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sábado, 3 de outubro de 2015

Coreia do Sul tem algo a ensinar

Juan Reyes em sua propriedade de Cotorro. Foto: Patricia Grogg/IPS
Juan Reyes em sua propriedade de Cotorro. Foto: Patricia Grogg/IPS
Por Aruna Dutt e Valentina Ieri, da IPS – 
Nações Unidas, 2/10/2015 – As mais de 3,3 bilhões de pessoas que vivem no campo fazem com que o desenvolvimento rural se torne fundamental, se o desejo é que a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030, “um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade”, se torne realidade. No dia seguinte à adoção unânime dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), dia 27 de setembro, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, houve um fórum de debates sobre diversas formas de se alcançar os ODS nos países em desenvolvimento.
O encontro foi organizado pelo Centro para o Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O eixo do painel foi o Novo Paradigma de Desenvolvimento Rural e o Modelo de Novas Comunidades Inclusivas e Sustentáveis, inspiradas no êxito da iniciativa Saemaul Undong, da Coreia do Sul.
“Os governantes se comprometeram a criar uma vida digna para todas as pessoas. Prometemos não deixar ninguém para trás, incluídas as famílias rurais. Não haverá avanços no movimento global sem desenvolvimento local”, recordou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que foi chanceler sul-coreano de 2004 a 2006.
“O campo sul-coreano passou da pobreza à prosperidade”, destacou Ban. A Saemaul Undong compartilha o fim último dos ODS. Com base nos princípios de educação, diligência, cooperação mútua e autoajuda, é uma estratégia que pode se constituir no novo paradigma de desenvolvimento rural para uma prosperidade sustentável, destacou o secretário-geral.
Por sua vez, a presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, explicou: “A Saemaul Undong melhoraroui a Coreia e transformaram nossa sociedade. Estávamos entre os países mais pobres do mundo. Agora estamos entre as 50 maiores economias e entre os principais doadores da assistência internacional.
Embora seja costume atribuir os êxitos sul-coreanos ao auge da indústria nacional, o representante permanente junto à ONU, Choonghee Hahn, acredita que a Saemaul Undong foi o fator fundamental do êxito do país na década de 1970, e agora é uma inspiração para um futuro desenvolvimento ambientalmente sustentável, em uma época de rápida urbanização e industrialização.
Hahn disse à IPS que os principais aspectos da estratégia sul-coreana foram incorporados, ou estão em processo de serem, a projetos de desenvolvimento em 30 países, entre eles, Etiópia, Uganda, Ruanda, Tanzânia, Afeganistão, Myanmar, Laos e Camboja. A iniciativa inclui estratégias como inculcar um espírito de que “se pode”, uma percepção reveladora sobre a igualdade de gênero e os direitos humanos.
Park Chung-hee, pai da atual presidente, iniciou o movimento Saemaul Undong em 1970, distribuindo cimento e aço nas aldeias e qualificando-as em função do uso que cada uma fizesse dos recursos. O Estado entregou às que ficaram em melhor colocação mais recursos, criando um incentivo e um sentido de unidade para trabalhar duro e competir com outras aldeias. O programa propiciou ferramentas de motivação como bandeiras e hinos e testemunhos espirituais, que elevaram o entusiasmo das pessoas.
A forte crença na autonomia, mediante agências locais, a ideia de fazer o país menos dependente da ajuda estrangeira e, por fim, do governo, foram estratégias essenciais de crescimento, segundo Hahn. Também foram criados projetos mais sustentáveis, que, no início dos anos 1980, eram financiados com recursos comunitários e outras alternativas, e não com fundos do Estado.
O governo criou centros de capacitação que vinculavam as autoridades centrais com as locais e os participantes dos projetos, os quais incluíam capacitação em liderança para as mulheres em institutos provinciais e centrais. De cada aldeia havia 12 delegados, e o governo tornou obrigatória a presença de pelo menos uma mulher, o que promoveu o empoderamento feminino.
Segundo o diretor do Centro para o Desenvolvimento da OCDE, Mario Pezzini, a iniciativa sul-coreana pode perfeitamente ser replicada em outros lugares. Cerca de 92% dos 3,3 bilhões de habitantes rurais vivem nos países em desenvolvimento, e estima-se que continuarão aumentando até 2028. Daí ser indispensável usar a “lente rural” para implantar e conseguir os ODS, acrescentou, em entrevista à IPS.
A maioria dos pobres se concentra em áreas rurais, luta contra as crescentes desigualdades e está limitada pela incapacidade das cidades em acolhê-la. “Devemos ter presente que o desenvolvimento rural não é sinônimo de agricultura nem de declínio”, ressaltou Pezzini. A agricultura representa uma parte crucial das economias rurais. Um aumento da produtividade da agricultura causará o fim de setores de população rural, os quais não necessariamente serão empregados pela própria agricultura, acrescentou, desde a Itália.
Quando se fala de desenvolvimento rural, é importante se referir a uma economia que seja local, o que inclui a agricultura, mas vai além e compreende empregos não agrícolas, insistiu Pezzini. Por isso, o desenvolvimento rural não necessariamente coincide com o desenvolvimento agrícola nem coincidirá somente com o desenvolvimento industrial.
O que deve implicar o novo modelo rural, baseado no movimento Saemaul Undong, é um novo “tipo de desenvolvimento regional e local, um desenvolvimento multissetorial, multiagente e multidimensional, que deve levar em conta diferentes atividades”, explicou Pezzini. As novas agendas dos governos devem se concentrar em diversos valores das zonas rurais, os quais exigem diferentes tipos de intervenções, pontuou.
Quando os governos centrais atuam segundo programas gerais e implantam políticas sem considerar a população rural e nem seus conhecimentos, frequentemente fracassam. Para Pezzini, “um só ator não pode consegui-lo. Mas, se o setor público quer ser eficaz, precisa incluir o setor privado, os sindicatos e os cidadãos e as cidadãs. O ponto crucial aqui é como avaliar recursos que não são usados”. Envolverde/IPS

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