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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Seca de 2010 na Amazônia foi a mais drástica desde 1902

Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) concluíram em um estudo, publicado na revista Geophysical Research Letters, que a seca de 2010 na Amazônia foi a mais drástica já registrada desde 1902, superando a de 2005, que até então era considerada a maior do século.

A constatação foi feita a partir da análise de uma série histórica de dados de pluviosidade na região da bacia amazônica, com medições desde 1902.

Os resultados do estudo apontam que o processo teve início no começo do verão, durante o El Niño (um processo natural de aquecimento das águas do Pacífico), mas foi intensificado pelo aquecimento das águas tropicais do Atlântico Norte. Em função disso, se originou uma estação seca que se estendeu por muitos meses, ocasionando alterações no ciclo hidrológico.

Como consequência desse processo, houve rebaixamento dos níveis de água e seca completa de cursos d’água e tributários de rios na bacia amazônica. A região sul foi a mais afetada. O fenômeno causou graves problemas socioambientais, especialmente às populações ribeirinhas, que ficaram isoladas por dependerem dos rios para seu deslocamento.

Em outro artigo recém-publicado na revista Theoretical Applied Climatology, pesquisadores do Inpe apresentaram os resultados de um amplo estudo sobre as inundações na Amazônia e Nordeste do Brasil, ocorridas no período de maio a julho de 2009. O fenômeno provocou mortes e deixou milhares de famílias desabrigadas. O trabalho demonstra que essas chuvas torrenciais foram as mais intensas e duradouras já registradas.

O rio Negro, principal tributário do rio Amazonas, atingiu seu maior nível em 107 anos. Os autores concluíram que o evento foi resultado de uma conjuntura de fatores meteorológicos, especialmente o aquecimento acima do normal das águas superficiais do Atlântico Sul – aspecto importante para a explicação das chuvas abundantes em vastas regiões do leste amazônico e Nordeste do país.

Os pesquisadores destacaram também que esses episódios extremos, assim como a seca duradoura ocorrida no ano de 2010 na bacia amazônica, reforçam a hipótese de que anomalias no regime pluviométrico e de temperatura serão mais frequentes em cenários futuros de mudanças climáticas.

Entre os autores dos estudos está José Antônio Marengo Orsini, chefe do Centro de Sistema Terrestre do Inpe.

O artigo The drought of 2010 in the context of historical droughts in the Amazon region (doi:10.1029/2011GL047436), de Orsini e outros, pode ser lido em www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/2011GL047436.pdf.

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FONTE : reportagem da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 31/08/2011.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Água fluoretada, uma herança nazista - CLÁUDIA RODRIGUES

Importante para refletirmos o que estamos bebendo. Será que o tal flúor é tão bom assim?

Em setembro de 2003, e lá se vão oito anos, uma petição internacional assinada por mais de 300 cientistas, químicos, técnicos e ambientalistas de 37 países, pediu a revisão, esclarecimento e discussão sobre os benefícios e malefícios da adição à água encanada do flúor, íon utilizado como preventivo de cáries.

Atendendo à petição, foram apresentados vários estudos comprovando os riscos para a saúde geral do corpo, especialmente dos ossos, devido à ingestão desse potente agente químico que quando ultrapassa apenas 1 ppm já causa problema até nos dentes. De lá para cá, muitas pesquisas vêm atestando ligações entre ingestão de flúor e doenças da modernidade. Autistas, por exemplo, não devem beber água fluoretada. Embora não haja confirmação de associação direta entre o flúor e a disfunção, sabe-se que ele potencializa os sintomas do autismo.

O problema da adição de uma droga, venenosa ou não, na água de todas as pessoas, é uma questão delicada. Até que ponto as autoridades têm o direito de institucionalizar um tratamento medicamentoso na água para todos os cidadãos de todas as idades? Sabendo-se da ligação entre tal produto e desencadeamento de patologias, como e por quais razões se mantêm a mesma diretriz?

A retirada, diante das evidências, bate na trave econômica e política. Subproduto da indústria do alumínio, o íon, que mata um corpo adulto com apenas 5 gramas, não pode ser simplesmente jogado na natureza. A confiança inicial de que em doses ínfimas espalhadas pelas águas e alimentos no mundo, só faria bem aos dentes, evitando cáries, fez com as políticas se consolidassem nesse gigantesco contrato comercial mundial, agora difícil de ser desfeito, especialmente em países em desenvolvimento que têm de um lado a população ignorante que aceita as decisões públicas e privadas sem questionamentos e de outro os concentradores de renda, que defendem o status quo a qualquer preço.

Alguns países, já a partir de 2003, outros antes, retiraram o flúor da água e passaram a adicioná-lo ao sal de cozinha, já que se consome menos sal do que água, o que reduziria o risco de ingestão excessiva do íon, cumulativo no corpo humano. Diante das evidências e para reparar a visão equivocada, baseada em pesquisas que só levavam em conta a prevenção de cáries, muitos países simplesmente não utilizam mais o uso sistêmico do flúor como preventivo de cáries; apostam na educação alimentar, higiene e no uso tópico, diretamente aplicado nos dentes. No Canadá, Áustria, Finlândia, Bélgica, Noruega, França e Cuba, alguns dos países que pararam de fluoretar suas águas, os índices de cáries continuaram caindo. Estudos sobre a ingestão do flúor, que a partir da década de 1970 também foi adicionado a alimentos, leites em pós e a alguns medicamentos, apontam malefícios graves e cumulativos para a saúde em geral. Os danos começam pela fluorose, que pode ser leve, causando manchas esbranquiçadas nos dentes ou grave, quando a dentição permanente fica com manchas marrons ou chega a ser perdida, esfacelando os dentes. Para que isso ocorra basta que crianças de zero a seis anos sejam expostas à ingestão diária do íon. O resultado visível só aparece nos dentes permanentes, já a ingestão de flúor na gravidez compromete a primeira dentição da criança.
O flúor no corpo- Quando ingerido o flúor é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sabe-se que 50% dele é eliminado pelos rins e que a outra metade aloja-se junto ao cálcio dos tecidos conjuntivos. Dentes e ossos, ao longo do tempo, passam a ficar deformados, surgem doenças e rachaduras. A hipermineralização dos tecidos conectivos dos ossos, da pele e da parede das artérias é afetada, os tecidos perdem a flexibilidade, se tornam rígidos e quebradiços. Para que tudo isso ocorra, segundo estudo de 1977 da National Academy of Sciences, dos EUA, o corpo humano precisaria absorver durante 40 anos apenas 2mg de flúor por dia. Parece difícil ingerir tanto, mas a fluorose já é um fato, uma doença moderna comprovada. Diversos estudos químicos atestam que o flúor é tão tóxico como o chumbo e, como este, cumulativo. Quanto mais velhos mais aumentamos a concentração de flúor nos nossos ossos, o que traz maiores riscos de rachaduras e doenças como a osteoporose (veja o primeiro link). A versão natural do flúor, encontrada na natureza, inclusive em águas minerais, peixes, chás e vegetais tem absorção de 25% pelo corpo humano, mas a fluoretação artificial é quase que totalmente absorvida. A maior parte se deposita nas partes sólidas do organismo, os ossos, e parte pequena vai para os dentes. Acredita-se que o fluoreto natural tenha algum papel importante para a saúde humana, mas isso ainda não foi completamente comprovado.

No Brasil a adição de flúor à água começou em 1953 em Baixo Guandu, ES, virou lei federal (6.050/74) e a campanha da fluoretação das águas, abraçada pela odontologia em parceria com sucessivos governos desde a década de 1960, continua em alta e tem como meta atingir 100% da água brasileira encanada. Águas potáveis também recebem flúor e algumas águas minerais possuem mais flúor em sua composição do que é recomendado para evitar a fluorose, que é algo situado entre 0,5 ppm e 1ppm, dependendo da temperatura ambiente, já que no verão ou em locais mais quentes se consome mais água. Os odontologistas que ainda defendem a adição do flúor na água potável e encanada afirmam ser a fluorose, que atingiu adolescentes nas últimas gerações com manchas brancas, um problema menor diante das evidências de redução das cáries, comprovadas por várias teses, elaboradas nos anos 1960 e 1970. Segundo eles esse método é o mais eficaz para reduzir índices de cárie que variam entre 20% e 60%. Da década de 1960 para cá, além da fluoretação das águas brasileiras, a população teve acesso maior às escovas de dentes, que tornaram-se mais baratas e populares. Na Suécia, por exemplo, onde não há fluoretação das águas, a cárie foi erradicada por meio da educação da população.

O flúor nos dentes- A redução de cáries por acesso ao flúor ocorre em decorrência de uma regulação do ph bucal, que teria maior constância via corrente sangüínea a partir da ingestão dessa substância. Após escovarmos os dentes com creme dental fluoretado, mantemos o ph ideal por cerca de duas horas. Apesar da campanha pró-ingestão de flúor, nenhum dentista defende a água fluoretada sem a dobradinha boa higiene e boa alimentação. Não há ph administrado pelo flúor que regule os detritos retidos entre os dentes; esses detritos desregulam o ph local, tornando-o mais ácido, o que favorece o surgimento de cáries e outras doenças periodontais. O açúcar torna o ph do sangue muito ácido e ao lado dele o outro grande vilão é o carboidrato, daí os odontologistas condenarem o abuso de doces, biscoitos e pães entre as refeições, especialmente os feitos com farinhas refinadas. Segundo Pedro Cordeiro, odontologista em Florianópolis, uma boa alimentação e uma escovação bem feita três vezes ao dia são métodos extremamente eficazes para a prevenção de cáries. “Recomendo aos pais que não usem creme dental fluoretado em crianças até cinco anos, pois é possível que engulam o creme acidentalmente ou voluntariamente, o que acarretaria a fluorose.” Uso de fio dental, escovação com água e uma boa alimentação são suficientes para evitar o surgimento de cáries em qualquer idade, garante o dentista.

Medidas seguras- Na água potável encanada são recomendados no máximo 0,6 ppm de flúor, o que causa em crianças menores de sete anos uma fluorose mínima ao nascerem os dentes permanentes. “Acima de 1,5 ppm de flúor na água bebida por crianças menores de sete anos a fluorose é mais agressiva e pode causar má aparência nos dentes permanentes, mas existe tratamento para essa fluorose nos consultórios dentários”, garante o professor Jaime Cury, da Unicamp, defensor da adição de flúor à água. Em Cocalzinho, cidade de Santa Catarina, o flúor contido numa água natural, (1000 ppm) causou sérios danos aos dentes das crianças da região, com perdas parciais e totais dos dentes permanentes. Profissionais de várias partes do Brasil interessaram-se pelo caso, que foi documentado no final da década de 1980. Em 2004 a água mineral Charrua, do RS, apresentava 4ppm de flúor, o que pode resultar em fluorose avançada. O flúor está presente nos cremes dentais desde 1989, inclusive nos infantis, sendo hoje difícil encontrar no mercado convencional um creme dental para uso diário sem o íon. Normalmente os cremes dentais recebem de 1000 ppm a 1800 ppm de flúor. Não há pesquisa que ateste que o flúor aplicado, sem ingestão, cause qualquer mal, mas segundo vários estudos em odontopediatria os problemas de fluorose verificados em todo o Brasil nos últimos anos estão relacionados ao uso de creme dental porque crianças pequenas, além de serem extremamente vulneráveis à ingestão do flúor, engolem acidentalmente ou voluntariamente o creme dental. Uma das razões da ingestão voluntária, em crianças maiores de 3 anos, se deve ao sabor doce dos géis dentais infantis. A fluorose aparente nos dentes de crianças e adolescentes é uma realidade no Brasil.

Diferenças de miligramas são fatais- O argumento que sustenta a adição de flúor à água potável encanada e às águas engarrafadas baseia-se na defesa do controle da cárie infantil, mas quando as águas brasileiras começaram a ser fluoretadas em massa, em 1974, os cremes dentais não eram fluoretados e as informações sobre os hábitos de higiene e de alimentação iniciavam nas capitais e cidades maiores. Naquela época o flúor ainda não era adicionado a medicamentos, chicletes, biscoitos e leites em pó para bebês, que quando somados ao flúor da água ultrapassam o nível recomendado para lactantes em até 80%. O leite humano possui cerca de 00,1ppm de flúor, uma quantidade já bastante inferior à dos leites em pó, mais isso depende, obviamente, da alimentação da mãe. Durante a década de 1980, quando a fama do flúor como preventivo de cáries era inquestionável, muitas mulheres grávidas tiveram prescrição para tomar comprimidos que incluíam o íon na composição. Hoje já não se receitam suplementos de flúor para gestantes, pois as que tomaram enfrentaram problemas de fluorose na primeira dentição de seus filhos. Foi um teste “científico” que não deu certo, mas não foi o primeiro.

Flúor e o nazismo- As primeiras pesquisas com ingestão de flúor em humanos foram feitas em campos de concentração nazistas com o intuito de acalmar os prisioneiros, que ingeriam o íon a partir da água com até 1500 ppm de flúor. O resultado gerava uma espécie de apatetamento, os prisioneiros cumpriam melhor suas tarefas sem questioná-las. Com o mesmo objetivo o flúor é adicionado a alguns medicamentos psiquiátricos hoje em dia. Mais de 60 tranquilizantes largamente utilizados contêm flúor, como Diazepan, Valium e Rohypnol, da Roche, ligada à antiga I.G.Farben, indústria química que atuou a serviço da Alemanha nazista. http://www.theforbiddenknowledge.com/hardtruth/fluoridation.htm
Essa ligação histórica desperta brigas ferrenhas entre os adeptos da adição do flúor à água e os que são contra, esses últimos acusados pelos primeiros de fazer terrorismo e estabelecer o caos social em nome da nova ordem mundial, que está aí a questionar as bases que sustentam a economia.

A Associação Brasileira de Odontologia recomenda a adição de flúor à água potável como método preventivo fundamental para o Brasil, país grande, de população pobre e desinformada sobre os hábitos de higiene e de alimentação. Segundo o professor Jaime Cury,que passou mais de 20 anos estudando a prevenção da cárie, o flúor adicionado à água tem uma importância social inquestionável. “Gostaria de ser o primeiro a anunciar que o flúor não precisa mais ser adicionado à água, mas o povo brasileiro, a maior parte da população, a que é pobre e desinformada, não escova os dentes corretamente, não pode cuidar da alimentação e é beneficiada pela adição de flúor na água.”

Para ele, “a fluorose leve que não causa mal-estar social, nem deveria ser considerada um problema ou doença porque as crianças com fluorose leve, manchinhas brancas, têm dentes mais fortes.”

Questões políticas- A ciência odontológica vê a fluorose média ou grave como problema principal em conseqüência da adição de flúor à água, mas médicos, químicos e toxicologistas afirmam que a fluorose é apenas o começo de um problema espalhado por todos os ossos do corpo, sobrecarregando a glândula pineal e acarretando outras conseqüências na saúde devido a alteração do funcionamento bioquímico. Eles alertam que as doenças podem demorar anos para surgir, pois o flúor é cumulativo. Nunca houve uma denúncia formal ligando o flúor à indústria de alumínio; as pesquisas feitas por químicos e neurologistas focam exclusivamente os danos do íon à saúde humana. Polêmica à parte, algo não está sendo levado em conta: é praticamente impossível encontrar água que não tenha sofrido adição de flúor. Por uma convenção entre sucessivos governos, a ciência odontológica e a indústria de alumínio, o brasileiro perdeu o direito de beber água sem o aditivo.

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FONTE : Cláudia Rodrigues, jornalista, terapeuta reichiana, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, 2008. Centauro Editora. Blog: http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com (http://sul21.com.br/jornal/2011/08/agua-fluoretada-uma-heranca-nazista/).

O que pensa a maior autoridade ambiental dos EUA

Entrevista exclusiva ao programa “Cidades e Soluções”, a coordenadora do EPA (Environmental Protection Agency) Lisa Jackson, faz um balanço do que está sendo feito pelo Governo Obama em favor do meio ambiente.

Ela é a primeira afro-americana à frente da principal autoridade ambiental dos Estados Unidos. Ao assumir o cargo logo após a eleição de Obama, Lisa Jackson frisou que a partir daquele momento os estudos científicos voltariam a balizar as decisões do EPA (Environmental Protection Agency) numa clara alusão ao período obscurantista da era Bush em que alguns estudos ligados principalmente às mudanças climáticas eram vetados ou censurados acintosamente quando demonstravam os equívocos cometidos pelos antigos ocupantes da Casa Branca.

“Nós somos a primeira administração a declarar que os gases de efeito estufa ameaçam a saúde pública e o bem-estar. A administração Bush não fez essa declaração e, na verdade, evitou esta declaração”, disse Lisa em entrevista exclusiva ao programa Cidades e Soluções. Ela esteve no Brasil em agosto chefiando uma delegação de empresários americanos interessados em vender produtos e serviços que ajudem o Brasil a tornar tanto a Copa do Mundo de 2014 quanto às Olimpíadas de 2016 eventos mais sustentáveis. A visita é um dos resultados do encontro entre Dilma e Obama no início do ano no Brasil. Em situação econômica ainda difícil, os Estados Unidos reconhecem no Brasil um potencial importador de equipamentos e tecnologias associados à economia verde.

Se é verdade que Obama fracassou na tentativa de liderar mundialmente uma cruzada contra as emissões crescentes de gases estufa – o presidente americano teve seu projeto “Cap and Trade” de redução das emissões domésticas de gases estufa barrado no senado pelos republicanos – também é verdade que nesses quase três anos de governo houve alguns avanços na política ambiental americana.

A regulação mais severa imposta ao setor automotivo e aos fabricantes de combustíveis que passaram a ter prazos e metas mais rígidos na busca por maior eficiência energética é um exemplo. Novos cursos profissionalizantes que ensinam mecânicos americanos a lidar com a nova geração de carros híbridos, a formação de novos profissionais que aprendem a fazer a vedação correta de casas e escritórios para economizar energia, os investimentos crescentes em fontes limpas e renováveis bem como em sistemas de distribuição de energia inteligentes – “smart grids” – inspiram políticas públicas ainda ofuscadas pela grave crise econômica herdada do governo anterior. A soma dos recursos públicos investidos até agora em fontes limpas e renováveis e eficiência energética chega a 90 bilhões de dólares.

Foi durante a gestão de Barack Obama que os Estados Unidos enfrentaram o maior desastre ambiental de sua História. Em 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon da companhia britânica BP, no Golfo do México, matou onze pessoas e deu início a um vazamento de mais de setecentos milhões de litros de petróleo. Foram quase três meses de tentativas desesperadas e improvisadas até que o vazamento fosse controlado. A tragédia provocou violentos impactos sobre a vida marinha, o turismo e a pesca na costa leste americana.” Eu diria que a lição a ser aprendida com o vazamento de petróleo no Golfo do México é que você precisa construir o tipo de regulamentação de prevenção, para evitar problemas depois. Você sabe, as empresas vêm com as melhores intenções, para fazer um bom trabalho. Mas elas também têm muita urgência em ter lucro e fazer o que for possível para obter estes recursos”.

Lisa Jackson enfrenta críticas dos grandes poluidores americanos que alegam não ter recursos sobrando neste momento de crise econômica para atender as normas ambientais exigidas pelo EPA. “Você sabe, há aqueles que acreditam que você tem que escolher entre uma economia forte e um meio ambiente limpo. E eu simplesmente não acredito nisso. Eu acredito que você tem que ter os dois juntos”.

Ao ser indagada sobre qual seria o maior problema ambiental dos Estados Unidos hoje, Lisa cita as mudanças climáticas mas lembra também da preocupante situação das águas em seu país: “a poluição fez com que os americanos vissem a água que era limpa, de repente, tornar-se imprópria para pesca, nado ou para beber.”

Ela reconhece a enorme pressão que acontece neste momento nos Estados Unidos em favor da exploração de gás natural a partir do xisto, cujo processo de conversão demanda um alto consumo de água. “Precisa ser feito de forma segura, de forma a respeitar nossos estoques de água, mas, se acontecer, nós vamos usar gás natural, que emite muito menos carbono como fonte de energia do que alguns dos outros combustíveis fósseis, como o carvão”.

Por quanto tempo os Estados Unidos ainda serão dependentes de petróleo? Lisa Jackson condiciona a resposta à capacidade do país investir rápida e progressivamente em inovação tecnológica. Para ela, há condições de alcançar este objetivo ainda neste século. “Nós temos que ter baterias mais avançadas para armazenar energia, nós temos que ter um jeito de coletar a energia do sol e usá-la à noite para que possamos tê-la o tempo todo. Mas tudo isso é refletido na crença de que nós podemos fazer muito até o meio do século, até 2050, para reduzir nossas emissões de carbono”.

Sobre a Rio + 20, Lisa Jackson entende que a Conferência deve ser entendida como uma excelente oportunidade de compartilhar experiências bem sucedidas na direção de uma economia verde. “ Eu estou ansiosa para a Rio+20, por várias razões. Eu acho que chegou a hora de falarmos sobre uma economia verde mundial. E as pessoas vão estar no Rio para falar mais do que em ideias, mas exemplos mundiais reais sobre como o foco no meio ambiente mudou a vida das pessoas, as levantou e trouxe para elas um emprego onde não havia antes. Eu acho que isso é o que todos esperamos da Rio+20. Não mais ideiais ou metas, mas receitas reais para fazer o nosso planeta mais sustentável. E estou muito esperançosa de que uma das coisas que EUA e Brasil vão levar juntos é essa iniciativa conjunta em sustentabilidade urbana”. E o presidente Obama? Ele virá para a Rio +20? Lisa ri meio desconcertada. “Nós vamos descobrir, certamente vamos. Eu não posso comprometer o presidente, mas eu posso te dizer que é um encontro muito importante para os Estados Unidos.”

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FONTE : André Trigueiro é autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação. Apresenta o Jornal das Dez e é editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro. (Publicado originalmente no site Mundo Sustentável).

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A mudança climática por trás da fome

Paris, França, 29/8/2011 – A severa seca no Chifre da África, que causou a morte de pelo menos 30 mil crianças e afeta um total de 12 milhões de pessoas, sobretudo na Somália, é consequência direta de fenômenos associados com a mudança climática. A seca atual no Chifre da África foi causada pelos fenômenos El Niño e La Niña no Oceano Pacífico, que prejudicam a circulação normal da água fria e da água quente, e também do ar, perturbando as condições de umidade em todo o Hemisfério Sul”, explicou à IPS o cientista Friedrich-Wilhelm Gerstengarbe, do Instituto de Potsdam para Pesquisa da Mudança Climática (PIK), da Alemanha.

Os dois fenômenos são parte da oscilação dos padrões climáticos no Sul, que ocorre ao longo da zona tropical do Pacífico a cada cinco ou sete anos. Trata-se de variações da temperatura na superfície deste oceano, seja o aquecimento (El Niño) ou o esfriamento (La Niña), e a mudança da pressão do ar no Pacífico ocidental. Ambos não aparecem sozinhos: a fase de aquecimento, El Niño, é acompanhada por uma alta pressão no Oeste, enquanto a fase de esfriamento, La Niña, aparece junto com uma baixa pressão. Essas condições podem afetar particularmente as regiões ao norte do Equador, como o Chifre da África.

A seca está afetando principalmente Djibuti, Sudão, Sudão do Sul e partes de Uganda, além da Somália. Até agora, a fome foi declarada oficialmente neste último país, cujo governo carece de elementos básicos para funcionar. “El Niño e La Niña exacerbam as condições climáticas ao longo do Hemisfério Sul, incrementando a temporada de chuvas em algumas áreas, especialmente na Ásia e na Austrália, e a seca em outras, sobretudo na África”, disse Gerstengarbe.

Para este especialista, a mudança climática e as crescentes temporadas globais que traz junto dão mais intensidade tanto ao El Niño quanto à La Niña, derivando em severas inundações na Austrália e no Paquistão, e a seca no Chifre da África. Os dois fenômenos provocaram nos dois últimos anos temporadas de chuvas particularmente secas e temperaturas extremamente quentes na África oriental. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, o La Niña causou, desde 2008, uma forte queda nas temperaturas da água do Oceano Pacífico, com uma “precipitação abaixo da média no Pacífico equatorial central”.

Durante os episódios de frio há perturbações nos padrões de chuvas tropicais e de circulação de ar. As águas frias no Pacífico equatorial central reduzem as precipitações entre novembro e abril, isto é, exatamente a temporada regional de chuvas. Por outro lado, o fenômeno eleva as temperaturas na África oriental. Tanto a redução das chuvas quanto as altas temperaturas este ano causaram a pior seca no Chifre da África em seis décadas. “Lamentavelmente, devido à intensificação do La Niña, devemos esperar maior desertificação na África e mais secas na região em torno do Chifre da África”, disse Gerstengarbe.

Por sua vez, Jean-Cyril Dagorn, encarregado dos programas de meio ambiente e justiça econômica do ramo francês da organização humanitária Oxfam, concorda que o aquecimento global está exacerbando as condições climáticas extremas na África. “Durante dois anos, as precipitações estiveram abaixo da média na África oriental devido ao La Niña”, disse à IPS. “Contudo, este ano a seca é extrema, provocando a presente catástrofe humanitária na Somália e em outras regiões vizinhas”, acrescentou.

Dagorn disse que a próxima temporada de chuvas, prevista para a partir de outubro, poderá intensificar a crise. “Chuvas torrenciais sobre terra extremamente seca arrasariam os solos mais férteis, tornando ainda mais dramática a crise de alimentos”, alertou. Dagorn afirmou que ocorrem secas no Chifre da África a cada cinco ou sete anos, mas quase nunca tão extremas. “Calculamos que, devido à mudança climática e às secas que causa, a produtividade agrícola na região poderá cair mais de 20% nas próximas décadas, especialmente as plantações de milho e feijão”, disse.

Além disso, Dagorn acrescentou que os criadores de gado da região e os pastores perderam entre 30% e 60% de seus animais devido às condições climáticas extremas, agravando a crise alimentar. Para este especialista, tanto as políticas agrícolas dos países afetados como a cooperação internacional falharam no tratamento do problema. A Organização das Nações Unidas (ONU) informou que 1,6 bilhão de euros seriam necessários para enfrentar a crise. “Mas a França, por exemplo, destinou menos de dez milhões de euros. Foi anunciada uma urgente reunião de doadores, que nunca aconteceu”, disse Dagorn.

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FONTE : Envolverde/IPS

RJ: Levantamento revela altos níveis de contaminação por metais pesados em pescados

Os olhos podem não ver, mas o corpo certamente vai sentir o seu peso. Levantamento realizado pela bióloga Rachel Ann Hauser Davis, aluna de doutorado em Química Analítica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), revela que alguns dos peixes mais comuns pescados, e consumidos, em diversos locais do Rio apresentam altos níveis de contaminação por metais pesados. Acumulados no organismo, estes elementos podem provocar sérios problemas de saúde, como câncer, danos celulares, mal de Parkinson, impotência, alucinações, insônia, anorexia e dificuldades de memória, entre outros.Reportagem de Cesar Baima, no Extra.

Rachel recolheu amostras de mais de cem tainhas e tilápias capturadas nas lagoas Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, do Ipiranga, em Magé, de Itaipu, em Niterói, de Jacarepaguá, na Zona Oeste, e no mar em frente à Praia de Copacabana, além de exemplares vendidos em feiras e supermercados. Utilizando métodos de espectroscopia e espectrometria, a bióloga mediu a presença de cromo, cádmio, manganês, níquel, cobre, zinco e chumbo nos peixes, constatando que muitos deles tinham níveis de contaminação pelos três primeiros metais muito além do limite recomendado.

- Mais de 50% dos peixes ficaram bem acima do recomendável – conta ela. – O mais preocupante é que a população não sabe que isso está acontecendo. Nem o consumidor final, nem o feirante nem o pescador têm a mínima ideia do problema. O pescador vende o que não vê e o consumidor compra o que não sabe.

No levantamento mais completo, feito em Ipiranga e Itaipu – e que será apresentado no 37º Colóquio Internacional de Espectroscopia (Colloquium Spectroscopicum Internationale), promovido pelo CTC-PUC-Rio a partir de domingo em Búzios – Rachel verificou que 43% das tainhas capturadas em Itaipu e 23% das pescadas em Ipiranga tinham níveis de cromo acima do limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é de 0,1 parte por milhão (ppm), sendo que em alguns casos eles chegavam a 2,5 ppm. Já para o cádmio, a proporção de peixes contaminados além do limite de 0,05 ppm foi bem menor, 10% em Itaipu e 5% em Ipiranga, mas alcançando concentrações de até 10 ppm. Para o manganês, cujo limite é de 1 ppm, as tainhas de Itaipu tiveram o pior resultado da pesquisa, com 79% deles com níveis do elemento bem acima do recomendado, chegando a 3,7 ppm, contra novamente apenas 5% em Ipiranga, com uma máxima de 1,2 ppm. A grande contaminação dos peixes de Itaipu surpreendeu a bióloga.

- Em Ipiranga isso até era esperado em razão da grande poluição da Baía de Guanabara – diz. – Mas o mais preocupante é ver estes dados de Itaipu, pois é lá que muita gente vai para comprar peixe acreditando que são frescos e de águas limpas. Tanto que nas pesquisas que fiz na literatura científica Itaipu muitas vezes é citada como local de referência de baixa contaminação.

Já para os outros locais, Rachel admite que a quantidade de amostras avaliadas não é estatisticamente significativa para render um artigo científico formal. Ainda assim, uma grande proporção dos peixes apresentou problemas. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, duas das 15 tilápias tinham mais cromo que o recomendado, enquanto três superavam o limite para cádmio. E das dez tainhas retiradas do mar em Copacabana, três tinham níveis altos de cromo, que variaram de 3 ppm a 6 ppm.

- Embora sejam poucos peixes, a contaminação é alta – destaca. – Os valores de Copacabana são maiores até do que os de peixes pegos na baía, num forte sinal de alerta de que é grande a contaminação por metais pesados na costa do estado do Rio.

Segundo o químico Reinaldo Calixto de Campos, decano do CTC/PUC-Rio e orientador da pesquisa de Rachel, as fontes de contaminação são variadas. Ele lembra que a Baía de Guanabara recebe efluentes de centenas e até milhares de indústrias no seu entorno, além de esgoto não tratado, lixo jogado diretamente nela ou trazido pelos rios e é vítima de repetidos vazamentos e derrames de óleo.

- Esta poluição vem se acumulando ao longo de anos na baía e no seu entorno, pois há também uma troca constante de água com o oceano – comenta, acrescentando que também ficou surpreendido com os valores da contaminação dos peixes de Itaipu. – Tudo isso se junta para conspirar contra a qualidade de vida da população do Rio.

Para os cientistas, no entanto, os altos níveis de contaminação por metal pesado de alguns peixes não deve ser motivo de alarme. Segundo eles, os dados da pesquisa devem ser usados para orientar ações de prevenção e monitoramento ambiental que ajudem a enfrentar o problema, além de educação e conscientização tanto de pescadores quanto de consumidores, que não devem capturar e comprar, respectivamente, peixes em áreas onde é sabido que a poluição é grande.

- Além dos níveis de metais acima do limite, encontrei muitos peixes infestados com tumores e parasitas – conta Rachel. – Esses são indícios de contaminação que os pescadores e consumidores devem estar atentos. Quando o peixe está na feira, muitas vezes já está limpo, o que apaga esses indícios.

Calixto, por sua vez, cobra ações integradas dos órgãos estaduais de meio ambiente para ajudar a monitorar e, quem sabe, reverter a situação:

- Temos que ter cuidado para não sermos alarmistas, mas a luz amarela está acesa. Isso significa que temos que criar sistemas de monitoramento de longo prazo para poder identificar as fontes de contaminação e tomar as medidas cabíveis para enfrentar o problema. E medidas de controle não são tão difíceis de implementar. Afinal, saneamento básico é uma tecnologia que tem mais de 150 anos. A sociedade tem que entender que a saúde é influenciada por muitos fatores e o custo de não cuidar disso é muito maior do que o de cuidar.

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FONTE : EcoDebate, 29/08/2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Brasil entra radiante no mundo da energia solar

Já está circulando a revista ECO 21 de agosto de 2011. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo do editorial o índice da edição.

Editorial

Ao inaugurar a usina solar MPX Tauá, a primeira unidade solar de geração de energia em escala comercial ligada ao sistema elétrico nacional, o Brasil finalmente entrou no clube dos países que acreditam num futuro baseado nas energias renováveis. Localizada no município de Tauá, a 350 km de Fortaleza, hoje já gera 1 MW de energia elétrica, suficiente para as necessidades de 1.500 famílias. A MPX revela um perfil empresarial pioneiro, considerando que toda a experiência anterior de geração fotovoltaica no Brasil é de instalações de pequenas unidades produtoras, apenas com o objetivo de fornecer energia para regiões isoladas. O projeto final concebido para a planta de Tauá chegará a 50 MW e quando essa potência for atingida, serão injetados anualmente na rede elétrica nacional 77,4 milhões de kWh.

De acordo com o informe “Renováveis 21: Relatório da Situação Global” divulgado no mês passado pela Rede de Energias Renováveis para o Século 21 (REN21), a geração de energia solar global em 2010 duplicou em comparação com 2009, graças a programas governamentais de incentivo e à queda contínua no preço da energia fotovoltaica. Os investimentos globais em renováveis em 2010 foram US$ 211 bilhões, valor um terço superior ao de 2009. Alemanha foi o país que mais instalou painéis solares em 2010, enquanto Japão e os EUA duplicaram suas instalações em relação a 2009. Neste ano, a China é o maior fabricante de painéis fotovoltaicos, com implantação de usinas solares a baixo custo.

“O desempenho global de energia renovável tem sido uma constante positiva nesses tempos turbulentos”, disse Mohamed El-Ashry, Presidente da REN21. No início deste ano, 119 países tiveram algum tipo de política de adesão às renováveis em nível nacional. Há 6 anos, eram apenas 55 os países, sendo que mais da metade está no mundo em desenvolvimento. Hoje, mais do que nunca, as pessoas usam energia derivada de fontes renováveis; enquanto a capacidade de fornecimento continua a crescer, os preços continuam a cair. “A reunião da Convenção sobre o Clima, a ser realizada em Durban no final deste ano, e a RIO+20, oferecem oportunidades únicas para acelerar e ampliar essa transição positiva para uma Economia Verde de baixa emissão de carbono e de eficiência no uso de recursos energéticos”, disse Achim Steiner, Diretor do PNUMA.

O informe “Sizing the Clean Economy” (Medindo a Economia Limpa), realizado pelo Instituto Brookings, afirma que 2,7 milhões de trabalhadores, nos EUA, estão relacionados com a Economia Verde, enquanto que a indústria dos combustíveis fósseis emprega 2,4 milhões. “Mesmo com o país em plena recessão, setores como o solar e o eólico, triplicaram os investimentos e a mão-de-obra nos últimos anos”, disse Mark Muro, Diretor do Brookings. “Acreditamos no desenvolvimento dessa fonte no médio e longo prazo e temos a certeza que este é só o começo de uma caminhada para o crescimento do setor de energia fotovoltaica no nosso país”, ressaltou Eduardo Karrer, Presidente da MPX. Uma radiante boa notícia plena de energia solar.

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FONTE : Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco 21


Primeiros efeitos da construção da usina de Belo Monte já são notados nas ruas de Altamira

O tráfego de veículos é infernal e os preços dos alimentos sobem sem parar.

A grande polêmica ambiental que fustiga a Amazônia brasileira responde pelo nome de Belo Monte. Depois de mais de 35 anos de vaivéns e discussões sobre a viabilidade e o impacto socioambiental do projeto, em junho passado começaram as obras para construir no leito do rio Xingu a terceira maior hidrelétrica do mundo, depois da chinesa Três Gargantas e a de Itaipu (outra megarrepresa levantada nos anos 1970 por Brasil e Paraguai, no rio Paraná). Reportagem de Francho Barón, El País.

A obra, que se realiza no estado do Pará, no coração da Amazônia, tem uma envergadura comparável à do Canal de Panamá e afeta várias etnias indígenas e algumas localidades que vivem em uma aprazível precariedade desde sua fundação há mais de um século. Enquanto o governo brasileiro e o consórcio responsável pela construção e exploração da hidrelétrica, a Norte Energia, afirmam que Belo Monte contribuirá para sanar as deficiências energéticas do Brasil e levará o desenvolvimento econômico a uma região deprimida, grupos ambientalistas e setores indigenistas, incitados por uma recente condenação do projeto pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, não descansam em seu propósito de paralisar as obras.

Altamira é a localidade onde se concentra o grosso das organizações que se opõem à construção de Belo Monte. Com a chegada dos primeiros contingentes de maquinário pesado, o município se transformou em um formigueiro de ativistas que, sob o guarda-chuva da plataforma Xingu Vivo, se esforçam diariamente para conseguir a paralisação do projeto. Os primeiros efeitos da obra, que foi iniciada no final de junho passado, já são percebidos nas ruas de Altamira: o tráfego de veículos é infernal, encontrar um quarto disponível na precária oferta hoteleira da cidade se transformou em missão impossível e os preços dos alimentos subiram vertiginosamente. Não param de chegar profissionais de todo tipo e esperam-se ondas de trabalhadores atraídos pelas possibilidades de emprego. Calcula-se que a população de Altamira, que beira os 100 mil habitantes, será duplicada no momento crucial da obra.

Diante do desembarque progressivo de uma população flutuante de médio e alto poder aquisitivo (profissionais de alta qualificação, administradores, gestores ou executivos), em Altamira não param de brotar novos negócios, alguns deles inusitados na região, como o primeiro prostíbulo que oferece um nutrido plantel de senhoritas em uma das estradas de acesso à cidade. “Nosso público é gente de certo nível econômico. Aqui não entram peões cheirando a cachaça”, explica um empregado do local.

Por enquanto, a única coisa perceptível é uma discreta eclosão demográfica e um crescimento desordenado da economia local, embora tanto o Executivo de Brasília como a Norte Energia anunciem melhoras extraordinárias em infraestruturas, saneamento, educação, saúde pública e, em geral, na qualidade de vida de Altamira e arredores. “Todo mundo imagina a Amazônia como um paraíso natural, mas como se pode constatar em Altamira a realidade é muito diferente”, afirma João Pimentel, diretor de relações institucionais da Norte Energia. “Esta cidade tem uma infinidade de problemas e nosso objetivo é criar empregos para a população local e trazer melhoras em todos os sentidos”, acrescenta o diretor.

Um dos territórios indígenas que sofrerão o impacto de Belo Monte é ocupado pela etnia juruna. No povoado indígena de Boa Vista, no km 17 de uma das estradas de acesso a Altamira, algumas moradias de madeiras se espalham ao redor da maloca, a casa comunitária. A atmosfera no povoado é decadente e boa parte das pessoas que conversam pausadamente à sombra de uma árvore não mostram traços indígenas. De repente chega um veículo empoeirado carregado de utensílios de cozinha, e os moradores se agrupam para comprar frigideiras. Embora não sejam numerosos nessa comunidade, os jurunas se opõem frontalmente à construção de Belo Monte, porque segundo eles seu território seria alagado e não teriam alternativa senão buscar outro lugar para viver. A líder da aldeia, Sheyla Jakarepi Juruna, declara: “Houve constantes violações de nossos direitos, como o de sermos consultados diante de um projeto desta magnitude. Até hoje não foram escutadas as objeções dos indígenas”.

À opinião de Sheyla somam-se as de outros conhecidos líderes indígenas amazônicos, como o popular e midiático cacique Raoni, dos kaiapó, que desde o ano passado vem prevendo um banho de sangue se as obras de Belo Monte continuarem seu curso. Segundo o chefe ancião, as tribos arara, araweté, xikrin, asurini, parakanã e juruna que povoam a região estão preparadas para ir à guerra em qualquer momento, em defesa de seus territórios. A Norte Energia, entretanto, reduz a importância da oposição indígena e calcula em 2.200 o número de índios que vivem na área afetada pelas obras. “Podemos garantir que não haverá impacto negativo nestas populações. Não inundaremos nenhuma área indígena nem haverá deslocamentos dessas comunidades. Pelo contrário, essas pessoas se beneficiarão de nossos programas de melhoras, como o combate à malária, no qual investimos 36 milhões de reais (mais de 15 milhões de euros) para os próximos seis anos. O demais são falácias e mentiras”, acrescenta Pimentel.

Segundo o executivo da Norte Energia, os meios de comunicação, principalmente os internacionais, vêm desinformando sistematicamente sobre tudo o que se relaciona à hidrelétrica de Belo Monte. “A imprensa internacional se posiciona contra porque se trata de um projeto 100% brasileiro e não precisaremos importar equipamentos nem tecnologia de outros países. Isso deve incomodar fora do Brasil”, opina.

A Norte Energia admite que a construção da hidrelétrica complicará a situação em vários bairros de Altamira que hoje ficam inundados durante os períodos de chuvas e cheias do rio Xingu. Em alguns casos trata-se de conglomerados de palafitas e barracos onde milhares de pessoas vivem amontoadas em condições insalubres. As ONGs que se opõem à construção da represa afirmam que essas famílias terão de abandonar suas casas e ocupar terras em outras áreas, incluindo os territórios indígenas, aumentando a voltagem de um conflito agrário que fustiga a Amazônia paraense há décadas. A Norte Energia replica que dentro do pacote de compensações a população local se inclui o realojamento de mais de 5 mil famílias que hoje vivem em zonas de inundação. “Vamos lhes dar uma moradia digna”, garante Pimentel.

Outro grande questionamento ao projeto se refere a um trecho de cerca de 100 quilômetros do rio Xingu, a chamada Volta Grande, que segundo alguns estudos de impacto na bacia hídrica sofrerá uma queda brutal de sua vazão durante os meses de seca, no verão. A consequência mais imediata seria que esse trecho ficaria impraticável para a pesca e a navegação, atividades básicas no modelo de subsistência das comunidades indígenas presentes na área.

A terceira grande objeção à construção da hidrelétrica tem a ver com a viabilidade econômica do negócio. A Norte Energia afirma que Belo Monte vai gerar em média 4.570 MW de energia firme, com picos de mais de 11 mil MW. As organizações contrárias afirmam que esses números, combinados com o alto custo da obra, transformam Belo Monte em um projeto inviável e sem sentido. Segundo Renata Pinheiro, do movimento Xingu Vivo, “esta hidrelétrica está avaliada em R$ 30 bilhões, que vão sair do bolso do contribuinte. Belo Monte só vai funcionar a 39% de sua capacidade. Isto se deve às características do rio Xingu, onde existe uma variação enorme de volume de água entre o verão e o inverno, aproximadamente 30 vezes menos. No verão as turbinas ficariam praticamente paradas”.

Por esse motivo, várias análises técnicas concordam que esta hidrelétrica, para ser realmente rentável, deverá contar com o apoio de represas semelhantes em outros pontos do rio Xingu. Conclusão: o grande temor dos ambientalistas é que Belo Monte seja apenas a ponta do iceberg, a primeira de uma série de obras que modificariam irreversivelmente o curso e os equilíbrios internos de um dos maiores afluentes do rio Amazonas. Por enquanto, essa alteração do leito do Xingu inundará uma área de mais de 500 hectares e impactará direta ou indiretamente um território de 5 mil quilômetros quadrados.

Com o início das obras, Altamira enfrenta o caos interno. Os promotores lidam com a previsão de que progressivamente chegarão à região cerca de 100 mil pessoas que vão exigir serviços e infraestrutura básica para viver. Hoje a cidade não conta nem com uma rede de esgoto. A capacidade hospitalar está à beira do colapso e o pequeno aeroporto não suportará em breve o aumento do tráfego aéreo que já se faz notar. A Norte Energia deverá solucionar todas essas deficiências com o cumprimento de 40 condições, aceitas pelo governo brasileiro e pelo próprio consórcio, que se traduzem em obras de infraestrutura e melhoras para o município em várias questões chaves. Segundo os adversários de Belo Monte, as obras já começaram e Altamira ainda não recebeu nenhuma contrapartida. Por enquanto tudo são promessas.

“As 40 condições estão relacionadas à preparação da região do ponto de vista sanitário, educacional, de segurança, da proteção de áreas reservadas. Se não forem cumpridas e os investimentos continuarem aumentando nesta região, o crescimento ocorrerá de maneira desordenada. O resultado será o aumento das tensões sociais. Já estamos vendo isso nas pessoas que vivem em áreas que serão inundadas e que estão se assentando em terrenos públicos e privados. Também nos conflitos relacionados à madeira e o aumento dos preços de muitos produtos”, denuncia Marcelo Salazar, coordenador do Instituto Socioambiental em Altamira.

“Altamira tem necessidades básicas não atendidas. Por exemplo, há um alto desemprego e não há saúde nem esgotos. As condições que devemos cumprir têm um cronograma de execução e algumas delas não serão realidade até que a hidrelétrica comece suas operações. Há duas fases cruciais: uma em 2015 e a última em 2019. Neste segundo momento teremos cumprido 100% de nossos compromissos. Ninguém pode pretender que haja uma rede de esgoto em dois dias. Em alguns casos são obras de envergadura, que levam seu tempo”, retruca João Pimentel.

Segundo o consórcio, cerca de 20 mil pessoas vão trabalhar no levantamento da barragem durante o período de máxima atividade da obra. Consequentemente, ambas as partes no conflito concordam que a população atual de Altamira será duplicada. Mas quando acabar a obra e cair em pique a demanda de trabalhadores, o que acontecerá com essas 100 mil pessoas que vierem para trabalhar em Belo Monte? “Teremos uma quantidade enorme de desempregados que aumentarão as ocupações ilegais de terras indígenas ou de áreas protegidas, isto agravará o conflito agrário nessa região e sem dúvida alguma os níveis de desflorestamento”, prevê Renata Pinheiro.

“Paralelamente a Belo Monte haverá outras grandes obras no Brasil que também precisarão de mão-de-obra. A previsão é que quando terminarem os trabalhos aqui haja uma migração de trabalhadores para outros lugares”, rebate Pimentel.

Em Altamira existe uma resistência nada desprezível à obra, sempre minimizada pela Norte Energia. Boa parte da população que apoia a construção da barragem o faz com base em considerações econômicas pessoais ou conjunturais, relegando a um segundo plano a análise socioambiental do projeto. É o caso de Zé Carlos, recepcionista de um hotel em Altamira, que afirma que Belo Monte “fez que tenhamos lista de espera todas as semanas”.

Belo Monte custará entre 11,3 e 13 bilhões de euros. O governo de Dilma Rousseff afirma que para continuar sua corrida incontável de desenvolvimento econômico o Brasil precisa acometer esta obra, que marcará um antes e um depois na história da Amazônia.

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FONTE : Reportagem do El País, no UOL Notícias. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves. EcoDebate, 26/08/2011.

Observatório Nacional descobre indícios da existência de um rio subterrâneo sob o Rio Amazonas

Pesquisadores da Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional apresentaram um estudo que revela indícios da existência de um rio subterrâneo correndo sob o Rio Amazonas, a uma profundidade que pode chegar a 4 mil metros. A extensão do rio subterrâneo ainda está sendo avaliada. O estudo foi divulgado no 12º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, encerrado no dia 18, no Rio de Janeiro. A descoberta faz parte de um trabalho de doutorado da geofísica Elizabeth Tavares Pimentel, sob orientação do pesquisador Valiya Hamza.

As informações são do Observatório Nacional. A pesquisadora se baseou na análise de dados de temperatura de 241 poços profundos perfurados pela Petrobras nas décadas de 1970 e 1980, na Amazônia. A área de estudo abrange as bacias sedimentares de Acre, Solimões, Amazonas, Marajó e Barreirinhas.

Pelos resultados obtidos, foi possível identificar a movimentação das águas subterrâneas em profundidades de até 4 mil metros. Conforme os resultados das simulações feitas por Elizabeth Pimentel, o fluxo de águas subterrâneas é predominantemente vertical e atinge cerca de 2 mil metros de profundidade, mas muda de direção e torna-se quase horizontal em profundidades maiores.

Segundo Hamza, que coordenou as pesquisas, essas características são semelhantes às de um rio subterrâneo localizado na região do Rio Amazonas. De acordo com essa interpretação, a região Amazônica pode ter dois sistemas de descarga de água: a drenagem fluvial na superfície, pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas, e o fluxo oculto das águas subterrâneas, através de camadas sedimentares profundas.

Os integrantes do Laboratório de Geotermia do Observatório Nacional nomearam esse fluxo subterrêneo de Rio Hamza, em homenagem ao professor Valiya Hamza.

A largura do Rio Amazonas varia de 1 quilômetro (km) a 100 km, na área de estudo. Já a do rio de fluxo subterrâneo varia de 200 a 400 quilômetros. A velocidade da água no Rio Amazonas varia de 0,1 metro a 2 metros por segundo, dependendo das condições hidrológicas locais. No subsolo, o rio oculto corre de forma muito mais lenta: as águas avançam, no máximo, 100 metros por ano.

De acordo com Hamza, as águas provenientes do fluxo subterrâneo da Região Amazônica emergem nas partes profundas do mar, na margem continental adjacente à Foz do Rio Amazonas. Segundo ele, é provável que as descargas deste fluxo subterrâneo sejam as responsáveis pelos extensos bolsões de baixa salinidade do mar, encontrados nas proximidades da Foz do Amazonas.

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FONTE : reportagem de Renata Giraldi, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 26/08/2011.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Programa Nuclear Brasileiro: Revisão nuclear, artigo de Reinaldo Calixto Campos

Ao contrário do Japão, o Brasil tem o privilégio de não estar situado sobre limites de placas que possam gerar desastres do porte de um terremoto de grande impacto ou uma tsunami. Isso não impede, no entanto, que, em função do desastre nuclear de Fukushima, não seja o momento de rever o papel das usinas nucleares no país e as suas condições de segurança. Em um país onde chuvas, inundações e deslizamentos matam tantos, fica sempre a desconfiança se planos de emergência funcionarão tão bem no papel como na prática.

Devemos, sim, reavaliar se o país necessita de outras quatro usinas, conforme os planos do Programa Nuclear Brasileiro. Quando se trata de energia nuclear, há uma dimensão difícil de controlar quando algo sai errado: as possibilidades são pequenas, mas, quando ocorrem, as consequências são extensas no tempo, e os seus limites, indefinidos, com um grande número de afetados. Está na memória de muitos de nós o acidente com césio-137, em 1987, decorrente de um aparelho de radioterapia, abandonado como lixo hospitalar e encontrado por catadores de ferro velho em Goiânia. O atendimento e a descontaminação da área e população afetada (cerca de 110 mil pessoas, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear) revelaram as dificuldades de tomada de decisões e suas incertezas. As mais de 13 toneladas de lixo atômico recolhidas, e lacradas em tambores, se mantêm perigosas pelos próximos 156 anos, um testemunho silencioso, e um tanto esquecido, daquele episódio.

O Brasil não precisa recorrer às usinas nucleares para reforçar sua matriz energética. Somos um país rico em outras formas de energia, como a eólica e a solar. Além de mais limpas, temos todo o potencial para desenvolver tecnologia nessas áreas, baratear os custos da energia assim gerada e sermos competitivos na exportação deste conhecimento e tecnologia, contribuindo com produtos de maior valor agregado na nossa pauta de exportações, hoje fortemente baseada em commodities.

Diferentemente do Japão, onde a energia nuclear é responsável por 30% da eletricidade gerada no país, temos que nos valer de nossas vantagens para oferecer ao mundo um exemplo a ser seguido. Investir em educação, segurança e na infraestrutura, promover o desenvolvimento econômico baseado em tecnologias limpas, incentivar a pesquisa e a criação de novas tecnologias e apoiar as diversas formas de energia possíveis são os caminhos a serem seguidos.

Enganam-se os que pensam que o abandono da energia nuclear pela Alemanha (um dos seus líderes de seu desenvolvimento) trata-se de uma atitude populista de seu governo atual. Como em nenhum outro país, a História ensinou a eles os riscos da leniência com o populismo. Se eles a abandonam, é porque já estão com o pé no futuro, enxergando um mundo onde a energia nuclear não será fundamental, não valendo o risco a correr e o preço a pagar. Aproveitemos para abandonar o desenvolvimentismo obsoleto dos anos 70 e entrarmos, definitivamente, no século XXI.

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FONTE : Reinaldo Calixto Campos é pesquisador do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Artigo em O Globo, socializado pelo Jornal da Ciência/SBPC. EcoDebate, 25/08/2011.

Cientistas estimam que na Terra existem 8,7 milhões de espécies

Cientistas calculam quantas espécies existem – Cientistas acabam de estimar quantas espécies existem na Terra. O total chegaria a 8,7 milhões, com 1,3 milhão a mais ou a menos.

Apesar do tamanho da margem de erro, é o cálculo mais preciso já feito sobre a presença de vida no planeta. Até então, as estimativas giravam entre 3 milhões e 100 milhões.

Dos 8,7 milhões, 6,5 milhões são espécies terrestres e 2,5 milhões, marinhas. Para a ciência, os números representam um desafio gigantesco, uma vez que a grande maioria ainda não foi classificada ou mesmo descoberta.

Os números foram divulgados pelo Censo da Vida Marinha, uma rede de pesquisadores de mais de 80 países em uma iniciativa de dez anos focada na diversidade, distribuição e abundância de vida nos oceanos. Estão em artigo publicado na revista PLoS Biology.

“A questão de quantas espécies existem tem intrigado cientistas há séculos e a resposta, somada a pesquisas em distribuição e abundância de espécies, é particularmente importante nesse momento, uma vez que diversas atividades e influências humanas estão acelerando as taxas de extinção”, disse Camilo Mora, da Universidade do Havaí, um dos autores do estudo.

“Muita espécies podem desaparecer antes mesmo que saibamos de sua existência, de seu nicho particular ou de sua função em ecossistemas”, alertou.

Os autores do estudo destacam que a mais recente Lista Vermelha, feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, estima que 19.625 espécies estão classificadas como ameaçadas. Isso de uma amostragem total de 59.508, ou menos de 1% do total agora estimado de espécies.

“Sabemos que o número exato de livros na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos em 1º de fevereiro de 2011 era de 22.194.656, mas não somos capazes de dizer, mesmo em uma ordem de magnitude, quantas espécies distintas de plantas e animais dividem o mundo conosco”, disse Lord Robert May of Oxford, ex-presidente da Royal Society.

Desde que o sueco Carl Linnaeus (1707-1778) publicou, em 1758, um sistema usado até hoje para classificação biológica, cerca de 1,25 milhão de espécies – aproximadamente 1 milhão em terra e 250 mil nos oceanos – foram descritas e seus dados estão disponíveis em bancos de dados. Outras cerca de 700 mil foram descritas mas ainda não publicadas.

Segundo o estudo, do total estimado de 7,77 milhões de espécies de animais, apenas 953.434 foram descritas e catalogadas. Das espécies marinhas, 11% foram descritas e catalogadas. Entre as plantas o conhecimento é muito maior: das estimadas 298 mil espécies, 215.644 foram descritas e catalogadas.

Mais informações e inscrições: www.coml.org.

O artigo How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? (doi:10.1371/journal.pbio.100112), de Camilo Mora e outros, pode ser lido em www.plosbiology.org -

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FONTE : Divulgação científica da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 25/08/2011
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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Transgénicos: una muerte silenciosa, por Cynthia Cisneros Fajardo

Los Organismos Genéticamente Modificados (GMO) comúnmente conocidos como transgénicos han generado una serie de controversias a nivel mundial, por las consecuencias nocivas de su utilización. Monsanto una empresa multinacional norte americana es una de la pioneras en la investigación científica y la posterior comercialización de los productos derivados de la ingeniería genética, esta compañía provee cerca del 90% de tecnología para la modificación genética de semillas utilizada en el mercado mundial.

Los Organismos Genéticamente Modificados (GMO) comúnmente conocidos como transgénicos han generado una serie de controversias a nivel mundial, por las consecuencias nocivas de su utilización. Monsanto una empresa multinacional norte americana es una de la pioneras en la investigación científica y la posterior comercialización de los productos derivados de la ingeniería genética, esta compañía provee cerca del 90% de tecnología para la modificación genética de semillas utilizada en el mercado mundial.

Uno de sus productos más conocidos por su alto nivel no sólo de ventas sino también por las nocivas consecuencias que trajo consigo es el herbicida “Roundup” un glifosato tóxico para la salud. Y que sin embargo ha sido comercializado producto de las estrategias de negocios y los acuerdos intergubernamentales que otorgaron licencia para su consumo, razón por la cual Monsanto actualmente está bajo investigación por el Departamento de Justicia desde el año 2009 en los Estados Unidos.

¿Pero qué es Monsanto y porque tiene tanto poder como para vender un producto que ha generado tanta controversia entre los consumidores por sus efectos nocivos?, ¿Por qué no se ventila a la opinión pública los resultados de experimentos que muestran las consecuencias del consumo de los transgénicos y por último cómo funciona a escala global el capital de estas multinacionales que hacen de la salud un mercado dispuesto al mejor postor, sin importar credo ni raza? A continuación intentamos mostrar un resumen de los estudios realizados sobre esta compañía por distintas fuentes y el uso de los transgénicos, para contribuir a un debate que consideramos urgente y necesario.

Historia de Monsanto

Esta empresa fue fundada el año 1901 por un industrial farmacéutico quien comenzó produciendo un endulzante de sacarina para la Coca Cola company. A partir de 1940 expande su industria química hacia la producción de plásticos y fibras sintéticas, y posteriormente sus productos principales incluyen la fabricación de herbicidas 2,4,5-T DDT [1], PCB’s [2] y el famoso Agente Naranja un potente químico que causó entre la población vietnamita unos 400.000 muertos y unos 500.000 nacimientos de niños con malformaciones, además de las bajas en el propio ejército estadounidense [3]. Además de el endulzante artificial hecho de aspartame (Nutra Sweet) [4] que generó mucha polémica sobre el uso de edulcorantes. Monsanto fue también productor de la hormona sintética somatotropina bovina (o rGHB recombinante) [5]. Existen estudios científicos que prueban que la hormona provoca cambios significativos en la biología de las vacas (mastitis, esterilidad, y un aumento de la hormona del crecimiento y de otras hormonas en la leche producida) lo que ha generado una polémica a nivel mundial por sus efectos nocivos. Durante esta década, Monsanto también estuvo vinculada al proyecto Dayton [6], y después de 1947 formó parte del Atomic Energy Comission [7]

Monsanto y la Política: La telaraña imperial o el Revolving Door

Las redes de corrupción de la compañía parecen un laberinto interminable no sólo por el efecto Revolving Doors al que hace alusión la periodista Marie-Monique Robin [8] en su investigación donde evidencia las redes de corrupción dentro del gobierno de los EEUU[9] y la multinacional, sino porque también muchos de los ex empleados de Monsanto en la actualidad ocupan cargos decisivos en organismos del gobierno de los EE.UU., tales como la Administración de Alimentos y Medicamentos (FDA) una oficina del gobierno de EEUU que se encarga de regular las políticas de alimentos y medicamentos que pueden ser comercializados en el país por no atentar contra la salud de la población.

Entre los funcionarios de Monsanto que trabajaron también para la Agencia Estadounidense de Protección Ambiental (EPA)y más aún para la Corte Suprema. Destacan, Clarence Thomas [10], Michael R. Taylor [11] quien en agosto del 2009 ha sido nombrado para la FDA por el presidente Barack Obama. Linda Fisher [12], Michael Friedman [13] entre otros.

De acuerdo a un documento anónimo del año 2001, obtenido por el Centro para la Integridad Pública, Monsanto ha sido identificado por la Agencia de Protección del Medio Ambiente como “parte potencialmente responsable” de 56 sitios contaminados.

En los Estados Unidos la compañía ha sido demandada por dañar a la salud de los empleados o los residentes cercanos a dichas zonas a través de la contaminación y el envenenamiento. Paradójicamente el 2004, la Wildlife Habitat Councily los EE.UU. a través de la Agencia Nacional de Protección Ambiental entregaron un certificado especial de reconocimiento a la empresa Monsanto durante el 16º Simposio Anual del Centro del Patrimonio Mundial.

Phil Angell, director de Monsanto de las comunicaciones corporativas(en referencia alos EE.UU. Foodand Drug Administration) explica la filosofía reguladora de la compañía en 1998: “Monsanto no debería tener que concederla seguridad de los alimentos biotecnológicos. Nuestro interés es vender tanto como nos sea posible. Garantizarla seguridades el trabajo dela FDA”.

Monsanto Siglo XXI: Uso de los transgénicos y sus consecuencias

Los científicos de Monsanto fueron los primeros en desarrollar la modificación genética de una célula vegetal en 1982, cinco años después Monsanto llevó a cabo las primeras pruebas de campo sobre ingeniería genética en los cultivos. Entre 1997 y el 2002, Monsanto hizo una transición importante de la química a la biotecnología.

Gran parte de esos productos biotecnológicos son productos químicos agrícolas, como el “Round Up” [14] un tipo de herbicida altamente tóxico, capaz de eliminar toda la hierba que pudiera crecer alrededor de los transgénicos incrementando los niveles de producción asegurando el crecimiento aparentemente vigoroso y resistente de la planta [15]; sin embargo un estudio publicado en la Revista Internacional de Ciencias Biológicas, analizó los transgénicos obtenidos de Monsanto. El estudio concluye que estos inducen a un estado de toxicidad hepatorrenal. La presencia de los nuevos pesticidas con los genes insertados fueron los responsables [16].

En junio de 2007, Monsanto adquirió Delta&Pine Land Company, una empresa que patentó una tecnologia de semillas llamadas Terminator. Esta tecnología, produce plantas con semillas estériles para que no crezca flor o fruta después de la plantación inicial, esto evíta la propagación de las semillas en la naturaleza. El negocio es exitoso en tanto requiere que los clientes vuelvan a comprar de las semillas para cada siembra en la que se utilizan las diferentes variedades de estas semillas especulando el costo. En los últimos años, la amplia oposición de organizaciones ecologistas asociaciones de agricultores ha crecido, principalmente por la preocupación que las semillas terminator podrían aumentar la dependencia de los agricultores sobre los proveedores de semillas; a pesar de las prohibiciones sobre la comercialización de las semillas Terminador esta continuó [17].

Otro de los productos que ha generado gran controversia en al opinión pública es el de la leche orgánica que se desató luego que se descubriera que Monsanto se negaba a etiquetar su producto genéticamente modificado. En marzo del 2008, de acuerdo con The New York Times la marca de Monsanto de rBST [18], Posilac, fue defendida por un grupo de apoyo llamado pro-rBST AFACT, formado por grandes conglomerados de negocios lácteos y estrechamente asociada con la propia Monsanto. Este grupo ha participado en los esfuerzos de difusión y propaganda a gran escala involucrando el nivel estatal para evitar que la leche rBST-free sea etiquetada como tal [19]. Al respecto es importante mencionar el caso de la compañía FOX News [20].

La principal justificación de AFACT es que la rBST había sido aprobada por la Food and Drug Administration (FDA), los productores de leche reclamaban su derecho a utilizar tecnología que maximice sus beneficios, pero la demanda de los consumidores fue mayor, el caso derivó en una mayor regulación a nivel estatal para prohibir la comercialización de leche rBST – free. En octubre del 2008, Monsanto vendió su negocio de POSILAC y rBST/rBGH bovino somatotropine, en su totalidad, a Eli Lilly por un precio de $300 millones, más otras consideraciones.

En enero de 2010, Monsanto fue nombrada empresa del año por la revista Forbes.

El lado oscuro del capital: la demanda

Los juicios que envuelven a Monsanto ha involucrado una serie de demandas colectivas, donde las multas y daños y perjuicios se han topado con cientos de millones de dólares, por lo general por cuestiones de salud relacionadas con sus productos; sin embargo, Monsanto también ha hecho uso frecuente delos tribunales para defender sus patentes en biotecnología [21]. La impunidad con que ha actuado Monsanto dentro [22] y fuera de sus fronteras ha generado rechazo a nivel mundial, China [23], India, Indonesia [24], la Unión Europea, han iniciado juicios contra la multinacional. América Latina es una víctima más con mordaza frente al ingreso de estos transgénicos.

En el caso de India miles de agricultores se suicidaron producto de las medidas de coerción que empleaba la compañía sobre la venta de semillas de algodón genéticamente modificadas. Algunas de las luchas que enfrentan los agricultores hindúes se detallan en el artículo “Las semillas del suicidio: Los agricultores desesperados de la India”. Los agricultores han utilizado las semillas genéticamente modificadas promovidas por Cargill y Monsanto a la espera de mayores rendimientos en la producción; no obstante, las deudas resultantes de los cultivos con semillas genéticamente modificadas han llevado a los agricultores a la servidumbre [25]. Según los datos estadísticos cada treinta minutos un agricultor indio se suicida y en los últimos dieciséis años, más de un cuarto de millón de campesinos han muerto [26].


En respuesta a las preocupaciones vertidas sobre sus productos Monsanto ha afirmado que los críticos están “mal informados”, y agregó que pretenden vincular el algodón Bt al suicidio masivo de los agricultores como parte de una “campaña de desprestigio visceral.” La compañía asegura estos suicidios se deben por el contrario a factores tales como el alcoholismo y las “obligaciones de dotación para el matrimonio de las hijas.” Monsanto concluye que “el suicidio de los agricultores tiene numerosas causas, el endeudamiento es uno de los principales factores”, y agregó que el empleo de plaguicidas puede ser la clave para revertir las estadísticas trágicas.”

Bajo ese contexto las demandas contra Monsanto parecen ser interminables, en el caso de la Unión Europea, uno de los juicios que enfrentó la compañía está relacionado con el vertido de desechos en UK por parte de la compañía entre 1965 y 1972 y el pago de la compañía a unos contratistas por la descarga ilegal de miles de toneladas de residuos altamente tóxicos en los vertederos del Reino Unido, a sabiendas que dichas sustancias podían contaminar la vida silvestre y a las personas. La Agencia de Medio Ambiente señaló que los productos químicos se encontraron en la contaminación de las aguas subterráneas y la atmósfera, 30 años después que estos desechos fueron vertidos [27].

Por otro lado, el 26 de Enero de 2007 Monsanto fue multado en Francia por falsa advertencia con 19.000 dólares por una corte francesa, el delito consistió en engañar al público sobre el impacto ambiental de su herbicida Round Up. El ex presidente de Monsanto en Francia fue encontrado culpable de publicidad engañosa para la presentación de Round Up como biodegradables y afirmando que dejó el suelo limpio después de cada uso [28].

Como resultado de estas y otras agresiones la Multinacional ha enfrentado una fuerte resistencia de la Unión Europea en ingreso de los alimentos modificados genéticamente, La Legislación Europea del 2003, ha impuesto reglas estrictas para las evaluaciones de etiquetado y la información sobre el riesgo de los alimentos modificados genéticamente por todas las empresas de biotecnología.

Monsanto en América Latina: La voz de los ninguneados…

La historia del gigante Monsanto a nivel mundial con respecto a los efectos negativos de sus productos no difiere mucho en nuestra América Latina, por ejemplo, con respecto a la soya transgénica cultivada en Argentina. La multinacional afirma que uno de sus mayores éxitos ha sido la modificación genética de la soya (soya Round Up Ready) estos cultivos crecen y se venden en Argentina, Sudáfrica, y en los EE.UU. Se asegura que su uso es cada vez mayor, siendo que la producción de soya aumentó en un 75% y el aumento de los rendimientos es en un 173% en solo cinco años, según apuntan los datos hasta el año 2002, lo que ha permitido una mayor rentabilidad para los agricultores.

No obstante es otra la realidad para quienes han sido expulsados de sus tierras y han sido obligados a migrar a la periferia urbana de las ciudades en virtud a que no pueden competir con los precios de las semillas de esta multinacional, a la que se encuentran atados en condición de servidumbre infrahumana intoxicados y envenenados por el pesticida [29].

La concentración de la propiedad de la tierra, se aceleró aun más con la aparición de los Organismos Genéticamente Modificados (OGM). “Mientras que el volumen de producción de soja aumenta, tenemos cada vez menos unidades productivas. La soya excluye a los pequeños y medianos productores”, afirmó Alfredo Bel, ingeniero agrónomo de la Federación Agraria Argentina (FAA). En 1988 existían en el país 422.000 productores, mientras que en 2002 había sólo 318.000, lo que representa una reducción del 25%.

Monsanto argumentó que la degradación del suelo y mayor uso de plaguicidas no se debió a la utilización de la soya transgénica, sino a “una mala capacitación y mala rotación de los suelos”. No obstante el daño a la tierra ha derivado en extensas áreas de suelos erosionados [30].

En contraste según investigaciones realizadas en Argentina la falta de rotación de los cultivos -que obliga a usar el mismo herbicida año tras año- sumada a un aumento regular del volumen aplicado, tiene una consecuencia inevitable: las malas hierbas se tornan resistentes al herbicida [31] y allí comienza el círculo vicioso. Pues, para combatir la capacidad de adaptación de la naturaleza, hay que seguir aumentando las dosis de herbicida, hasta que Monsanto u otra compañía lancen otro producto más potente y probablemente más peligroso.

Por su parte, México ha prohibido los organismos genéticamente modificados OMG. Y está tratando de limitar la contaminación y el cruce de otras variedades vegetales con maíz transgénico para la alimentación, subsidiado e importado por EE.UU. a través del Acuerdo de Libre Comercio con América del Norte (TLCAN). Hasta el momento varias campañas de información para identificar las semillas transgénicas y erradicarlas de ciudades cercanas a la zona fronteriza con EEUU han sido organizadas por algunas instituciones sin fines de lucro [32].

Paraguay en cambio se vio obligado a aceptar los cultivos transgénicos, ya que estaba siendo anónimamente importadas y cultivadas en masa, por lo mismo el impacto negativo que tendría en la economía no permitir su exportación fue el aliciente para que el gobierno acatara la medida. No obstante el daño ocasionado a los agricultores que trabajan en estos cultivos es irreversible, los niños mujeres ancianos, sin discriminación están comenzando a sentir los efectos de esta muerte silenciosa que daña el organismo y degenera la piel por la exposición a estos herbicidas. En todos los casos la variación genética se ha reducido como consecuencia del monocultivo y la propiedad se ha concentrado cada vez más [33].

En Perú y en Colombia la situación no difiere mucho, el 2008 en Lima fueron presentados casos de malformación en los niños debido a la utilización de productos químicos en el monocultivo de plátano y soya, caña de azúcar y palmeras. En Colombia la deforestación de la fauna en las plantaciones del Chocó es dramática, producto de ingentes cantidades de productos químicos como fertilizantes y plaguicidas utilizados en la zona [34].

Monsanto en Bolivia

El uso de los transgénicos en Bolivia se ha desarrollado en mayor escala con la soya que se cultiva en el oriente del país. Actualmente existen 48 variedades de soya transgénica en el país, cinco de ellas recientemente introducidas, el 85% de los cultivos de soya es transgénico lo que incluye el uso de herbicidas [35], el 15% restante es soya convencional. Nuestro país produce entre 1,5 millones a 1,7 millones de toneladas de soya transgénica [36].

Ahora bien a partir de este año la carne de soya forma parte del subsidio de lactancia según la Resolución Ministerial 0527 emitida por el Ministerio de Salud y Deportes. Esta determinación no sería preocupante si la soya no fuera transgénica [37]. Según algunos datos recogidos los funcionarios del Ministerio de Salud negaron que la soya formara parte del subsidio de lactancia, pero la Resolución Ministerial confirma que este producto ha sido incluido en la distribución a nivel nacional [38].

A sólo unos días de ser promulgada la Ley de Revolución Productiva Comunitaria, quedan aún muchas interrogantes sobre el uso de los transgénicos y el proyecto de Ley que se promulgará el Domingo 26 de Junio, al respecto cabe preguntarse, si el ejecutivo ha considerado la preocupación de la ciudadanía sobre el contenido de la Ley en lo que se refiere a la prohibición del ingreso, producción, importación, comercialización y consumo de todos los transgénicos así como los paquetes tecnológicos vinculados a ellos, de los que forman parte los agrotóxicos, debido a que esta situación señalan algunos [39], muestra incoherencia con el artículo 255 inciso 8 de la Constitución, la Ley 3525 y fundamentalmente con los Derechos de la Madre Tierra y el Vivir Bien.

Por su parte el dirigente del Consejo Nacional de Ayllus y Markas del Qollasuyu (Conamaq), Rafael Quispe, lamentó que el gobierno por un lado hable de defensa de la Pachamama, la madre tierra y por otro lado legalice el uso de los transgénicos, señaló que “Nosotros vemos con mucha preocupación este tema, que los asambleístas hayan decidido incorporar los transgénicos…” El Conamaq –dijo Quispe- aprobó una resolución pidiendo al presidente Morales no promulgue la ley de Revolución Productiva, y de no hacerlo advirtió que iniciarán medidas de presión hasta que la ley quede vetada.

La Ley que normará el proceso de producción agropecuaria para consolidar la soberanía alimentaria y establecer las bases institucionales, políticas, técnicas y financieras para producir, transformar y comercializar productos alimenticios nacionales, creará también empresas estatales como la fábrica de fertilizantes, el banco de provisión y producción de semillas, la empresa de apoyo a la comercialización comunitaria, la empresa de mecanización del agro y la tecnificación como señala el matutino El Cambio del 22 de Junio.

En ese sentido queremos destacar el daño a la salud que el uso de los transgénicos ha ocasionado a través de malformaciones en las criaturas, generación de células cancerígenas en el organismo, degeneración de la piel, daños al sistema endocrino irreversibles, contaminación y envenenamiento que han dado como resultado una serie de demandas a nivel mundial que Monsanto compañía que los produce enfrenta actualmente por la elevada toxicidad de sus productos [40].

Nos parece necesario reflexionar esta información y exigir a nuestros gobiernos ser transparentes en sus políticas públicas para cualquier Ley que contemple el ingreso y comercialización de productos transgénicos a nuestro país.

El cambio no es sólo de un gobierno es de quienes también creemos en la construcción de un mundo mejor para nuestra Latinoamérica unida, para nuestros hijos. www.ecoportal.net

Cynthia Cisneros Fajardo

Referencias:

[1] Dicloro Difenil Tricloroetano, es uno de los pesticidas sintéticos mas conocidos y fue descubierto por el químico suizo Herman Muller en 1939 durante la II guerra mundial, fue usado eficazmente contra la malaria y el tifus, después de la guerra fue usado como un insecticida agrícola. En 1962 un biólogo americano Rachel Carlson demostró que el DDT era una de las posibles causas del cáncer. fue prohibido en los EEUU el año 1972. http://en.wikipedia.org/wiki/DDT

[2] Bifenilos Policlorados, debido al nivel de toxicidad y su clasificación como un contaminante orgánico persistente la producción de PCB fue prohibido por el congreso de los EEUU en 1979 y el Convenio de Estocolmo el año 2001. Los efectos tóxicos mas comunes son trastornos endocrinos, y neurotoxicidad http://en.wikipedia.org/wiki/Polychlorinated_biphenyls

[3] El gobierno de Estados Unidos ha intentado evadir su responsabilidad delegándola en las empresas a quienes ellos utilizaron para producir este químico. El problema era que la prisa de estas empresas por producir rápidamente el herbicida y con unos costes mínimos hizo que el producto final contuviera grandes cantidades de la dioxina tetraclorodibenzodioxina, un subproducto altamente cancerígeno que además provoca malformaciones en los fetos. Al permanecer activo en el suelo ha provocado graves daños en las selvas de aquel país, así como generaciones de niños con malformaciones y problemas de cáncer. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[4] Más de 90 síntomas se asocian con el uso continuo de este endulzante “dietético” entre otras enfermedades crónicas ligadas a su consumo: problemas renales, inflamación del páncreas, tumores cerebrales, esclerosis múltiple, epilepsia, fatiga crónica, enfermedad de Parkinson, Alzheimer, retardo mental, linfoma, defectos de nacimiento y fibromalgia.

[5] rBGH (hormona recombinante del crecimiento bovino): La somatotropina bovina. Es una hormona sintética que se inyecta a las vacas para aumentar la producción de leche. IGF-1 es una hormona que estimula la rBGH en el torrente sanguíneo de la vaca, que es directamente responsable del incremento en la producción de leche. IGF-1 produce efectos adversos en adultos y niños, comportándose como un acelerador del cáncer de mama, próstata, pulmón y-o colon. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[6] El Proyecto Dayton fue uno de los varios proyectos del Proyecto Manhatan cuyo objetivo era construir la primera bomba atómica. Charles Allen Thomas, un funcionario de Monsanto, fue asignado para desarrollar el neutron generador de dispositivos que provocó la detonación nuclear de la bomba atómica una vez que la masa crítica había sido reunida por la fuerza de explosivos convencionales. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[7] La Atomic Energy Comission, es una agencia de EEUU creada después de la II guerra mundial para mantener el control de la paz priorizando el desarrollo de la ciencia y tecnología atómica. http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_Atomic_Energy_Commission

[8] En marzo del 2008, la periodista francesa Marie-Monique Robin publicó los resultados de sus tres años de investigación en Monsanto. Un libro fue publicado por La Découverte, un editor francés, y un video documental, Le Monde Selon Monsanto (El mundo según Monsanto). Los entrevistados incluyen a Shiv Chopra, un investigador canadiense que fue despedido por Health Canada por revelar un intento de soborno por parte de Monsanto sobre la introducción intento de hormona de crecimiento bovino en Canadá. Chopra advirtió a las autoridades políticas sobre el uso de semillas transgénicas. La mayoría de estos científicos perdieron sus empleos. El “síndrome de la puerta giratoria” ha sido una amenaza a la independencia de las conclusiones científicas. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[9] Monsanto dio 186.250 dólares a candidatos federales en el ciclo electoral del 2008 a través de su comité de acción política (PAC) – 42% a los demócratas, el 58% a los republicanos. Para el ciclo electoral de 2010 se han dado 72.000 dólares -. 51% a los demócratas, el 49% a los republicanos. En cuanto al gasto de publicidad, la compañía gastó 8.831.120 dólares para hacer lobby en el 2008. $ 1.492.000 fue para el lobby en el extranjero y el resto para la publicidad local. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[10] Clarence Thomas trabajó como abogado de Monsanto en la década de 1970. Thomas escribió la decisión de la Suprema Corte el año 2001, que encontró que “recientemente se han desarrollado variedades de plantas que son patentables en virtud de las leyes de patentes general de servicios públicos de los Estados Unidos.” Este caso benefició directamente a Monsanto. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[11] Michael R. Taylor fue asistente de la Administración de Alimentos y Medicamentos (FDA) http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[12] Linda J. Fisher fue administradora adjunta de los Estados Unidos Agencia de Protección Ambiental (EPA) antes de que fuera vicepresidente de Monsanto. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[13] Dr. Michael A. Friedman fue un comisionado adjunto de la FDA antes de que fuera contratado como vicepresidente ejecutivo de Monsanto. Op.cit.

[14] Un informe fue publicado en junio de 2011 que vincula al glifosato con defectos de nacimiento en ranas y embriones de pollo en cantidades muy inferiores a los utilizados en la agricultura. http://www.scribd.com/doc/57277946/RoundupandBirthDefectsv5

[15] Según los experimentos realizados con el herbicida la planta de soya recibe el químico y este penetra el ADN del vegetal alterando su composición natural esto hace que la soya sea resistente a cualquier agresión, el herbicida es tan potente que mata todo tipo de planta o maleza que pudiera crecer alrededor de la soya, cuando esta es consumida por el ser humano el ADN también es alterado generando células cancerigenas. Video Le Monde Selon Monsanto DVD. cit

[16] El año 2008, el científico Arpad Pusztai hizo pública una investigación sobre las papas genéticamente modificadas, para lo cual se utilizaron ratas. Arpad expresó que las ratas tuvieron una alteración en su crecimiento y en su sistema inmunológico. el Dr. Arpad sugiere que fue el proceso de ingeniería genética lo que alteró el espesor del epitelio intestinal en las ratas cuando estas fueron alimentadas con las papas modificadas genéticamente. Esto provocó un revuelo en los medios y Pusztai fue suspendido, a pesar de la oposición de la Royal Society, los datos fueron publicados en la revista científica The Lancet en Octubre de 1999. http://en.wikipedia.org/wiki/Pusztai_affair

[17] A pesar que en 1999, Monsanto se comprometió a no comercializarla tecnología Terminator, el vicepresidente, Harry Collins, declaró en una entrevista de prensa, “Hemos continuado trabajando sobre el Sistema de Protección Tecnológica (TPSoTerminator). Nuestro objetivo, es seguir adelante con su comercialización. En realidad, nunca dejamos de hacerlo. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[18]Un estudio patrocinado por Monsanto sobre la leche mostró diferencias no significativas en los niveles de rBST/rBGH en la leche etiquetada como “rBST-Free” o “leche orgánica” vs leche no etiquetada como tal, razón que argumentó Monsanto para negarse a etiquetar su producto. Op.cit.

[19] En mayo de 2008, Monsanto llevó a cabo una campaña para prohibir a las lecherías donde no se inyectaban a las vacas con la hormona artificial de crecimiento bovino publicitaran este hecho en sus productos. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[20] El año 1997, se denunció que un afiliado de FOX local colaboró ??con Monsanto en la supresión de un reportaje de investigación sobre los riesgos de salud asociados con la especie bovina de Monsanto de productos de hormona de crecimiento, Steve Wilson y Jane Akre en desacuerdo por el material en la historia que sentían era sesgada y parcial, publicaron el estudio completo sobre el rBST/rBGH, ambos reporteros fueron despedidos, y alegaron que el despido fue por una represalia, mientras que la FOX sostuvo que fueron despedidos por insubordinación. El año 2003 un tribunal de apelaciones sostuvo que Fox News no tenía obligación de informar verazmente, y la Primera Enmienda protege el derecho a mentir. La historia se puede ver en la película documental de larga duración de La Corporación. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[21] En el Centro de los Estados Unidos para la Seguridad Alimentaria figuran aproximadamente 112 demandas por parte de Monsanto contra los agricultores por la violación de patentes de semillas. Monsanto se describe con frecuencia por los agricultores como “Gestapo” y “Mafia”, por los medios cuestionables que utiliza para recoger pruebas de violación de su patente. Op.cit

[22] El año 2002, en un artículo del 27 de enero, The New York Times informó que durante 1969 Monsanto habia vertido 45 toneladas de PCB en un alimentador para el arroyo Choccoloccoque suministra el agua potable de la zona. En agosto de 2003, Solutia y Monsanto acordó pagar a los demandantes $700 millones para resolver las demandas demás de 20.000 residentes de Anniston que fueron afectados con la contaminación y el envenenamiento de las aguas producto del PCB http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[23] En China Monsanto ha sido duramente criticado, el economista chino Lang Xianping acusó a la compañía de tener controlado el mercado de Soya de China y tratar de hacer lo mismo con el maíz y el algodón del mismo país. Op.cit

[24] En enero de 2005, Monsanto acordó pagar una multa de 1,5 millones de dólares para sobornar a un funcionario indonesio. el año 2002, en un intento por evitar la evaluación del impacto ambiental de su algodón genéticamente modificado. Monsanto enfrenta dos cargos criminales y civiles del Departamento de Justicia y la United States Securities and Exchange Commission (SEC). Op.cit

[25] Corporaciones multinacionales del agro negocio se aprovecharon de la liberalización del mercado con la introducción de semillas genéticamente modificadas. Como resultado, el año 2002, el Comité de Aprobación de Ingeniería Genética (“GEAC”) aprobó la modificación genética que produjo la toxina de Bacillus thuringiensis (BT). un insecticida altamente nocivo para la salud. El año 2009, el alto precio del algodón Bt fue la causa de que los agricultores del distrito de Jhabua incurrieran en graves deudas cuando los cultivos murieron debido a la falta de lluvia. Monsanto ha sido también acusada deemplear mano de obra infantil en la fabricación de semillasde algodón en India. El trabajo consiste en el manejo de pesticidas tóxicos como elendosulfán y los niños reciben menos de Rs.20 (menos de medio dólar de los EE.UU.) por día. http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[26] http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

[27] La cantera Brofiscin, cerca de Cardiff, estalló en 2003. Un informe del gobierno del Reino Unido muestra que 67 elementos químicos, incluidos los derivados del agente naranja, dioxinas y PCB eran propiedad exclusiva de Monsanto. Se supo que el agua subterránea había sido contaminada desde la década de 1970. Op. cit

[28] Activistas ambientales y llevaron el caso en 2001 sobre la base que el glifosato, el ingrediente principal del Round Up, está clasificado como “peligroso para el medio ambiente”. Monsanto distribuidor en Francia fue multado con 15.000 euros. Op. cit

[29] Los obreros agrícolas siguen trabajando descalzos y sin guantes, por falta de medios. “Uno de mis pacientes, que está en tratamiento desde hace un mes, aún no logró recuperar la piel de sus pies. Nadie se protege, la gente no se da cuenta”, afirmó el doctor Darío Gianfelici, médico de la pequeña localidad de Cerrito, provincia de Entre Ríos. http://www.insumisos.com/diplo/NODE/814.HTM

[30] “…se estima que la producción continua de soya extrajo de la tierra cerca de un millón de toneladas de nitrógeno y 227.000 toneladas de fósforo en 2003. Compensar semejante pérdida con abonos costaría, según las estimaciones, 910 millones de dólares” http://www.insumisos.com/diplo/NODE/814.HTM

[31] “En la Pampa, ocho especies de malas hierbas [...] ya muestran signos de resistencia al glifosato” según las investigaciones de Pengue http://www.insumisos.com/diplo/NODE/814.HTM

[32] Las páginas web han sido bloqueadas sobre el daño que ocasiona el uso de los transgénicos, Algunos de los argumentos utilizados para este párrafo han sido extractados del video Le Monde Selon Monsanto y otros de la página web de Wikipedia en Inglés

[33] Le Monde Selon Monsanto DVD cit.

[34] El escándalo de los agrocombustibles en los países del sur, artículo de Francois Houtart

[35] “… tanto en el Norte Integrado (de Santa Cruz) como en la zona de expansión del este hay letreros que dicen apliquen Round up, que es el herbicida para la soya, más otro herbicida de complemento que es el 2,4D y es de alta toxicidad. Eso significa que el herbicida no es suficiente porque han aparecido supermalezas, o malezas resistentes”. http://www.pieb.com.bo/sipieb_nota.php?idn=5837

[36] http://www.pieb.com.bo/sipieb_nota.php?idn=5837

[37] El informe que se encuentra contemplado en el Boletín Agronoticias señala que en el país el área cultivada de soya transgénica es de 780.000 hectáreas “equivalente al 88 por ciento de la superficie cultivada en Santa Cruz durante el año 2010”. http://www.opinion.com.bo/…

[38] El artículo primero de la norma aprueba la vigencia del nuevo paquete de asignaciones familiares regionalizado por 815,40 bolivianos y entró en vigencia desde el mes de enero de este año. En el artículo segundo se establece que se procederá al pago retroactivo de las asignaciones familiares de los meses de enero, febrero, marzo, abril y mayo de diez productos entre los que se encuentra la carne de soya. La bolsa de 250 gramos que forma parte del paquete de subsidio de lactancia no especifica si es orgánico o transgénico y en el envase se puede apreciar el sello de la estatal Empresa de Apoyo a la Producción de Alimentos (EMAPA). Opinión.com.bo

[39] Carta al presidente Evo Morales que se publicó hace algunos días en la página web Rebelión.org del Observatori del Deute en la Globalitzación. www.odg.cat

[40] http://en.wikipedia.org/wiki/Monsanto

http://alainet.org

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FONTE : artigo socializado pelo Ecoportal.net e publicado pelo EcoDebate, 24/08/2011

Conceitos básicos de Saneamento, artigo de Roberto Naime

A água, pela sua intrínseca relação com a vida, não poderia estar fora das preocupações fundamentais do homem, que esteja no meio rural, quer esteja no meio urbano que hoje concentra a maior parte da população.

Não existe vida se não existir água e portanto, não existe cidade se não existir água disponível regularmente, capaz de atender às necessidades básicas do ser humano, para o controle e prevenção de doenças, para a garantia do conforto e para o desenvolvimento socioeconômico.

Ao se modernizar, a cidade não consegue fugir dessa dependência, pelo contrário, a necessidade por água aumenta em função da complexidade do aparato produtivo.

A visão integrada do conceito de saneamento básico é defendida, inclusive, pelo corpo técnico-científico internacional ligado ao saneamento, como, por exemplo, o conceito defendido pela Associação Portuguesa para Estudos de Saneamento Básico – APESB, de que saneamento básico é, pelo menos, “o abastecimento de água, a drenagem, o tratamento e a disposição final de águas residuais, e a recolha, tratamento e a disposição final de resíduos sólidos”.

Sobre disponibilidade de água, vale lembrar que a quantidade e a qualidade têm estreita relação com a geografia do manancial. Uma bacia hidrográfica, com sua área de contribuição bem definida, tem um limite claro para a vazão que se pode tirar dos cursos de água que a drenam, o mesmo valendo para um aqüífero subterrâneo. Diante disso, vale a regra de que as vazões disponíveis podem ser consideradas parte integrante das informações geográficas de uma determinada área.

No ciclo urbano da água, ela também tem papel como agente de limpeza a serviço dos habitantes da cidade. Isso fica evidente na relação direta e significativa entre água consumida e geração de esgotos, com cerca de 80% da água de abastecimento sendo transformada em esgoto sanitário.

Esse esgoto precisa de uma área para que sua carga poluidora seja diminuída, facilitando a sua purificação natural, sendo que nesse cálculo de área deve ser levada em conta a parcela necessária para reciclar os resíduos que são removidos desse esgoto, os chamados lodos provenientes do tratamento.

Além da água de abastecimento que chega à cidade, a chuva também joga quantidade significativa de água na área urbana. E essa água tem seus caprichos, procurando seguir seus caminhos pelos pontos mais baixos do relevo. Nesse caminhar, a água acaba ignorando boa parte das ações humanas que tentam impedir seu movimento, tendo força para superar esses obstáculos.

Sobre essa água e seu caminhar, as cidades deveriam ter como princípio sempre respeitar caminhos da água, sob pena de enfrentar sua fúria.

Fúria que se faz sentir quando da ocorrência de enchentes e inundações. Além disso, não se pode esquecer que no ambiente natural, a percolação pelos vazios do solo é um caminho muito usado pela água. Quando se impede a sua infiltração, com a impermeabilização da superfície do solo, parte significativa da água não faz seu trajeto subterrâneo, escoando pela superfície.

Esta realidade nos faz lembrar que após a obtenção do HABITE-SE, os empreendedores e construtores institucionais ou particulares tem o hábito de reduzir drasticamente as áreas de infiltração previamente previstas nos planos diretores e na aprovação dos projetos, calçando garagens e áreas de estacionamento.
Este fato contribui para elevar dramaticamente a quantidade de águas que sofrem escoamento superficial e não infiltração, dificultando a eficiência dos sistemas de drenagem pluvial das cidades.

As águas pluviais carregam tudo o que encontram no seu caminho, desde a poluição que paira no ar até os resíduos que foram lançados sobre as ruas. Quanto mais se descuida da limpeza da cidade, mais trabalho sobra para a chuva, que não se nega a prestar esse serviço de limpeza. Portanto, a cidade que não se limpa organizadamente acaba contribuindo para a poluição dos corpos de água, onde as águas pluviais depositam todo o material carreado durante seu trajeto.

Essa poluição pode comprometer o uso da água para diversas finalidades, além do próprio abastecimento humano da cidade.

Outra associação importante que reflete a essência do conceito de saneamento é a questão do lixo, ou dos resíduos sólidos resultantes das diversas atividades da cidade. Para funcionar adequadamente, a cidade necessita de grande aporte de material proveniente de áreas externas aos seus limites geográficos. Nesses materiais, podemos incluir os alimentos para os habitantes da cidade e a matéria prima para os processos produtivos, os quais são utilizados, processados e geram resíduos. Esses resíduos têm pouca mobilidade, com exceção daqueles transportados pela água da chuva. Por isso, onde são lançados, lá permanecem em processo lento de degradação, tornando-se fontes de poluição e contaminação.

Resolver isso envolve processos industriais com certa complexidade, concebidos para fechar o ciclo da matéria, a denominada indústria da reciclagem. E essa reciclagem é limitada, abrangendo determinados produtos, mas pode e deve ser ampliada envolvendo a compostagem da matéria orgânica em ações sincronizadas e coordenadas de valorização da agricultura familiar, melhoria de qualidade de vida e implantação de cinturão verde de segurança alimentar em cada cidade.

Mas sempre existindo rejeitos que deverão ser dispostos em áreas para serem estabilizados nos aterros sanitários, mesmo que sejam quantidades muito pequenas se houver coleta seletiva, triagem e comercialização de recicláveis e compostagem de restos de alimentos e matéria orgânica.

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Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. (EcoDebate, 24/08/2011).