Por Reinaldo Dias*
A situação do abastecimento de água em diversas cidades brasileiras tende a se agravar. Previsíveis ondas de calor que ocorrerão ainda este ano, às quais as agências especializadas apontam como as de maior gravidade, desde que foi iniciado seu monitoramento no século XIX. Mesmo com a previsibilidade da tragédia que se avizinha, governos continuam a afirmar que não haverá racionamento, embora este já esteja ocorrendo em muitas cidades brasileiras e afetando, principalmente, as áreas mais carentes
Nesse quadro de informações contraditórias é possível compreender a pouca ou nenhuma importância atribuída pelas administrações públicas à educação ambiental. Conscientizar desenvolve a consciência sobre os problemas e povo educado e informado torna-se mais participativo.
Alguns alegam que fazem educação ambiental (EA). Contudo, as ações que desenvolvem, na realidade, são limitadas e pouco educam. Não contextualizam o problema, tampouco remetem a questões mais gerais, como o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Educação ambiental deve ser entendida numa perspectiva ampla, que promova mudanças pessoais e coletivas na busca de uma sociedade sustentável e solidária, incentivando, para isso, a formação, a capacitação, a tomada de consciência sobre os problemas ambientais, no caso a situação climática; a mudança de atitudes, a participação cidadã na tomada de decisões e a promoção de valores positivos.
A EA, portanto, deve ser entendida a partir da perspectiva local, como um caminho para a gestão sustentável dos municípios, sendo um eixo transversal a ser considerado na concepção de políticas que atenderão às necessidades econômicas, sociais e ambientais, respeitando, ao mesmo tempo, a integridade cultural e os processos ecológicos essenciais, a biodiversidade e os sistemas que sustentam a vida.
A EA do ponto de vista das administrações públicas municipais, deve integrar o conjunto de políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, deve ocorrer tanto em âmbitos formais (currículos da educação básica e média) quanto nos âmbitos informais, com a incorporação da questão ambiental no cotidiano e como política de Estado, privilegiando os processos globais, articulados com os temas locais, gerando abordagens inovadoras dos problemas e conflitos ambientais.
Não é isto que ocorre no enfrentamento dos problemas derivados do aquecimento global, no caso particular, a discussão sobre a crise hídrica. Não se mostra evidente a atuação dos governos na preparação dos cidadãos para o enfrentamento de uma formidável onda de calor que se aproxima, continuam afirmando que não restringirão o uso da água, como se tivessem controle sobre o clima.
A falta de informações verdadeiras (ou completas), beira à irresponsabilidade pública, pois há um esforço global no enfrentamento dessas questões.
No final deste ano se realizará em Paris a reunião da COP-21 que estabelecerá o novo protocolo que substituirá o de Quioto, para evitar o aumento do aquecimento sobre o planeta. Diversos governos como os Estados Unidas, China e países da União Europeia têm elaborado propostas e tomado decisões que antecipam um enfrentamento global e articulado do problema. Mas para que isso ocorra é necessário a conscientização e a participação de todos, governos, entidades, empresas e cidadãos.
Omitir a gravidade do problema é armar uma bomba relógio que explodirá num futuro próximo, afetando outras áreas da sociedade e prejudicando o desenvolvimento do país rumo a patamares mais sustentáveis.
A educação ambiental é arma poderosa que deve ser utilizada com maestria pelos governos. Trata-se sim de preservar nosso futuro comum e não de um grupo particular. A educação ambiental no enfrentamento da crise hídrica é essencial. Sem participação não há política pública, só ações evasivas que visam a manutenção de interesses particulares. (#Envolverde)
* Reinaldo Dias é professor da Universidade Mackenzie Campinas. É mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e especialista em Ciências Ambientais.
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