Mais um dado negativo foi acrescentado ao desastroso balanço da Petrobrás,
com a divulgação, nessa terça-feira, dos números da agroindústria no primeiro
semestre. A produção foi 3,9% menor que a de um ano antes, segundo o IBGE. Esse
resultado geral é explicável principalmente pelo mau desempenho do setor de
açúcar e álcool. Condições de tempo desfavoráveis prejudicaram a lavoura, mas a
redução da safra de cana foi também consequência da contenção artificial de
preços da gasolina, um grave desestímulo à indústria do etanol. A nova
presidente da Petrobrás, Graça Foster, apontou claramente o erro da política de
preços e prometeu buscar a paridade com as cotações internacionais.
Os números da agroindústria poderiam constituir um apêndice ao relatório
financeiro da estatal. O quadro fica mais claro quando se decompõem os
resultados. Os setores vinculados à agricultura têm mais peso no conjunto da
agroindústria e apresentaram o pior desempenho, com produção 5,9% inferior à do
primeiro semestre de 2011. O resultado foi menos ruim nos segmentos vinculados à
pecuária. Estes produziram 5% menos que na primeira metade de 2011. Números
muito piores aparecem quando se examinam a fabricação de derivados da
agricultura. A queda geral foi de 7,3% em relação aos dados de um ano antes, mas
esse dado ainda não mostra onde se concentraram os problemas.
A produção de açúcar cristal foi 38% menor que a de janeiro a julho de 2011.
A de álcool diminuiu 28,5%. Redução da área plantada, seca no período de
crescimento e excesso de chuvas na fase de colheita resultaram numa safra menor
e atrasaram a moagem da cana. Mas o menor investimento no plantio deve-se
também, como informa o comunicado do IBGE, "à menor demanda por álcool
hidratado". Na maior parte dos Estados, segundo o texto, foi mais vantajoso
abastecer os veículos com gasolina. Há também uma referência à crise econômica
mundial como fator de desestímulo aos investimentos para renovação dos
canaviais.
O prejuízo da Petrobrás foi em parte atribuído pelos dirigentes da empresa à
valorização do dólar. Esse foi, sem dúvida, um dos fatores do mau resultado
financeiro. Mas a explicação ficaria mais completa com uma referência ao aumento
de importação de gasolina. Foi preciso importar mais combustível por causa da
escassez de etanol - problema presente já há anos - e também da insuficiência da
capacidade nacional de refino. O programa de construção de refinarias está
atrasado e, além disso, os custos das obras têm superado amplamente aqueles
previstos originalmente. O caso da Refinaria Abreu e Lima tem sido apontado pela
presidente Graça Foster como um exemplo a ser evitado, pela gravidade dos erros.
O primeiro deles foi a associação estritamente política com a PDVSA. Nem sequer
um centavo foi pingado até hoje pela estatal controlada pelo caudilho Hugo
Chávez.
Com o câmbio em torno de R$ 1,5 por dólar o desajuste do preço da gasolina no
mercado interno ainda era disfarçável, comentou em São Paulo, num debate sobre
energia, o presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari. Com a depreciação
do real a defasagem do preço tornou-se muito mais evidente e insustentável,
acrescentou. Mas um grande estrago foi feito: preços artificialmente baixos da
gasolina afetaram o mercado e prejudicaram a produção de cana e de etanol.
O setor sucroalcooleiro precisará de investimentos de R$ 130 bilhões para
voltar a crescer e produzir etanol suficiente para uma participação de 50% na
matriz de combustíveis, segundo o presidente interino da União da Indústria de
Cana-de-Açúcar, Antônio de Pádua Rodrigues. Esse dinheiro seria necessário para
a construção de cem novas usinas de produção exclusiva de álcool. Em 2010 o
etanol representou 44,6% dos combustíveis utilizados no Brasil. No fim do ano
passado a participação havia caído para 31,7%. Mas novos investimentos,
ressalvou, vão depender de uma clara definição de políticas. Por enquanto,
pode-se acrescentar, o próprio governo se mostra carente de ideias claras sobre
seus objetivos.
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