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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Movimentos sociais contra energia atômica na Alemanha já têm mais de três décadas de história

O comboio nuclear que partiu da estação de Valognes (departamento de Mancha) na sexta-feira chegou ao seu destino final, o centro de armazenamento alemão de Gorleben, na terça-feira (9). A priori, as dezenas de milhares de manifestantes alemães perderam a partida para os 20 mil policiais mobilizados excepcionalmente para a ocasião.

No entanto, na Alemanha o governo não canta vitória. Pelo contrário, são os organizadores do movimento ambientalista que comemoram uma mobilização militante excepcional.

Este fim de semana, no qual milhares de pessoas retardaram o trem, sobretudo acorrentando-se aos trilhos, constitui uma data importante para o movimento nuclear alemão que, aliás, já possui muitas delas. Nesse país onde o movimento associativo é poderoso e organizado, faz 35 anos que a luta contra o projeto nuclear mobiliza parte da população. Reportagem de Frédéric Lemaître, Le Monde.

Amplitude nacional

O confronto fundador ocorreu em Wyhl, um município de Bade-Wurtemberg onde o governo havia planejado, em 1973, construir uma usina nuclear. Após uma primeira ocupação à qual as forças de ordem deram fim somente ao final de 48 horas, os ativistas ambientalistas retomaram posse do local e acamparam ali durante oito meses: de fevereiro a outubro de 1975. O combate nuclear que, até então, só possuía uma importância regional, adquiriu amplitude nacional. Apesar de uma decisão da Justiça a favor da construção da usina, esta nunca chegou a ser feita.

Encorajados por esse sucesso, os militantes antinucleares tentaram dois anos mais tarde protestar contra duas outras usinas: a de Brokdorf e o reator nuclear de Kalkar. Em 1977, entre 50 mil e 60 mil pessoas se mobilizaram contra cada um desses dois projetos.

Embora a usina de Brokdorf tenha sido ligada à rede elétrica em 1986, o reator de Kalkar que encontrou diversas decepções técnicas foi abandonado e transformado em 1995 em um parque de diversões!

Em 1979, três dias após o acidente da usina americana de Three Mile Island que levou à evacuação de 200 mil pessoas, Hannover testemunhou a maior manifestação antinuclear jamais organizada até então na Alemanha: 100 mil pessoas protestaram contra a construção de um centro de armazenamento em… Gorleben. Esse pequeno município na época situado nos limites da Alemanha Oriental (do outro lado do Elba) logo se tornou um símbolo do movimento antinuclear.

Em março de 1980, um acampamento foi organizado ali e o “Estado livre de Wendland”, proclamado. Mas em setembro de 1982, o governo apitou o fim da partida. Contudo, o movimento Verde já estava lançado. Heteróclito no decorrer da década passada e não representado no Bundestag, este aos poucos foi se estruturando e teve seus primeiros deputados em 1983.
Grandes debates

A catástrofe de Chernobyl em abril de 1986 (que ainda traumatiza os alemães) viria completar a credibilidade do movimento antinuclear. Alguns meses mais tarde, – e após uma manifestação na qual um militante foi morto – o governo desistiu de construir uma usina de tratamento de resíduos em Wackersdorf.

Desde os anos 1990, o movimento antinuclear vem concentrando sua luta nos transportes de resíduos nucleares.

A energia nuclear é um assunto que continua a provocar grandes debates na Alemanha. Ao decidir, em setembro, prorrogar por doze anos em média a atividade das 17 usinas nucleares que o governo de esquerda havia, em 2003, decidido fechar no mais tardar em 2022, Angela Merkel optou por enfrentar a impopularidade. 59% dos alemães são contra essa prorrogação, 37% são favoráveis, e somente 4% não têm opinião a respeito (pesquisa Infratest).

O partido dos Grünen (Verdes) vai de vento em popa. Hoje 22% a 25% dos alemães se dizem dispostos a votar nele. Além disso, durante a ocupação neste fim de semana da via férrea que leva a Gorleben, policiais foram vistos tirando fotos de Claudia Roth, a popular presidente do Partido Verde, presente no local durante toda a movimentação.
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FONTE : tradução de Lana Lim da reportagem do Le Monde, publicada no UOL Notícias. (EcoDebate, 16/11/2010).

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