disse, arrancando aplausos do público. Ele também reconheceu a dificuldade de se encontrar uma solução equilibrada para a questão da cultura de soja e da criação de gado e a preservação da floresta.

London e Lovejoy destacaram iniciativas como os projetos Juma, Mamirauá e REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Na avaliação de Lovejoy, projetos como estes, com participações de grandes empresas realmente empenhadas com questões ligadas à sustentabilidade - e não apenas com a venda de créditos de carbono - irão atrair outras. "A importância da sustentabilidade vai aumentar exponencialmente ano após ano. É inevitável. Isso vai aumentar o interesse das empresas", afirmou o cientista.

A criatividade destas empresas seria a saída para diminuir a necessidade de projetos desenvolvimentistas que prejudiquem o meio ambiente, disse. "Empresas bem sucedidas vão enxergar e buscar as oportunidades. Tenho a confiança de que o setor privado vai se envolver mais intensamente."

Aquário - Durante a apresentação, o governador do Amazonas, Eduardo Braga, anfitrião do Fórum de Sustentabilidade, convidou os empresários a conhecer o projeto Museu da Amazônia. A idéia é ter um museu vivo, com cenários para um roteiro de ecoturismo, com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas para a Amazônia (Inpa). O projeto prevê a construção do maior aquário do mundo, uma vez que os rios da floresta amazônica possuem mais de três mil espécies de peixes.

O Fórum de Sustentabilidade vai discutir, nos dois dias de duração, a importância de se preservar a floresta amazônica, além de alternativas ambientais e sociais para o desenvolvimento da região. Cerca de 400 líderes empresariais participam do encontro em Manaus.

SOBRE SEMINARS - A Seminars é uma empresa resultado da associação do Grupo Doria Associados, comandado por João Doria Jr., e a Maior Entretenimento, presidida por Sergio Waib, que faz parte do Grupo ABC. Tem como objetivo desenvolver o mercado de palestras, seminários e workshops nas áreas de negócios, política, economia e tecnologia. A Seminars organiza eventos - proprietários ou sob demanda - sempre com personalidades relevantes, nacionais e internacionais, que sejam autoridades em suas áreas de atuação. O primeiro realizado pela Seminars em novembro de 2009, contou com o ex-secretário geral da ONU e prêmio Nobel da Paz, Kofi Annan.

Grandes cabeças, com talento reconhecido e mentes inovadoras, são os principais indutores dos debates. Essa é a importância dos eventos que a Seminars começa a desenvolver. As palestras vão reunir pessoas que disseminam conhecimento, fortalecem o pensamento e alimentam a troca de experiências vencedoras. As soluções estimuladas pelos debates da Seminars estarão sempre alinhadas com os mais elevados princípios éticos de governança corporativa e pautadas por políticas de sustentabilidade e responsabilidade social.
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FONTE : (Envolverde/Maxpress)

A Páscoa da Terra Crucificada - LEONARDO BOFF

A páscoa é uma festa comum a judeus e a cristãos e encerra uma metáfora da atual situação da Terra, nossa devastada morada comum. Etimologicmente, páscoa significa passagem da escravidão para a liberdade e da morte para a vida. O Planeta como um todo está passando por uma severa páscoa. Estamos dentro de um processo acelerado de perda: de ar, de solos, de água, de florestas, de gelos, de oceanos, de biodiversidade e de sustentabilidade do própro sistema-Terra. Assistimos estarrecidos aos terremotos no Haiti e no Chile, seguidos de tsunams. Como se relaciona tudo isso com a Terra? Quando as perdas vão parar? Ou para onde nos poderão conduzir? Podemos esperar como na Páscoa que após a sexta-feira santa de paixão e morte, irrompe sempre nova vida e ressurreição?

Precisamos de uma olhar retrospectivo sobre a história da Terra para lançarmos alguma luz sobre a crise atual. Antes de mais nada, cumpre reconhecer que terremotos e devastações são recorrentes na história geológica do Planeta. Existe uma "taxa de extinção de fundo" que ocorre no processo normal da evolução. Espécies existem por milhões e milhões de anos e depois desparecem. É como um indivíduo que nasce, vive por algum tempo e morre. A extinção é o destino dos indivíduos e das espécies, também da nossa.

Mas além deste processo natural, existem as extinções em massa. A Terra, segundo geólogos, teria passado por 15 grandes extinções desta natureza. Duas foram especialmente graves. A primeira ocorrida há 245 milhões de anos por ocasião da ruptura de Pangéia, aquela continente único que se fragmentou e deu origem aos atuais continentes. O evento foi tão devastador que teria dizimado entre 75-95% das espécies de vida então existentes. Por debaixo dos continentes continuam ativas as placas tectônicas, se chocando umas com as outras, se sobrepondo ou se afastando, movimento chamado de deriva continental, responsável pelos terremotos.

A segunda ocorreu há 65 milhões de anos, causada por alterações climáticas, subida do nivel do mar e arquecimento, eventos provocados por um asteróide de 9,6 km caido na América Central. Provocou incêndios infernais, maremotos, gases venenosos e longo obscurecimento do sol. Os dinossauros que por 133 milhões de anos dominavam, soberanos, sobre a Terra, desapareceram totalmente bem como 50% das espécies vivas. A Terra precisou de dez milhões de anos para se refazer totalmente. Mas permitiu uma radiação de biodiversidade como jamais antes na história. O nosso ancestral que vivia na copa das árvores, se alimentando de flores, tremendo de medo dos dinossauros, pôde descer à terra e fazer seu percurso que culminou no que somos hoje.

Cientistas (Ward, Ehrlich, Lovelock, Myers e outros) sustentam que está em curso um outra grande extinção que se iniciou há uns 2,5 millhões e anos quando extensas geleiras começaram a cobrir parte do Planeta, alterando os climas e os níveis do mar. Ela se acelerou enormemente com o surgimento de um verdadeiro meteoro rasante que é o ser humano através de sua sistemática intervenção no sistema-Terra, particularmente nos último s séculos. Peter Ward (O fim da evolução, 1977, p.268) refere que esta extinção em massa se nota claramente no Brasil que nos últimos 35 anos está extinguindo definitivamente quatro espécies por dia. E termina advertindo:"um gigantesco desastre ecológico nos aguarda".

O que nos causa crise de sentido é a exitência dos terremotos que destroem tudo e dizimam milhares de pessoas como no Haiti e no Chile. E aqui humildemente temos que aceitar a Terra assim como é, ora mãe generosa, ora madrasta cruel. Ela segue mecanismos cegos de suas forças geológicas. Ela nos ignora, por isso os tsunamis e cataclismos são aterradoras. Mas nos passa informações. Nossa missão de seres inteligentes é descodificá-las para evitar danos ou usá-las em nosso benefício. Os animais captam tais informações e antes de de um tsunami fogem para lugares altos. Talvez nós outrora, sabíamos captá-las e nos defendíamos. Hoje perdemos esta capacidade. Mas para suprir nossa insuficiência, está ai a ciência. Ela pode descodificar as informações que previamente a Terra nos passa e nos sugerir estratégias de autodefesa e salvamento.

Como somos a própria Terra que tem consciência e inteligência, estamos ainda na fase juvenil, com pouco aprendizado. Estamos ingressando na fase adulta, aprendendo melhor como manejar as energias da Terra e do cosmos. Então a Terra, através de nosso saber, deixará que seus mecanismos sejam destrutivos. Todos vamos ainda crescer, aprender e amadurecer.

A Terra pende da cruz. Temos que tirá-la de lá e ressuscitá-la. Então celebraremos uma páscoa verdadeira, e nos será permitido desejar: feliz Páscoa.
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FONTE : Leonardo Boff é Teólogo e autor de Nossa ressurreição na morte, Vozes 2007.
(Envolverde/O autor)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ranking Benchmarking Ambiental Brasileiro

Abertas inscrições para o Ranking Benchmarking 2010,Detentores das Melhores Práticas de Sustentabilidade. Inscrições Online até 30/05/2010.

Em sua 8ª edição, o Programa Benchmarking já se consolidou como um dos mais respeitados Selos de Sustentabilidade.

Com uma metodologia estruturada e participação de especialistas de vários países, o Ranking Benchmarking define e reconhece os detentores das melhores práticas de sustentabilidade. Faz parte do Programa Benchmarking, que além do Ranking congrega outras ações de fomento a sustentabilidade como publicações, banco digital de livre acesso, encontros técnicos e feira internacional.

As Instituições com boas práticas de sustentabilidade podem inscrever seus cases até 30/05/2010 pela internet, e uma vez rankeadas farão parte do maior Banco Digital de Boas Práticas Socioambientais de livre acesso do país, fonte de consulta para pesquisadores, universidades e mídias especializadas. A comissão técnica é multidisciplinar e congrega especialistas de vários países. As inscrições poderão ser feitas online no hot site www.benchmarkingbrasil.com.br

Programa Benchmarking cresce e ganha respeito

O Banco de Boas Práticas de Sustentabilidade de livre acesso do Programa Benchmarking, o maior do país, tem despertado o interesse da mídia especializada, em especial da mídia dirigida a gestão empresarial. A mais recente citação foi na Revista ESPM (edição 1 - janeiro/fevereiro 2010), que tem como tema central a sustentabilidade nas empresas.

A Coordenadora do Programa Benchmarking, Marilena Lino de Almeida Lavorato, foi uma das articulistas convidadas falando sobre a ferramenta Benchmarking e o Banco de Práticas de livre acesso. Para ler o artigo completo, visite o link: www.maisprojetos.com.br/clipping/clipping_espm_2010

Com uma metodologia única e inovadora, o programa em seus 8 anos de existência já selecionou e compartilhou aproximadamente 171 práticas de sustentabilidade. Passaram pelo crivo Benchmarking, mais 100 instituições brasileiras atuantes nos 03 setores da economia, e localizadas em 12 diferentes estados do país.

Comissão Técnica 2010, multidisciplinar e com participações internacionais

Um dos pilares do Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro é a sua comissão técnica que é única em seu formato e composição, analise e critérios de avaliação. Os critérios de avaliação são transparentes e os membros da comissão técnica avaliam a qualidade das praticas de sustentabilidade do case sem ter acesso ao nome da instituição. A comissão técnica congrega especialistas do Brasil, Portugal, Escócia, Estados Unidos e Alemanha.

Nomes confirmados em ordem alfabética:
Para ver mini CV completo, foto e frase depoimento sigar para o link: www.benchmarkingbrasil.com.br/index.php?pag=02bbad
Anderson Vinicius Romanini, Professor doutor da Universidade de São Paulo (ECA e FAU). É também Diretor de Relações Internacionais do Centro de Estudos Peirceanos da PUCSP, apresentador do programa TRAJETÓRIA da TV USP e coordenador do Laboratório Agência de Comunicação (LAC) da ECA.

André Urani, Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
Antonio Augusto Rossotto Ioris, Professor da Escola de Geociências da Universidade de Aberdeen, Reino Unido, pesquisador do Centro de Sustentabilidade Ambiental de Aberdeen (ACES) e coordenador do programa de Mestrado em Desenvolvimento Rural Sustentável.

Daniel Lage Chang, Fellow da Rede LEAD, Liderança em Meio Ambiente e Desenvolvimento, e integrante da equipe de Cooperação Internacional, ligada à Diretoria de Gestão Estratégica do Ministério do Meio Ambiente.

Fernando Codelo Nascimento, Professor titular da Faculdade Senai de Tecnologia Ambiental, Professor colaborador dos cursos de pós graduação da FATEC/SP e do curso de Pós Graduação da FSP/USP na área ambiental.

José Carlos Barbieri, Professor adjunto da Fundação Getúlio Vargas SP. Membro do Fórum de Inovação da EAESP, fundador e coordenador do Centro de Estudos de Gestão Empresarial e Meio Ambiente da EAESP.

Josimar de Almeida, Professor, Orientador e Coordenador Adjunto do Programa de Engenharia Ambiental(UFRJ-EP/EQ), Cientista e Professor Associado do Programa de Tecnologia Nuclear(USP-IPEN), Pesquisador Científico bolsista do CNPQ(Engenharia Ambiental), Professor Convidado:PRODEMA/UFAL, FGV- RJ.

Luís Felipe Nascimento, Professor Associado da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisador do CNPq e editor da Revista Eletrônica de Administração (REAd).

Marcio Amazonas, Engenheiro Agrícola com especialização em Relações Públicas para o Meio Ambiente, Engenharia e Gestão Ambiental. Coordena o desenvolvimento de tecnologias de baixo impacto ambiental para o tratamento de água e de sistemas de gestão para o abastecimento de água segura, em parceria com a OMS, a US EPA e o CDC.

Miguel Haddad Magnocavallo, Diretor Executivo do Escritório de Projetos Mercosul em Frankfurt, atuando como Front-Office da Aliança das Câmaras Binacionais Alemãs no Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

Regina Santos, Coordenadora da Unidade Gestão e Promoção da Inovação do IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação), orgão do Ministério da Economia e Inovação de Portugal Ricardo Carvalho, jornalista especializado em meio ambiente e sustentabilidade da TV Gazeta. É também diretor de conteúdos da Fotossíntese e do programa TV Ideal (nova emissora de TV da Editora Abril); membro da IUCN, a mais antiga ONG ambiental do Planeta, fundada em 1948 e da Comissão de Educação e Comunicação da entidade, e conselheiro do Instituto AKATU de Consumo Consciente.

Sineval Rodrigues, Professor Convidado da FDC - Fundação Dom Cabral (MG) e Professor e Orientador Pedagógico da Faculdade Energia em Criciúma/SC. Coordenador Acadêmico do Programa Máster em Empreendedorismo e Inovação - MEI, do Business Institute Internacional/ Babson College.

O 8º Benchmarking Ambiental Brasileiro é uma realização da Mais Projetos Gestão e Capacitação Socioambiental, e, conta com apoio das mais significativas instituições representativas do país. Para conhecer as edições anteriores, visite Bench Day.

(*) Benchmarking é uma ferramenta de gestão que busca as melhores práticas que conduzem ao desempenho superior. Seu propósito é estimular e facilitar as mudanças organizacionais e a melhoria de desempenho das organizações através de um processo de aprendizado. (wikipedia) São Paulo, 01 de março de 2010.
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FONTE : imprensa@maisprojetos.com.br e www.benchmarkingbrasil.com.br
55 11 3729-9005

Saneamento Ambiental é pauta de evento em Curitiba

Seminário discute tecnologias e soluções para indústrias e seus resíduos no meio ambiente

O discurso pode parecer o mesmo, é preciso preservar o meio ambiente para mantermos o equilíbrio do planeta. Entretanto, alertas como este e a própria reação da natureza demandam ações práticas e sustentáveis que possam ser multiplicadas. Ações como as que serão discutidas na terceira edição do Seminário de Saneamento Ambiental, que acontece paralelo a quinta edição da ReciclAção - Feira Brasileira de Reciclagem, Preservação e Tecnologia Ambiental, entre os dias 16 e 19 de junho no centro de Eventos Expo Unimed Curitiba.

Realizado pela empresa curitibana 3R Ambiental em parceria com a MonteBello Eventos, o seminário deseja levar à um número crescente de pessoas as melhores tecnologias e soluções atuais em termos de controle e prevenção da poluição ambiental. As discussões do evento estão em temas como a gestão sustentável dos resíduos sólidos, a reciclagem dos resíduos da construção civil, atendimento a legislação ambiental vigente, tecnologias para tratamento de efluentes e reuso, além da realização de uma visita técnica.

O evento, que está em sua terceira edição junto da ReciclAção, é uma síntese da necessidade atual da sociedade, discussões que tragam soluções palpáveis para geradores de resíduos. Para a engenheira civil e sócia diretora da 3R Ambiental, empresa que realiza o seminário, Livia Dian Ferreira, o evento deve focar a integração para o desenvolvimento sustentável, controle e prevenção da poluição, garantindo a sobrevivência da biodiversidade e questões prioritárias como o bem estar da população e a preservação ambiental. “Dessa forma certamente as escolhas serão feitas de forma mais assertiva. Sendo assim há uma maior eficiência nos processos de preservação do meio ambiente aplicados”.

Feira
Além de realizar o III Seminário de Saneamento Ambiental a 3R Ambiental participará novamente da feira qu acompanha o evento. De acordo com Valdir Bello, coordenador da ReciclAção, a 3R Ambiental é um importante parceiro do evento. “É uma parceria de sucesso que começou na segunda edição da feira e nos acompanha até hoje. Uma empresa séria que associa sua marca a ReciclAção e evidencia o compromisso do evento com a sustentabilidade”, enfatiza Bello. Sobre a ReciclAção, Lívia destaca que é uma importante ferramenta de troca de informações e tecnologias de ponta, uma vez que ela reúne as maiores e melhores empresas do setor de meio ambiente. “Fomenta o uso de tecnologias limpas, o uso racional dos recursos naturais, atendimento a legislação ambiental vigente e conscientização da sociedade, fazendo uma importante reflexão sobre a preservação ambiental”, comenta.

Neste ano os visitantes do estande da 3R Ambiental poderão conhecer inovações tecnológicas para tratamento de efluentes com reuso, que de acordo com Lívia, passam a ser uma alternativa cada vez mais interessante do ponto de vista econômico, além de proteção da empresa com relação a legislação ambiental. “O Tratamento de Efluentes e Reuso da água é um dos diferenciais da 3R Ambiental (http://www.3r-ambiental.com.br). Muitas atividades industriais possuem volumes significativos de efluentes líquidos que podem ser tratados e reutilizados novamente no processo produtivo, para lavagem de piso, irrigação, descarga de banheiro.”

Atualmente a preocupação das empresas é progressiva no sentido de preservar o meio ambiente e não somente de cumprir com obrigações legais. “Compromisso com o meio ambiente não significa despesa. É investimento que se traduz na preservação do patrimônio ambiental para as gerações futuras”, finaliza Lívia.

Serão apresentados ainda como eventos simultâneos da RECICLAÇÃO 2010, o II Seminário de Gestão Ambiental e Mudanças Climáticas, realizado em parceria com o Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA / USP) e a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, o Seminário de Reciclagem Agrícola – Resíduos Urbanos, Industriais e Rurais, promovido pela Associação dos Engenheiros Agrônomos de Curitiba (AEAPR-Curitiba), e o Curso Introdução ao Mercado de Reciclagem ministrado por profissionais do portal RECICLAVEIS.COM.

Saiba mais: http://www.montebelloeventos.com.br/reciclacao).

Recicle seus conceitos, pratique o desenvolvimento sustentável e amplie seus negócios.

“Associe a marca de sua empresa a um evento que gera negócios, sustentabilidade, inclusão e multiplicação da consciência ambiental.”
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FONTE : (Envolverde/Assessoria de Imprensa)

Carrefour estimula consumo consciente com concurso "Sua Frase na Sacola"

As cinco frases mais criativas ganharão prêmios como uma viagem para Fernando de Noronha, Amazônia ou Pantanal e Cartões-presente Carrefour, além de serem impressas nas sacolas retornáveis da rede.

Com o objetivo de incentivar o consumo consciente, o Carrefour promove o concurso “Sua Frase na Sacola”, que premiará as frases mais criativas de consumidores de todo o País e que serão impressas nas sacolas retornáveis da rede. A ação é uma parceria entre o Carrefour e o Ministério do Meio Ambiente e faz parte da campanha “Saco é um Saco”. No último dia 15 de março, a rede anunciou em sua unidade de Piracicaba, iniciativa inédita no varejo brasileiro, que irá eliminar o uso de sacolas plásticas tradicionais em todas as lojas das redes Carrefour Hiper e Bairro até 2014.

Para participar, basta criar uma frase de até 50 caracteres sobre os benefícios da utilização das sacolas retornáveis e sobre os 3R´s – recuse, reduza, reutilize. As inscrições podem ser feitas no hotsite do concurso, pelo endereço http://www.sacoeumsaco.com.br, até 15 de maio.
O primeiro lugar irá ganhar uma viagem com acompanhante para conhecer um dos três principais biomas brasileiros à sua escolha: Amazônia, Fernando de Noronha ou Pantanal. Já os vencedores entre a 2ª e 5ª colocações ganharão Cartões-presente Carrefour, que permitem realizar compras em lojas da rede.

Embalagens Sustentáveis

As sacolas retornáveis são uma opção sustentável para quem quer realizar suas compras. Na unidade Carrefour de Piracicaba, a primeira loja no País a eliminar as sacolas plásticas tradicionais, a rede oferece até o final de março gratuitamente sacolas retornáveis para que o cliente possa acondicionar suas compras.

Após o período, as sacolas retornáveis serão oferecidas para compra por preços entre R$1,90 a R$15,00. Uma das opções, vendida a R$2,90, tem capacidade para 35 quilos – o mesmo que cinco sacolas plásticas.

Outra opção oferecida pela rede são as caixas de papelão disponibilizadas gratuitamente para o consumidor. O Carrefour também desenvolveu em parceria com a Basf uma sacola 100% biodegradável, produzida com base em uma resina especial derivada do milho, que se decompõe em até 180 dias.

Só na unidade Piracicaba, o Carrefour deixará de distribuir mensalmente 500 mil sacolas plásticas, o que representa em um ano a eliminação do uso de mais de 6 milhões de sacolas plásticas.

Sobre o Carrefour - Há 35 anos no Brasil, o Grupo Carrefour é reconhecido como empresa pioneira no mercado varejista. A rede está presente em 18 estados brasileiros, com os formatos Carrefour Hiper, Carrefour Bairro, Atacadão e Dia%, além de oferecer serviços diversos para a conveniência do consumidor, como postos de combustíveis, drogarias, serviços financeiros, turismo, entre outros. A rede também atua na Internet, com o novo canal de vendas www.carrefour.com.br. O grupo conta com 70 mil funcionários no Brasil, sendo um dos maiores empregadores do País. No mundo, o Grupo é o segundo maior varejista do mercado, presente em 34 países.
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FONTE : (Envolverde/Assessoria de Imprensa)

Estudo traça perfil do mercado de agrotóxicos no Brasil

Em 2009, 65% dos agrotóxicos registrados no Brasil não chegaram a ser comercializados. Dos mais de 2 mil produtos disponíveis, apenas 783 chegaram às mãos dos agricultores. Os dados fazem parte do estudo “Monitoramento do Mercado de Agrotóxicos” , organizado pelo professor da Universidade Federal do Paraná Victor Pelaez.

Outro dado apresentado pelo estudo é de que as dez maiores empresas do setor de agrotóxicos concentram mais de 80% das vendas no país. “A criação de um portfólio de registros não utilizados adquire uma lógica mais financeira do que produtiva, ao se constituir como reserva de valor para as empresas”, explica Pelaez.

Para o diretor da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), José Agenor Álvares, a não utilização dos novos registros apontam para uma contradição do setor. “À medida que somos cada vez mais cobrados para dar agilidade aos processos de avaliação dos registros de agrotóxicos, os produtos que são autorizados não são colocados no mercado”, afirma Álvares.

Os dados também apontam a consolidação do Brasil como maior mercado e com maior ritmo de expansão no consumo de agrotóxicos em todo mundo. Ao longo desta década, o mercado brasileiro cresceu 176%, quase quatro vezes mais do que a média mundial.

De acordo com Álvares, os números apresentados comprovam o alto grau de comprometimento que as indústrias de agrotóxicos devem ter com o Brasil. “O setor do agronegócio deve praticar uma concorrência honesta, de modo que proporcione preços acessíveis para os pequenos produtores e agrotóxicos da forma mais limpa possível para toda população”, explica o diretor da Anvisa.

Mercado

O mercado brasileiro de agrotóxicos é o maior do mundo, com 107 empresas aptas a registrar produtos, e representa 16% do mercado mundial. Só em 2009, foram vendidas mais de 780 mil toneladas de produtos em nosso país.

O Brasil também ocupa a sexta posição no ranking mundial de importação de agrotóxicos. A entrada desses produtos em território nacional aumentou 236%, entre 2000 e 2007.
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FONTE : Danilo Molina, da Anvisa, publicado pelo EcoDebate, 29/03/2010

Anvisa encontra irregularidades graves em todas as empresas de agrotóxicos fiscalizadas desde 2009

Em junho de 2009 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começou a fiscalizar as empresas de agrotóxicos que atuam no mercado brasileiro, o maior consumidor mundial desses produtos. O resultado das operações feitas de surpresa com o apoio da Polícia Federal traz preocupação. Nas seis companhias vistoriadas, os agentes encontraram irregularidades.

Segundo o diretor da Anvisa, José Agenor Álvares, foram constatados problemas desde as formulações dos agrotóxicos, que estavam fora do padrão autorizado pelo governo, até o uso de produtos com prazo de fabricação vencido. Ao todo, 9 milhões de litros de agrotóxicos foram interditados.

“Isto é grave. As empresas tinham autorização para fabricar um tipo de componente, modificavam esses componentes e não informavam ao governo. Havia produtos acondicionados totalmente fora dos padrões usuais e das recomendações, trazendo perigo aos habitantes próximos à fábrica e a seus funcionários”, afirmou.

Álvares defende uma legislação mais rigorosa que iniba esse tipo de irregularidade. “Você acha que uma empresa que tem a matriz na Europa comete lá essas irregularidades que constatamos aqui? Em hipótese nenhuma, porque lá a legislação é rigorosa”, disse.

Na avaliação do diretor da Anvisa, a principal vítima desse tipo de problema é o trabalhador rural, que não sabe com o que está trabalhando, pois a toxidade do produto pode ser bem maior que a indicada no rótulo. De acordo com dados da Fiocruz, em 2007, quando foi realizado o último levantamento, 3.306 pessoas foram intoxicadas com agrotóxicos, e 23 morreram. Os mananciais de rios também podem ser contaminados, causando sérios impactos ambientais.

As empresas fiscalizadas foram autuadas administrativamente, e a primeira multa foi emitida este mês, no valor de R$ 2,375 milhões, contra a Milenia Agrociências, filial do grupo israelense Makhteshim Agan. Numa fiscalização realizada no ano passado, foram encontrados 2,5 milhões de litros de agrotóxicos adulterados nas fábricas da empresa em Londrina (PR) e Taquari (RS).

Mais cinco processos, segundo o diretor da Anvisa, estão em curso. Em outra frente, existe um cronograma de fiscalizações que será seguido. “Isso agora virou uma rotina”, afirmou.
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FONTE : Danilo Macedo, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 29/03/2010

Os poleiros e os eucaliptos da Suzano no Maranhão e no Piauí - Mayron Régis

Segundo informes da assessoria da Suzano Papel e Celulose, em março de 2010, a empresa, até o final de 2009, comprara 133 mil hectares nos estados do Maranhão e do Piaui. Informações prestadas à mídia, perto do fim do ano, adjudicavam que o projeto do Piaui já havia resolvido 60% das áreas necessárias para o empreendimento que engloba a região próxima à Teresina e a região próxima ao município de Caxias, no estado do Maranhão. O percentual quanto ao projeto das regiões oeste e centro-sul maranhenses atarantava os 80%, quer dizer, praticamente encerrada a fase de compra de terras.

O último informe dado pela assessoria pauta a mídia na resolução em 100% das áreas do projeto do Piaui e 75% das áreas do projeto no Maranhão. Em sua grande maioria, essas são áreas de Cerrado e a escolha delas se deve em função do percentual de 20% a 35% de reserva legal que a legislação determina a manutenção. Em cima e embaixo dos estados do Maranhão, Piaui e Tocantins as equipes da Suzano cansaram um mundão de gente com informações imprecisas sobre as áreas que pretendiam comprar. Pelo que foi divulgado nessas reuniões e pela mídia, a empresa compraria um carretel de propriedades e que eles preferiam fazendas de gado que apresentassem indícios de degradação ambiental.

Em alguns dos municípios maranhenses a Suzano comprou terras como em Estreito, região tocantina, cerca de sete propriedades, e em Matões, região dos cocais, onde a propriedade ascende sobre parte da área urbana do município. Os outros municípios seriam meros coadjuvantes para o projeto. A média de compra de terras que a empresa adquiriu no segundo semestre de 2009, de 20 mil hectares por mês, permite afirmar que nos dois primeiros meses de 2010 ela magoou um pouco ou um pouco menos de 40 mil hectares nos dois estados o que totalizaria menos de 200 mil hectares.

Quem quiser e quem puder refrescar a memória a respeito e a despeito dos projetos da Suzano para os estados do Maranhão e do Piaui se confessará inadimplente quanto ao que se creditaram como grandes somas para a expansão da monocultura de eucalipto nas bacias do rio Tocantins e do rio Parnaiba. A Suzano, com essa barafunda de numerais e de pontos cardeais, cativa a realidade local do Cerrado com outra realidade como se os seus números devolvessem, mesmo que no papel ou na mera declaração, a singularidade dos fatos. As pessoas confiam mais em números, mas o que eles representam senão uma abstração. Nos estudos de impacto ambiental, a empresa sustenta que as áreas em que ele pretende plantar eucalipto representam 3% da área total do estado do Piaui. Os seus braços informais no Maranhão sustentam a mesma continência ve rbal;

O que os números mentem diz respeito ao fato de que essas áreas estão emborcadas nos formadores das bacias do rio Tocantins e do Parnaíba. Afinal, os quase 10% de Cerrado, de Caatinga e de Amazônia podem representar muito mais dos que os milhões que a Suzano botará em seus poleiros.
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FONTE : Mayron Régis é assessor do Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate, 29/03/2010.

domingo, 28 de março de 2010

Um negócio plantado: Pais, avós e padrinhos das monoculturas florestais no Uruguai

Por Anahit Aharonian, Carlos Céspedes,Claudia Piccini e Gustavo Pinheiro (1)

A política florestal mundial adotada pelo Uruguai tem sido o denominador comum dos sucessivos governos democráticos pós-ditadura cívico-militar, sem importar sua bandeira. Não obstante, deve se reconhecer que o governo blanco do Dr. Luis Alberto Lacalle foi um dos que mais contribuiu para que essa política setorial ganhasse a opinião pública e fosse centro das discussões. Isso foi lembrado recentemente pelo semanário Brecha, na edição de 20 de novembro de 2009, no artigo “Um campo aqui, outro lá….”

Contudo, seria simples demais acreditar que, tanto os interesses especulativos como o suposto sucesso do modelo florestal, são obra exclusiva de Lacalle. Dificilmente um governante teria poder suficiente para convocar e articular a vontade de tantos funcionários envolvidos em políticas que transcendem o próprio Estado e seus governos ocasionais. Por trás disso tudo existe uma enorme pirâmide de profissionais divididos em diferentes tipos de tecnocratas – públicos e privados, nacionais e internacionais, que permeiam todas as estruturas, tanto do Estado como das instituições internacionais. Isso permitiu à política florestal implantada no Uruguai atravessar com êxito todas as instâncias da discussão parlamentar desde o primeiro governo pós-ditadura.

Um detalhe “menor” mencionado pelo jornalista do semanário em sua nota pode nos servir de exemplo: “Definiram-se áreas com `prioridade florestal` e classificaram-se os solos para tal”.. Esses solos foram classificados para a atividade no princípio da década de 70. Naquela época, avançava mundo afora uma visão de produção agrícola que iria consolidar-se com a Revolução Verde. Nada ou pouco se sabia sobre conceitos fundamentais como “serviços ecossistêmicos”, “externalidades ambientais” ou “passivo ambiental”. O lema era claro: o solo produzia algo de valor econômico ou não servia. Sob essa ótica, e num Uruguai predominantemente produtor de grãos e pecuarista, 11,2% (1.810.000 hectares) do território nacional foi destinado aos cultivos florestais. Considerando o bom nível de capacitação da equipe técnica responsável por essa missão, assim como a visão da época, tudo levava a pensar que esses 11,2% eram imutáveis ou, na melhor das situações, reduzíveis. Contudo, aconteceu o contrário: No “dia dos inocentes” de 1987, foi aprovada lei de promoção do setor florestal (15939, de 28/12/1987). Escassos meses depois, os “solos de prioridade florestal” passaram a representar 14,2% (2.314.000 hectares) do total e, apenas dois anos depois, em 1990, no preâmbulo do lançamento do Plano Nacional Florestal (1991), alcançaram 22,1% (3.575.000 hectares). Ou seja, duplicou-se a superfície de solos originalmente prevista em 1971. Como isso foi acontecer?

Em meados da década de 80, a comunidade internacional concorda em deixar claramente documentadas as causas e possíveis soluções dos problemas ambientais e de desenvolvimento que afetavam o planeta. Esse documento, levado a público em 1987 e conhecido como “Relatório Brundtland” (ou “Nosso Futuro Comum”, em sua denominação original), foi fonte de inspiração da “globalização” dos problemas e conflitos ambientais. O ”mapa do caminho” delineado no Relatório Brundtland influiu grandemente, entre outros, na criação do IPCC [2] (1988).

No Uruguai, o Relatório Brundtland promoveu um “espírito” internacionalista e de compromisso com a causa comum ambiental. Os funcionários públicos e da iniciativa privada se preparavam para as “reuniões preparatórias” da Cume do Rio (1992), a instância internacional que mais chefes de Estado convocou na História. Nesse contexto, consegue-se uma vontade pública sem precedentes, por sua rapidez: promulgar, (entre o Natal e o Ano Novo de 1987), a Lei Florestal. As agências internacionais, tão solícitas diante dos problemas do mundo, não poderiam estar alheias a isso. Assim, entre outras, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) apresentou prestimosa ao governo uruguaio uma proposta sobre o que fazer com os eucaliptos promovidos pela nova lei. Sua incidência foi tal que o texto promulgado em 1988 sobre o Plano Nacional de Reflorestamento baseou-se explicitamente nesse estudo da JICA.(Estudo de um Plano Diretor para o estabelecimento de plantações de árvores e utilização de madeira plantada na República Oriental do Uruguai”).

O desconhecimento de nossos técnicos, o vazio de informações e também político foram pedras fundamentais para definir e construir o perfil do “Uruguai, país genuflexo”, que campeou na década de 80 nas mãos do terrorismo de Estado. Essa realidade contribuiu ativamente para gerar um novo ator na vida política do Estado, o tecnocrata. Na mentalidade tecnocrática, segundo Finz [3], racionalidade e “verdade” estão indissoluvelmente unidas, segundo um esquema reconhecido quase que universalmente entre o pensamento contemporâneo, no qual, além do mais, a racionalidade está fundamentada sobre elementos meramente quantitativos. Já não haveria espaço para os juízos de valor, isto é, para os juízos que, por sua própria natureza, não podem ser mensurados por elementos quantitativos.

Segundo Patrício Silva [4], “tecnocracia se refere à adaptação do expert às tarefas de governo, argumentando possuir uma posição científica. Dessa forma, os tecnocratas se justificam a si mesmos, fazendo um chamado ao expert técnico baseado nas formas científicas do conhecimento, argumentando que eles podem entregar soluções técnicas a problemas políticos. Baseado em um conceito similar, Meynaud sustenta que a diferença ente um técnico e um tecnocrata estaria determinada pelo nível da tomada de decisões do qual ele participa e do seu grau de influência entre os líderes políticos”.

Desse modo, em um mundo onde a informação é poder, e onde esta, além disso cresce vertiginosamente, os tomadores de decisões se tornam cada vez mais dependentes da consulta de especialistas ou consultores externos que lhes forneçam dados pré-digeridos e tabulados, prontos para a tomada de decisão. Apesar de sua tarefa se limitar tão somente à reciclagem de dados parciais gerados por terceiros, sua síntese se transforma afinal na formadora da opinião pública. Desse modo, sua presença e intervenção na gestão do Estado se torna indispensável para a condução de algumas políticas setoriais que exijam informação altamente especializada. O conflito surge quando a opinião o especialista ou consultor não é imparcial, como muitas vezes acontece. Sua ligação a grupos ou corporativismos setoriais certamente estará acima dos interesses coletivos ou até políticos partidários.

As campanhas publicitárias também não são alheias à consolidação de políticas setoriais, à medida que são as que facilitam a construção de consensos hegemônicos. Cabe somente lembrar aquela que acompanhou a imposição do Uruguai Florestal e que levou à confusão conceitual entre “floresta nativa” e “plantação de eucaliptos’, ou à idéia de lucros inestimáveis, como a daquele folheto dirigido a convencer avós a investir em plantações florestais para seus netos, de forma que estes tivessem amanhã a possibilidade de estudar na Universidade de Harvard.

Ainda quando os discursos pareciam tão opostos entre os sucessivos governos, houve uma continuidade da política florestal nacional acima de toda a ideologia partidária. Isso é o que chama mais a atenção. Estaremos a tempo de reflexionar e gerar um debate genuíno em torno dessas políticas?

[1] Membros da Comissão Multisetorial (covitradi@adinet.com.uy)
[2] sigla em inglês de Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas
[3] Finzi, Cláudio, em Il Potere Tecnocrático, Bulzoni, Roma, 1977
[4]¨”Los tecnocratas y la politica en Chile: pasado y presente” publicado na Revista de Ciência Política, volume 26, nº 2, 2006.

Tradução: Renzo Bassanetti
(Publicado no Semanário Brecha, de Montevidéu, em 11/12/2009)

Quando lavouras viram florestas

Alguns dos pontos de maior conflito na discussão sobre florestas na Conferência de Copenhague, foi a insistência de países que querem considerar como florestas áreas de monocultura de árvores, visando retorno financeiro a partir de mecanismos de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD). Um artigo de Chris Lang, publicado no portal REDD Monitor, mostra que a discussão está cada vez mais longe de se encerrar com uma definição mais séria e técnica, e cada vez mais política.

Citando três documentos que supostamente vazaram na semana passada, ele revela que a Comissão Européia de Ciências sobre Política Ambiental divulgou que a precificação de carbono será insuficiente para salvar as florestas tropicais das pressões de desmatamento, especialmente as de conversão de áreas nativas para plantações. Ao mesmo tempo, a União Européia considera defender plantações de dendê como se fossem florestas tropicais, posição endossada pelo governo da Indonésia. A Indonésia é o maior produtor de óleo de dendê do mundo, com plantações em mais de 7 milhões de hectares. Hoje essas lavouras são consideradas áreas cultivadas da agricultura.

De acordo com o autor, a UE define como floresta qualquer área maior que 500 metros quadrados com árvores capazes de crescer dois metros de altura. O argumento dele é que a alta no preço do carbono vai elevar a demanda por biocombustíveis, e com isso aumentar as pressões para converter florestas em lavouras de dendê. Agravantes são a política européia para uso de energia renovável, como a utilização de biocombustíveis em 10% de todo serviço de transporte público até 2020.
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FONTE : O ECO

Eucalipto e o Desenvolvimento Municipal no RS 2000-2006

Envio uma pequena contribuição ao debate da questão do eucalipto do RS. As principais conclusões tendo por base os Índices de Desenvolvimento Municipal 2000 e 2006 da FIRJAN são:

1. Não existe correlação entre a implantação da silvicultura de eucalipto e o desenvolvimento municipal, ao contrário do que tem sido apregoado;

2. Os benefícios da cadeia produtiva da celulose são alcançados apenas em uma das pontas, onde se localizam as indústrias. Na outra ponta, onde está o eucalipto, os benefícios são concentrados e não contribuem para mudanças nos perfis sócio-econômicos dos municípios o que, associado aos impactos ambientais que podem ser gerados, reforçam a tendência de distribuição heterogênea do desenvolvimento econômico, social e ambiental do Rio Grande do Sul.

Abraços
Antonio Eduardo Lanna
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FONTE : OngCea

Eucalipto é realidade no pampa, mas falta informação

A pesquisa envolveu alunos dos cursos de Engenharia Florestal, Ciências Biológicas, Gestão Ambiental e Biotecnologia, da Universidade Federal do Pampa, Campus de São Gabriel – região onde se implantaram nos últimos anos grandes plantios comerciais de Eucalipto para produção de celulose.

Foi aplicada pelo professor de engenharia florestal Ítalo Filippi em turmas de primeiro ano, com ingresso em 2009.

A principal conclusão: o nível de informação sobre o assunto é muito baixo, mesmo entre estudantes que se voltam para áreas que se relacionam diretamente com ele.

Mais da metade dos entrevistados disse que se informa sobre o assunto “com os amigos”, outra metade citou a televisão como fonte de informação.

A maioria (51,40%) se situa entre total e parcialmente a favor; 26,86% entre parcial e totalmente contra e 21,74% indiferentes

Nas expressões usadas para justificar posições contra ou a favor predominam os chavões, que são repetidos sem entendimento.

A pesquisa é parcial e, segundo o próprio autor, um indicativo apenas de uma situação preocupante. Vale a pena ler o artigo que o autor da pesquisa publicou…

Plantio comercial de Eucalyptus spp na regiãodo pampa: posicionamento de estudantes

A Metade Sul do Rio Grande do Sul tem experimentado uma transformação da sua matriz produtiva nesta primeira década do século XXI.

Esse fato foi gerado a partir dos investimentos de três grandes empresas nessa região como parte de uma visão global da base florestal sobre o cultivo do Eucalyptus spp na América do Sul.

Isso tem gerado discussões “acaloradas” sobre essa espécie, motivada por vários aspectos, em que a questão técnica é sobrepujada muitas vezes por “chavões” ou lugares-comuns.

Dessa forma, há um impedimento de maior aprofundamento, deixando a opinião pública com falsos esclarecimentos sobre esta fase que está passando a Metade Sul do Rio Grande do Sul e o próprio cultivo dessa espécie no Bioma Pampa, assim como a sua interferência.

Diante desse fato, foi realizada uma pesquisa de opinião com cinco questões abrangentes sobre a posição dos alunos dos cursos de Engenharia Florestal, Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura), Gestão Ambiental e Biotecnologia, ingressantes no ano de 2009 na Universidade Federal do Pampa, Campus de São Gabriel, em relação aos plantios comerciais de Eucalyptus spp na Metade Sul do RS.

Como resultado do primeiro questionamento, que tratou sobre a posição favorável ou não sobre os plantios, obteve-se 51,40% entre total e parcialmente a favor; 26,86% entre parcial e totalmente contra e 21,74% indiferentes.

A segunda pergunta buscava saber através de qual meio de comunicação o pesquisado obteve informações sobre a cultura do gênero Eucalyptus.

Em função da possibilidade de assinalar mais de um item, obteve-se como as respostas mais frequentes a televisão, 53,17%; e amigos ou conhecidos, 54,64%.
Existem expressões utilizadas pela população referentes ao plantio em grande escala do eucalipto.
Cabe ressaltar que principalmente as expressões “Deserto Verde”, “Eucalipto não se come” e “O Eucalipto seca as fontes d’água” são as mais citadas e foram utilizadas na pergunta três sobre a veracidade das mesmas.

O resultado apontou como 37,71% não tendo conhecimento claro sobre esse assunto e 35,32% citando como mito.

Quando solicitado, na pergunta quatro, que aquilatasse os possíveis prejuízos da implantação da silvicultura na Metade Sul do Rio Grande do Sul como muito, pouco, nenhum ou indiferentes, os pesquisados responderam: a concentração de terra (36,7%), desmatamento de áreas nativas (32,40%), concentração de capital e renda (36,5%), contribuem muito pouco com impostos para municípios da região (25,36%), perda de biodiversidade (32,86%), danifica o solo de forma irreparável (31,76%) e gera vazios populacionais (30,63%) eram, dentre os mencionados no instrumento, os que consideravam prejuízos muito grandes.

De forma semelhante, a questão cinco abordou os potenciais benefícios da implantação da silvicultura e qualificou os valores de muito a indiferente segundo itens abordados, e os resultados foram que a maioria identificou como benefício a geração de emprego e renda (40,16%), proteção de mananciais (52,44%), absorvem grande quantidade de CO2 da atmosfera, diminuindo a poluição e o calor e combate o efeito estufa (36,5%). Destacam-se, na questão cinco, itens como infiltrar água no solo e recuperação de solos por ações como queimadas regulares e uso inadequado, qualificados como nenhum benefício por 26,54% e 27%, respectivamente.

A pesquisa de opinião pública levada a efeito junto aos estudantes da Unipampa – Campus São Gabriel não é conclusiva, porém é um demonstrativo da falta de difusão das informações técnicas sobre o assunto. Muitos desses estudantes são oriundos de cidades ligadas às regiões de implantação dos projetos de silvicultura e acabam replicando o conhecimento obtido de forma empírica sobre o tema.

Embora tenha gerado surpresa àqueles que ainda não tenham se posicionado sobre o assunto apesar de campanhas prós e contras, já se observa um percentual significativo que avalia os “chavões” como apenas mera repetição sem nenhum significado científico. Os itens concentração de terra, renda e gerar vazios populacionais já são uma realidade de muito tempo nesta região, onde o sistema de grandes extensões de terra mais conhecidos como latifúndios é uma prática secular, e os empreendimentos não estarão ampliando essa situação. Desmatamento de áreas nativas e perda de biodiversidade são resultados patentes de desconhecimento sobre o tema, pois onde ocorre a implantação de povoamentos, pelo menos no setor da silvicultura, não pode haver a supressão de qualquer forma de espécies nativas, incluindo até mesmo gramíneas. Esse resultado sinaliza a necessidade premente das universidades, institutos e empresas de ampliar conhecimentos dessa parcela significativa da população, incluindo análise dos conteúdos desenvolvidos nos diferentes componentes curriculares de graduações, palestras, cursos, seminários e resultados de pesquisas específicas no Bioma Pampa, focalizando os benefícios e os potenciais impactos que essa cultura, em grande escala, pode proporcionar. Essas atividades são desenvolvidas por diferentes profissionais, incluindo principalmente os da área florestal, favorecendo reflexões, posicionamentos e ações desses futuros profissionais assim como da população em geral, no que tange ao cultivo do eucalipto para fins comerciais.
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FONTE : OngCea - Centro de Estudos Ambientais

Estudo comprova incompatibilidade de eucaliptais com o meio ambiente

Qualquer monocultivo em escala industrial, em especial o afeto ao plantio de milhões de árvores clonadas de eucalipto, é incompatível com o propalado desenvolvimento sustentável”.

A afirmação é do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves e foi divulgada pela ONG WRM. Ele critica os extensos plantios de eucalipto que tomam as áreas de Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, entre outros estados brasileiros.

A constatação do geógrafo se deu após análises no Vale do Paraíba, em São Paulo. Lá ele constatou uma série sem precedentes de devastação ambiental por conta da total ausência de monitoramento estatal e do desrespeito às leis ambientais. Com isso, diz o estudioso, o que se vê atualmente é a ocupação de topos de morros, a afronta a áreas de mananciais e a violação a matas ciliares.

Em Taubaté, por exemplo, nem mesmo a bacia do rio Uma (manancial responsável pelo abastecimento de água potável para as populações de Taubaté e Tremembé) foi poupada. Embora oficialmente tombada pela municipalidade taubateana por sua significativa riqueza hídrica, paisagística e ecológica, a bacia do rio encontra-se tomada por grandes plantações de eucalipto.

Aqui, o cenário não é diferente. Conforme os depoimentos de índios e quilombolas do norte do Estado, inúmeros córregos desapareceram após a implantação dos extensos plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (atual Fibria), na região.

“A monocultura do eucalipto não pode ser aceita como floresta, posto que não cumpre o ciclo biológico de devolução dos nutrientes tão característico das florestas nativas e é incompatível com a biodiversidade”.

O geógrafo critica ainda os eucaliptais clonados, que, segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), apesar da negativa da empresa, também são plantados no norte e no do Estado, através,inclusive, do fomento florestal (programa que incentiva o plantio em terras particulares).

“Diante do rápido crescimento das árvores clonadas, todos os nutrientes exauridos da terra pelas árvores são transferidos e aniquilados no processo industrial da pasta de celulose, num processo tecnicamente conhecido como exportação de campo, deixando para trás as terras devastadas, a paisagem lunar, enormes áreas sobrecarregadas com os tocos mortos”.

A agravar ainda mais os efeitos nocivos ao meio ambiente, estes plantios são tratados com a aplicação de toneladas de herbicidas à base de glifosato (elemento químico altamente nocivo ao meio ambiente e cancerígeno), que, via de regra aplicado em topos de morros, escorrem para as áreas baixas, contaminando mananciais.

No Estado, a mortandade de peixes, a desertificação do solo, a contaminação das águas antes utilizadas como lazer e abastecimento das comunidades tradicionais do norte, já foram exaustivamente denunciadas aos órgãos ambientais, mas nada é feito.

Em estudo que se tornou marco sobre o tema, o cientista Augusto Ruschi, assegurou que o consumo assombroso de água derivado da monocultura do eucalipto é responsável pela deficiência hídrica verificada no norte do Espírito Santo.

Já em São Paulo, na pequena cidade de Piquete, o agrotóxico foi responsável pela morte de mais de 8 mil quilos de peixes, centenas de suínos, pássaros silvestres, anfíbios e árvores frutíferas, para não se falar na contaminação dos moradores do entorno de grande latifúndio de eucalipto.

Os extensos plantios de eucalipto também deixam pra trás a destruição da diversidade cultural das localidades campesinas, inviabilizando o desenvolvimento da agricultura familiar. Segundo o estudo, esse plantio “faz com que se extingam manifestações culturais tradicionais como festejos populares, atos devocionais emanados de lugares tidos como sagrados pela população originária, agora suprimidos pelos grandes latifúndios do eucalipto, consumando tudo de ruim que se possa perceber numa região já assolada pelo avanço do monocultivo”.

Como se vê, de floresta o eucalipto possui apenas a cor verde. Um verde enganador, dizem os ambientalitas.

“As vastas plantações de eucalipto não são florestas, e não geram nem a décima parte da oferta de empregos bradada por seus empreendedores. Todos esses questionamentos socioambientais já estão sendo realizados, com êxito, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo que, em três ações civis públicas ajuizadas em São Luiz do Paraitinga, Distrito de Catuçaba e Piquete, conseguiu acessar decisões judiciais suspendendo os projetos futuros do monocultivo nessas localidades”.

A medida é considerada uma vitória e um exemplo para o Espírito Santo, onde as autoridades fecham os olhos diante dos impactos gerados pela monocultura do eucalipto.

No Estado, sofrem com o plantio de eucaliptos pela Aracruz Celulose, principalmente os municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Entretanto, extensos plantios também podem ser encontrados no sul do Estado, inclusive em topos de morros.
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FONTE : SeculoDiario

sexta-feira, 26 de março de 2010

LICENÇA AMBIENTAL : Fatma e Ibama disputam OSX

Ministério Público estuda uma medida judicial para garantir que o órgão federal assuma o processo do estaleiro de Biguaçu
O processo de licenciamento ambiental do estaleiro da OSX em Biguaçu, na Grande Florianópolis, virou motivo de disputa nos bastidores dos órgãos de fiscalização do meio ambiente. Apesar de o Ministério Público Federal em SC (MPF/SC) ter recomendado que o Ibama assuma, todo o processo segue com a Fundação do Meio Ambiente (Fatma).

Técnicos do órgão estadual analisam o estudo feito pela consultoria Caruso Jr. Estudos Ambientais e Engenharia para a OSX. O relatório preliminar deve sair dia 31, no máximo, nos primeiros dias de abril.

O presidente da Fatma, Murilo Flores, diz que o MPF não tem sustentação na legislação para pedir a interferência do Ibama. Por isso, manteve a dianteira do processo.

– O MP alega que o empreendimento está na zona costeira e passa por reservas federais, mas isso não quer dizer nada. A Fatma continua trabalhando em cima do relatório enviado pela consultoria dos empreendedores.

O MPF/SC analisa a possibilidade de tomar uma medida judicial para que o Ibama assuma a competência do licenciamento do estaleiro OSX.

– O Ibama é responsável por licenciamentos de projetos de grande impacto ambiental, que ultrapassam mais de um Estado ou em áreas fronteiriças a outros países. Também assume quando o órgão estadual se considera incompetente, o que não é o caso. Fora isso, apenas com determinação da Justiça – explica a assessoria de imprensa do Ibama.

Segundo Alexandre José Reis, assessor do procurador da República Eduardo Barragan, autor da recomendação, o MPF/SC entende que o impacto ambiental das obras é muito grande, e a navegação dos navios petroleiros será realizada num corredor de reservas federais, como a Ilha do Arvoredo, Anhatomirim e a Estação Carijós (veja no mapa acima).

– A recomendação não tem caráter de obrigatoriedade. Mas por considerar que o Ibama seria o órgão mais adequado, o MPF está realizando estudos aprofundados para avaliar a necessidade de uma medida judicial.

Segundo o presidente da Fatma, a velocidade no andamento do licenciamento depende da quantidade de demandas que a Fatma pedir para reduzir o impacto ambiental do projeto e também da rapidez com que elas forem atendidas pelo empreendedor.

– Neste tipo de processo, é difícil determinar com clareza um prazo. Mas é provável que tenhamos condições de emitir a Licença Ambiental Prévia (LAP) em julho, se o empreendimento for considerado viável – revela Flores.

Audiência pública deve ser realizada em maio

O Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (Rima) foi protocolado na Fatma dia 18 de dezembro e encaminhado à gerência de licenciamento no início de fevereiro. A partir daí, começou a contar o prazo mínimo de 45 dias para a primeira das duas audiências públicas obrigatórias.

A Fatma montou uma equipe com biólogos, oceanógrafos, geólogos e geógrafos que está fazendo a leitura do estudo realizado pela consultoria Caruso Jr. Os técnicos devem incluir todas as suas dúvidas sobre o projeto no relatório preliminar que deve sair no final deste mês.

Nas audiências públicas são levantados todos os pontos que não ficaram claros e cabe ao empreendedor esclarecer tudo. A previsão para a realização da primeira audiência é na primeira quinzena de maio.

– Depois de feitas as audiências, que sempre são polêmicas, se houver viabilidade, concede-se a LAP, com a programação do que o empreendedor deve executar para implantação efetiva do projeto. Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade entram no debate – conclui o presidente da Fatma.
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FONTE : DIÁRIO CATARINENSE,edição de 26/março/2010, simone.kafruni@diario.com.br

quarta-feira, 24 de março de 2010

Expansão da agricultura orgânica é economicamente viável

As principais barreiras que limitam a expansão, tanto da oferta quanto da demanda, do mercado dos alimentos orgânicos motivaram o desenvolvimento da tese de doutorado do economista Wagner Lopes Soares, no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Além de defender que a agricultura orgânica é economicamente viável, ele avalia os efeitos positivos e negativos provocados pela utilização do agrotóxico; analisa a saúde do trabalhador rural de acordo com as características do uso de agrotóxico nos estabelecimentos rurais; e aponta alternativas econômicas e tecnológicas para sua eliminação, sempre que possível.

A tese “Uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avaliação integrada entre a economia, a saúde pública, a ecologia e a agricultura“, analisa fatores que influenciam o uso dessas substâncias nas propriedades agrícolas. Fale sobre a importância de reunir todos esses aspectos para abordar um tema que está em evidência.

Wagner Lopes Soares: Sou economista, trabalho no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fiz meu mestrado em economia. Porém, não é comum observarmos uma abordagem das ciências econômicas sobre a questão dos agrotóxicos. Normalmente, o que predomina na literatura serve mais para demonstrar a eficiência desses produtos e do modelo agrícola, que incorpora essa “modernidade”. Poucos são os trabalhos que abordam, revelam e discutem a questão da ineficiência desses produtos. Certamente, um fator importante para a decisão do uso dessas substâncias é que muitos dos seus impactos sociais são externalizados, ou seja, não refletem em um custo privado para o agricultor quando decide utilizar esses produtos. Quem acaba pagando, quando há trabalhadores intoxicados, contaminações na biota e em recursos ambientais é a sociedade, o que de certa forma acaba incentivando o uso desses insumos por parte do agricultor individual.

Em relação à questão do emprego dos agrotóxicos na agricultura e seus efeitos – ou externalidades negativas – à saúde e ao ambiente, podemos dizer que essa tese é inovadora, pois, além de valorá-las, discute o papel de desincentivos econômicos ao uso dessas substâncias e incentivos às outras opções tecnológicas menos nocivas. Na minha dissertação de mestrado também abordei o tema. No entanto, naquela ocasião, o olhar sobre o problema se restringiu a uma visão economicista, simplificada, e que não dava conta de abarcar as várias questões em razão da sua grande complexidade. A lição tirada da dissertação de mestrado sobre a questão dos agrotóxicos é que explorá-la mais exigiria um grande esforço interdisciplinar em diferentes áreas, especialmente da agricultura e da saúde pública.

A tese foi defendida no Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Ensp, que traz uma abordagem interdisciplinar sobre as questões relacionadas à saúde e ao meio ambiente, e o tema agrotóxico é bastante complexo. Como foi o desenvolvimento do estudo?

Soares: A tese é composta de três artigos sobre o uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente, e um quarto artigo que aborda, sob o prisma das políticas públicas, alternativas de produção ao modelo agrícola baseado no uso intensivo desses insumos. O primeiro artigo, Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no Cerrado brasileiro, publicado no periódico Ciência e Saúde Coletiva, em 2006, teve como objetivo discutir as externalidades negativas associadas ao uso intensivo de agrotóxicos no bioma do cerrado, área em franca expansão da atividade agrícola, em especial da monocultura da soja. O artigo traz uma visão ampla das externalidades negativas provocadas pelos agrotóxicos utilizados na atividade agrícola e a importância das políticas de regulação para internalizá-las no processo produtivo. Nesse artigo, em função da própria base de dados utilizada, procuramos dar ênfase aos impactos ambientais, como é o caso da contaminação do solo e da água pelo uso dos agrotóxicos e fertilizantes.

Quais foram as abordagens dos artigos seguintes?

Soares: O segundo e o terceiro artigos mostram como fazer um exercício de valoração desses custos. O segundo passa pela externalidade associada à intoxicação aguda e apresento dados do IBGE em que estabeleço associações entre a intoxicação e características do estabelecimento rural, por exemplo: se ele usa receituário agronômico ou não, se possui assistência técnica, quem indica o uso do agrotóxico, a quantidade utilizada, a área em que é aplicado, ou seja, uma série de variáveis e as suas relações com a intoxicação aguda do trabalhador rural. A partir daí, conduzimos um estudo que valora os custos sociais associados à intoxicação aguda, condicionando-os às características dos estabelecimentos rurais e comparando-os aos benefícios dos agrotóxicos, obtidos a partir dos ganhos de produtividade. Por meio de um exercício comparativo, avalia-se o quanto benefícios exclusivamente privados chocam-se com os interesses de bem-estar da sociedade como um todo. Os resultados indicam que os custos com a intoxicação aguda podem representar em torno de 64% dos benefícios dos agrotóxicos, e, na melhor das hipóteses, quando as características de risco dos estabelecimentos encontram-se ausentes, esses custos representam 8% dos benefícios.

Como foi feita essa divisão entre os estabelecimentos com grande risco de intoxicação e os com menor risco?

Soares: Quando todos os fatores de risco de intoxicação estavam presentes em um determinado estabelecimento, chamei de Tipo 1, e estimei o custo da intoxicação aguda para esse estabelecimento mais arriscado. Em seguida, fiz o cálculo do custo esperado para um estabelecimento sem esses fatores de risco, o Tipo 2, e fiz o seguinte cálculo: se todos os estabelecimentos do Paraná que produzem o milho fossem do Tipo 1, qual seria o custo agregado para o estado? Esse cálculo se baseia no número de estabelecimentos que produzem milho vezes o custo esperado do estabelecimento mais arriscado. Isso dá um custo para o estado da ordem de US$ 70 milhões para os estabelecimentos do primeiro tipo. Se imaginarmos que esses mesmos estabelecimentos são do Tipo 2, esse custo cairia para US$ 9 milhões, ou seja, uma economia em torno de US$ 61 milhões ao retirar esses fatores de risco.

E a situação dos produtores? Como fica sua relação com esses estabelecimentos?

Soares: Ao avaliar os fatores de risco que fazem com que o custo esperado com a intoxicação aumente, observa-se que os mesmos estão relacionados à falta de assistência técnica, à falta de informação sobre a utilização dessa tecnologia, e, nesses casos, quem sofre mais é o pequeno produtor. Ele tem maior risco de intoxicação aguda, apesar de os grandes agricultores serem os maiores vilões, principalmente sob o ponto de vista ambiental.

Os pequenos produtores têm maior risco porque são mais vulneráveis, ou seja, sofrem com a falta de informação, e, na maioria dos casos, o vendedor indica qual agrotóxico ele deve usar no estabelecimento, o que aumenta as chances de intoxicação em 263%. Só para dar um exemplo, na análise que fiz sobre o milho, cultura presente em grandes e pequenos estabelecimentos, 29% dos agrotóxicos utilizados para essa cultura não eram indicados para o uso. Já no caso da soja, em que basicamente há grandes estabelecimentos, esse número caiu para 4%.

O que traz o terceiro artigo?

Soares: O terceiro artigo faz o mesmo exercício de valoração, mas incorporo fatores não só do estabelecimento, mas da vizinhança e do entorno, ou seja, fatores do contexto no qual o município se encontra. Um dos fatores mais importantes que consegui articular com toda essa abordagem é que, quando o estabelecimento está em um município que incentiva o uso da agricultura orgânica, o custo esperado cai sensivelmente.

Portanto, quando assumimos um cenário em que há maior risco nos estabelecimentos rurais, verifica-se que para cada dólar gasto com a compra dos agrotóxicos no estado, US$ 1,28 poderia ser gerado em custos externos com a intoxicação. No entanto, essa situação poderia ser revertida, caso certas medidas fossem tomadas, como, por exemplo, a adoção de um programa de incentivo à agricultura orgânica por parte do município, uma vez que reduz as chances de intoxicação no estabelecimento rural em 47%. Tendo em vista os resultados dos dois artigos anteriores, que apontaram, respectivamente: a maior fragilidade do pequeno agricultor aos danos à saúde causados pelo uso agrotóxicos; e um efeito significativo dos incentivos políticos à agricultura orgânica para a redução desses riscos; procurou-se, no último artigo dessa tese, trabalhar a inserção desse pequeno agricultor nesse processo produtivo, reconhecendo alguns elementos teóricos e empíricos que limitam a expansão do mercado dos alimentos orgânicos.

Quais fatores limitam a expansão da agricultura orgânica? Como funciona esse mercado no Brasil?

Soares: O Censo Agropecuário de 2006 estima que, dos 5,2 milhões de estabelecimentos existentes, 84% são classificados como familiares e 71% deles são excluídos da agricultura química, ou seja, não utilizam agrotóxico. Esse cenário revela que temos um potencial enorme para expandir a oferta de produtos orgânicos, inserindo esses agricultores nesse tipo de agricultura. No entanto, há barreiras como, por exemplo, o alto preço dos produtos orgânicos, o que acaba limitando por outro lado a sua demanda. A tese identificou uma série de fatores que fazem com que esse preço seja alto, como, por exemplo, o maior custo com mão de obra e a certificação, que onera os produtores, e que por sua vez é repassado para os preços dos orgânicos.

Como funciona a concessão da certificação? Ela é mesmo necessária?

Soares: No caso dos produtos orgânicos é difícil avaliar sua qualidade e definir se aquele produto é realmente ‘limpo’ em termos de resíduo de agrotóxico. O produtor sabe a qualidade do seu bem, mas o consumidor não tem certeza. A ideia da certificação serve para o produtor comprovar que seu produto é de boa qualidade. Temos certificadores nacionais, internacionais, e a certificação gera um custo para o produtor, pois é ele quem paga por isso. O grande problema é que esse custo fere o princípio básico do poluidor pagador, pois quem não polui acaba pagando, o que deveria ser o contrário. O que estou dizendo é que a certificação é necessária, porém injusta. Acaba penalizando o agente econômico errado.

Fora o custo, quais outros fatores interferem na obtenção da certificação?

Soares: O último artigo da tese avalia bem esses fatores. Por exemplo, o fato de o estabelecimento ter acesso a crédito, ser familiar e possuir um bom nível de integração ao mercado influenciam na certificação. Além disso, a exportação também é um fator importante, assim como a característica da sua vizinhança. Por exemplo, quando a cultura orgânica é vizinha de estabelecimentos com grandes produções, as chances de certificação diminuem para 7%. Por outro lado, as possibilidades aumentam 359% quando se trata de agricultores familiares mais capitalizados. Mas quando esse estabelecimento familiar capitalizado é vizinho de grandes propriedades rurais, essa porcentagem é reduzida 20%. Logo, não basta ser só familiar. A ideia é isolar o agricultor orgânico mesmo.

De certa forma, pode-se afirmar que é um processo burocrático?

Soares: Há certificações e certificações. Depende do grau de exigência, do tipo de certificadora, mas, em geral, se trata de um processo rigoroso. Em minha opinião, ser orgânico não é apenas ser livre de agrotóxicos. Tem uma série de questões embutidas, como o ganho social que ele traz, questões relacionadas à justiça social. Certamente, há externalidades positivas nesse processo para além de questões somente associadas à saúde e ao ambiente.

Em termo políticos, o governo tende a flexibilizar essa questão da certificação. Deverá entrar em vigência, no próximo ano, uma certificação nacional que irá normatizar a questão e também outra modalidade que tornará mais flexível esse processo aos produtores não tão integrados ao mercado. No caso da venda direta dos produtos, os agricultores orgânicos contarão com um sistema participativo de garantias, que é uma espécie de controle social que garante a rastreabilidade, a qualidade da produção e, consequentemente, dá a necessária credibilidade ao produtor, sem exigir a certificação.

Como funciona a demanda em relação aos produtos orgânicos?

Soares: A tese também contemplou esse aspecto. Pesquisei uma base de dados do IBGE que analisa as características pessoais do indivíduo que consome alimento orgânico e do seu domicílio. A questão domiciliar é fundamental na tomada de decisão do consumo, já que 91% da variabilidade desse consumo se devem às características domiciliares. O fato de o indivíduo ser gestor do lar também aumenta essas chances, já que ele possui maior autonomia na escolha do que será consumido, assim como o grau de instrução, pois a pessoa mais informada conhece os benefícios desse consumo. Ser mulher também influencia, já que elas possuem maior preocupação com a qualidade do alimento.

Em relação ao domicílio, quanto maior for o número de idosos, menores são as possibilidades de consumo, pois eles trazem hábitos antigos e em geral são mais avessos às mudanças. O acréscimo de uma pessoa no domicílio também reduz o consumo em 77%. Os resultados também mostram que esse consumo está basicamente associado à classe média-alta. Por outro lado, o fator que mais aumenta esse consumo é o fato do domicilio ter consumidores mais éticos e responsáveis com o meio ambiente. Portanto, o desafio é justamente levar informações sobre os benefícios dos orgânicos para além desses consumidores, chamados “verdes”, e também para além da educação formal e do nível de rendimento domiciliar.

Em 2008, o Brasil atingiu a marca de maior consumidor de agrotóxicos no mundo. É possível reverter esse quadro?

Soares: As políticas de governo do passado tiveram forte influência para chegarmos a esse ponto. Na década de 1970, tivemos um Plano Nacional de Expansão de Defensivos Agrícolas que fornecia subsídios para a compra dos agrotóxicos. Podemos dizer que o grande “adubo” do agrotóxico foi o estado. Hoje, vemos que essa participação foi reduzida, mas que, de certa forma, foi bem suprida na década de 1990 com o papel das grandes empresas multinacionais que entraram no mercado fazendo uma nova forma de financiamento e incentivo ao uso.

O importante agora é fazer o caminho inverso. Os mesmos subsídios e políticas de incentivo devem ser feitos para a produção orgânica, e ao mesmo tempo desincentivos à produção convencional, geradora de externalidades negativas. Na tese, elenco uma série dessas políticas. Convivemos com o despreparo do pequeno agricultor e uma fragilidade institucional enorme na regulação dessas substâncias. O registro de um agrotóxico hoje na Anvisa custa R$ 1.800, enquanto o de um medicamento, por exemplo, custa R$ 80 mil, ou seja, esse custo é irrisório perto das cifras gastas para o controle e seus impactos sociais. O prazo de reavaliação de eficiência do agrotóxico, a partir do momento que ele obteve o registro, é eterno. Tudo isso tem a ver com a força da bancada ruralista no Congresso. A indústria do agrotóxico tem investimentos maciços em pesquisa, enquanto a tecnologia disponível na agricultura orgânica conta com um saber espalhado nas mãos dos produtores, necessitando maior aproximação entre o saber popular e o saber científico. Por outro lado, devemos conscientizar a população, ao demandante, de que a agricultura orgânica é economicamente viável a esse pequeno produtor e socialmente justa.
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FONTE : Informe Ensp publicado pelo EcoDebate, 24/03/2010

A privatização da água nega o direito humano de ter acesso a ela. : ntrevista especial com Riccardo Petrella

Na entrevista a seguir, concedida, por e-mail, Riccardo Petrella italiano radicado na Bélgica, analisa o problema da água no mundo. Antes de refletir sobre a “crise da água”, ele enfatiza que “a rarefação da água, da qual atualmente todo o mundo não pára de falar, não é uma rarefação da quantidade de água em si”, isso porque a quantidade de água doce que temos hoje é a mesma de 200 milhões de anos atrás“. A rarefação é antes uma rarefação da qualidade de água para usos humanos em condições técnicas, econômicas e sócio/políticas ‘abordáveis’ e aceitáveis”, disse.

Além da questão da qualidade da água, Petrella refletiu sobre problemas como a privatização da água, saneamento básico e Copenhague. “O direito à água para todos se confirma não ser uma prioridade principal das classes dirigentes mundiais. Sua prioridade é saber quem vai ganhar, no decurso dos próximos 15 anos, a batalha para a conquista e a supremacia do mercado de um bilhão de novos carros ‘verdes’, bem como aquela das novas moradias ‘verdes’”, afirmou.

Riccardo Petrella nasceu na Itália, mas hoje vive na Bélgica. É economista e cientista político, e já esteve diversas vezes no Brasil, inclusive, a convite do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, duas vezes na Unisinos.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como avalia, de maneira mais geral, a qualidade da água no mundo?

Riccardo Petrella – No que se refere à água doce acessível e utilizável para usos humanos, a qualidade da água continua a se deteriorar. Isso ocorre mesmo depois dos dirigentes do mundo inteiro tomarem consciência, pelo fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970, da amplitude e da gravidade dos problemas da água. Na verdade, a rarefação da água, da qual atualmente todo o mundo não pára de falar, não é uma rarefação da quantidade de água em si (a quantidade da água doce sobre a terra não muda. Ela é a mesma que aquela de 200 milhões de anos atrás, como ela será a mesma daqui a 100 milhões de anos ou mais). A rarefação é antes uma rarefação da qualidade de água para usos humanos em condições técnicas, econômicas e sócio/políticas ‘abordáveis’ e aceitáveis.

As razões do agravamento do estado qualitativo da água são múltiplas e variadas. As principais são as retiradas ou extrações excessivas e os fenômenos de contaminação e de poluição. É preciso considerar, além disso, a má gestão dos solos e das bacias hidrográficas, notadamente transnacionais.

IHU On-Line – Qual é sua opinião sobre a privatização da água, considerando que ela deveria ser um bem público universal?

Riccardo Petrella – Eu sou contrário à privatização da água por duas razões principais: primeiro, porque ela se traduz pela mercantilização da água e, por conseguinte, pela mercantilização da vida. Assim, todo mundo reconhece que a água é sinônimo de vida, ou seja, “fonte” de vida. Ora, privatizar os serviços de água significa tratar a água como mercadoria, mesmo que determinados poderes públicos tentem dizer que se trata de uma mercadoria diferente das outras. A segunda razão que mostra que sou contrário é porque a privatização também implica na privatização do poder político, das decisões em matéria de salvaguarda da água, de seus usos e do direito à água. A água é um bem essencial e insubstituível à vida, e não se pode, por isso, confiar o poder de decisão a seu respeito a indivíduos privados.

É escandaloso pensar que a água possa ser fonte de lucro, e que os objetivos de rentabilidade financeira ditem as escolhas e as prioridades da gestão dela. Além disso, sendo a gestão da água necessariamente organizada sobre bases de monopólio natural, é inimaginável que o acesso à água possa gerar lucros.

No quadro da privatização, o acesso à água é subordinado ao poder de compra dos indivíduos e das organizações. Os seres humanos deixam de ser cidadãos para se tornarem consumidores e clientes de água. Ora, o acesso à água é e deve ser considerado e concretizado enquanto direito humano, a saber, um direito universal, indivisível e imprescritível. A sociedade, e as autoridades públicas em particular traem sua função e abandonam suas responsabilidades procedendo à privatização da água.

Opor-se à privatização não significa ignorar a existência dos custos que comporta pôr a água à disposição para os usos humanos vitais e a questão de sua cobertura e financiamento. Os custos, que são importantes, devem ser assumidos pela coletividade através dos processos fiscais gerais e específicos. O financiamento dos investimentos referentes a todo serviço público relativo à satisfação de um direito humano é de responsabilidade comum dos membros da comunidade, do nível local aos níveis nacional e internacional. Confiar tal financiamento ao consumidor para o pagamento de um preço é esvaziar de sentido o direito humano à vida e mudar a própria natureza da água.

No que se refere à água mineral engarrafada, convém denunciar a mistificação mundial operada no decurso dos últimos 30 anos. Por definição, a água mineral natural não é uma água potável, pois ela não pode ser tratada, mas deve ser engarrafada tal como ela sai da fonte, sob pena de perder suas características. Somente se pode reduzir ou acrescentar anidrido carbônico. Uma água potável é a que sofreu um tratamento que corresponde aos critérios (nacionais ou internacionais) de potabilidade. Por esta razão, as águas minerais naturais engarrafadas podem ser objeto unicamente de um uso temporário, descontínuo e específico, por sua relação a certas características em sais minerais que atribuem a essas águas propriedades para-terapêuticas.

Ora, uma vasta campanha publicitária conduzida nestas últimas décadas conseguiu fazer a opinião pública crer que a água mineral natural é melhor que a água da torneira, que é preciso beber água mineral para garantir melhor saúde, que as águas minerais engarrafadas são mais puras do que a água potável etc. Isso é estritamente falso. O sucesso das águas minerais naturais é devido principalmente à publicidade e a uma estratégia voluntarista de marketing da parte das companhias multinacionais das bebidas gasosas doces, que chegou a transformar as águas minerais num gigantesco mercado mundial muito sumarento.

Há também outra razão, de natureza socioeconômica, ligada ao fato que nossas sociedades se tornaram sistemas de altíssima mobilidade das pessoas. As garrafas de água mineral em plástico, em múltiplos formatos, têm sido uma resposta muito eficaz aos “imperativos” de um modo de vida muito móvel.

IHU On-Line – Quais são os maiores desafios no mundo atual em relação à questão do saneamento básico?

Riccardo Petrella – O principal desafio é, evidentemente, a saúde. Ainda hoje, uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo é a ausência de água doce ou o recurso inevitável a uma água de má qualidade bioquímica, bem como a ausência de serviços higiênicos e sanitários adequados. É vergonhoso que 2,6 bilhões de seres humanos ainda não saibam o que é uma toalete ou um sanitário público. É inaceitável que, em 2010, haja 4900 crianças com menos de seis anos que morrem a cada dia no mundo por causa de doenças devidas especificamente à ausência de água e de serviços higiênicos.

O que é inaceitável, em particular, é que a mortalidade citada não é devida ao fato das crianças e mulheres habitarem em regiões onde a água esteja faltando. Isso também existe, mas a causa principal é representada pelo fato dessas pessoas serem pobres. O empobrecimento atual de amplas fatias das populações da África, da Ásia e da América Latina está na origem das desigualdades no acesso à água e, por conseguinte, à saúde e à vida.

É importante destacar que uma responsabilidade direta desse estado de coisas cabe também às classes dirigentes dos países dessas regiões, pois elas não utilizam nem os recursos financeiros limitados de que dispõem, nem os recursos naturais dos quais seus países são frequentemente muito ricos. Assim, os investimentos nas infraestruturas e serviços referentes ao tratamento das águas usadas e sua reciclagem são, de longe, inferiores àqueles destinados a manter ou reforçar seus poderes e seus privilégios no contexto de uma subordinação da economia do país aos interesses dos fortes poderes das empresas multinacionais e dos Estados ex ou neocolonizadores.

IHU On-Line – Em sua opinião, quem deveria cuidar da gestão do setor hídrico?

Riccardo Petrella – Permita-me, aqui, acrescentar algumas observações a propósito de um tema interessante, emblemático das ambiguidades e mistificações existentes em matéria de água, alimentadas pelos grupos sociais dominantes. Refiro-me ao conceito de PPP (Partilha Pública Privada) que, segundo esses grupos, devia representar o modelo ideal para conjugar harmoniosamente os objetivos, de um lado, do acesso à água para todos e o tratamento da água enquanto bem comum, e, de outro lado, de uma gestão eficaz e eficiente dos serviços de água no interesse dos prestadores e dos “consumidores”. Observe que o Banco Mundial assume o conceito de PPP desde 1993 e utiliza a obrigação de sua aplicação como condição da outorga de sua parte de empréstimos para o financiamento no domínio da água aos países do Sul.

A experiência demonstrou que o PPP se tornou, sobretudo, um instrumento de subordinação do desenvolvimento dos serviços de água aos imperativos de rentabilidade financeira das empresas multinacionais privadas estrangeiras – francesas e britânicas, notadamente – às quais a gestão da água tem sido confiada, após sua inserção no mercado em obediência ao princípio de liberalização dos serviços públicos imposta pelo Banco Mundial. De fato, o PPP se traduziu pela Privatização do Poder Político, verdadeiro apossamento do controle dos recursos naturais do país pelos grandes grupos industriais, comerciais e financeiros mundiais (chineses e indianos incluídos). Os numerosos casos recentes de abandono do PPP parecem indicar o fim da mistificação.

IHU On-Line – Como o senhor interpreta o fato de Copenhague não ter debatido a questão da água?

Riccardo Petrella – A recusa de incluir a problemática da água nas negociações sobre o desenvolvimento e o meio ambiente iniciadas no Rio de Janeiro, em 1992 e, em particular, no quadro da United Nations Framework Convention on Climatic Change (UNFCCC) iniciada no Rio de Janeiro e aprovada em 1994, data deste período. Depois, não se conseguiu mais convencer os Estados fortes da ONU (EUA, China, França, UK, Alemanha, Canadá, Brasil, Egito, Japão, Rússia etc) de considerarem a água como parte integrante das negociações sobre o clima. Portanto, todos os trabalhos do Grupo intergovernamental de Estudo sobre o Clima (GIEC) puseram sistematicamente em evidência os elos fundamentais entre a mudança climática e a água, simultaneamente no que se refere às causas e efeitos da mudança climática.

A razão principal dessa recusa, a meu ver, é dupla. Primeiro, o direito à água para todos se confirma não ser uma prioridade principal das classes dirigentes mundiais. Sua prioridade é saber quem vai ganhar no decurso dos próximos 15 anos a batalha para a conquista e a supremacia do mercado de um bilhão de novos carros ‘verdes’, bem como aquela das novas moradias ‘verdes’ (de energia passiva e ativa).

Foi assim que, em Copenhague, ignorou-se totalmente a questão da necessária transformação profunda das enormes favelas onde estão “recolhidos” e “se depositam” centenas de milhões de seres humanos considerados como “rejeitos” e “matérias-primas produtivas” de preço vil.

Segundo, as classes dirigentes estão conscientes que, se introduzissem a água nas negociações sobre o clima, deveriam se engajar para operar transformações radicais da economia dominante e de seus modos de vida.

IHU On-Line – O senhor acredita que a água em penúria poderá vir a ser uma das principais causas de guerra no século 21?

Riccardo Petrella – Se os grupos sociais dominantes continuarem a aplicar os princípios políticos e a manter as escolhas econômicas fundamentais atuais, as “guerras” da água se tornarão frequentes e cada vez mais “mortíferas”. Não poderia ser de outra maneira na base da aplicação dos princípios de soberania nacional absoluta sobre os recursos hídricos e da segurança nacional no aprovisionamento de água, garantia da segurança alimentar, energética e econômica em geral do país.

Os cenários das guerras da água serão inevitáveis se as políticas de mitigação e de adaptação à mudança climática forem dominadas pelas estratégias de sobrevivência do “cada um por si”. Enfim, as guerras da água terão lugar se os grupos sociais dominantes continuarem a impor, no domínio da água e da vida, o paradigma econômico hoje dominante, mercadológico, produtivista e financeiramente utilitarista. Inversamente, as guerras da água não são nem inelutáveis nem inevitáveis se outra concepção da água e da vida se afirmar no decurso dos próximos 20 anos no sulco do paradigma de uma sociedade justa, durável e eficaz em escala mundial. Em suma, as guerras da água só terão lugar se nossas classes dirigentes o quiserem.

IHU On-Line – Como vai o trabalho do Contrato Mundial da Água? Quais são os principais avanços e objetivos a serem obtidos?

Riccardo Petrella – Os trabalhos que conduziram à criação, em 1997, do Comitê Internacional para o Contrato Mundial da Água remontam aos anos de 1994-95 em torno da reação do “Manifesto da Água. Por um Contrato Mundial”. Uma das principais contribuições do Contrato Mundial da Água foi não somente o de ter contribuído, com outros grupos, associações e movimentos, à sensibilização e mobilização culturais sobre as questões da água, mas principalmente de ter feito sair a problemática da água do domínio da política ambiental para inscrevê-la principalmente no domínio da política da vida, do modelo de sociedade.

Tal tem sido o papel específico, inovador sob diversos aspectos, das diferentes Associações para o Contrato Mundial da Água (ACME) que se constituíram na Bélgica, na Itália, na França, em Quebec, na Suíça, no Marrocos, entre outros países. O movimento nascido com o Contrato Mundial da Água contribuiu para fazer tomar consciência dos estreitos elos entre o direito humano à água e o regime econômico de propriedade e de gestão da água e, notadamente, o elo entre a pobreza/empobrecimento e o não acesso à água. Diante do Manifesto da Água, a tese sobre o não acesso à água e a desigualdade no acesso eram “explicados” pela injustiça da natureza e pelo fator demográfico. Foi somente em 2006 que, pela primeira vez, uma agência das Nações Unidas reconheceu que a principal causa do não acesso e das desigualdades no acesso à água são a pobreza e a desigualdade no poder.

Creio, também, que o Contrato Mundial da Água participou ativamente da luta contra a privatização e a mercantilização, evitando, em certos países, que elas se afirmem, e, contribuindo, em outros, para que a pressão em favor da re-publicização da água produza resultados concretos. É de assinalar, enfim, seu papel desempenhado no desenvolvimento de “faculdades da água” na Itália, na França, no Brasil, na Argentina etc., e, mais recentemente, no nascimento de novas formas de diálogo inter-religioso e de grandes tradições morais em favor de uma mobilização conjunta pelo direito da água para todos e da água como bem comum e patrimônio da humanidade e de todas as espécies vivas.
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FONTE : (Ecodebate, 24/03/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação. [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

HAVERÁ ÁGUA PARA TODOS ?

Os estudos mostram que 1 bilhão de pessoas já não têm acesso à água de boa qualidade e 2,6 bilhões não dispõem de saneamento adequado. Até 2025, a população mundial deverá crescer em 2 bilhões. Ao lado do aquecimento global, o abastecimento de água será um dos principais desafios deste século

Nos últimos 60 anos, a população mundial duplicou. No mesmo período, o consumo de água pelas diferentes atividades humanas aumentou em sete vezes, enquanto a quantidade de água existente permaneceu igual.

Acentuou-se, na mesma proporção, a degradação desse recurso fundamental para o desenvolvimento de todas as formas de vida. A deterioração e o uso excessivo têm relação direta com o homem, em especial com o crescimento e a diversificação das atividades agrícolas e industriais, o aumento da urbanização e a intensificação das ações humanas nas bacias hidrográficas. A combinação da poluição dos mananciais com o desperdício – além do fato de existirem limitações naturais em certas regiões do planeta – é a principal razão de a escassez já ser um problema real para boa parte da população, em especial para aquela que vive nas grandes cidades.

Estudos recentes alertam que 1 bilhão de pessoas não têm acesso a água de boa qualidade e 2,6 bilhões (algo em torno de 40% da população mundial) não têm acesso a saneamento adequado1. Ao contrário do que se pode pensar, parcela significativa desse montante não está em áreas remotas, mas sim nas grandes cidades, onde vive metade da população mundial, ou 3,3 bilhões de pessoas2. Até 2025, as previsões apontam para um aumento populacional de 2 bilhões. Esse crescimento se dará principalmente nas cidades dos chamados “países em desenvolvimento”. O aumento da população urbana, aliado à poluição e ao mau uso da água, compõe um quadro preocupante. Garantir água de boa qualidade nas grandes cidades será um dos principais desafios deste século.

Estresse hídrico

O chamado “estresse hídrico” – relação entre a disponibilidade natural e os diversos usos que o homem faz da água, como a produção de alimentos, o abastecimento público, a geração de energia, a diluição de esgotos, entre tantos outros – já é uma realidade em metrópoles mundiais, inclusive nas capitais de países ricos. Um dos casos emblemáticos é o de Londres, que depende dos reservatórios formados pelos rios Tâmisa e Lee. A rede de distribuição de água da cidade é muito antiga (mais da metade excede os cem anos e um terço passa de 150) e apresenta altos níveis de perda, devido aos vazamentos. A situação se agrava com o prolongado período de estiagem e a conseqüente diminuição do volume de chuvas nos últimos anos. Isso tem levado as autoridades locais a planejar captações de água em mananciais distantes e dessalinização de águas salobras e marinhas para atender a demanda crescente.

Casos como o da capital inglesa tendem a surgir com mais freqüência no cenário mundial em função de mudanças no regime de chuvas. Essas mudanças vêm ocorrendo em vários locais do planeta, inclusive no Brasil, e prenunciam um cenário ainda mais sombrio de restrição do acesso à água em um futuro próximo, com proporções gigantescas caso as previsões sobre as alterações no clima, já nas próximas décadas, se confirmem.

A boa notícia é que algumas cidades já acordaram para a proteção de suas fontes de água e outras sempre estiveram despertas. A preservação das áreas de mananciais para abastecimento de Tóquio teve início em 1901. Essas áreas estão localizadas nas nascentes dos principais rios (Tama, Tore e Ara) e abrigadas por uma imensa floresta de 21.631 hectares. A manutenção dessa floresta garante o fornecimento de água em quantidade e qualidade para o maior aglomerado urbano do planeta – pois vivem na Grande Tóquio mais de 31 milhões de pessoas, que consomem 6,23 bilhões de litros de água a cada dia, o equivalente a 200 litros per capita.

Já Nova York iniciou, durante a década de 90, um amplo programa de uso racional da água e proteção das bacias hidrográficas, que se mostrou mais econômico do que o investimento necessário para ampliar e tratar água de pior qualidade. Entre as ações desenvolvidas destacam-se um programa de subsídios para a substituição de todas as válvulas de descarga em cada uma das residências – o que resultou em diminuição do consumo e conseqüente aumento da sobrevida dos mananciais disponíveis para abastecer a cidade. Também foi executado um programa de gestão territorial compartilhada, incluindo a aquisição, pela prefeitura, de terrenos em porções ambientalmente sensíveis das áreas de mananciais, e acordos com os proprietários das áreas de mananciais, que, em troca de exercer proteção, passaram a receber compensações financeiras.

Mas o avanço na proteção dos mananciais e a gestão dos recursos hídricos ainda é exceção. Xangai, uma das maiores cidades chinesas, enfrenta enormes desafios nessa área. Sua maior fonte de água, o rio Huangpu, está tão contaminada por poluentes industriais e agrícolas que não registra vida aquática há mais de vinte anos. O rio Yangtze, a fonte alternativa de água, vem sofrendo aumento de salinidade em seus trechos mais baixos, resultado dos reduzidos níveis liberados pela maior barragem do mundo, a das Três Gargantas. Ao mesmo tempo, o lençol freático existente no subsolo está sofrendo crescente contaminação pela água do mar. A situação na capital do país não é muito melhor: dos 21 reservatórios superficiais que abastecem Pequim, quatro estão totalmente secos e apenas três são considerados fontes de água satisfatórias para o consumo humano.

A Cidade do México é o principal exemplo de superexploração das águas subterrâneas. Estima-se que seja extraído dos aqüíferos da região um volume de água que excede em 30% a 65% o da recarga. Em alguns locais, o afundamento do solo, provocado pela redução do nível das águas subterrâneas, chegou a 7,5 metros – o que também tem provocado mais inundações e danos à rede de abastecimento de água e de drenagem, contaminando todo o sistema. Para piorar o quadro, as áreas de recarga dos mananciais vêm sendo ocupadas pela expansão da cidade, que cresce, em média, 250 hectares por ano. Para cada hectare ocupado, perdem-se 1.700 m³ de recarga nos aqüíferos por ano – quantidade de água suficiente para abastecer 1.500 famílias.

Métodos caros e vulneráveis

As fontes alternativas da Cidade do México estão cada vez mais distantes e os métodos para trazer água são caros e vulneráveis, além de fomentar a disputa pela gestão do recurso entre os diferentes estados da federação. Apesar de todas essas dificuldades, o consumo diário per capita dos 19 milhões de habitantes da capital mexicana é de abusivos 364 litros/dia – enquanto a ONU recomenda um consumo diário per capita de 110 litros. O risco de escassez aumenta ainda mais diante da cifra de água desperdiçada: estima-se, de acordo com o último levantamento disponível, que a perda de água na distribuição corresponda a 35% do total retirado dos mananciais3.

O Brasil, pátria de 12% de toda a água doce da superfície do planeta, disputa com o México o troféu de quem joga mais água limpa fora. Um estudo divulgado em novembro passado pelo Instituto Socioambiental (ISA) lançou luz sobre a situação do abastecimento público e do saneamento básico nas 27 capitais brasileiras. O levantamento revela que 45% da água retirada dos mananciais das capitais são desperdiçados em vazamentos, submedições e fraudes. A quantidade de água jogada fora é estimada em 6,14 bilhões de litros por dia (o equivalente a 2.457 piscinas olímpicas) e seria suficiente para atender ao consumo diário de 38 milhões de pessoas – isto é, toda a população de um país como a Argentina!4

Os principais dados quantitativos extraídos do estudo são altamente preocupantes:

Abastecimento

• Apenas seis das 27 capitais atendem à totalidade de sua população.

• Apesar da média de cobertura ser de 90%, Porto Velho, Rio Branco e Macapá cobrem apenas 30,6%, 56,2% e 58,5% de suas populações, respectivamente.

Consumo

• A média de consumo per capita nas capitais é de 150 litros por dia (a despeito da recomendação de ONU, de 110 litros).

• São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória apresentam os maiores consumos: mais de 220 litros/habitante/dia.

Perda (por vazamentos e outros fatores)

• A água perdida diariamente nas capitais seria suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas/dia.

• Em termos percentuais, a campeã do desperdício é Porto Velho, com 78,8% do total.

• Em termos de volume perdido, o Rio de Janeiro ganha, jogando fora diariamente um volume igual ao de 618 piscinas olímpicas!

Outro ponto que o estudo avaliou foi a situação do esgotamento sanitário nas grandes cidades do país.

O descaso e a ausência de investimentos no setor, em especial nas áreas urbanas, são flagrantes. Quase metade da população residente nas capitais brasileiras (45%) tem seus esgotos despejados nos rios e no mar sem qualquer tratamento. E uma parcela significativa dessa população (13 milhões de habitantes) não dispõe sequer da coleta dos resíduos, convivendo de perto – nas portas ou nos fundos das casas – com a imundície e a poluição. Manaus, Belém e Rio Branco apresentam os piores índices, com menos de 3% de seus moradores atendidos pelo serviço.

Aqüífero Guarani

Lixo, enchentes, contaminação dos mananciais, água sem tratamento e doenças apresentam uma relação estreita. Diarréias, dengue, febre tifóide e malária, que resultam em milhares de mortes anuais, especialmente de crianças, são transmitidas por água contaminada por esgotos humanos, dejetos animais e lixo. Nada menos que 70 % das internações na rede pública de saúde estão relacionadas com doenças transmitidas pela água!

Um dos maiores trunfos do Brasil em relação à garantia de abastecimento é o Aqüífero Guarani, maior reserva de água doce subterrânea do mundo. Do potencial de água renovável que circula nessa reserva, entre 24% e 48% podem ser explorados. No entanto, esse fabuloso recurso não está isento de problemas. Primeiro, devido à contaminação, que já vem ocorrendo em decorrência de vários fatores, entre eles, o grande número de poços operados e abandonados sem tecnologia adequada.

Depois, porque a área do Guarani se distribui por vários territórios nacionais: 70% no Brasil e o restante em Argentina, Paraguai e Uruguai. Tal peculiaridade torna necessária uma vigorosa ação conjunta dos quatro países no sentido de defender sua soberania sobre o aqüífero e regular seu uso de forma justa e parcimoniosa.

A sustentabilidade das grandes cidades e metrópoles mundiais está diretamente vinculada à existência e manutenção de fontes de água para o abastecimento público. É fundamental que os governantes adotem políticas públicas que promovam a proteção dos mananciais, a ampliação das áreas permeáveis, a diminuição dos desperdícios e perdas, juntamente com a racionalização e o uso mais eqüitativo desse recurso fundamental. A história mostra que isso não ocorrerá sem que sejam pressionados pelas respectivas sociedades.

Marussia Whately é arquiteta e coordenadora do Programa Mananciais do Instituto Socioambiental (ISA).

1 Progresso para as Crianças, Unicef, 2006 (disponível em http://www.unicef.org).
2 The State of World Population 2007 Youth Supplement, Fundo de Populações das Nações Unidas, 2007 (disponível em http://www.unfpa.org/swp/swpmain.htm).
3 El suministro de agua de la Ciudad de Mexico, National Research Council, National Academy Press, Washington, 1995.
4 O levantamento das coberturas e desperdícios nas redes públicas de abastecimento e saneamento tem como base os dados fornecidos pelas concessionárias prestadoras dos serviços para o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades (ano base: 2004).
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FONTE : Artigo originalmente publicado no Le Monde Diplomatique Brasil e reproduzido pelo EcoDebate, 24/03/2010